sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

TAP vai suspender acordo de empresa com trabalhadores

 



CORONAVÍRUS

TAP vai suspender acordo de empresa com trabalhadores

 

Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) diz que o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, informou, sem explicações, que o acordo de empresa em vigor na TAP vai ser suspenso. Isso, diz o presidente do SNPVAC, virá piorar o “rácio entre trabalho e descanso”.

 

Luís Villalobos

Luís Villalobos 4 de Dezembro de 2020, 6:58

https://www.publico.pt/2020/12/04/economia/noticia/tap-vai-suspender-acordo-empresa-trabalhadores-1941671

 

Plano tem de ser entregue até ao dia 10 de Dezembro em Bruxelas

 

O acordo de empresa (AE) que foi assinado entre a TAP e o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), e está em vigor, vai ser suspenso. E, de acordo com este sindicato, quem informou os representantes dos tripulantes de cabine da transportadora aérea controlada pelo Estado foi o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos. O ministro socialista está esta semana a receber os sindicatos, depois de estes terem sido confrontados com alguns dados do plano de reestruturação por parte da administração da TAP na sexta-feira passada.

 

Este plano, a ser entregue em Bruxelas até ao próximo dia 10, implica, de acordo com os sindicatos, o despedimento de 2000 trabalhadores efectivos (750 tripulantes, 500 pilotos e 750 trabalhadores de terra), a que se juntam muitos outros cujos contratos não são renovados, bem como um corte de 25% nos salários.

 

Na sequência do encontro que decorreu esta quarta-feira ao final do dia com o ministro, o SNPVAC enviou um curto comunicado aos seus associados dando-lhes conta de que “o ministro informou o sindicato que o AE será suspenso”. O sindicato “repudiou o despedimento de mais 750 tripulantes de cabine (número que continua por explicar), assim como os 25% de redução salarial”. E defende que “os argumentos apresentados pelo ministro não clarificaram os números apresentados pela empresa”.

 

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente do SNPVAC, Henrique Louro Martins, afirmou que não foi dada nenhuma explicação para a suspensão do acordo de empresa por parte do ministro. “A perda de um acordo de empresa é sempre trágica para um grupo profissional”, adiantou este responsável, destacando que o AE em vigor na TAP tem claras melhorias face à legislação base do sector.

 

A suspensão não provoca alterações salariais, refere, mas vem “mexer com a qualidade de vida dos tripulantes em termos de rácio entre trabalho e descanso”, numa perspectiva, por parte da TAP, de conseguir optimizar mais as tripulações.

 

O presidente do SNPVAC diz ainda que ainda ninguém apresentou quaisquer critérios para os despedimentos.

 

O PÚBLICO enviou várias questões à TAP e ao Ministério das Infra-estruturas, mas ficou sem resposta. O SNPVAC foi o único a mencionar de forma objectiva a suspensão do acordo de empresa, mas dificilmente este será um caso isolado.

 

“Não esperem que o SITAVA” escreveu este sindicato do pessoal de terra no comunicado próprio emitido na terça-feira, após a reunião que teve com o ministro, “a propósito de uma crise sanitária grave, é certo, mas temporária, assista impávido a mais este violento ataque ao seu acordo de empresa” que, diz, “consagra apenas os direitos fundamentais”.

 

Dos encontros com a administração ou com o ministro não parece ter havido espaço para negociações com os sindicatos antes de se enviar o plano para Bruxelas. Por parte do SNPVAC, Henrique Louro Martins diz ter demonstrado ao ministro “que não existe qualquer relação entre o número de tripulantes que é dito que tem de sair e o número de aviões que ficam”. “Não podem dizer que ficam com os aviões, 88 no ano que vem e 101 até 2025, e que mandam 750 pessoas embora”. Isto se se quer “ter aviões operacionais numa retoma que se crê rápida”.

 

Já o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) avançou na segunda-feira com uma providência cautelar a exigir que lhe seja prestada informação sobre o plano de reestruturação da TAP, nomeadamente sobre os despedimentos.

 

O plano que tem que ser apresentado até ao dia 10 é uma exigência da Comissão Europeia pela concessão de um empréstimo do Estado de 1200 milhões de euros, para fazer face às dificuldades da companhia. E, para o ano, estão já preparados pelo menos 500 milhões de euros, via garantia pública, para ajudar a empresa a financiar-se.

 

Este plano é necessário, diz Bruxelas, porque a transportadora aérea já tinha resultados negativos antes da pandemia, apesar de ter sido o impacto de covid-19 a afundar a empresa, juntamente com o sector.

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