Socialistas consideram “erro
grave” veto de Costa a coligação com PSD
MARGARIDA GOMES e
NUNO SÁ LOURENÇO 02/12/2014 - PÚBLICO
Alguns membros do PS contestam
estratégia mais virada à esquerda por recearem que pode retirar votos ao centro.
Francisco Assis
não é o único socialista divergir da linha de orientação política e estratégica
da nova direcção do PS e a defender uma coligação com o PSD no caso de os
socialistas não alcançarem uma maioria absoluta nas eleições legislativas de
2015.
Mas para já,
Francisco Assis, que optou por ficar de fora dos órgãos nacionais do PS por
divergências com o modelo de partido escolhido por António Costa, é dos poucos
a assumir publicamente as suas
divergências, embora mesmo assim se mostra disponível para colaborar como
militante de base.
A poucos dias da
realização do Congresso do PS, Francisco Assis defendeu, numa entrevista ao
site Observador, que o PS não podia fechar as portas a um entendimento com o
PSD. “Se ninguém tiver maioria absoluta é desejável que exista uma coligação [à
direita] para garantir a devida estabilidade política”, disse.
O ex-deputado
Ricardo Gonçalves, apoiante do ex-líder António José Seguro, considera que
António Costa “está a cometer um erro grave ao deixar que o partido tenha uma
carga muito ideológica à esquerda e que isso acaba por afectar a sua própria
imagem”. “Ao colar o partido demasiado à esquerda radical afasta o eleitorado
que está descontente com Pedro Passos Coelho e também não consegue ir buscar os
votos à abstenção”, explica Ricardo Gonçalves, sublinhando que se a “estratégia fosse outra Costa chegaria
ao eleitorado que se situa entre o PS o PSD”.
Ao PÚBLICO, o
ex-deputado, que integra a nova Comissão Nacional do PS, que saiu do congresso
do último fim-de-semana, diz que “nunca imaginou que esse fosse o caminho do
partido” e defende que o “PS tem de ser um partido plural, porque hoje os
problemas são muito grandes”. Afirmando que uma coligação com o PCP e com o
Bloco de Esquerda “não é viável, nunca o foi, nem nunca será”, Gonçalves refere
que “essa mesma esquerda tem posições muito diferentes do PS em relação à
Europa, à NATO e à moeda única”, por exemplo.
Uma outra fonte
do PS-Porto, também conotada com António José Seguro, discorda desta colagem à
esquerda “imposta” por António Costa e adverte que “há matérias em relação às
quais o PS não pode ceder, como sejam integração europeia, questões atlânticas,
reestruturação da dívida pública, Tratado Orçamental e moeda única”. “Estas são
questões em que a esquerda tem uma postura radical”, declara a fonte, frisando
que “apenas” no aspecto social e de alguma maneira ambiental há convergência.
Um outro
dirigente nacional considera que António Costa está a fazer um exercício que
consiste em dizer que está disponível para um entendimento com a esquerda, mas
sabe que essa esquerda não vai querer aliar-se ao PS. E a solução será fazer
uma coligação à direita, como defende Francisco Assis, nota o mesmo dirigente.
Sublinhando que o
PS está dividido, metade quer que vire à direita e outra metade quer que vire à
esquerda – “essa divisão estava estudada por António José Seguro”, diz a mesma
fonte –“a melhor solução passa pelo PS fazer acordos de incidência parlamentar
em 2015, talvez com o Livre ou com o Partido Democrático Republicano”.
Instado a
comentar, um membro do novo secretariado de António Costa foi taxativo. “Não
haverá acordos com a direita que convertam o PS num continuador da política dos
últimos três anos”, explicou Sérgio Sousa Pinto. O dirigente criticou depois os
críticos pela falta de visão em relação ao que os eleitores esperam do PS:
“Aparentemente há quem no PS pugne pelo jogo da alternância. Isso esvaziaria o
último congresso do PS do seu significado. Trata-se de não frustrar as pessoas
e o seu legítimo desejo de mudança real na condução do país”.
Mas um dia depois
do Congresso que sublinhou o discurso virado à esquerda parece haver pouco
espaço para iniciar esse debate. E mesmo no seio da corrente em que o diálogo
colhe mais apoios – a que agrega os apoiantes de Seguro e que ontem erradamente
no PÚBLICO foram incluídos Eduardo Cabrita, José Manuel dos Santos e Isabel
Santos – o conclave de Lisboa assistiu a atritos que lhe retiram força
política.
A verdade é que
na madrugada de sábado a negociação das listas para os órgãos fez estalar uma
disputa entre os que estão mais próximos de Álvaro Beleza e um grupo liderado
por Miguel Laranjeiro, José Luís Carneiro, Rui Solheiro e Miguel Ginestal.
Naquela noite, as listas foram revistas por mais de uma vez, com incidentes
caricatos em que até alguns dos dirigentes mais próximos de Costa se viram
forçados a intervir.
O braço-de-ferro
sobre a indicação de nomes para os 30% que couberam aos apoiantes de Seguro
deixou cicatrizes entre os dois grupos. E não é de descartar que no futuro
estas duas facções se venham a digladiar pela liderança do que resta da
corrente que foi encabeçada por Seguro.
Entretanto, no
Porto, Manuel Pizarro, líder da concelhia do PS-Porto, que integra a nova
direcção de António Costa, deverá deixar nos próximos dias a liderança do órgão
concelhio para assumir o lugar no secretariado nacional, órgão de confiança do
secretário-geral, para o qual foi eleito congresso do último fim-de-semana.
Pizarro deverá
convocar a comissão política ainda esta semana para fazer a passagem do
testemunho ao número dois da lista, Tiago Barbosa Ribeiro, porque os estatutos
proíbem a acumulação de cargos executivos.
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