Responsável do INEM afastado após mandar vacinar
funcionários de pastelaria
Instituição vacinou funcionários de pastelaria situada ao
lado das instalações do INEM, no Porto. Responsável defendeu decisão,
garantindo que as 11 vacinas iriam para o lixo se não fossem usadas.
Miguel Dantas e
Mariana Oliveira
30 de Janeiro de
2021, 16:15 actualizado a 30 de Janeiro de 2021, 23:55
O responsável
pela delegação do Norte do INEM, António Barbosa, foi afastado do cargo após se
saber que tinha autorizado a vacinação contra a covid-19 de profissionais de
uma pastelaria, no Porto, que fica junto às instalações da instituição. Isso
mesmo foi confirmado pelo médico este sábado à tarde numa conferência de
imprensa, onde explicou ter tomado aquela decisão para evitar o desperdício
iminente de vacinas que, de outro modo, iriam para o lixo.
António Barbosa
adiantou que colocara o lugar à disposição, apesar de acreditar que tinha
condições para continuar. Contudo, já depois das 23h, o conselho directivo do
instituto emitiu uma nota dando conta ter aceitado a disponibilidade de António
Barbosa, o que implica o seu afastamento do cargo.
Durante a tarde,
António Barbosa explicou que, no dia 8 de Janeiro, uma sexta-feira, e o último
dia de administração da primeira dose da vacina foi informado, já depois do
almoço, de que havia 11 vacinas, já preparadas em seringas, que não tinham
destinatário, já que todos os profissionais identificados como prioritários
pela delegação já tinham sido vacinados.
Para não
desperdiçar as doses, que, segundo o médico, teriam que ser administradas o
mais rapidamente possível para não perderem propriedades, este decidiu, com a
concordância da equipa que estava a administrar as vacinas, mandar questionar
os profissionais de uma pastelaria ao lado, sobre se estariam interessados e
disponíveis para receber a injecção. Porquê essas pessoas? “Foi apenas
circunstancial. Por motivos de proximidade e de segurança, já que estando aqui
ao lado isso facilitava a monitorização de eventuais efeitos secundários”,
justificou António Barbosa, que admite que pode ter havido funcionários de
outros estabelecimentos contíguos na lista das 11 pessoas externas ao INEM que
foram vacinadas. “Deitar as vacinas ao lixo é que seria imoral”, defendeu o
clínico.
O médico explicou
que apesar de estar previsto um prazo de 120 horas, ou seja, de cinco dias,
para se usarem as vacinas após a descongelação de um frasco, depois de o seu
conteúdo estar diluído e preparado em seringas a utilização deve ser imediata.
A norma da Direcção-Geral da Saúde que determina como se deve proceder à
descongelação, diluição e administração da vacina da Pfizer/BioNTech, prevê que
a vacina só pode ser administrada “até seis horas após o momento da
diluição”, devendo depois ser para “descartar”.
As 11 pessoas
externas ao INEM receberam igualmente a segunda dose da vacina, administrada na
sexta-feira passada, admitiu António Barbosa. Ao todo, a delegação do Norte
vacinou 469 pessoas, mais de um terço das 1266 vacinadas no INEM em quatro
locais do país.
Na nota emitida à
noite, o conselho directivo do INEM garantia aguardar “com serenidade o
desenvolvimento e as conclusões do inquérito a desenvolver pela Inspecção-Geral
das Actividades em Saúde ao processo de vacinação contra a covid-19 que decorreu
no INEM, mandado instaurar pelo Ministério da Saúde, manifestando total
colaboração a esse serviço inspectivo para o apuramento dos factos”.
Este sábado, o
Correio da Manhã avançava que a delegação regional do Norte do INEM vacinou os
proprietários e funcionários de uma pastelaria do Porto, contígua às suas
instalações, durante o processo de vacinação dos seus profissionais
considerados prioritários, incluídos na primeira fase do plano de vacinação.
“Tínhamos 11
vacinas preparadas, o que resultou da dificuldade de perceber quantos
profissionais podiam ainda vir a ser vacinados. Devo dizer-vos que do grupo de
profissionais prioritários ficaram seis dezenas que não quiseram tomar [a
vacina] ou já a tinham tomado noutras instituições onde trabalham. As doses
foram preparadas porque estávamos com dificuldade de perceber quem podia vir.
Tive conhecimento e fui confrontado com a necessidade [de as administrar].
Neste momento, a decisão era a mesma. Era imoral descartar vacinas numa altura
destas”, explicou António Barbosa, garantindo que se não fosse esta a decisão
as vacinas iam parar ao lixo.
Esta é a segunda
vez que o processo de vacinação no INEM é notícia esta semana, sendo a primeira
polémica motivada pelo facto de vários directores, assessores e outros quadros
superiores da instituição, profissionais sem prioridade, terem recebido a
vacina. Na altura, fonte oficial da instituição explicou ao PÚBLICO que foram
usadas as sextas doses presentes em parte dos frascos e também as que não
puderam ser administradas a profissionais prioritários que não foram inoculados
devido às contra-indicações da vacina.
O INEM emitiu na
passada quinta-feira um comunicado oficial sobre o assunto, negando "todas
e quaisquer acusações de favorecimento pessoal neste processo”. Curioso é que
um dos argumentos usados para justificar a administração da vacina a 92 pessoas
do INEM que não faziam parte do grupo prioritário, acaba por ser desmentida, em
parte, por este novo caso. “Os prazos estipulados para administração das
vacinas após descongelação e diluição, bem como a logística de todo este
processo de vacinação, nomeadamente a exigência de condições de assepsia na sua
preparação, não permitiriam a administração destas doses sobrantes a pessoas
externas, e em ambientes externos ao INEM”, argumentou a direcção da
instituição.
tp.ocilbup@satnad.leugim
tp.ocilbup@arieviloem
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