OPINIÃO
O “Trump” da Sérvia está a construir um Estado
autoritário – pago pelos contribuintes europeus
A Sérvia prossegue em direcção à ruína, sob o regime
Vucic. O controlo cada vez maior que exerce sobre as instituições está a
corroer a democracia e a nossa liberdade para falar.
Luka Tripkovic
30 de Julho de
2022, 14:35
Como é que três
mil milhões de euros do dinheiro dos contribuintes da UE foram parar às mãos de
um autocrata dos Balcãs que o utilizou para construir uma ditadura onde os
activistas pela democracia enfrentam ameaças violentas?
Aleksandar Vučić,
o presidente sérvio, é ultranacionalista e líder de um país em lista de espera
para aderir à UE. O seu historial é violento: como jovem deputado, foi uma das
principais figuras do Partido Radical Sérvio (SRS), liderado por Vojislav
Šešelj, que foi mais tarde acusado de crimes de guerra. Durante o conflito no
Kosovo, Vučić serviu como ministro da Informação” de Slobodan Milošević e
procurou reprimir os meios de comunicação social livres. Quando a comunicação
social encontrou uma forma de contornar as suas regras de censura, ele prometeu
“vingança”.
Algumas semanas
mais tarde, o CEO de um jornal independente, The Weekly, foi assassinado em
frente ao seu prédio, num caso que continua por resolver.
Em 2012, Vučić
regressou à política sérvia num Estado transformado. Cortou laços com o SRS,
formou o Partido Progressista Sérvio (SNS) e lançou-se como parceiro da CDU de
Angela Merkel. Cultivou a imagem de um político moderno, que resolveria a
disputa da Sérvia sobre o Kosovo e levaria o país à adesão à UE.
Este
posicionamento garantiu a Vučić um controlo menos apertado sobre si, pois
conseguiu financiar órgãos de comunicação privados próximos dele a partir do
orçamento estatal da Sérvia. Como consequência, muitas estações locais
independentes de televisão e rádio acabaram ali.
Ao mesmo tempo, a
UE, dominada politicamente pela CDU e pela Alemanha, despejou dinheiro na
Sérvia através de investimento privado e financiamento para adesão. Os
relatórios da Comissão Europeia foram positivos e a UE ignorou as críticas das
ONG e das restantes instituições independentes.
O totalitarismo
de Vučić é sofisticado, comparado com outros autocratas da região, e mascarado
por um comportamento que aparenta ser progressista, liberal e pró-ocidental.
Algumas leis foram reformuladas de acordo com os critérios de adesão à UE e um
membro da comunidade LGBTQI+ do país tem agora assento como primeiro-ministro.
No entanto, esta é apenas uma fachada cuidadosamente elaborada, que permite ao
Governo sérvio continuar a receber o dinheiro dos contribuintes da UE e dos
EUA.
Alguns grupos
activistas, como aquele para o qual trabalho, procuram expor aquilo que Vučić
verdadeiramente é. Somos os filhos daqueles que viveram sob a tirania de
Milošević.
A minha escola
estava cheia de refugiados da Bósnia, Croácia e Kosovo. Todos os dias, a
caminho de casa, encontrava-me com os meus pais, que se manifestavam por
eleições livres. Vi o meu pai, um cirurgião, ser chamado ao exército durante a
guerra no Kosovo, e lembro-me de não ouvir uma só palavra sobre ele durante um
mês. Os meus colegas sofreram um trauma semelhante: Savo, um refugiado, foi
obrigado a abandonar a sua casa devido a ameaças de morte, enquanto Nikola
resistia ao facto de a família ter sido colocada sob vigilância pela polícia
secreta.
Hoje, tal como os
nossos pais, estamos a sentir o impacto dos meios de comunicação social de
Vučić , devido à nossa ousadia em falar. Nebojša Krstić, que dirige agora uma
agência de marketing em Belgrado, afirmou publicamente que devíamos ser
“atirados de uma ponte” devido à oposição a uma proposta de lei de expropriação
de propriedade. Isto enquanto Vučić , a sua primeira-ministra, Ana Brnabić, e
outros nos acusaram de “recebermos dinheiro do estrangeiro”, de sermos
“fantoches da CIA”, “moços de recados de Rockefeller” e “servos de Soros”.
A UE, que tem vindo a injectar milhares de milhões na
Sérvia, deveria agora olhar para o valor do seu investimento e pensar se é
justo que os contribuintes europeus continuem a financiar a criação de um
Estado autoritário dentro das suas fronteiras
Nas últimas
semanas, temos vindo a trabalhar numa campanha para defender a liberdade de
imprensa do nosso país, bem como a pressionar a autoridade reguladora da Sérvia,
a REM, a emitir licenças de emissão sem preferências ou preconceitos.
Mais de 200 mil
sérvios juntaram-se a nós nesta acção. No entanto, ao longo de todo o processo,
e até hoje, sofremos ataques por parte dos meios de comunicação social aliados
ao governo, bem como uma série de ameaças de morte por parte de cidadãos
apoiados pelo governo em plataformas sociais. De acordo com uma dessas pessoas,
somos um “bando de traidores”. Outras advertem que “está a ser preparada uma
operação” que vai resultar na nossa “liquidação”. Estes abusos estão a
suceder-se simplesmente por querermos espaço para uma comunicação social livre
e independente na Sérvia.
A Sérvia
prossegue em direcção à ruína, sob o regime Vučić. O controlo que este exerce,
cada vez maior, sobre as instituições, incluindo a REM, está a corroer a
democracia e a nossa liberdade para falar. A UE, que tem vindo a injectar
milhares de milhões na Sérvia, deveria agora olhar para o valor do seu
investimento e pensar se é justo que os contribuintes europeus continuem a
financiar a criação de um Estado autoritário dentro das suas fronteiras.
Luka Tripkovic é
um organizador da campanha “Kreni-Promeni” (“Go-Change”), um grupo activista
que se concentra em combater a injustiça ambiental, as violações dos direitos
humanos, a desigualdade económica e o recuo democrático na Sérvia
OPINION
Serbia's 'Trump'
is building an authoritarian state - paid for by European taxpayers
Serbia continues towards ruin under the Vucic regime. The
increasing control it exercises over the institutions is eroding democracy and
our freedom to speak.
Luka Tripkovic
July 30, 2022,
14:35
How did €3
billion of EU taxpayers' money end up in the hands of a Balkan autocrat who
used it to build a dictatorship where democracy activists face violent threats?
Aleksandar Vučić,
the Serbian president, is an ultranationalist and leader of a country on a
waiting list to join the EU. His history is violent: as a young MP, he was one
of the main figures of the Serbian Radical Party (SRS), led by Vojislav Šešelj,
who was later accused of war crimes. During the conflict in Kosovo, Vučić
served as Slobodan Milošević's Information Minister and sought to crack down on
free media. When the media found a way around its censorship rules, it promised
"revenge."
A few weeks
later, the CEO of an independent newspaper, The Weekly, was assassinated in
front of his building in a case that remains unsolved.
In 2012, Vučić
returned to Serbian politics into a transformed state. It severed ties with the
SRS, formed the Serbian Progressive Party (SNS) and launched itself as angela
merkel's CDU partner. It cultivated the image of a modern politician who would
resolve Serbia's dispute over Kosovo and lead the country to EU membership.
This position
guaranteed Vučić less tight control over him, as he was able to finance private
media outlets close to him from Serbia's state budget. As a result, many
independent local television and radio stations ended up there.
At the same time,
the EU, politically dominated by the CDU and Germany, has poured money into
Serbia through private investment and funding for membership. The European
Commission's reports were positive and the EU ignored criticism from NGOs and
other independent institutions.
Vučić's
totalitarianism is sophisticated, compared to other autocrats in the region,
and masked by behavior that appears to be progressive, liberal and pro-Western.
Some laws have been recast according to EU membership criteria and a member of
the country's LGBTQI+ community now sits as prime minister. However, this is
only a carefully crafted façade, which allows the Serbian Government to
continue to receive money from EU and US taxpayers.
Some activist
groups, such as the one I work for, seek to expose what Vučić truly is. We are
the children of those who lived under the tyranny of Milošević.
My school was
full of refugees from Bosnia, Croatia and Kosovo. Every day, on my way home, I
met my parents, who were demonstrating for free elections. I saw my father, a
surgeon, being called into the army during the war in Kosovo, and I remember
not hearing a word about him for a month. My colleagues suffered a similar
trauma: Savo, a refugee, was forced to leave his home due to death threats,
while Nikola resisted the fact that the family was placed under surveillance by
the secret police.
Today, like our
parents, we are feeling the impact of Vučić's media, due to our boldness to
speak. Nebojša Krstić, who now runs a marketing agency in Belgrade, has
publicly said that we should be "thrown off a bridge" due to
opposition to a proposed property expropriation law. This while Vučić, his
prime minister, Ana Brnabić, and others accused us of "receiving money
from abroad", of being "puppets of the CIA", "rockefeller
errand somen" and "servants of Soros".
The EU, which has been injecting billions into Serbia,
should now look at the value of its investment and think whether it is fair for
European taxpayers to continue to finance the creation of an authoritarian
state within its borders
In recent weeks,
we have been working on a campaign to defend our country's freedom of the
press, as well as to pressure Serbia's regulatory authority, the EmN, to issue
emission allowances without preferences or prejudice.
More than 200,000
Serbs have joined us in this action. However, throughout the process, and to
this day, we have suffered attacks from the media allied to the government, as
well as a series of death threats from government-backed citizens on social
platforms. According to one of these people, we're a "bunch of
traitors." Others warn that "an operation is being prepared"
that will result in our "liquidation". These abuses are happening
simply because we want space for free and independent media in Serbia.
Serbia continues
towards ruin under the Vučić regime. The increasing control of the
institutions, including the EMN, is eroding democracy and our freedom to speak.
The EU, which has been injecting billions into Serbia, should now look at the
value of its investment and wonder whether it is fair for European taxpayers to
continue to finance the creation of an authoritarian state within its borders.
Luka Tripkovic is
an organizer of the "Kreni-Promeni" ("Go-Change" campaign,
an activist group that focuses on combating environmental injustice, human
rights violations, economic inequality and democratic retreat in Serbia
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