domingo, 31 de dezembro de 2023

Former aides warn of ‘running out of time’ to prevent Trump re-election

 


Former aides warn of ‘running out of time’ to prevent Trump re-election

 

Sarah Matthews, Cassidy Hutchinson and Alyssa Farah Griffin insist Trump’s behavior would be worse if he wins second term

 

Richard Luscombe

@richlusc

Sun 31 Dec 2023 21.08 GMT

https://www.theguardian.com/us-news/2023/dec/31/former-aides-warn-trump-re-election-could-end-us-democracy

 

The re-election of Donald Trump in 2024 could “end American democracy as we know it”, according to three women who worked for him in the White House during his chaotic term in office.

 

All three gave testimony to the US House committee investigating Trump’s efforts to overturn his 2020 election defeat as well as the 6 January 6 Capitol attack staged by his supporters. And they warned in an unprecedented television interview on Sunday that time was short to prevent a second Trump administration in which they insist his behavior would be much worse.

 

“People in general have short memories, and might forget the chaos of the Trump years,” Sarah Matthews, a former deputy White House press secretary who resigned on the day of the deadly Capitol riot, said on ABC’s This Week.

 

“They also might not just be paying attention to what he’s saying now – and the threat to democracy that exists. It does really concern me if he makes it to the general [election] that he could win. I’m still hopeful that we can defeat him in the primaries, but we’re running out of time.”

 

Matthews was joined in the interview by former White House aide Cassidy Hutchinson, a key witness against Trump during the House committee’s public hearings in 2022, and Alyssa Farah Griffin, his former communications director, who said she dreaded him returning to office.

 

“Fundamentally, a second Trump term could mean the end of American democracy as we know it, and I don’t say that lightly,” Griffin said.

 

“We all witnessed him trying to steal a democratic election before and go into historic and unconstitutional lengths to do so. That just shows he’s willing to basically break every barrier to get into power and to stay into power.

 

“What scares me as much as him and his retribution is the almost cult-like following he has, the threats, the harassment, the death threats that you get when he targets you, is really horrifying and has no place in our American discourse.”

 

About two days before the interview aired, someone placed a fake emergency call to police that prompted armed officers to arrive at the home of Maine’s secretary of state, Shenna Bellows, after she removed Trump from the state’s presidential primary under the US constitution’s insurrection clause. Bellows was not home when the attempted “swatting” call was made.

 

Hutchinson, ex-aide to Trump’s chief of staff Mark Meadows, said voters needed to believe Trump when he said he would be a dictator on his first day back in the White House.

 

“The fact that he feels that he needs to lean into being a dictator alone shows that he is a weak and feeble man,” she said.

 

Matthews, meanwhile, said Trump had already signaled what his second administration would look like.

 

“We don’t need to speculate because we already saw it play out,” she said.

 

“To this day, he still doubles down on the fact that he thinks that the election was stolen and fraudulent. And his rhetoric has just gotten increasingly erratic. He’s literally called for things like doing away with parts of the constitution, [and] wanting to weaponize the department of justice to enact revenge on his political enemies.

 

“I knew that coming forward and speaking out against Donald Trump I could … face security threats, or death threats, online harassment. Despite all the personal sacrifice, I knew that ultimately it was the right thing to do. I just would encourage others to come forward because they’re running out of time in order to try to stop Trump from being in the Oval Office again.”

 

The courage of the three women in speaking against Trump was a recurrent theme in the interview by This Week’s co-anchor Jonathan Karl. Martin and Hutchinson spoke of secret meetings in the basement of the Capitol with Liz Cheney, one of only two Republicans who sat on the House committee, and their loss of friendships with others in the Trump White House who felt the women had betrayed them.

 

“There were critical parts of history that the public would not know if not for Cassidy Hutchinson,” Griffin said.

 

“Other senior officials witnessed them, but did not come forward. They did not testify, whether it was credible threats about the attack on the Capitol, that people showing up that day were going to be armed, that there was a scheme to try to stop the vice-president certifying the election.

 

“I credit these women who are younger than me and had not as senior of titles, and stepped forward. For me, I want to be able to look my future kids in the eye and say when history called, I did the right thing, and I had the courage to do it.

 

“That matters to me more than any future job or power structure that might exist if he’s president again.”

2nd Trump term would be ‘the end of American democracy as we know it’: Griffin

Recordando: A "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura do Arquitecto Criador no Património de todos nós, por António Sérgio Rosa de Carvalho./25/06/2012.



 Igreja de São Julião antes das obras.

 


Igreja de São Nicolau

  É conhecida a "história" que se conta à volta dos possíveis remorsos que Eugénio dos Santos teria exprimido no seu leito de morte ...
Eugénio dos Santos no seu "master plan" da Baixa Pombalina teria inserido as Igrejas totalmente na malha urbana, "sacrificando" assim simbólicamente as paróquias, ao grande Projecto Iluminista.
Assim se integravam totalmente os Templos na cidade Moderna Renascida, cidade essa que seria habitada por uma nova Burguesia Iluminada e Mercantilista, ilustração de que o Plano antecipava uma Total Reforma da Sociedade.
Ora isto é importante no que respeita o ritmo inserido das janelas ( guilhotinas ) das Igrejas na totalidade dos blocos Pombalinos. Assim tal como nas fotografias da Igreja de São Julião antes das obras ou como por exemplo, na da Igreja de São Nicolau o demonstram, o respeito pela EXISTÊNCIA -  linguagem, ritmo e tipologia das janelas é essencial para o respeito da Filosofia e intenções originais do Plano, ESPECIALMENTE QUANDO SE CONTINUA A AFIRMAR QUE SE PRETENDE CANDIDATAR A BAIXA A PATRIMÓNIO MUNDIAL !


 Vejamos agora o que Gonçalo Byrne  e Manuel Salgado (  apoiou e aprovou ) desenvolveram nas obras da Igreja de São Julião .
Depois da utilização da gravura original de Reinaldo Manuel resolveram rasgar os janelões Mansarda originalmente planeados ( aí nada a apontar pois os mesmos foram desenvolvidos em linguagem e tipologia correctas ) mas depois resolveram "tratar" e transformar as janelas como simples aberturas ( algumas realmente cegas tais como na gravura) e outra com inserção de apenas vidro em profundidade criando o mesmo efeito - redutor e abstracto - pela não existência de caixilhos à superfície da fachada.
Ora esta intervenção é mais uma vez, tal como Gonçalo Byrne, nos tem habituado ( Ver Museu Machado de Castro ) redutora e interpretativa.
Exercerá talvez a sua função no interior do Museu, mas altera completamente o espírito original e a Filosofia e Intenção de Leitura Urbana  do Plano Pombalino.
Embora as "aberturas' ainda lá estejam, com profundidades e cantarias ( e no futuro podem ser repostas ) o discurso Urbano Pombalino foi alterado  - e foi vítima de uma espécie de Acordo Ortográfico da "Linguagem Pombalina" - transformando uma fachada contínua Pombalina e reduzindo-a quase em metáfora  à abstração da sua própria gravura de concepção ...









 E claro, não podia faltar a "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura de Byrne, estratégicamente bem colocada.
"Isto" é grave, muito grave ... Como se pode continuar a afirmar que se pretende candidatar a Baixa Pombalina a património Mundial com este tipo de Intervenções ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.


Originalmente publicado em 29/11/2010 / COMO ARRUINAR A BAIXA POMBALINA ... A Falsa Recuperação .... por António Sérgio Rosa de Carvalho.29/11/2010


Rua do Arsenal ... imagens da última "intervenção" numa área de Pombalino puro, a que falsamente e criminosamente, no que respeita a salvaguarda das características verdadeiramente Pombalinas, se insiste em chamar de "recuperação" ...
O Pombalino na sua essência e originalmente já transporta em si, devido à necessidade de reconstrução sistematizada e massificada de toda uma cidade destruida ... perante os valores arquitectónicos do sec. XVIII uma grande capacidade redutora e funcionalizadora dos seus elementos ... daí a necessidade imperativa de respeitar as formas, perfis e materiais dos seus elementos originais ... mansardas, janelas e todos o jogo em "chiaroescuro" que as suas volumetrias, perfis e alternâncias nas suas fachadas e coberturas ...determinam ... e que garantem a sua autenticidade e carácter...



Claro que se deixarmos as verdadeiras mansardas Pombalinas chegarem a este estado de degradação ... aí ... temos o caminho aberto para "aproveitar" a "oportunidade" oferecida pelas indefinições propositadas e os "ângulos cegos" premeditados na legislação intencionalmente relativizadora dos valores patrimoniais ...presente no Plano de Salvaguarda a ser implementado sem o IGESPAR ... para intervir desta forma ...



E no entanto as referências estão lá e existem ... Não foi 'por acaso' que se relativizou a necessidade de dar seguimento à Candidatura a Património Mundial



É também desta forma e dentro desta 'receita' relativizadora que se vai intervir no Largo de S. paulo ?


E no entanto, se quisermos ... se houver rigor e vontade política ... também se faz em Portugal o que se faz lá fora em matéria de verdadeira Reabilitação ... a primeira imagem ... não longe do bairro de S. paulo ... a segunda de Amsterdam



E os magnificos interiores Pombalinos originais ... continuam a ser destruidos pelo Fachadismo ...



Para terminar leiam este artigo em Inglês :

10 Ways to Ruin an Old Building

Jonathan Taylor

1 Employ consultants and contractors who do not specialise in historic building work
The importance of old buildings is not in question. Historic town and city centres across the British Isles attract millions of visitors every year, and houses within areas that contain few post-war alterations command significantly higher values than similar houses in areas which are broken up by modern developments. Their appeal lies not only in their sense of history but also in their visual character and interest: the rich variety of colour, texture and form, the individuality of natural and hand-made components, the abundance of intricate details from fine glazing bars to decorative railings and street furniture, and the softness of mature landscaping.

Despite extensive redevelopment which damaged so many historic centres, particularly in the 1960s and ‘70s, almost all our towns and cities retain pre-20th century historic cores, and around one in five buildings today pre-dates 1914. In those urban centres where historic integrity is strong, the character is maintained not only by planning control but also by peer-pressure and increasing recognition that insensitive alterations will damage the financial value of the owners’ properties. However far more old buildings have been hidden under a veil of alterations, and in many cases poor alterations and a lack of maintenance threatens their survival.

Today major redevelopment in historic centres is rare, and the greatest threat comes from the small, insidious ‘improvements’ often made by well intentioned but misinformed owners, their contractors and consultants, as well as from a lack of regular maintenance. Traditionally constructed buildings do not perform in the same way as modern ones and need to be treated differently, at every stage of their conservation and repair. Modern materials and construction techniques are often incompatible with traditional ones, and repairs which are suitable for modern buildings can lead to the deterioration of historic building fabric. Relatively few contractors and consultants have the expertise required to deal with the special problems of historic buildings, and even relatively harmless techniques can damage historic materials in the wrong hands.

A few simple alterations have made one half of this attractive Victorian house look modern, and the loss of the garden and its front wall have added to the erosion of a conservation area. (Kit Wedd)

2 Do not carry out any essential maintenance work


If huge repair bills are to be avoided and important historic fabric protected, owners need to clear gutters of leaves in the autumn; roofing slates and tiles need to be replaced, flashings maintained and chimneys pointed and capped to prevent water entering the fabric of the building, causing decay.

Air bricks and vents need to be kept clear of weeds to ensure that cellars and sub-floor cavities are kept well ventilated to prevent condensation, which also causes decay.


Pipes, washing machines, shower trays and other potential sources of water within the building need to be checked for leaks for the same reason.

Visible signs of decay caused by poor maintenance.

3 Use cement in place of lime for mortars

Masonry which is traditionally constructed is bedded in soft lime mortar and is relatively flexible: pointing with a hard cement restricts its movement, causing stress in the surface of the wall where it is bound by the cement, and the face of soft stone and brick will fail as a result.

Cement mortars are also impermeable - that is to say that they do not allow the structure behind to 'breathe': moisture is forced to evaporate through the stone or brick, and in extreme cases may cause these materials to deteriorate.

Cement mortars may also be visibly different, both in colour and detail: being hard they can be made to project forward from the face of the wall, or may be smeared across the edges of stones, changing the appearance of the wall as a whole.

A timber framed house with panels re-rendered using a hard cement. The panels allow rain to penetrate the walls at their junction with the exposed timbers but the hard render restricts its evaporation, causing extensive decay. (Robert Demaus)


4 Paint or coat surfaces which were originally left natural

Cementitious coatings and most modern paints and stone consolidants are not porous and will lock moisture in the walls: evaporation is concentrated at cracks where any salts present crystallise, causing decay.

Damp patches may appear on the inside wall as more moisture is forced to evaporate here.


Certain materials will deteriorate rapidly as a result of the increased moisture levels, including cob, daub and other earth mixtures, and timber is more likely to rot.

All non-original coatings hide the original colour and pattern of stone and brickwork and modern coatings and claddings such as stone cladding, pebble-dashing, and other modern cementitious coatings make old buildings look (at best) modern and ordinary.

Evaporation of moisture from a wall is concentrated by an impermeable coating at cracks, leading to localised stone decay due to salt crystallisation. The use of colour to emphasise the drain pipe is also questionable.


5 Extend or alter the accommodation in a manner which conflicts with its style


Badly designed extensions can dominate the existing building by virtue of their size or style, or a change in material or finish.

Internal alterations which involve the loss of the original layout of rooms, decorative features or principal features such as fireplaces and staircases damage the character of the interior.

Covering the garden with tarmac to create forecourt parking damages the townscape and the setting of a building.

This early 18th century cottage with dressed stone windows has been altered and extended many times this century, most recently with the top-heavy dormer windows and the porch (see next illustration).

6 Introduce mix-and-match ‘period style’ detail

The addition of reproduction features for uses never originally intended, such as 'carriage lamps' on either side of a front door, external shutters particularly where they are fixed to the walls and clearly serve no functional purpose, and ‘bulls-eye’ glass panes make old buildings look cheap and phoney.

Poor 'period-style' features such as front doors with press-moulded panel mouldings, black rubber seals, fanlights within the door itself, stuck-on strips in imitation of leaded lights, and other fancy details look incongruous in a genuinely historic building.

The ‘restoration’ of features where they never existed confuses the history of a building; for example, the introduction of fine plaster mouldings in attic rooms, basements and other rooms where features were once simple and functional.

These details have been chosen to look 'quaint’, but would be more in keeping with the character of a modern housing estate than this 18th century cottage.



7 Replace original components unnecessarily


Replacement windows are rarely necessary: decay is usually limited to the bottom few inches of the frame and new timber windows are liable to decay more quickly than the originals would if repaired.

The removal of all timber within one metre of any visible sign of dry rot (which is still advocated by many) is excessively devastating and unnecessary as the reintroduction of dry, ventilated conditions alone will prevent its growth.

Old and original structures which have distorted through old settlement and are now stable may need repair, but rarely need to be replaced.
Replacement plastic windows in particular (see 6 & 7 above) fail to match the appearance of old windows: they invariably have larger, heavier sections than timber windows; black rubber gaskets are visible around the glass; and fine glazing bars cannot be incorporated convincingly. Their claim to be 'maintenance-free' is also misleading as plastic, like paint, becomes scratched and disfigured by dirt in time, and it will eventually need to be painted regularly to maintain its appearance.

New plastic windows in particular detract from the character of old buildings.



8 Position modern services and equipment intrusively

Satellite dishes, air-conditioning units and extractor fans are alien features, which, where necessary, can usually be positioned discreetly.

Electricity wires, telephone cables, lightning conductors and other services need to be installed tidily without snaking across walls and decorative features; careful planning may avoid the need to chase service runs into the original structure.

Modern fixtures such as radiators, smoke detectors and other interior service fittings can be painted to blend with the prevailing colour of the wall to which they are fixed, and in some cases may be hidden altogether without affecting their performance.

Satellite dishes need to point in a particular direction, but they do not need to be on the front of a house, nor do they need to be coloured black.


9 Use cleaning methods which damage original surfaces


Sand-blasting and even the most gentle air abrasive cleaning can remove the surface from stone or brick, particularly in the wrong hands and should never be used on timber.

Chemical cleaning agents such as acids and alkalis react with stone and brick as well as dirt layers, causing damage, and all can leave harmful residues behind

Water even under low pressure soaks masonry and can cause surface staining and efflorescence (salt crystallisation), and in the worst cases may lead to the decay of masonry.

Paint-stripping doors by immersion in a caustic bath damages wood and removes glue from joints.

Dipping in a bath of caustic soda is by far the cheapest way to paint-strip doors, but also the most damaging to the timber and the joints in particular.

10 Overload an existing structure

Replacing slates with concrete roofing tiles can cause rafters to bow and even collapse under the increased weight unless the structure is reinforced.


Underpinning part of a building can move loads onto other parts of the structure, exacerbating settlement damage, and is often carried out unnecessarily.

Removing low ties of a roof truss (the horizontal beams which run at eye-level across the attic, at right angles to the ridge) can cause the roof to spread and collapse.

Removing chimney breasts, walls and other structural features can also damage the structural integrity of the building.

The tie beams literally tie the two sides of the roof together. Their removal to make an attic usable can lead to the collapse of the roof (the location of the tie beams removed in the past is indicated by the dotted lines).

THE CAREFUL ALTERNATIVE
CONSERVATION

Taken out of context, this long list of don'ts would no doubt cement many people’s view that conservation is all about freezing buildings and places in a perpetual time warp at the expense of any function. However, conservation encompasses a broad range of measures and approaches to historic buildings, and at its best conservation is an extremely creative process.

Within the field of building conservation, the term 'conservation' may be defined as the process of protecting a building and its surroundings from any change that might involve a loss of historic fabric, historic importance or character. This process is made more complex by the fact that most buildings have an active function, and the need to accommodate the function is a recognised facet of building conservation.

A distinction needs to be made between conservation, preservation and restoration, which are often erroneously used to mean the same thing. In the field of building conservation the term 'preservation' is generally used to distinguish a particular type of conservation work sometimes referred to as ‘conservation as found’, in which the fabric is preserved in the state in which it was at the start of the project. Conservation, on the other hand, may involve an element of alteration, for example; to maintain the functional use of the building, or to prevent its further decay.

Restoration is another term used erroneously to mean conservation. Here the issues are more complex, since some restoration work may involve stripping away historic alterations to reveal earlier fabric, and in most restoration work new material is introduced to match missing components. In this respect the aim of restoration is clearly different from that of conservation, and some restoration work may actually damage the historic character of the building. Nevertheless, most conservation work involves some element of restoration, particularly where essential repairs are carried out to match the original form of a decayed component, where the aim is primarily to conserve fabric.

Although conservation does not mean freezing a building in its present state for perpetuity, it does mean that all alterations must be carefully justified beforehand, taking into account not only the affect of the works in the short term but also their consequences for the building, its character, historic interest and its functionality in the future. Historic architecture can often be adapted to meet modern requirements without loosing any historic fabric or with alterations which are designed to be 'reversible'. Where buildings which are listed or in conservation areas are concerned, the degree of alteration permitted by local authorities will vary according to the importance of the building and the components affected and how essential the alteration is to the function of the building.

Developing a caring approach to old buildings is essential to the whole community. Historic architecture affects us all, whether we live in an old building or neighbourhood, shop in historic urban centres, or enjoy sightseeing. Neglect, decay and insensitive alteration has a real impact on the quality of our surroundings.

25/06/2013: Lisboa quer ser Património Mundial?


Lisboa quer ser Património Mundial?

Por João Mascarenhas Mateus in Público
25/06/2013

As recentes inclusões das fortificações de Elvas e de Coimbra na Lista do Património Mundial puseram em evidência a estagnação do processo de candidatura da Baixa Pombalina.
Tal como Coimbra, a Baixa foi incluída em 2004 na Lista Indicativa de bens históricos com possibilidades de candidatar à Lista Mundial. A discussão da importância da Baixa para o Património Mundial foi iniciada em 2003 e a elaboração do dossier em 2004. O processo foi acompanhado de várias iniciativas destinadas a mobilizar a opinião pública tais como a exposição "Baixa Pombalina - 250 anos em imagens" e de uma série de publicações dedicadas ao diagnóstico científico e à divulgação de estratégias de salvaguarda.
O dossier de candidatura foi entregue ao Comité do Património Mundial (CPM) em Paris e pré-avaliado favoravelmente em 12.12.2005. O envio de documentos adicionais entretanto pedidos pelo CPM e a reserva de um espaço na sede da UNESCO para a apresentação de uma exposição sobre a Baixa na Primavera de 2007 foram mandados cancelar em Janeiro de 2006 por António Carmona Rodrigues, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com a indiferença do presidente da Comissão Nacional da UNESCO, José Sasportes. À data, a apresentação de um plano de pormenor para a área não constituía exigência de apreciação por parte da UNESCO e por essa razão o dossier enunciava as directivas de salvaguarda a incluir na elaboração futura de um plano de pormenor. Com a eliminação do gabinete de candidatura em Junho de 2006 foi criado um comissariado para a Baixa. Mais tarde, a Unidade de Projecto da Baixa-Chiado foi dissolvida. Elaborou-se um plano estratégico e posteriormente um plano de pormenor. Desde então tem-se sucedido uma série de iniciativas avulsas para a zona, de que destaco: a renovação do sistema de esgotos na zona da Praça do Comércio, que inviabilizou definitivamente a realização de um túnel rodoviário de rebaixamento da Avenida da Ribeira das Naus na frente fluvial da praça, a renovação dos pavimentos da Praça do Comércio, as obras da frente ribeirinha, que continuam a deixar por montar de novo parte das amuradas de pedra do Cais das Colunas, o Museu do Design, o centro de interpretação na Praça do Comércio, o Museu do Dinheiro com a descaracterização da fachada da antiga Igreja de S. Julião, a uniformização do mobiliário de esplanadas, a conservação do Arco da Rua Augusta e da estátua de D. José, etc. Fala-se agora do licenciamento de várias unidades hoteleiras que se não for realizado com critérios precisos implicará a destruição de interiores e a alteração de fachadas. Paralelamente, assiste-se à degradação da maioria do edificado e a uma falta de coordenação e estratégia de salvaguarda para a zona.
Lisboa, as instituições de tutela do património e o Governo devem decidir, de uma vez por todas, estratégica e planeadamente, aquilo que desejam para a Baixa Pombalina. Se realmente pretendem que esta seja classificada como Património Mundial, então há definitivamente que recuperar o muito trabalho que já foi feito com o anterior processo de candidatura e que espera simplesmente ser actualizado visto terem passado já sete anos desde que aquele foi suspenso. O reconhecimento internacional é simultaneamente uma distinção, uma exigência de conservação da integridade do património e um salto qualitativo do nível das intervenções a realizar no coração histórico de Lisboa. Com a classificação da Baixa como Património Mundial abrir-se-á um novo ciclo em que a participação cidadã será fundamental e os critérios de conservação parte integrante da gestão dessa área da cidade. Divulgar a excepcionalidade do urbanismo ilustrado concretizado na Baixa de Lisboa, convidar os lisboetas a apropriarem-se do seu passado e da originalidade da sua cidade são condições básicas da classificação. Para que tudo isso aconteça é fundamental que Lisboa e Portugal se decidam francamente pela salvaguarda da Baixa Pombalina, avançando unida e independentemente dos ciclos políticos. As relações de poder podem criar-se e destruir-se, a Baixa vê-as passar e espera pacientemente porque merece mais, muito mais do que se tem vindo a fazer por ela. Lisboa não deve perder "comboios" como os do seu reconhecimento internacional. Coimbra e Elvas já apanharam o "comboio" da Lista do Património Mundial. Será que Lisboa é capaz de fazer o mesmo?

Coordenador técnico da candidatura da Baixa Pombalina a Património Mundial de 2003 a 2006; investigador do Núcleo de Cidades, Culturas e Arquitectura do CES - Universidade de Coimbra

22 de Fevereiro de 2020: A “derradeira casa de pasto galega” da Baixa de Lisboa fechou aos 107 anos






REPORTAGEM
A “derradeira casa de pasto galega” da Baixa de Lisboa fechou aos 107 anos

Este sábado, escreveu-se o último capítulo da Casa Cid. Fundada por um galego em 1913, nas traseiras de um outrora movimentado mercado, esta taberna centenária do Cais do Sodré foi empurrada dali porque o prédio onde sempre esteve será um hotel.

Cristiana Faria Moreira (Texto) e Nuno Ferreira Santos (Fotografia) 22 de Fevereiro de 2020, 20:51

Borja Cid não tem mãos a medir. De avental ao peito, ora põe os petiscos na mesa, ora troca dois dedos de conversa com quem passa na rua para lhe dizer que o fecho da Casa Cid é “injusto” e lhe deseja “as maiores felicidades”. Ele, já de lágrimas nos olhos, encolhe os ombros, comove-se com as palavras e agradece.

Este sábado, escreveu-se o último capítulo de 107 anos — quase, quase 108 — de uma tasca erguida e mantida por mãos de galegos, mas que tem também uma alma muito portuguesa. “Acabam com tudo o que é bom. Só querem hostels e hotéis”, atira um freguês que pára para cumprimentar Borja.

O prédio onde está a Casa Cid, nas traseiras do Mercado da Ribeira, terá o mesmo destino que outros tiveram na baixa ao longo dos últimos anos: vai ser transformado num hotel. Foi comprado há cerca de seis anos pelo Fundo Sete Colinas, que tem vários projectos ali para a zona do Cais do Sodré. Como o contrato de arrendamento transitou para o Novo Regime do Arredamento Urbano, acabaram por ficar mais desprotegidos e, em 2018, o proprietário comunicou-lhes que não pretendia renovar o contrato e que teriam de abandonar o espaço em Maio de 2019. Não saíram e avançaram com uma acção judicial para travar a decisão, mas acabaram por aceitar uma indemnização que dá para pagar as dos seis trabalhadores e pouco mais. “Não fazia sentido continuar a prolongar o sofrimento”, diz Borja, enquanto acende o cigarro de enrolar.

As mesas com as toalhas vermelhas e azuis estão postas e, por volta do meio-dia, a casa já estava composta. Este sábado, apareceram os amigos-clientes de décadas. Os petiscos vão saindo para a mesa. Pão, queijo, umas batatas e umas petingas fritas. Às pessoas que vão chegando e pedem uma refeição, Borja vai explicando que é o último dia de portas abertas, mas que só estão a servir a convidados.

O alemão Mattias Uhlenbrock bebe uma última cerveja ao balcão. Há 40 anos que vem “três, quatro vezes por ano” a Lisboa. E parava sempre na Casa Cid para beber uma “short beer ou comer uma chamuça”. “Eu estou profundamente triste com isto. Este é um lugar especial.” Viu a capital mudar muito ao longo de quatro décadas. E o que vê agora fá-lo pensar em cidades como Veneza ou Barcelona, “demasiado superlotadas”. “Os turistas que chegam nos cruzeiros, que ficam e comem nos barcos, ou os que vêm e comem nos hotéis estão a matar estes lugares”, diz o alemão.

O “mercado era outro mundo”
A Casa Cid abriu em 1913, pela mão de um visionário galego de Ourense, Manuel Cid Nuñez, bisavô de Borja, que viu num movimentado mercado uma oportunidade de negócio. Nas décadas de 40 e 50, quando o “mercado era outro mundo”, o restaurante chegou a estar aberto 24 horas por dia. Como era um mercado abastecedor, havia sempre muito movimento. Quando começaram a surgir as grandes superfícies, o mercado “morreu”.


Ainda assim, a ligação daqueles comerciantes com a tasca nunca se perdeu. As peixeiras e os talhantes continuaram a ir lá petiscar; os Cid continuaram a ir abastecer-se ao mercado. Ainda hoje, Borja Cid tratava de ir todas as manhãs às bancas de carne e peixe, frutas e legumes, ver o que tinha chegado de fresco. Inclusive, um dos antigos talhantes do mercado, António Alves, de 80 anos, ainda dava “um jeitinho” na tasca à hora de almoço.

O tacho vai para o meio da mesa. Há favas guisadas e caldeirada de garoupa. Já lá está sentado José Teodoro, 77 anos, ali cliente há cinco décadas, quando trabalhava ali perto, nos escritórios da Sociedade do Bacalhau. “Isto aqui tinha uns petiscos fantásticos. Normalmente, a gente vinha aqui comer uns carapauzinhos fritos com feijão-frade, que era o petisco principal aqui da casa”. As mesas ainda eram de pedra, não havia toalhas, mas ninguém se ralava muito com isso. “Naquela altura, tínhamos duas horas de almoço. A gente comia bem aqui, bebia bem.”

A Sociedade do Bacalhau fechou há 24 anos. Nessa altura, José e os antigos colegas combinaram ir almoçar à Casa Cid todas as sextas-feiras. “Eu pensei que isso ia durar para aí um ano. Mas não. Já lá vão 24. Ainda ontem [sexta-feira] cá estavam dez”. É por isso que diz ter “muita pena”, até “muita mágoa” do desfecho desta casa centenária. “Vai-me deixar muitas, muitas saudades. Vai mesmo.”

Também ali, José Teodoro conheceu o “senhor Alberto”, quando este tinha “17 ou 18 anos” e andava a servir às mesas. “Tinha que andar com os copos no ar para aviar os fregueses. Servia-se 15 litros de leite e 30 de café de saco, 700 carcaças diariamente”, recorda Adão Alberto Santos, 64 anos, que para ali foi trabalhar em Janeiro de 1974 e é hoje sócio da casa.

Do lado de lá do balcão de inox, anda para lá e para cá, aviando as imperiais que os fregueses vão pedindo. Quando se lhe pergunta se se sente triste com este desfecho, ele acaba por admitir que tem “pena que isto acabe mais por ele”. Ele é Borja, o madrileno de 38 anos que pegou no negócio fundado pelo bisavô em 2017, trocando as cozinhas de restaurantes conceituados, por esta pequena tasca de Lisboa.

Fê-lo a pedido da mãe e da tia, que também este sábado ali estavam sentadas à mesa. “A minha mãe e a minha tia foram baptizadas na Igreja de São Paulo. Nasceram ali na Travessa dos Pescadores”, numa casa onde mora hoje o cozinheiro da Casa Cid, conta Borja. Mantiveram sempre uma forte relação com a cidade, apesar de se terem mudado para Espanha.

Para tentar segurar a casa, Borja Cid ainda candidatou a casa ao programa da autarquia “Lojas com História”, que visa “preservar e salvaguardar os estabelecimentos [de comércio tradicional] e o seu património material, histórico e cultural”. No entanto, a atribuição desse estatuto foi rejeitada porque, segundo disse a Câmara de Lisboa ao PÚBLICO em Agosto, a Casa Cid encontrava-se “bastante descaracterizada”.

Ainda esta sexta-feira, na sua página de Facebook, a empresária Catarina Portas, que é membro do conselho consultivo deste programa, deixou uma crítica à forma como se deixa, mais uma vez, desaparecer um estabelecimento histórico na cidade, desta feita, a “derradeira casa de pasto galega da cidade”. “Parte-se-me o coração de ver a Cid fechar pois foi exactamente para contrariar isto que foi criado o programa Lojas Com História na CML. O grande feito deste programa foi conseguir classificar as actividades e não apenas as paredes mas infelizmente, neste caso, os meus colegas do Conselho Consultivo não foram sensíveis à história centenária desta casa, nem à imensa vontade de continuar dos descendentes e donos actuais. Tenho muita pena”, escreveu Catarina Portas, notando ainda que esta casa “era um dos últimos testemunhos vivos da importância da comunidade galega na construção de Lisboa”.

Borja Cid não queria falhar na missão dele, a de manter os sabores e pratos tradicionais portugueses acessíveis na baixa da capital, já que hoje quase estão em extinção. É por isso que tem vontade de reerguer a Casa Cid noutro lugar. “São 107 anos. Não queremos uma grande casa, ninguém quer ser a melhor, mas é aquela herança imaterial que eu acho que não pode ser perdida”, diz.

Nas redondezas “é impossível por causa dos preços”, nota Borja, que recorda o café Tati, ali vizinho e famoso pelos seus concertos de jazz e jam sessions, que também encerrou no final de 2018. “Isto aqui à sexta-feira era um espectáculo. Era uma mistura de malta — mais boémia, mais operária, de várias nacionalidades”. Por isso diz que a casa que dirigia tem, sem dúvida, muito passado, mas teria ainda muito futuro. Talvez as fotografias e as memórias que preenchem as paredes transitem para esse futuro, numa nova casa. Afinal, não se arrumam em caixotes 107 anos assim.

24 de Março de 2017: Mais uma loja histórica com fim à vista? A Antiga Casa Faz Frio lá escapou / As lojas tradicionais da Baixa: desafios presentes e futuros





Mais uma loja histórica com fim à vista? A Antiga Casa Faz Frio lá escapou
Primeiro o medo: A Antiga Casa Faz Frio, na rua D. Pedro V, é mais uma vítima da Lei das Rendas e da turistificação da cidade. Podia ser, mas a promessa é que não será. O restaurante mudou de mãos mas o novo dono garante que a história vai ali permanecer intacta.

ANA FERNANDES 24 de Março de 2017, 20:30

O alarme soou estridente: mais uma casa histórica de Lisboa está com os dias contados. A Antiga Casa Faz Frio, um restaurante perto do Príncipe Real, que já contornou o centenário há uns valentes anos, fecha no fim do ano, anunciou-se. Fez-se a petição, onde se lia que a previsão é que o interior seja totalmente destruído, mil assinaram e o assunto caiu nas redes sociais como fogo na palha. Só que não é essa a intenção do novo proprietário, que não só quer manter o restaurante como melhorá-lo sem o descaracterizar.

É uma causa que galvaniza. A sua idade não é certa – fala-se em 120, outros em 150 anos. A única referência certa é o alvará de 1928 mas a sua origem remonta provavelmente à década de 60 do século XIX, garante Mário Gouveia, um dos sócios do Faz Frio. Nasceu como casa de pasto, provavelmente teria também uma estalagem.

Além do pavimento em pedra, dos velhos azulejos, destacam-se três pequenos compartimentos em madeira, que subdividem o restaurante. Nas paredes destas divisórias estão 28 pregões de Lisboa, evocando as figuras populares do comércio da cidade.

São estes elementos que muitos receiam ver completamente destruídos para que ali nasça algo “gourmet” ou “modernaço”. “Mentira”, assegura Jorge Godinho, que comprou a sociedade aos ainda donos do restaurante, que ali permanecerão até final do ano.

“Vamos manter o restaurante, fazendo algo o mais aproximadamente possível ao que está mas dando outras condições pois como está ninguém lá vai”, diz Godinho. “Vamos fazer o que hoje se faz mas em bom”, assegura. Quanto aos elementos históricos são para manter, dignificando-os.

O projecto de alterações não está concluído mas há modificações inevitáveis: “O balcão é em inox, horrível, as casas de banho são minúsculas, só lá cabem mini-pessoas, o cheiro da cozinha mete-se todo nos andares de cima. Isto tudo é para mudar, preservando o que tem de bom – os azulejos, o chão, os quadros ou os pilares”, exemplifica. “Quero dignificar, melhorar, dar mais salubridade a um espaço que o merece”, reforça.

Nunca questionado sobre as suas intenções, Jorge Godinho viu-se numa máquina trituradora de críticas e acusações. “Não sou contra a petição, sou contra as mentiras que lá estão”, sublinha.

O problema é que a petição parte logo do princípio que é tudo para destruir. Algo de que Mário Gouveia se mostrou também inicialmente convencido - "Vão partir isto tudo", chegou a dizer ao PÚBLICO. Um receio em que não era acompanhado pelo outro sócio – maioritário, com 70% – que critica o rebuliço criado por quem nunca teve os dados todos na mão.

Filho de um cozinheiro da Marinha que chegou ao Faz Frio há 46 anos e que se juntou a outros comandantes que ali davam palco aos petiscos ligados ao mar, Manuel Sequeira assegura que a transição foi tranquila e mostra-se descansado quanto ao futuro do restaurante.

“O prédio foi comprado há dois anos e o senhorio tinha os seus planos para o restaurante. Ainda contactámos as Lojas com História mas eles não têm capacidade para inverter nada. A lei das rendas é como é e, apesar de ainda termos contrato por alguns anos, decidimos chegar a acordo e estamos satisfeitos”, garante.

A sociedade actual nasce em 1970 com seis sócios. O pai de Manuel Sequeira foi comprando quotas ao longo do tempo e o filho também. Recentemente, Mário Gouveia, empregado do restaurante, juntou-se à sociedade, ficando com 30%.

A proximidade ao Parlamento deu-lhe a fama de abrigar tertúlias e conspirações – os compartimentos em madeira ajudaram a criar esta aura de clandestinidade. Segundo Mário Gouveia, o seu nome virá do facto de ter uma porta para as traseiras que estava sempre aberta para fugas intempestivas, o que gerava grandes correntes de ar. Os conspiradores, assegura, “diziam que iam ao restaurante onde faz frio, e assim ficou o nome”.

Se assim é ou não, não interessa. O certo é que é parte da memória de uma cidade e a sua defesa mobilizou centenas. Jorge Godinho não os leva a mal e percebe as boas intenções. Mas tenta sossegar os receios, deixando um apelo: Vão lá, contribuam para que a casa não acabe ameaçada por falta de rentabilidade.



Apesar de tudo avançou-se na pressão da Opinião Pública e na vigilância alertada da Comunicação Social . Vamos ver agora (já se passaram dois anos depois das anunciadas intenções) o que sai concretamente, a nível legislativo, do Parlamento.
António Sérgio Rosa de Carvalho / OVOODOCORVO / 25-3-2017

As lojas tradicionais da Baixa: desafios presentes e futuros
Finalmente, os proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.

25 de Junho de 2015, 2:39

Este é o exacto título de um artigo da minha autoria, inserido no volume intitulado “Reabilitação Urbana: bases para uma intervenção de salvaguarda”, publicado em Junho de 2005 pela CML, com a coordenaçào editorial de João Mascarenhas Mateus, exemplo de um completo estudo de conteúdo, no contexto preparatório da classificação da Baixa a Património Mundial.

Isto é relevante, agora que a CML anunciou a sua intenção de reactivar a ideia da Classificação, estendendo-a aos bairros históricos e simultaneamente voltar a repetir a ideia/intenção, tantas vezes repetida, de promover o programa “Lojas com História”, onde se pretende simultaneamente defender as características culturais/patrimoniais dos estabelecimentos históricos e promover o comércio tradicional.

Ora, precisamente no artigo acima referido e também em artigo publicado no PÚBLICO em 16/07/2006 Made in Portugal, eu descrevo as experiências que tive oportunidade de desenvolver em lojas tradicionais com interiores de valor histórico, em permanente colaboração com a Unidade de Projecto Baixa-Chiado e o então IPPAR.

Assim, na antiga alfaitaria Rosado Pires, na Rua Augusta, conseguiu-se convencer o novo proprietário a manter todo o interior intacto, utilizando a sua autenticidade como uma mais valia. Pena que, com o tempo, uma parte do mobiliário original tenha desaparecido e o interior tenha sido “funcionalizado”. O mesmo foi conseguido na Perfumaria Pompadour, com projecto de interiores de Raúl Lino (agora Swarovski /Rua Garret ) assim como na farmácia Normal na Rua da Prata.

Isto serve apenas para ilustrar que, embora estes processos tenham conhecido avanços e recuos paradoxais e inexplicáveis, existe uma base de conhecimento já considerável e aproveitável.

Um bom exemplo destes paradoxos constitui a recusa de classificação, por parte do IPPAR neste período, da Ourivesaria Aliança, juntamente com outros importantes estabelecimentos que constavam nos dossiers completos desenvolvidos pelo Núcleo dos Estudos do Património da CML.

No entanto, posteriormente, sobre a pressão da Opinião Pública e Comunicação Social, Manuel Salgado exigiu e garantiu a preservação deste notável e insubstituível estabelecimento.

A vigilância e o contacto entre os interessados é portanto fundamental.

Mas, e aqui chego ao objectivo deste artigo, há que manter objectividade e pragmatismo nos objectivos imediatos.

O acontecimento mais importante no que respeita a salvaguarda concreta perante a ameaça progressiva que constitui a Lei das Rendas, tomou lugar no Porto no Hotel Intercontinental, numa conferência intitulada Reabilitar para Revitalizar (PÚBLICO 20/09/2014) onde Rui Moreira exprimiu as suas preocupações de forma confrontadora perante uma assembleia de empreendedores e proprietários, ameaçando chegar ao ponto de expropriar edifícios, caso os insubstituíveis estabelecimentos históricos instalados no mesmos fossem ameaçados e consequentemente extintos, pelo aumentos das rendas.

Ora, finalmente, os proprietários das Lojas Tradicionais encontraram-se em Lisboa, e estabeleceram contacto através de uma plataforma de “cidadania”.

Se isto fizer algum sentido será, não apenas na troca de informações e de postais “culturais”, ficando “entretidos” num circulo inefectivo, enquanto a espada ameaçadora da Lei das Rendas continua a descer sobre as suas cabeças, mas precisamente numa acção coordenada e sistemática de forma a levarem Medina e Salgado a tomarem uma posição explícita e pública de compromisso na defesa das Lojas Tradicionais, perante a ameaça crescente para a sua existência e sobrevivência, que a Lei das Rendas constitui.

Historiador de Arquitectura


17 Aug 2016: Uma avalanche imparável


Com o fecho da “Casa Alves” que fez correr “rios de tinta” e provocou polémicas e inciativas logradas, simbolizou-se o fim da mercearia de bairro, síntoma também, do fim da vida de bairro com moradores permanentes e identidade local.
Lisboa está a uma velocidade vertiginosa a transformar-se de um Local vivido em permanência num Sítio de passagem efémero.
Os moradores locais foram progressivamente substituídos por residentes temporários.
Mas nada é mais fortemente vísivel neste turbilhão globalizado, do que o aumento explosivo do número de estabelecimentos de venda de produtos pseudo-turísticos made in Asia.
Assim, na Baixa, contam-se já 90 lojas de “souvenirs” e afins asiáticos
72% abertos por pessoas originárias da India, Paquistão, Bangla-Desh , Sri-Lanka.
Dizia O Corvo há uns tempos :
( …) “Com estas linhas em mente, João Fernandes saiu à rua. Ou melhor, às ruas do Ouro, dos Sapateiros, Augusta, da Prata, dos Correeiros, dos Douradores, dos Fanqueiros, do Comércio, de São Julião, da Conceição, de São Nicolau, da Vitória, da Assunção, de Santa Justa e do Crucifixo. Em 15 ruas, contou 52 lojas obedecendo ao critério restrito de lojas que vendem apenas recordações, número que sobe para os 61, se incluir as que também se dedicam a outros ramos da actividade retalhista.”
Como ilustração, a velocidade de como a “Casa Tavares” foi ocupada é ilustrativa …( Ver imagens em baixo )
A “Casa dos Panos”, lá está na Rua dos Fanqueiros provávelmente à espera da mesma sorte.
Ah! A antiga barbearia , posteriormente numismática à esquina da Rua do Crucifixo, em frente à Igreja, perto da entrada do Metro/Baixa Chiado, já está a ser preparada para o mesmo destino.
Mesmo sabendo que esta avalanche de híbrido é alimentada por um “Turismo de Massas” sem critério, mantém-se o mistério da origem do financiamento nesta dinâmica de empreendorismo avassalador.
OVOODOCORVO









 A antiga barbearia , posteriormente numismática à esquina da Rua do Crucifixo


03/01/2016: Que futuro para as lojas do passado?


Que futuro para as lojas do passado?
CLAUDIA CARVALHO SILVA e JOANA GUIMARÃES
03/01/2016 - PÚBLICO

O antigo está na moda e há quem faça o novo parecer velho. Uma oportunidade para as lojas históricas? Um passeio em Lisboa e no Porto revela sucesso, reinvenção, tristeza. E ameaças.

Por entre milhares de braços, pernas e bonecas — novas e velhas, de pano, porcelana ou plástico — Manuela Cutileiro, herdeira do Hospital das Bonecas, aberto desde 1830 na Praça da Figueira, em Lisboa, diz que tudo corre bem com o seu negócio. “Quando vêm ter connosco, as pessoas procuram uma coisa diferente e uma qualidade diferente”, explica.

O sucesso de algumas das lojas antigas de cidades como Lisboa e Porto, passa justamente por isso: oferecem exclusividade, historicidade e qualidade. O crescimento do turismo é decisivo. Mas há diferenças importantes entre as duas cidades.

No Porto, o negócio tem crescido, as lojas mais tradicionais mantêm-se e o cenário é favorável para quem ali trabalha.

Mas em Lisboa há lojas que bamboleiam na incerteza. Os motivos são vários: há concorrência por parte das grandes superfícies e das feiras de rua, e há falta de clientes. Mas, em grande parte, são as novas alterações à lei do arrendamento que estão a causar insegurança, levando alguns estabelecimentos ao encerramento.

Recuperar o antigo
Há lojas centenárias a fechar, mas há ao mesmo tempo novos espaços a abrir, cujo conceito é, justamente, recuperar um gosto antigo e fazer decorações vintage. Casos como a mercearia biológica Maria Granel, em Alvalade, assente no conceito tradicional de venda exclusivamente a granel, sem embalagens. Também a gerência do Botequim da Graça quis, desde o início, que o espaço fosse decorado “à moda antiga”, semelhante à decoração que existia quando era gerido pela poetisa Natália Correia, em 1969. Depois da sua morte, o bar encerrou e foi reaberto em 2010, com gerência de Hugo Costa.

Face à concorrência de outros bares, Hugo Costa, de 34 anos, refere que a solução passa por criar um conjunto de clientes fidelizados. “Este estilo vintage hoje em dia não tem muitas ameaças, aliás, é mais fácil que seja antes visto como uma ameaça para os outros”, diz, explicando que a ideia da decoração atrai muita gente ao Botequim.

Tem clientes dos 16 aos 70 anos, mas de nada adianta ter um “espaço muito bonito se o serviço for mau”. “Apesar de termos um estilo vintage, tentamos sempre inovar”, conta, considerando que o negócio está bom e que as críticas têm sido positivas.

O aparecimento destes novos negócios que incitam a “reviver o passado” surge da “capacidade de regeneração” das cidades, diz o presidente da Associação de Comerciantes do Porto (ACP), Nuno Camilo. Estes negócios fazem com que se procure “um produto que faça a diferença”, o que atrai mais pessoas. É um círculo vicioso que acaba por ser vantajoso para todos: os que abrem novos negócios e os que, há décadas na cidade, têm como bons vizinhos estes novos comerciantes.


Botequim da Graça




No Porto, algumas lojas mais recentes, como o cabeleireiro K-Urban ou a Central Conserveira, apostam, precisamente, numa decoração que mais não é do que uma viagem a outro tempo, mas onde se garante a qualidade do produto. Estes novos espaços tiveram de lutar pelo seu lugar no mercado, mas têm agora público cativo que não se limita aos moradores portuenses.

No caso da Central Conserveira, a sócia-gerente Joana Azevedo defende a selecção de produtos nacionais, que muitas vezes não se encontram nos hipermercados: “Procuramos novos mercados, com novos designs, mais apelativos, novas marcas.”

A escolha da conserva como produto primordial foi uma aposta ganha, mas os sócios da loja não se ficaram por aqui e criaram uma pequena área de restauração, onde os clientes escolhem a conserva que querem e depois a podem comer a quente, com combinações improváveis: “Servimos sardinha com mel ou cavala com compota. Esta área ajudou ao negócio. Por curiosidade, as pessoas aderiram.” A originalidade faz com que sejam uma escolha para os trabalhadores da cidade, que almoçam por lá, e para turistas, que mesmo não repetindo a experiência por estarem de passagem, recomendam a outros que visitam o Porto.

Paulo Guedes, cabeleireiro do K-Urban, também defende que a qualidade é o que mantém os espaços em funcionamento. O salão tem a decoração inspirada na Barbearia Tinoco, que ali começou a funcionar em 1929 e que não pode ser modificada por ser património da cidade, mas a aposta é na modernização de serviços e nas parcerias. “Estamos a crescer todos os anos, até conseguimos fidelizar turistas. Temos também parcerias com hotéis, pelo que temos muito público estrangeiro”, diz o cabeleireiro.


Central Conserveira



O negócio vai bem
Em Lisboa, as lojas que têm um carácter exclusivo são das que mais clientes atraem. Um desses casos é a Luvaria Ulisses, no Chiado. Será uma das lojas mais pequenas do mundo, com apenas quatro metros quadrados na área do atendimento. Carlos Carvalho, co-proprietário, diz que o que fascina os visitantes é precisamente o facto de ser uma loja minúscula, de ter uma decoração elegante e “o artigo em si, que é a base de tudo”.

Todas as luvas são manufacturadas por trabalhadores da Ulisses, num outro espaço em Lisboa, mantendo o mesmo processo de fabricação usado nos anos 1920. “Estamos aqui há 90 anos. Quem resistiu a todo este tempo, com certeza que se vai manter”, garante Carlos Carvalho. É verdade que há um século todas as senhoras usavam luvas — mesmo no Verão — e que agora as usam apenas por necessidade, quando está frio. Ou seja, “o mercado nacional passou a ser sazonal e isso sentiu-se no negócio”. “Mas no Verão temos os estrangeiros”, diz. E assim equilibram as contas.

Também o Hospital das Bonecas se insere na categoria “exclusividade”. É dos únicos estabelecimentos deste género no mundo e, para além do restauro de bonecas, também “cura” peluches e objectos de cerâmica. Outro dos serviços é a confecção à medida de trajes de Carnaval tradicionalmente portugueses — ainda que também façam fatos de príncipes e princesas —, uma oferta que gera anualmente “muitas encomendas”.

“Já passámos por tantas crises que, mais crise, menos crise, vamos sobrevivendo e o negócio está estável”, diz Manuela Cutileiro. “As coisas não vêm aqui parar pelo valor comercial, mas pelo valor afectivo”, diz a dona do hospital, que também funciona como museu, o que faz com que receba diariamente visitas de muitos turistas.


Todas as luvas da Luvaria Ulisses, no Chiado, são manufacturadas




No Porto, a Rua Sá de Bandeira é um dos muitos exemplos do poder do comércio na Baixa da cidade. Para além das inúmeras lojas, a artéria é a ligação para muitas outras ruas onde o comércio tradicional está vivo e de boa saúde, e onde a oferta mais moderna encontrou espaço.
Luísa Vilas Boas é sócia-gerente do Bazar Paris há 23 anos, mas o espaço tem mais de 100. A loja, que a princípio vendia outro tipo de produtos, como perfumes vindos de Paris, especializou-se em brinquedos e artigos de coleccionismo: “Acredito que o nosso sucesso vem da oferta de produtos diferenciados, que não se encontram nas grandes superfícies.”

António Almeida Reis, dono da Pérola do Bolhão, uma mercearia com 98 anos numa das ruas do mercado, acredita que, no seu caso, a escolha recai muitas vezes na sua mercearia e não noutras porque “pesa a granel” e tem “o bacalhau como especialidade”.

O comerciante não sentiu a crise: “Nunca pensámos em fechar!”, exclama. E nem a grande quantidade de mercearias do género à sua volta o demoveu: “Esta zona agora é um sítio de muita passagem, dá para todos!” O aumento dos turistas é visto como uma vantagem. Em 2015, exemplifica, vendeu muito vinho do Porto e café a estrangeiros.


O Hospital das Bonecas está aberto desde 1830 na Praça da Figueira, em Lisboa




Já se viveram melhores dias
A atracção que estas lojas exercem é fácil de explicar — lá dentro estão bocadinhos da história das cidades, um local onde muitas vezes o interlocutor é alguém que, também ele, tem muitos saberes para partilhar. “Quando perdemos estas lojas, perdemos também o saber-fazer, porque muitas delas têm associados pequenos ateliers”, diz Catarina Portas, fundadora da cadeia de lojas A Vida Portuguesa.

“São lojas que marcam as cidades em que se inserem”, sublinha Carla Salsinha, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços (UACS). Ajudam a definir “o carácter e a personalidade de uma cidade”, nas palavras de Catarina Portas. E, no entanto, sucedem-se os casos de encerramento. Porquê? “Indiscutivelmente, a lei do arrendamento”, responde Salsinha. “A maior parte destas lojas são arrendadas.”
É o caso da papelaria Au Petit Peintre, na Baixa de Lisboa desde que abriu portas, em 1909. “As nossas casas, infelizmente, estão sentenciadas à morte”, diz José Dominguez, dono da papelaria mas não do imóvel. “Quando não se é proprietário de uma loja, não se podem criar sonhos porque podem ser destruídos em um ou dois dias.” A loja vende tudo o que tem a ver com papelaria, pintura e tipografia. “Se temos gráficos de vendas que vão mal, a pique, não é por falta de coisas para vender”, diz, explicando que nota uma diferença na procura e acredita que há uma política de medo: “Antes de se comprar alguma coisa, a pessoa tem de pensar três ou quatro vezes.”

Dominguez reconhece que os centros comerciais são importantes para as cidades, mas sublinha a grande diferença no atendimento feito nas grandes superfícies e nas lojas tradicionais. “São precisos contadores de histórias, pessoas que tenham material puro e verdadeiro.” Por exemplo: em 1928, a Au Petit Peintre, conta, editou o Jornal da Mulher, uma publicação defensora da emancipação da mulher.

Na sua papelaria, chegaram a trabalhar seis pessoas. Hoje, é só ele. José Dominguez é artista plástico e está aqui desde 1963.
“Temos dias bons, dias menos bons e dias maus. Hoje, vejo esta parte nobre de Lisboa transformada em feiras”, lamenta. “E as lojas que têm os seus encargos a nível de fisco e de licenças estão sujeitas a uma concorrência desleal.”

Celestino Almeida trabalha há 52 anos na mercearia Pérola de São Mamede, no número 19 da Rua Nova de São Mamede, em Lisboa. “Antes trabalhava aqui eu e a minha mulher, agora sou só eu. Qualquer dia nem eu, estou a ficar velho.” Tem 83 anos e diz que o negócio está “péssimo”. Explica que as grandes superfícies são uma das razões para o mau negócio. Outra é o aumento da renda: passou de 37 euros para 172. “O futuro está muito incerto, em tudo.” Não sabe se a mercearia conseguirá sobreviver. Para já, salvam-na os “velhinhos”, clientes habituais, e os turistas.


A papelaria Au Petit Peintre, na Baixa de Lisboa, abriu portas em 1909




No Porto, apesar de parecer que este tipo de negócios não enfrenta problemas, nem sempre foi assim — a última recessão económica, em 2011, fez baixar os lucros. No entanto, para estes comerciantes, fechar nunca foi alternativa. Uns reinventaram-se, aproveitando a nova vaga de turismo. O pior é quando os turistas não são compradores, apenas curiosos. “Os turistas só entram para tirar fotografias!”, queixa-se Israel Matos, dono da Cardoso Cabeleireiros. Um problema que levou a Livraria Lello, um ícone histórico da cidade, a começar a cobrar entradas.

Israel vende perucas, naturais e sintéticas, numa loja que abriu em 1906. Apesar de não ter sentido qualquer efeito da recessão, os motivos pelos quais tal acontece não são os melhores: “Esta loja viveu muitos anos do teatro, vendíamos para muitos pontos do país. Actualmente, a loja sobrevive da doença da morte”, explica Israel, referindo-se a doenças oncológicas. “Antigamente vendia-se uma peruca por vaidade, hoje é por necessidade.”

O investimento e a inovação parecem ser o segredo destas lojas, que querem manter-se de pedra e cal na cidade. Na Cabeleireiros Cardoso, Israel diz querer “continuar a investir no mesmo ramo, mas noutras tecnologias”: “Temos de acompanhar a evolução, é o que vou continuar a fazer.”

Já Luísa Vilas Boas apostou em manter o produto, mas aumentar a oferta aos clientes: “Quando fiquei na gerência, abri mais uma loja, na Boavista. Há dois anos abrimos a loja online, para que mais pessoas consigam chegar até nós.” A aposta acaba por levar o Bazar Paris a todo o país, e parece estar a dar frutos: “Desde o início que teve sucesso, mas neste Natal atingimos todos os picos de vendas.”


Mercearia Pérola de São Mamede, em Lisboa




O segredo do negócio na Bazar Paris é o mesmo de todas as outras lojas: “É importante que se alie a tradição à modernidade”, defende a gerente. E é por isso que investe sempre em produtos que recordem os velhos tempos: “Continuamos a ter o brinquedo tradicional, como o pianinho, o cavalo de baloiço, o pião. São artigos modernos, mas que remetem para o antigamente.”

Na Pérola do Bolhão a aposta é na continuidade: “Temos de manter a qualidade, aviar bem os clientes, manter os preços de mercado”, relata o proprietário, que não avista o fim da mercearia: “Espero, pelo menos, chegar aos cem anos [da loja]! Depois, alguém tomará conta.”

Para Paulo Guedes, do K-Urban, o caminho deverá fazer-se sempre focado no cliente: “Na Suíça, onde cresci, há o label ‘qualidade suíça’. As pessoas apostam na qualidade e deveríamos todos fazer o mesmo no nosso país. Apostar menos na embalagem e mais na qualidade do produto ou do serviço.” Já Joana Azevedo, que sentiu alguma relutância quando abriu o negócio — “ainda havia um grande preconceito em relação à conserva” —, acredita que apostar na restauração aliada à mercearia de conservas foi um bom impulso para o negócio, uma vez que serão a única loja na cidade que serve conservas “a quente”.

Sentença de morte?
Voltando a Lisboa, o panorama é muito menos brilhante do que no Norte. O restaurante Palmeira fechou há uns dias, depois de ter sido decretada a venda do edifício em hasta pública e de os novos proprietários terem decidido fazer obras no prédio.


Perucas, naturais e sintéticas, na Cardoso Cabeleireiros, que abriu em 1906



Também a loja da fábrica de Sant’Anna, que faz 100 anos este mês, recebeu uma ordem de despejo para que o grupo Visabeira possa avançar com a construção de um hotel no mesmo edifício. Foi apresentada uma contestação pelos dirigentes da loja, daí que ainda se encontrem na Rua do Alecrim, a aguardar resposta.

A Ginjinha sem Rival esteve à beira de fechar para que no edifício nas Portas de Santo Antão nascesse mais um hotel, o que não chegou a acontecer por intervenção da câmara municipal. “Qualquer dia, vem-se a Lisboa para ver hotéis”, ironiza José Dominguez, ao balcão da Au Petit Peintre.

“Há cerca de um ano, ouvimos o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, dizer que por ele nunca o histórico café Guarany sairia de onde estava. Em Lisboa, nunca ouvi nenhuma declaração dessas, não há um único sinal público em relação às lojas históricas”, diz Catarina Portas. Aliás, sublinha, pelo contrário. O Lojas com História, programa lançado em 2015 pelo município, “está parado”.

A fundadora de A Vida Portuguesa integra o conselho consultivo deste programa. Ainda chegaram a ser definidos os critérios de acordo com os quais um estabelecimento emblemático da cidade poderia receber o selo Lojas com História, explica. Era suposto iniciar-se agora o levantamento dos que poderiam receber uma protecção especial, à luz desses critérios. “E estudou-se o que foi feito noutras cidades, porque este problema não existe apenas nas cidades portuguesas. O comércio mudou muito, profundamente”, em muitas partes do mundo. “Não vejo, contudo, neste momento, ninguém para continuar esse programa”, lamenta Portas.


O Bazar Paris já chegou a vender perfumes vindos de Paris mas especializou-se em brinquedos e artigos de coleccionismo




E, no entanto, as lojas da cidade vivem os efeitos de uma espécie de tempestade perfeita, criada pela conjugação de três factores que, “por si só, seriam positivos”, mas que juntos “são uma tragédia”: a lei do arrendamento; “o pico de turismo que se vive em Lisboa” e “o interesse de vários fundos de investimento estrangeiros em imobiliário”.

Apelos à mudança de lei
No final de Novembro, foi criada pelo movimento Fórum Cidadania Lx uma petição online intitulada “Por uma nova alteração à lei do arrendamento, pela salvaguarda das lojas históricas”, que tem mais de 850 assinaturas. Face ao “encerramento em avalancha de lojas antigas”, são apontados como motivos algumas das alterações introduzidas na lei do arrendamento, nomeadamente os “aumentos exorbitantes” das rendas, a não consideração da especificidade dos estabelecimentos comerciais, a denúncia do contrato no caso de haver projectos de remodelação ou restauro nos edifícios em que se inserem as lojas, muitas vezes para fins turísticos.

Assim, é pedido que seja introduzida na lei uma cláusula de salvaguarda específica para estas lojas. Uma moção também apoiada pela União de Associações do Comércio e Serviços, que considera fundamental fazer tudo para salvar estas memórias vivas das cidades.

“São lojas que estão localizadas nas zonas nobres da cidade e que estão inseridas em prédios que são vendidos para fundos imobiliários com o objectivo de, a maior parte deles, serem transformados em estruturas de hotelaria”, explica a presidente da associação, afirmando que as empresas fazem obras profundas e dão ordem de despejo, o que, aliás, “têm todo o direito de fazer, não é uma ilegalidade”.

Mas pode ser uma “incoerência”, já que faria “todo o sentido se as lojas permanecessem inseridas dentro de um hotel, por exemplo, seria até uma mais-valia”, defende Carla Salsinha.

Além das responsabilidades assacadas à lei do arrendamento e aos apetites imobiliários pelo encerramento das lojas, soma-se a falta de rentabilidade do negócio, mas a presidente da UACS diz que esses serão casos “minoritários”.

Salsinha espera que sejam implementados os mecanismos de salvaguarda deste comércio, já definidos — falta a aprovação pela Câmara Municipal de Lisboa. “Enquanto não estiver tudo regularizado, acredito que muitas mais lojas irão fechar ao longo de 2016”, afirma, dando como motivo a crescente afluência de turismo na cidade, o que não deixa de ser bom, mas apenas “por um lado”. É que, como diz Catarina Portas, é em nome do turismo — nomeadamente da construção de hotéis para o receber — que se deixam as lojas históricas fechar, o que é um contra-senso.

Há quem não veja problemas nas ordens de despejo dadas às lojas históricas, pois estas poderão sempre abrir noutro sítio. Mas Carla Salsinha contrapõe que, com a mudança, perderiam totalmente a sua essência. “Se mudarmos o comércio de tradição da Baixa para Campo de Ourique ou para a Avenida de Roma, não será a mesma coisa”, diz, acrescentando que “são também estas lojas que fazem os turistas ir à Baixa, à procura delas”. É uma simbiose: as lojas precisam dos turistas e os turistas procuram as lojas.

No Porto, é diferente. Tanto as lojas históricas como as mais modernas atraem cada vez mais população a uma zona da cidade que sofreu com a descentralização, aquando da abertura de centros comerciais. Hoje, o comércio volta a dar vida à Baixa da cidade e a chamar turistas. O mercado não parece, de todo, saturado, e o presidente da ACP, Nuno Camilo, vê mais possibilidades para diferentes públicos num futuro próximo: “O Porto precisa de dar um salto para o turismo de negócio à escala internacional, começar a receber eventos com pessoas com mais poder de compra.” O S. João ou os jogos de futebol a nível internacional são uma forma de atrair mais públicos, considera.

Mas, mesmo agora, o cenário é de optimismo: “Na área do comércio e serviços, fecham duas lojas por dia na zona da Grande Lisboa; na do Grande Porto, abre uma”, diz Nuno Camilo. Na sua opinião, há um segredo para este sucesso do Porto: sinergia — toda a cidade se envolve, toda a cidade se empenha.

Mais pessimista está Carla Salsinha: “Acredito que no Porto vá acontecer exactamente a mesma coisa que está a acontecer agora em Lisboa.” O problema, defende, tem muito que ver com a pressão turística, “boa para a cidade, mas que tem estas repercussões”, nota. “No Porto, esta pressão começou ligeiramente mais tarde.” com A.S.


Texto editado por Ana Fernandes