Portas quer reposição do feriado
do 1 de Dezembro
SOFIA RODRIGUES
02/12/2014 - PÚBLICO
Ribeiro e Castro congratula-se com a "revisão" da decisão do
partido.
O líder do CDS-PP
e vice-primeiro-ministro Paulo Portas vai propor ao partido a reposição do
feriado do 1.º de Dezembro, eliminado pelo actual Governo PSD/CDS-PP. A
proposta será apreciada pelo próximo Conselho Nacional do CDS-PP, anunciado
para o próximo dia 13, em Elvas.
A informação foi
confirmada pelo PÚBLICO junto do líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães. A
posição do CDS surge na mesma altura em que António Costa, enquanto presidente
da Câmara Municipal de Lisboa, sugeriu a reposição do feriado da Restauração da
Independência.
“Desde 1862,
[que] o município de Lisboa se junta à Sociedade Histórica [da Independência de
Portugal] para celebrar a independência nacional, data que desde 1910 e até bem
recentemente constituiu feriado oficial e que quero que seja hoje o último dia
em que comemoramos sem estarmos nessa condição”, afirmou António Costa. O
secretário-geral do PS comprometeu-se com a reposição do feriado no congresso
do partido no passado fim-de-semana se for eleito primeiro-ministro.
Nuno Magalhães
lembra que o CDS considerou desde o início que a decisão de eliminação dos
feriados era uma medida “transitória”. Fonte próxima de Paulo Portas recorda
que o líder do CDS sempre considerou que a eliminação dos feriados não era uma
medida definitiva e que isso ficou estabelecido no acordo com a Santa Sé,
negociado pelo próprio em 2012 enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros. A
suspensão seria reavaliada ao final de cinco anos, ou seja, em 2017. Um prazo que
Portas quer agora antecipar.
Na mesma
cerimónia desta segunda-feira para assinalar o 1º de Dezembro, na Praça dos
Restauradores, o deputado do CDS Ribeiro e Castro, coordenador do Movimento 1º
Dezembro, afirmou que não votará “em ninguém em 2015 [nas eleições
legislativas] que entre outras correções e ajustamentos que importa fazer, não
se comprometa claramente com a reposição do feriado”.
O 1.º de Dezembro
foi eliminado no início de 2012, tal como outros três, um civil (5 de Outubro)
e dois religiosos (1 de Novembro e dia do Corpo de Deus). Em 2013, o Governo
introduziu na lei uma alteração que confere transitoriedade à eliminação dos
feriados, estabelecendo que a decisão podia ser reavaliada no prazo de cinco
anos, em reflexo do acordo com a Santa Sé.
Ribeiro e Castro,
que tem dado a cara por esta causa, congratula-se pelo recuo do CDS. “Considero
importante se houver uma revisão do partido. Só posso cumprimentar. Houve
momentos muito difíceis. O capital da reposição do 1.º de Dezembro é muito
maior do que tudo o resto”, afirmou o ex-líder do partido ao PÚBLICO. O
deputado foi muito criticado internamente pela posição de defesa da reposição
do feriado que sempre assumiu. Essa defesa levou-o mesmo a votar contra uma
proposta de alteração ao Código de Trabalho, em 2013, em que se manteve a
eliminação do feriado.
A eliminação dos
feriados nunca agradou muito às bancadas da maioria. No PSD, os deputados foram
apanhados de surpresa com a iniciativa do líder do CDS. Ninguém quer dar a
cara, mas a colagem à promessa de António Costa é criticada.
O PÚBLICO tentou
contactar o Ministério das Finanças para verificar a disponibilidade do Governo
para reavaliar a suspensão dos feriados, mas o gabinete de imprensa remeteu
para a tutela da Economia que foi o negociador (através do então ministro
Álvaro Santos Pereira) com os parceiros sociais. Ora, o ministério da Economia
é hoje liderado por António Pires de Lima, do CDS.
Conselho nacional
em atraso
Além da reposição
do feriado, o próximo Conselho Nacional irá debater as 10 moções sectoriais
apresentadas no 25º congresso do partido, realizado em Janeiro deste ano. Quase
um ano depois é que os conselheiros do CDS irão votar as moções sectoriais, já
que a única vez que estiveram reunidos desde o congresso foi em Maio, a
propósito das eleições europeias.
Em Outubro
passado, no final de uma comissão política do CDS chegou a ser anunciada a
realização de um Conselho Nacional para dia 8 de Novembro, mas não chegou a ser
marcado formalmente pelo seu Presidente, o deputado Telmo Correia. Na agenda do
próximo Conselho Nacional está ainda inscrito um ponto sobre a estratégia de
comunicação do partido e a apresentação do programa do gabinete de estudos.
Portugal não
lidera ranking dos países com mais feriados
Foi em nome do
combate ao défice e do aumento da produtividade que o Governo PSD/CDS, no
âmbito do programa de ajuda externa, propôs aos parceiros sociais a eliminação
dos quatro feriados. A medida foi tomada com o acordo dos parceiros sociais, à
excepção da CGTP, e foi aplicada desde o início de Janeiro de 2013.
À luz de um
acordo com a Santa Sé foram suspensos o 1 de Novembro (Dia de Todos os Santos)
e o Dia de Corpo de Deus (móvel) bem como o 1º de Dezembro e o 5 de Outubro
(Implantação da República). Ficaram como obrigatórios os feriados dos dias 1 de
Janeiro, Sexta-feira Santa, Domingo de Páscoa, 25 de Abril e 1 de Maio, 10 de
Junho, 15 de Agosto, 8 e 25 de Dezembro. O dia de Carnaval não é feriado nacional,
embora muitas câmaras municipais o decretem localmente, contrariando a prática
do Governo em não conceder tolerância de ponto nesse dia.
Portugal não está
entre os países de todo o mundo que assinalam mais feriados no calendário. De
acordo com um recente estudo da consultora Mercer, divulgado em Outubro
passado, Portugal encontra-se ao lado de Espanha, Bélgica, Luxemburgo e Noruega
na 9ª posição ao gozarem 10 feriados públicos anuais.
O ranking mundial
é liderado pela Índia e pela Colômbia, que assinalam 18 feriados. Quanto à
Alemanha, a Mercer refere que o país celebra nove feriados, mas que a contagem
varia entre os diferentes estados e que há trabalhadores que podem ter até 13
dias feriados.
O deputado do CDS
José Ribeiro e Castro, coordenador do Movimento 1º de Dezembro, está a promover
uma recolha de assinaturas para uma iniciativa legislativa de cidadãos que
pretende a reposição do feriado da Restauração.
Dentro do grupo
parlamentar do CDS, deputados como João Almeida (actual secretário de Estado da
Administração Interna) e Telmo Correia (presidente do Conselho Nacional do CDS)
defenderam em 2012, em declarações de voto, o carácter transitório da
eliminação dos feriados e assumiram preferir a mobilidade dos feriados para
evitar as “pontes”.
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