Portas deixa Ofir sob escolta policial e quer Sócrates fora da campanha
Vice-primeiro-ministro foi
obrigado a ficar no hotel durante algum tempo por causa dos lesados do BES,
que, garantem, não vão dar tréguas ao Governo
Margarida Gomes /
7-9-2015 / Público
Os líderes do PSD
e do CDS estão em sintonia relativamente a José Sócrates. Nem Passos Coelho nem
Paulo Portas querem o ex-primeiro-ministro na campanha para as legislativas.
Apesar desta posição de princípio, tanto um como outro falaram este
fim-de-semana do ex-primeiro-ministro, que está a cumprir prisão domiciliária,
em Lisboa, desde sexta-feira, depois de nove meses e meio de prisão preventiva
em Évora, no âmbito da operação Marquês.
O
vice-primeiro-ministro e líder dos centristas, Paulo Portas, foi ontem a Ofir,
Esposende, de onde teve de sair sob escolta policial, depois de ser vaiado e
insultado por um grupo de lesados do BES e dizer que não quer nenhum candidato
a comentar casos judiciais. “Nunca o fizemos, nem fazemos agora. Acreditamos na
separação de poderes”, assumiu.
Numa entrevista,
este sábado à noite ao canal CMTV, o primeiroministro afirmou que há candidatos
às próximas eleições legislativas com ideias “próximas” das que foram
“defendidas e executadas” por José Sócrates, mas nunca se referiu ao PS ou ao
seu actual líder. Passos começou por dizer que José Sócrates, indiciado por
fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para
acto ilícito, não é candidato às legislativas, quando questionado sobre se é
possível manter o antigo chefe de governo fora da campanha. “Há ideias próximas
das que defendeu e executou, mas são outros candidatos. Podem, às vezes, ser
ideias muito parecidas ou próximas, mas são outros”, declarou, considerando não
ver razão “para trazer o engenheiro Sócrates para a campanha”. Afirmou não ver
que a campanha “ganhe qualquer esclarecimento em misturar as coisas”, entre o
plano político e o plano da Justiça.
Em dia de
política para o CDS, assinalada a norte, Paulo Portas ficou a saber que os
lesados do BES não vão dar tréguas ao Governo. E ontem, em Ofir, onde se
deslocou para presidir ao encerramento da Escola de Quadros do CDS, teve a
certeza disso. Algumas dezenas de pessoas, que colocaram as suas poupanças no
BES, concentraram-se ao fim da manhã em frente ao hotel, onde pouco depois
chegaria o vice-primeiroministro para encerrar a iniciativa, que assinalou a
rentrée do partido, e que reuniu 120 jovens.
Cedo se percebeu
que os lesados do BES não iriam arredar pé e que o clima era de tensão. Com uma
determinação férrea, os manifestantes não de cansaram de responsabilizar o
Governo de direita “por tudo” o que lhes está a acontecer. Acusações que
ganhavam alguma sonoridade com o barulho dos assobios e das gaitas que exibiam
os manifestantes. A polícia ainda tentou levá-los a sair do local, para evitar
confrontos, mas todos disseram que não. De vez em quando tentavam avançar para
a entrada do hotel, mas o friso de agentes da GNR presente impedia-lhes
qualquer investida mais ousada.
O
vice-primeiro-ministro mostrou disponibilidade para os receber — o interlocutor
terá sido Diogo Feyo —, mas a resposta foi negativa, já que esta não terá sido
a primeira vez que os lesados do BES anuíram reunir-se com o Governo, mas sem
qualquer sucesso, segundo disse ao PÚBLICO Rui Alves, um dos manifestantes.
Portas sai rapidamente
Depois de
discursar na sessão de encerramento, o líder do CDS ainda fez uma pausa para um
café de cerca de meia hora no interior do hotel. Enquanto isso, agentes
policiais, concertados com a segurança pessoal de Portas e dirigentes do
partido tentavam encontrar a melhor solução para a sua saída. De dez em dez
minutos, surgia como que um novo plano para a partida do
vice-primeiro-ministro. A polícia ainda tentou despistar os jornalistas,
encaminhando-os para uma outra porta que não a principal por onde Portas viria
a sair com o argumento que seria por ali que estaria prevista a sua saída.
Por volta das
14h30 e protegido por um cordão policial e por membros da Juventude Centrista
que cantavam “JC, JC”, Paulo Portas abandonava o hotel, entrando no carro com
a ajuda de
dirigentes do partido em grande velocidade. Os manifestantes irritavam-se e o
protesto ganhava novo fôlego. Insultaram o membro do Governo, correram
desesperadamente atrás da viatura que o transportava, mas sem sucesso. No meio
de toda esta correria e confusão, um ex-emigrante em França, que reside em
Espinho, sentiu-se mal e acabou por cair no chão. Uma participante da Escola de
Quadros do CDS, com o curso de socorrista, procurou reanimá-lo e quando o INEM
chegou já Fernando Silva se encontrava ligeiramente restabelecido.
Alguns dos
manifestantes criticaram os agentes da GNR por “estarem mais preocupados com os
grandes do que em acudir a uma pessoa que se sente mal”. A polícia refuta as
acusações e afirma que tentou “evitar problemas maiores para todos”. Entre a
polícia e os jornalistas também houve uma troca de palavras mais azedas, mas
sem incidentes — com os manifestantes a saírem em defesa dos jornalistas,
dizendo que estavam ali a trabalhar.
“Paulo Portas
devia ter falado connosco e em vez disso saiu daqui de uma forma cobarde”,
disse Rui Alves, confirmando que o presidente dos centristas se disponibilizara
para falar com os manifestantes. “[Para isso] tínhamos de ir embora”, garantiu.
“Já uma vez nos aconteceu isso, falámos sobre o que aconteceu, foi a mesma
coisa que nada. Esta gente anda-nos a enganar”, exaltou-se. Sublinhara antes
que o “caso dos lesados do BES transformou-se num caso político e são os
políticos que o têm de resolver”.
Enquanto na rua
os manifestantes zurziam no Governo, o líder dos centristas pedida ao partido
para manter Sócrates fora da campanha. “Luto pela vitória da coligação, porque
não quero, como português, que se repitam os mesmos erros, causas e
consequências. Outra coisa são casos judiciais”, declarou. E advertiu: “Não
quero candidatos do CDS a comentá-los. Nunca o fizemos, nem fazemos agora.
Acreditamos na separação de poderes.” Declarando que “esta campanha eleitoral é
sobre política, não é sobre casos judiciais”, Portas recuou ao tempo em que era
parlamentar: “Fui, porventura, o deputado que mais oposição fez ao antigo
primeiro-ministro, achei que a sua política levaria Portugal à ruína e levou
mesmo.”
Num discurso
recheado de críticas ao partido liderado por António Costa, o também
vice-primeiro-ministro referiu-se à coligação PSD-CDS/PP como uma aliança que
se “apresenta de forma centrada e tem um programa moderado”, em contraste com o
PS, “que se radicalizou manifestamente”. “É o PS que diz, pela primeira vez em
40 anos, que o país pode ser governado não ao centro, mas com acordos entre o
PS e os partidos à esquerda do PS. Legitimamente, nem o PC nem o Bloco aceitam
o quadro europeu em que estamos integrados”, afirmou. “Uma instabilidade dessa
natureza daria cabo da confiança externa e da confiança interna. Peço-vos que
não deixem o país entrar em rupturas dessa natureza ou convulsões dessa ordem”,
prosseguiu.
Depois Portas
pediu que seja dado “o benefício da dúvida a uma coligação que, sendo
reformista, ajudou não só o país a vencer a etapa da troika, como a ser, neste
momento, um país com maior crescimento económico do que a zona euro, com
criação de emprego a subir, confiança económica, com investimento”.
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