Já encerraram mais de 100 lojas na Baixa de Lisboa desde
março
Revista de
Imprensa JE 14 Novembro 2020, 11:49
“A tendência de
encerramento vai agravar-se”, alertou Vasco de Mello, da Associação de
Dinamização da Baixa Pombalina.
Já encerraram 111
lojas nas quatro principais ruas da Baixa de Lisboa – Augusta, da Prata, do
Ouro e do Fanqueiros – desde o mês de março, revelou ao “Expresso” o
vice-presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina. “A tendência
de encerramento vai agravar-se”, alertou Vasco de Mello.
Segundo o jornal
do grupo Impresa, a crise sanitária e socioeconómica, causada pela Covid-19,
fez aumentar o incumprimento e a entrega de chaves, mas os preços não
diminuíram. Ademais, denotam-se quebras acentuadas no consumo que obrigam os
lojistas a fechar portas. Para muitos comerciantes, a falta de pessoas na Rua
Augusta é comparável ao que aconteceu depois do incêndio do Chiado.
Contactada pelo
semanário, a vice-presidente da Associação Lisbonense de Proprietários explica
que em cinco meses, entre abril a agosto, não se pagaram “rendas aos senhorios,
sem que tenha havido sequer uma moratória fiscal ou qualquer apoio”. “Só há
obrigação de pagar dívida a partir de janeiro de 2021 e a lei prevê até 24
prestações”, referiu Iolanda Gávea.
CORONAVÍRUS
Covid-19: comerciantes da Baixa de Lisboa avisam que
muitas lojas vão fechar
Presidente da Associação de Valorização do Chiado
(AVChiado) disse que os comerciantes estão preocupados com os impactos da pandemia
da covid-19 no comércio, acrescentando que as Lojas Com História serão as
primeiras a entrar em ruptura.
Lusa
1 de Abril de
2020, 17:17
Os comerciantes
da Baixa de Lisboa consideram que muitas lojas do centro histórico da capital
vão fechar, na sequência da pandemia da covid-19, por não terem acesso às
linhas de crédito, devido a dívidas.
“É uma matéria
que não tem sido debatida e que é grave, porque muitas empresas não têm acesso
ao lay-off. Não são contempladas, porque basta ter algum atraso na Segurança
Social ou no fisco”, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Associação de
Valorização do Chiado (AVChiado), Victor Silva.
Em declarações à
agência Lusa, o dirigente referiu que os comerciantes estão preocupados com os
impactos da pandemia da covid-19 no comércio, acrescentando que as Lojas Com
História serão as primeiras a entrar em ruptura.
“As empresas que
não têm acesso ao crédito é que vão cair. Quem são essas empresas? São as Lojas
Com História que já estavam a fechar [...]. As Lojas Com História vão
definitivamente passar à história”, realçou.
Para Victor
Silva, a situação é muito grave e toda a cadeia produtiva está em risco. “Estas
empresas não vão conseguir pagar salários, não vão conseguir pagar rendas, não
vão conseguir pagar seguros e não vão conseguir pagar a mercadoria aos
fornecedores”, alertou, sublinhando que afectará, principalmente, as micro, as
pequenas e as médias empresas.
Por seu turno, o
vice-presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina (ADBP), Vasco
Melo, considerou haver “um grande ponto de interrogação” em relação ao comércio
na Baixa, referindo também que muitas lojas vão ter de fechar as portas.
“Pensamos que
muito comércio vai encerrar. Principalmente, muito comércio independente”,
salientou, afirmando que há “uma grande expectativa por parte dos
comerciantes”.
De acordo com
Vasco Melo, a maior preocupação dos comerciantes é como serão pagos os salários
no final de Abril.
“Aquela que tem sido
a maior [preocupação] é como irão pagar, ao final deste mês, os seus
compromissos e honrar os seus compromissos, nomeadamente os salários”,
sublinhou.
O vice-presidente
da ADBP alertou ainda para a preocupação dos gerentes e dos administradores das
pequenas e médias empresas (PME), que terão de pagar “30% do “lay-off"”,
sendo “obrigados a pagar” as despesas do próprio bolso.
ECONOMIA 23 de abril 2018
Já fecharam 120 lojas históricas de Lisboa
Nos próximos dois
meses, a Rua Augusta, no coração da Baixa lisboeta, vai perder duas das suas
lojas de referência: a Casa Frazão, de tecidos, e a Camisaria Pitta. Lojistas
mais antigos admitem preocupação com o futuro, numa altura em que várias vozes
começam a pedir mais proteção. Nos últimos tempos terão encerrado 120 lojas com
algum interesse histórico. Segundo um levantamento da União de Associações do
Comércio, as lojas de souvenirs baratos aumentaram 6,5 vezes. Hotéis e
alojamento local multiplicam-se.
Marta F. Reis
https://sol.sapo.pt/artigo/609360/ja-fecharam-120-lojas-historicas-de-lisboa
A azáfama é
grande ao balcão da Casa Frazão, no n.o 259 da Rua Augusta. É assim desde que
anunciaram o encerramento, previsto para junho. As vitrinas gritam “liquidação
até 70%”. “Há pessoas que vêm para se despedir, algumas foram apanhadas de
surpresa”, diz um dos cerca de 30 sócios, funcionários a quem o fundador deixou
a casa em testamento. “Se não fosse isso, não havia este movimento.”
Como pano de
fundo do vaivém de perguntas e pedidos, mais tecidos, paninhos e lenços, tudo
em promoção, a parede central mantém o medalhão com o perfil de Manuel Alves
Frazão, que abriu a casa de tecidos em 1933. Em baixo, as placas comemorativas
das últimas décadas. Em 1958 celebraram as bodas de prata, em 1983 as bodas de
ouro e, em 2008, as bodas de diamante. A contagem do tempo vai ficar por aqui.
Em 2017 foram reconhecidos como “Loja com História” no programa lançado pela
Câmara Municipal de Lisboa, título que durante cinco anos os iria proteger do
novo regime de arrendamento urbano e adiar um previsível aumento da renda, em
última instância até aos preços de mercado, isto se o contrato fosse
renegociado. Os sócios optaram por aceitar uma proposta do senhorio para saírem
já e não tencionam abrir noutro lugar. “Pagar rendas de 7 mil, 10 mil euros a
vender tecidos?”, atira um dos responsáveis.
Poderia ser caso
isolado, mas basta descer a Rua Augusta para encontrar várias vozes de
desalento entre os lojistas num trajeto de 550 metros onde os turistas são
muitos, as esplanadas estão cheias, mas os clientes, dentro dos
estabelecimentos mais antigos, não abundam.
A Casa Frazão não
é sequer a única em vias de fechar. A Camisaria Pitta, com uma fachada
pitoresca em madeira, também anuncia liquidação total. Fecha no final de maio.
No local estão apenas os funcionários, sem ordem para comentar o encerramento
anunciado já nas redes sociais pelo gerente, com quem não foi possível chegar à
fala. Também têm o título de Loja com História e uma história a condizer. O
negócio nasceu em 1887 na Rua de São Julião e mudou-se depois para o número 195
da Rua Augusta. Segundo a resenha histórica no site do programa da CML,
forneceram a casa real e o corpo da presidência. E um dos pontos altos terá
sido quando, em 1943, davam que falar numa das cenas da comédia “O Costa do
Castelo”, em que eram elogiadas as belíssimas camisas Pitta. “‘Pita’…? Isto é
seda!” “Não! Pitta Camiseiro...! Quinhentos escudos!”, ficou quase como slogan.
Se o fecho de
duas lojas históricas no espaço de poucas semanas poderá ser coincidência
temporal, o cenário desenha-se com alguns números. Cristina Figueiredo,
coordenadora do gabinete jurídico da União de Associações do Comércio e
Serviços (UACS), lembra que de acordo com um recente voto de protesto aprovado
por maioria na Assembleia Municipal de Lisboa, em fevereiro, estima-se que já
tenham fechado mais de 120 lojas do núcleo de 300 pré-selecionadas pela
autarquia para o programa “Lojas com História”, que resulta de uma ponderação
de diferentes critérios que incluem espaços com mais de 25 anos ou que
preservem ofícios antigos.
Em 2016, a UACS
fez um levantamento exaustivo que apontou para o fecho de 108 estabelecimentos
comerciais, cerca de três quartos como consequência direta ou indireta da lei
do arrendamento. Mais de metade tinham 25 ou mais anos de antiguidade ou eram
representativos do comércio tradicional, diz Cristina Figueiredo, que deixa
ainda outro indicador: “Das primeiras 63 lojas já classificadas pela CML [como
Lojas com História], cerca de metade têm contrato de arrendamento a prazo, já
ao abrigo da Nova Lei do Arrendamento Urbano.”
O que substitui o
comércio tradicional? De acordo com o levantamento da UACS no verão de 2016, as
lojas de recordações/souvenirs de baixo preço tinham passado de 14 em 2012 para
cerca de 90 – um aumento de 6,5 vezes em quatro anos. O artesanato português –
típico ou de autor – tinha reduzido de 24 estabelecimentos para 17. Só
ourivesarias, joalharias e relojoarias na Baixa tinham fechado 21 em seis anos.
“Diminuíram as livrarias, casas de fotografia, as casas de ferragens, as
ortopedias, as casas de sementes, o têxtil lar e atoalhados, as retrosarias,
quer pela crise económica e diminuição do poder de compra, quer por mudanças de
consumos”, resume a responsável, que admite que a reforma do arrendamento urbano
em 2012 “empobreceu a identidade e atração turística da cidade”.
Ao mesmo tempo
multiplicam-se os hotéis e o alojamento local. De acordo com um estudo recente
da Cushman & Wakefield, nos próximos três a cinco anos preveem-se 50 novas
unidades hoteleiras, a maioria na capital, tendo hoje a Área Metropolitana de
Lisboa mais de 360 estabelecimentos hoteleiros.
É a crítica a
algum desequilíbrio que se ouve porta a porta nos estabelecimentos mais antigos
da Rua Augusta. José Quadros, há 32 anos à frente da Londres Salão – que com o
fecho da Casa Frazão passará a ser a maior loja de tecidos da Baixa –, diz que
a situação não pode ser vista apenas como preto ou branco. “A lei das rendas
tem coisas boas: é inegável que a Baixa estava a ruir. Tínhamos um escritório
na Rua da Prata num prédio de 12 herdeiros que recebiam rendas de 30 euros – é
natural que nunca tenha havido obras.”
O problema é
ter-se ido longe demais, não garantindo uma proteção mais forte do comércio
tradicional face ao que descambou em especulação imobiliária, diz o empresário.
“Neste momento estão a descaracterizar a Baixa. Se um ET aterrasse aqui, não ia
conseguir dizer se estava na Baixa de Milão ou de Bruxelas. Abrem sobretudo
hotéis, alojamento local e grandes insígnias. Quando o rés-do-chão deixa de
estar dedicado ao comércio, perde--se ritmo, dinamismo”, diz o empresário, que
herdou o negócio do avô.
A casa surge em
1918, inspirada pelas alfaiatarias de Piccadilly, em Londres, e passa por
trespasse para a família Quadros nos anos 50. José, irmão do humorista João
Quadros, admite alguma preocupação com o futuro, mas o facto de estarem num
prédio que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e de desde cedo
terem percebido que tinham de adaptar o negócio aos novos tempos dá--lhe alguma
serenidade. “Há um ano fomos chamados pela Santa Casa. Deram-nos seis meses
para sair e nem queriam conversar. Entretanto ganhámos a classificação de Loja
com História e acabaram por recuar.” Compraram tempo na negociação da renda e
também a garantia de que, mesmo que o prédio sofra obras e tenha outro fim, não
podem roubar espaço à loja. José admite que poderia até pagar mais de renda,
mas não os 7 mil euros ou mais de que se ouve falar na rua. Hoje paga uma renda
abaixo de 1000.
Maior proteção
Como resistir?
Para José Quadros, tem de haver uma maior salvaguarda dos negócios que forem
“economicamente viáveis”, uma limitação das rendas dos estabelecimentos
protegidos, mesmo que isso implicasse alguns benefícios aos senhorios, para
garantir que ganhavam algum dinheiro, mesmo que não fosse tanto.
A mesma ideia foi
expressa nos últimos dias pela responsável pelo programa Lojas com História da
CML. “Ao fim de cinco ou dez anos, ninguém sabe o que vai acontecer. Foi muito
bom já ter havido esta lei mas, se pensarmos a médio prazo, não sabemos o que
vai acontecer”, disse à Lusa Sofia Pereira.
Lourdes Fonseca,
presidente da União de Associações de Comércio e Serviços, diz ao i que irão
iniciar reuniões para perceber o que se pode fazer. “Estamos convictos de que
se não existisse este programa das Lojas com História, a situação ainda seria
pior.” Ponto assente é que é preciso travar a descaracterização. “De uma forma
geral, o que traz as pessoas a Lisboa é a especificidade da cidade. As Lojas
com História, como outro comércio mais tradicional, são aquilo que nos
diferencia do resto das cidades da Europa.” Para Lourdes Fonseca, além da
questão das rendas, uma medida importante poderia ser garantir que as lojas,
mesmo que fechem – até por acordo mútuo, como é o caso da Casa Frazão –,
continuam a ser lojas de rua. “A Casa Frazão poderia tornar-se uma loja de moda
ou mesmo uma nova loja de tecidos, mas manter-se como espaço comercial.” Mas
como, com as atuais rendas? A responsável reconhece que esse é um dos problemas
incontornáveis. “A expetativa, em termos imobiliários, das pessoas que compram
os edifícios é muitíssimo grande.”
Paula Lourenço,
encarregada de loja da sapataria e chapelaria Lord, sabe disso, e o facto de o
edifício onde estão instalados desde 1941 estar à venda há alguns meses não é
uma situação muito animadora, embora até ao momento não tenham tido qualquer
contacto no sentido de saírem, diz. São outra das Lojas com História da Rua
Augusta e Paula diz que o legado é muito para pensar em baixar a cabeça. As
caixas de chapéus antigas que decoram o espaço, com mais de 70 anos, são apenas
um dos objetos que os recordam diariamente disso, aponta.
Paula emociona-se
a contar como ver a palavra “liquidação” nas montras vizinhas dá pena. É assim
para quem trabalha na Baixa há décadas. “O turismo veio dar mais vida à cidade,
mas parece que estão a querer aproveitar ao máximo sem olhar a meios e isto,
mais ano menos ano, vai acabar. Lisboa vai ficar uma cidade igual às outras
todas.”
A mesma mágoa tem
Guida Pereira Conceição, neta do fundador da casa de chás e cafés Pereira da
Conceição, no número 102 da Rua Augusta. Atrás do balcão ao lado do marido,
admitem que o turismo trouxe movimento, mas beneficia sobretudo a restauração e
os hotéis.
Há quatro anos, a
renda duplicou. Não foi muito e é suportável, mas sentiu-se. Sendo uma Loja com
História, estão protegidos de novas atualizações até 2022, mas o depois é uma
incógnita e a revolta tem aumentado. “Tem sido uma autêntica cavalidade, todas
as casas de referencia desaparecem e abrem restaurantes e hotéis porta sim
porta não”, resume Luís Nunes da Silva, marido da proprietária. Reconhecem que
os senhorios não têm de ser a “caixa de previdência” dos arrendatários, mas a
lei das rendas foi demais. Quanto ao programa da Câmara Municipal de Lisboa,
“começou tarde”, quando já se via o que aí vinha – as primeiras lojas foram
reconhecidas em 2017. “Também já éramos uma loja com tradição há mais de 20
anos... As casas emblemáticas de Lisboa desapareceram e as que se mantêm estão
em vias de desaparecer. Em moda de homem na Baixa, fechando a casa Pitta, acaba
tudo.”
Ao longo da Rua
Augusta não chegam a uma dezena os espaços com alguma antiguidade, mesmo que
nem todos sejam formalmente Lojas com História. O prédio que alberga há 30 anos
a casa de malhas Achega foi vendido, mas a loja tem as portas abertas. Há a
Casa Canadá, de malas. A loja de roupa Clavis 2000 também sobrevive, assim como
a Casa Macário, de chás e cafés. Há a Langiarte, de roupa interior, e ainda a
Ourivesaria Pimenta, no mesmo edifício da Casa Frazão, que pertence à Torres
Joalheiros.
Ao balcão da Casa
Frazão é unânime que os tempos mudaram, e para onde vai esta Lisboa ainda não é
muito claro. Uma cliente, moradora na Costa do Castelo, conta que todos os dias
tem papéis das imobiliárias na caixa do correio. Já lhe avaliaram a casa num
milhão de euros, mas o marido não quer sair. O andar de baixo foi vendido a um
casal russo, “simpatiquíssimos”. Se o de cima vai para alojamento local e
“começam a fazer muito barulho”, pode ser uma chatice. Um dia, a bolha rebenta,
ouve-se. E os turistas perdem o interesse nas pastelarias que vão servindo
bolos todos feitos no mesmo sítio, concentradas num pequeno grupo de
proprietários, nas sapatarias todas da mesma cadeia ou nos negócios que
depressa se percebe que não têm assim tanta história por trás. “O que vão fazer
com estas camas todas?”, diz uma das lojistas descontentes, que prefere não dar
a cara. “A gente sabe lá dizer se isto é bom ou mau. Para nós, nunca é bom”,
remata outra trabalhadora na Rua Augusta.
Sem comentários:
Enviar um comentário