EDITORIAL / PÚBLICO
A difícil posição de António
Costa
DIRECÇÃO
EDITORIAL 06/09/2015 - 05:09
As sondagens são fracas, a
mensagem não passa e Sócrates chegou à cidade. Como sair deste labirinto?
Pode a nova
situação de José Sócrates perturbar a campanha do PS? Pode, se for essa a sua
vontade e, se o objectivo for esse, António Costa pouco pode fazer. Mas uma
coisa é Sócrates agir isoladamente sem a participação ou a conivência de
figuras importantes do universo socialista, outra é vê-los alimentar romarias
ou a produzir declarações que contribuam para ampliar o ruído à volta da
campanha. Se tal acontecer, isso significa que Costa não consegue controlar o
seu partido, colando a si uma imagem de fragilidade que lhe pode ser fatal.
A questão que
hoje se coloca é se o secretário-geral do PS mantém hoje, perante o partido, a
mesma força e autoridade que tinha quando, em Novembro de ano passado, Sócrates
foi detido no aeroporto de Lisboa, no regresso de uma viagem a Paris. Ora a
resposta a isto é que Costa não está agora na mesma posição. Na altura,
conseguiu, com uma simples frase, impor uma fronteira entre o PS e um caso
judiciário, apesar do rosto desse caso ser um ex-primeiro-ministro socialista. Evitou,
assim, qualquer tentação de confundir a acção político-partidária com o decurso
do inquérito judicial, o que obviamente prejudicaria o PS; e travou uma mistura
explosiva capaz de subverter a separação de poderes, um dos principais
fundamentos do Estado e Direito.
Mas isso foi há
dez meses atrás. Agora, as sondagens dão o PS colado à coligação, a campanha
mostra-se (ainda?) incapaz de acertar no tom ou no alvo, a mensagem tarda em
ganhar segurança e consistência, tudo dificuldades que nos remetem para uma
fragilidade que seria inimaginável estar a acontecer nesta altura. Acresce que
o presente (e justificável) distanciamento de Costa face a Sócrates fez
aumentar o peso dos seus críticos internos, o que torna ainda mais difícil a
sua gestão dentro do PS.
Os primeiros
sinais do próximo futuro também não são encorajadores. Do lado de António
Costa, foi decepcionante a primeira declaração feita sexta-feira à noite, logo
após a saída de Sócrates da cadeia de Évora. O líder socialista apareceu
inseguro, como se tivesse sido apanhado de surpresa, quando este acontecimento
era mais que previsível, competindo-lhe apenas ter todas as respostas e todos
os cenários estudados e na ponta da língua. Ontem de manhã, no norte, corrigiu
a pose e surgiu bastante mais seguro, não se afastando um minuto do objectivo
daquela acção de campanha. Veremos se consegue resistir ao que aí vem. E bem
pode ir afinando a sua resiliência porque do lado socrático, não vai ter a vida
facilitada. Menos de doze horas do ex-líder entrar na nova morada, já os seus
advogados davam uma conferência de imprensa repisando a mesma mensagem de
sempre: José Sócrates é inocente e a prova disso é que o Ministério Público não
consegue deduzir-lhe a acusação; a prisão preventiva é uma “manobra de
propaganda” que serve para esconder a natureza política do processo. Ou seja,
Sócrates quer colocar o seu caso no terreno da política, o lugar de onde Costa
quer fugir a todo o custo. Não está nada fácil a vida do secretário-geral do PS.
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