PSD critica mais uma ‘venda directa de património’, agora na Av. 24 de
Julho
Os deputados municipais do
partido acreditam que a hasta pública para a alienação do “triângulo dourado”
tem um destinatário: a José de Mello Saúde, que fez pedido de informação para a
construção de um hospital
Inês Boaventura /
3/12/2014 / PÚBLICO
O PSD na
Assembleia Municipal de Lisboa acusa o executivo camarário de estar a promover
“uma grande farsa” ao lançar uma hasta pública para a venda de um terreno, na
Avenida 24 de Julho, para o qual a José de Mello Saúde já apresentou um Pedido
de Informação Prévia. O deputado Victor Gonçalves afirma que a câmara “está a
fazer vendas directas de património municipal, à semelhança do que aconteceu no
terreno onde está instalado o quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros”, que
foi vendido à Espírito Santo Saúde.
Ontem, a
assembleia municipal apreciou o Plano de Urbanização de Alcântara (PUA) e, logo
depois, uma proposta que visa o lançamento de uma hasta pública para a venda de
um prédio na Rua do Jasmim e de um terreno na Avenida 24 de Julho. A alienação
desse lote, conhecido como “triângulo dourado” e ao qual foi atribuído um
valor-base de licitação de 20,350 milhões de euros, estava, nos termos da
proposta, “condicionada à prévia aprovação” daquele plano.
As primeiras
críticas vieram do bloquista Ricardo Robles, que considerou que se tivesse
havido “bom senso e respeito democrático” as duas propostas não teriam sido
apreciadas praticamente em simultâneo. O deputado acusou o executivo camarário
de ter cometido “um erro político”, ao promover “um urbanismo à medida dos
interesses”, e acrescentou que “este plano não devia chamar-se Plano de Urbanização
de Alcântara, mas plano do lote dos 20 milhões”.
Já Margarida
Saavedra, do PSD, sublinhou que “três quartos do plano caíram sob o manto
diáfano da fantasia”, na medida em que muitos dos investimentos nele previstos,
como a ligação em túnel entre as linhas ferroviárias de Cascais e de Cintura,
não têm sequer uma data prevista de concretização. Uma ideia que foi depois
corroborada pelo seu colega de bancada Victor Gonçalves, para quem o PUA mais
não é do que “uma abstracção criativa do vereador Manuel Salgado, que não tem
nada que ver com a realidade”.
Além de críticas,
Margarida Saavedra fez perguntas: a deputada quis saber se o vereador do
Urbanismo confirmava que tinha dado entrada na Câmara de Lisboa um Pedido de
Informação Prévia (PIP) para a construção de um hospital no “triângulo
dourado”. Depois de alguma insistência, Manuel Salgado admitiu que sim, mas
desvalorizou o procedimento, desencadeado pela José de Mello Saúde.
Déjà vu
“Eu posso meter
um PIP para uma propriedade sua e não tenho de pedir autorização a ninguém. Foi
efectivamente o que aconteceu”, respondeu o vereador do Urbanismo a Margarida
Saavedra, confirmando depois que está em causa a construção de um hospital, que
chegou a estar previsto para um outro terreno também incluído no PUA.
“Esta hasta
pública não é mais do que uma venda directa”, concluiu Victor Gonçalves,
acrescentando que “não é a primeira vez que isto acontece”. Também António
Arruda, do MPT, admitiu que durante a discussão que teve lugar ontem sentiu
estar “a ter um déjà vu”, dada a semelhança com o que aconteceu com o lote
contíguo ao Hospital da Luz, cuja venda à Espírito Santo Saúde foi confirmada
na segunda-feira.
“Qualquer pessoa
pode concorrer. Ninguém sabe se aparece um, dois ou quatro interessados”,
reagiu Manuel Salgado, que recusou a ideia de que o PUA tenha sido feito para
permitir a alienação do terreno. O vereador frisou ainda que 45% da área na
Avenida 24 de Julho que o município pretende alienar até ao fim do ano
regressará depois à sua posse, para criação de uma área verde com “uma bacia de
retenção”.
O PUA foi
aprovado com os votos contra do PSD, BE e PEV e a abstenção do CDS, MPT, PAN e
PCP. Já a alienação em hasta pública do “triângulo dourado” teve a oposição do
PSD, CDS, MPT, PCP, PEV e BE e a abstenção do PAN.
Também aprovada
nesta reunião da assembleia municipal foi a realização de uma permuta de
terrenos entre o município e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) e a
companhia de seguros Lusitânia, que, como sublinhou o vereador do Urbanismo da
Câmara de Lisboa, vai permitir resolver uma situação que se arrastava desde o
final da década de 80 do século passado. Esta proposta teve os votos contra do
PSD, MPT, PCP, PEV e BE, a abstenção do CDS, do PAN e de cinco deputados dos
Cidadãos por Lisboa e os votos favoráveis dos restantes eleitos.
Nos termos desta
proposta, a CEMG transmitirá para o município um terreno na Avenida Columbano
Bordalo Pinheiro e na Praça de Espanha com 1461m2, enquanto a Lusitânia
transmitirá um prédio na Praça de Espanha com 1245m2. Além disso, estas
entidades entregarão à autarquia quase 12 milhões de euros. Em troca, a Câmara
de Lisboa entregar-lhes-á, em regime de copropriedade, um terreno municipal na
Praça de Espanha, Avenida de Berna e Avenida Santos Dumont, com 6332m2.
No lote camarário
estão hoje localizados o restaurante La Gondola e uma esquadra da PSP, que
terão de abandonar o local até 31 de Dezembro de 2016. O vereador Manuel
Salgado garantiu que a esquadra será relocalizada num edifício municipal na
mesma artéria em que se encontra actualmente, a Avenida Santos Dumont.
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