Quanto custa a emigração
qualificada (e outros nove factos para acabar de vez com a hipocrisia)
Além do serviço da dívida, que é
brutal, a transferência de recursos entre Portugal e o centro da Europa
depaupera enormemente o país
Texto de João
Teixeira Lopes • 09/09/2015 - 19:00 / P3 / PÚBLICO
Um estudo
coordenado por Rui Gomes da Universidade de Coimbra, no qual participei como
investigador, no âmbito de uma equipa pluridisciplinar de sociólogos e
economistas, de diversas universidades portuguesas (Porto, Coimbra, Lisboa)
resolve algumas das hesitações que ainda se colocam no debate público sobre a
emigração qualificada, vulgarmente apelidada de “fuga de cérebros” (expressão
que me desagrada por pressupor que os emigrantes menos qualificados não têm
“cérebro” — fica registada a autocrítica…)
O estudo
administrou um inquérito por questionário on-line a uma amostra, intencional e
não aleatória, composta por 1011 portugueses detentores de um diploma do ensino
superior (ou que desempenhassem ou tivessem desempenhado funções profissionais
compatíveis com essa habilitação) que estivessem a trabalhar ou a residir
noutro país europeu, ou que o houvessem feito nos seis anos anteriores. De
igual modo, realizaram-se dezenas de entrevistas biográficas, que sairão no
livro “Fuga de cérebros. Retratos da emigração qualificada portuguesa”, editado
pela Bertrand.
Vejamos alguns
resultados, que constituem dados muito objetivos para o debate público:
3. Os emigrantes
qualificados são maioritariamente jovens (89,6% dos inquiridos) e detentores de
cursos pós-graduados (74,5%).
4. Cerca de um
terço da amostra é composta por pessoas com formação em ciências, matemáticas e
informática, seguindo-se a área das ciências sociais, comércio e direito e a
das engenharias, indústria transformadora e construção, ambas com valores que
rondam os 19,5%.
6. Estes fluxos
têm efeitos claros no emprego: se 36,1% dos indivíduos estavam desempregados em
Portugal, apenas 3,8% se encontram nessa condição no país de destino.
7. Os rendimentos
aumentam significativamente: mais de 70% dos inquiridos recebiam, em Portugal,
um salário inferior a 1000 euros, enquanto mais de metade dos indivíduos aufere
de um montante superior a 2000 euros no país de destino.
8. Prosseguir uma
carreira em que se sintam realizados profissionalmente surge para 95,4% dos
inquiridos como a razão principal que os leva a emigrar.
10. De acordo com
o modelo seguido pela equipa, o custo desta fuga cifra-se para Portugal em
10.312.500.000 de euros. Mais de dez bilhões de euros.
Em suma: além do
serviço da dívida, que é brutal, a transferência de recursos entre Portugal e o
centro da Europa depaupera enormemente o país.
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