Oligarca suspeito de ligações ao crime organizado aguarda
nacionalidade
Multimilionário russo foi certificado como judeu
sefardita à semelhança dos oligarcas Roman Abramovich, Andrei Rappoport, Lev
Leviev e God Nisanov. O processo está na fase final.
Paulo Curado
29 de Julho de
2022, 6:30
Este é o quinto oligarca russo a ser certificado pela
Comunidade Israelita do Porto como descendente de judeus sefarditas
Gavril Yushvaev,
conhecido empresário e filantropo russo, com investimentos globais, incluindo
nos EUA, com registo criminal e suspeito de ligações a organizações criminosas,
aguarda pela nacionalidade portuguesa. Depois de Roman Abramovich, Andrei
Rappoport (ambos já naturalizados), Lev Leviev e God Nisanov (que aguardam
despacho do Ministério da Justiça), este é o quinto oligarca russo a ser
certificado pela Comunidade Israelita do Porto (CIP) como descendente de judeus
sefarditas, expulsos de Portugal no final do século XV.
Nascido em 1957,
em Makhachkala, capital da República Russa do Daguestão, residente em Moscovo e
com uma fortuna avaliada pela revista Forbes em 1,7 mil milhões de euros,
Yushvaev enriqueceu com uma vasta gama de negócios, dos lacticínios ao
imobiliário, passado pelo petróleo, gás natural, agricultura e alta tecnologia.
Em 1980, ainda na era soviética foi condenado por roubo e passou nove anos num
campo de prisioneiros.
Em Dezembro de
2013, foi referenciado num relatório da Direcção de Informação da Unidade
Central Especial 2 (UCE2) da Guarda Civil espanhola como estando ligado a
organizações criminosas da Europa de Leste, através de um esquema complexo de
branqueamento de capitais envolvendo banqueiros, empresários e políticos
russos.
Depois de ser
libertado da prisão e após o colapso da União Soviética, Gavril Yushvaev
tornou-se parceiro de David Yakobashvili – também com ligações ao crime
organizado - no conhecido casino Metelitsa, em Moscovo, e na holding de
concessionários automóveis Trinity.
De acordo com uma
investigação do jornal russo Novaya Gazeta, em colaboração com o consórcio de
jornalista Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um dos
primeiros negócios desta empresa foi vender carros usados provenientes dos EUA.
Um dos seus primeiros operadores foi Vladislav Vanner, que liderou um grupo
criminoso chamado Bauman, que era bastante influente na capital russa por essa
altura. Vanner acabaria por ser assassinado a tiro em 1994 por um gangster
rival.
“Éramos amigos”,
admitiu Yakobashvili em relação a Vanner, já em 2004, em entrevista à Forbes
russa. “Eu ajudei-o e ele ajudou-me”, prosseguiu recusando a associação do
amigo ao crime organizado. “Se ele cresceu em Bauman, isso não significa que
fosse o chefe de um grupo [criminoso]. E de qualquer modo, o que é o grupo
criminoso Bauman?” questionou, acrescentando que “a imprensa não compreende
muitas coisas”: “Já viram demasiados filmes mafiosos.”
Ainda em 1992,
Gavril Yushvaev juntou-se a outros parceiros comerciais e ajudou a fundar, em
1992, a empresa Wimn-Bill-Dann. Trata-se de um dos maiores grupos de
lacticínios da Europa, que passou a ser cotada na Bolsa de Nova Iorque em 2002.
Em 2010, venderia a sua participação à multinacional americana PepsiCo por 1,1
mil milhões de euros.
Investiu em start-ups tecnológicas europeias e americanas
Segundo
informações recolhidas pela Forbes, Yushvaev reinvestiu parte deste valor,
perto de 490 milhões de euros em start-ups tecnológicas europeias e americanas.
Uma delas, a Lyft, é uma plataforma digital idêntica à Uber, que está presente
em Portugal, e tem sede em São Francisco, nos EUA.
Gavril Yushvaev
foi certificado pela Comunidade Israelita do Porto (CIP) como descendente de
judeus sefarditas, ao abrigo dos poderes delegados pelo Estado a esta entidade
religiosa (assim como à Comunidade Israelita de Lisboa). Estes certificados são
fundamentais para a obtenção da naturalização, ao abrigo da Lei da
Nacionalidade, referente aos sefarditas, que foi proposta pela ex-deputada,
antiga ministra e candidata à Presidência da República, Maria de Belém Roseira,
em 2013, e aprovada por unanimidade e com aplauso no Parlamento.
Maria de Belém é
também tia do advogado Francisco de Almeida Garrett, a figura proeminente da
CIP, conforme o PÚBLICO revelou em Fevereiro deste ano. Almeida Garrett foi
constituído arguido em Março de 2011, em conjunto com o rabino da comunidade,
Daniel Litvak, que chegou a ser detido durante algumas horas e está com Termo
de Identidade e Residência, no âmbito de uma investigação do Ministério
Público, conduzido pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia
Judiciária.
Roman Abramovich
foi o primeiro caso a ser revelado pelo PÚBLICO ainda em Dezembro do ano
passado. O antigo dono do Chelsea e amigo próximo do presidente russo Vladimir
Putin, tornou-se cidadão português a 30 de Abril de 2021, depois de um processo
tramitado em tempo recorde, após muita pressão da CIP, que utilizou mesmo o
nome do ex-ministro Pedro Siza Vieira.
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