CDS-PP
Adolfo Mesquita Nunes: “Serei candidato a presidente do
CDS”
Antigo vice-presidenteassume a sua candidaturaà liderança
do partido, em entrevista ao PÚBLICO. Defende que “há uma urgência em salvar o
CDS, mas também há uma urgência em encontrar uma alternativa a este Governo”. E
afirma: “Comigo, a presidente do CDS, chega de falar do Chega.”
São José Almeida
30 de Janeiro de
2021, 1:12
Aos 43 anos,
Adolfo Mesquita Nunes anuncia a sua candidatura a presidente do CDS.
Ex-vice-presidente de Assunção Cristas, antigo deputado e secretário de Estado
do Turismo do primeiro Governo de Passos Coelho, Mesquita Nunes regressa à
actividade política, porque considera que “a actual direcção do partido não
está a ser capaz de representar” o “espaço político que sempre foi do CDS” e
que este é “o momento limite” para “inverter o processo de degradação” do
partido. E garante: “Eu posso protagonizar essa mudança e essa inversão.”
Revela que tem apoios e promete que se não for eleito não abandona o CDS.
Escreveu um
artigo em que pede um congresso para a eleição de um novo líder do CDS, no
rescaldo das presidenciais em que André Ventura atingiu 11,9%. Foram as
presidenciais que fizeram soar as campainhas de alarme?
Eu entendo que o
partido não está hoje em condições de representar o espaço político que sempre
foi do CDS. A direita reformista, a direita humanista, a direita sensata, a
direita que acredita que a economia se faz pelo sector privado e pelas
famílias, e a direita que acredita que não pode ser deixado ninguém para trás
nesse processo. A avaliação que faço é de que a actual direcção do partido não
está a ser capaz de representar esse espaço político e que os eleitores desse
espaço político ou estão órfãos ou estão a dirigir-se para outros partidos.
Mas as
presidenciais não tiveram nenhuma influência na sua decisão?
Tem havido um
processo de degradação da imagem, da eficácia da mensagem e da liderança do
CDS. É um processo evolutivo, foi um processo veloz. É minha opinião que o
partido tem muito pouco tempo para reverter esse processo. É por isso que
proponho um congresso extraordinário agora. Acho que agora é possível inverter
esse percurso. Acho que em 2022 será muito difícil. E acho que, se o fizermos
agora, eu posso fazer, eu posso protagonizar essa mudança e essa inversão do
CDS.
Portanto, está a
dizer que, se houver congresso, é candidato à liderança?
Se o partido
entender que deve haver um congresso electivo para discutirmos a liderança do
partido, serei candidato a presidente do CDS.
Entretanto, Nuno
Melo, em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença disponibilizou-se para ser também
candidato, mas em 2022, quando está previsto o congresso. Acha uma boa solução?
Estou em
desacordo com o diagnóstico que o Nuno faz, de que o partido resiste mais tempo
com esta liderança. E é por isso que eu coloco a questão de um congresso
extraordinário. O CDS tem de despertar o seu sentido vital já, para podermos
impedir aquilo que muitos já decretam, que é a nossa irrelevância e o nosso
desaparecimento. Acho que isso é possível fazer com uma liderança que seja
carismática, agregadora, reconhecida e que seja capaz de chamar os rostos do
partido e somar novos rostos, para representar aquilo que é o espaço político
que o CDS ocupou e sempre quis ocupar.
Mas que rostos do
partido são esses de que fala, quem está consigo?
Eu posso dizer os
rostos que eu quero, não posso dizer se estão ou não comigo.
Mas, então, quem
é que quer?
O país precisa de
um CDS com nova força. Precisa de voltar a ver o rigor da Cecília [Meireles], a
sensibilidade social do Mota Soares, o trabalho do [João] Almeida, a
experiência da [Isabel] Galriça, o carisma do [Nuno] Melo, a capacidade do
[Lobo d’] Ávila, a verve do Telmo [Correia], o conhecimento da Raquel Vaz
Pinto, o talento do [Nuno] Magalhães. Não podemos continuar a desperdiçar uma
das maiores riquezas do CDS: temos os melhores quadros, com experiência
executiva, que somam ideologia a capacidade de execução. E a eles juntam-se
todos os que me têm dito que estavam à espera deste momento para entrar na
política. O CDS precisa de um líder que consiga colocar o CDS de novo no mapa,
que puxe pelo melhor de nós, que some e agregue. Quero ser claro: por cada cara
conhecida do CDS eu quero mostrar uma nova. O CDS está de volta, e o país vai
saber disso. E tenho recebido, durante estes dias, sinais muito animadores da
sociedade civil, de gente que está disponível para dar nova força ao CDS. É o
que é preciso: dar uma nova força ao CDS.
Este declínio do
CDS não começa agora e não é responsabilidade do aparecimento do Chega. Ou
seja, em 2019, era Assunção Cristas presidente, foi vice-presidente dela, o CDS
elegeu só cinco deputados e obteve 4,42% dos votos. Quando começou este
problema?
Esta é a terceira
vez que o CDS teve 4% nas eleições e renasceu sempre. O que está a acontecer de
diferente desta vez é que o CDS está a apagar-se. E não pode apagar-se. O que
está a acontecer diferente desta vez é que o CDS não está a saber dar a volta.
E a que é que eu me proponho? Dar nova força ao CDS para recuperar, porque é
recuperável. O nosso espaço político existe e precisa de um interprete. Eu
proponho-me ser esse intérprete, um intérprete que consiga conciliar aquelas
que são e sempre foram as ideias do CDS, que estão correctas para o país e que
precisam de carisma, de liderança, de ambição, de esperança, de optimismo e
precisam de um rosto que consiga personificar isso tudo. É aquilo que eu
pretendo ser.
Tomou esta
decisão após ouvir a declaração de Paulo Portas na noite eleitoral?
Não. Se acompanha
o meu percurso político, sabe que esta não era uma decisão expectável na minha
vida. Ainda há dois anos, tinha dito que não queria fazer da política a minha
vida profissional. Tomo esta decisão quando me apercebo de que o meu partido
está a desaparecer e quando avalio a situação e chego à conclusão de que eu
posso ser a figura que inverte este processo. Portanto, a decisão surge a
seguir às presidenciais, porque entendi que não o podia fazer enquanto
estivesse a decorrer um processo eleitoral.
Portanto, a
decisão estava tomada antes.
O processo de
análise sobre o estado do partido é permanente e a conclusão de que tínhamos
chegado a um ponto em que o CDS não tinha qualquer credibilidade, que não tinha
capacidade de passar mensagem, que não tinha capacidade de passar as suas
ideias, é do começo do ano, que é um momento sempre de análise - eu entendi que
tinha de dar este passo.
Para ser eleito
líder do CDS terá de haver um congresso - pediu que ele fosse convocado pelo
conselho nacional. O líder actual do CDS já disse que “não se convocam eleições
no CDS por dá cá aquela palha”. Já conseguiu assinaturas para reunir o conselho
nacional, tem disponibilidade de pessoas para o apoiarem? [Francisco Rodrigues
dos Santos aceitou convocar o conselho nacional já depois desta entrevista. Ver
aqui]
Não me passa pela
cabeça que, com as demissões de que hoje [quinta-feira] tivemos conhecimento,
não haja um conselho nacional convocado pelo presidente do conselho nacional.
Se for necessário ter assinaturas, tê-las-ei. Mas acho que não é útil para o
partido que um processo de disputa de liderança comece com recolha de
assinaturas. Se for necessário, tenho-as. Mas há uma coisa que lhe digo, só vai
ser possível resgatar o partido se houver capacidade de todos esquecermos as
guerras, as tendências, os segmentos, as franjas, e nos unamos, porque o
momento é de toque a rebate. Quem não está disponível para o toque a rebate,
não está disponível para salvar o CDS.
Se for líder do
CDS, que estratégia de alianças eleitorais propõe para as autárquicas e para as
legislativas? Quem serão os seus aliados para fazer a direita reconquistar o
poder governativo?
Eu proponho-me
ser líder do CDS. No momento em que o CDS tem nas sondagens, mas também na
percepção pública, percentagens residuais, o meu esforço é fazer crescer o meu
partido. E eu só quero falar do meu partido. Portanto, o meu esforço é de
credibilizar, agregar, reforçar o CDS e é nisso que estou concentrado. Para as
eleições autárquicas, é preciso apanhar a estratégia eleitoral que já estiver a
ser definida por esta direcção
Que é de acordos
com o PSD.
Acordos com o PSD
firmados, antes de mim, pelo meu partido, serão respeitados, como é evidente.
Mas concorda que
o líder do CDS tenha excluído acordos com o Chega para as autárquicas?
Chega de falar do
Chega. A única forma de partidos combaterem partidos indesejáveis é reforçando
a sua própria votação. Comigo, a presidente do CDS, chega de falar do Chega.
Sobre autárquicas, aquilo que acho é que, por exemplo, a Câmara Municipal de
Lisboa é ‘ganhável’. Uma coligação de direita democrática pode ganhar Lisboa.
Tem já uma
proposta de nome?
Acho que essa
coligação deve ser feita, evidentemente, também com o nosso parceiro de sempre
e, como deve calcular, sem ser presidente do partido e sem falar com o
presidente do PSD, não vou indicar nomes.
Entre os seus
aliados preferenciais, além do PSD, irá incluir a Iniciativa Liberal?
Eu entendo que no
espaço político da direita democrática, há espaço para vários tipos de
entendimento. E no momento em que o nosso sistema político é confrontado com
novos fenómenos que de alguma forma quase fazem desacreditar a democracia
liberal e que apostam numa degradação das instituições que são essenciais num
Estado de direito, todo esse espaço político deve perceber que uma alternativa
ao socialismo deve presumir acordos e entendimento. Há várias formas de o
fazer. Uma vez presidente do partido, se assim o for, teremos tempo e ocasião
de falar nisto. Agora, parece-me claro que há uma urgência em salvar o CDS, mas
também há uma urgência em encontrar uma alternativa a este Governo, porque,
aquilo que as sondagens nos mostram é que havendo vastos motivos de
insatisfação e de falta de esperança, não tem havido capacidade dos partidos à
direita seduzirem, merecerem a confiança desse eleitorado.
Isso preocupa-o?
Isso preocupa-me
e acho que o CDS pode ter um papel essencial aí. Porque - e a gestão da
pandemia está a mostrá-lo - o PS não é competente em momentos de crise e em
momentos difíceis e, pior do que isso, escolheu aliar-se a partidos que não
sabem nada de economia. E no momento em que vamos passar da pandemia para a
economia, para ajudar famílias e empresas que estão em situações de enorme
vulnerabilidade tem de aparecer uma resposta sensata que tenha raízes
ideológicas fortes, sim, mas que seja protagonizada por quem tem experiência
executiva. O país precisa de sensatez não precisa de revoluções, precisa de
ideias firmes, mas que possam ser exequíveis. A minha ambição é que o CDS
apareça com os seus protagonistas como uma alternativa que as pode apresentar.
Se não conseguir
ser eleito líder do CDS, vai abandonar o partido?
Se não conseguir
ser eleito, não me voltarei a candidatar a líder do CDS. Isso é que eu quero
deixar claro. Entendo que a única altura, o momento limite para salvar o CDS é
agora. Mais, o momento limite no qual entendo que consigo inverter o processo
de degradação do CDS é este. Portanto, se o partido não quiser, o que é
perfeitamente legítimo, o que digo é que eu não voltarei a candidatar-me a
presidente do CDS, porque entendo que deixarei de ter condições para o fazer.
Mas sai do CDS?
Estou no CDS há
mais de 25 anos. Eu sou quem sou, com o talento, a experiência, a personalidade
que tenho, mas tenho muito presente na minha vida que devo muito ao CDS. É o
meu partido, é o partido onde cresci, onde me fiz político, onde me fiz pessoa.
E este gesto de me candidatar a presidente do partido, quando ele está num
processo de súbito desaparecimento, é uma demonstração de compromisso com o
partido. Não é uma demonstração de abandono do partido.
tp.ocilbup@adiemla.esoj.oas
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