Os passos atrás da democracia na
China
DIRECÇÃO EDITORIAL
/ PÚBLICO
Enquanto o mundo
assiste ao estertor do movimento pró-democracia em Hong-Kong (já são os
próprios líderes fundadores a apelar ao fim dos protestos, para evitar
confrontos graves), ressurge, no poder em Pequim, uma das antigas e sórdidas
tentações maoístas: a “lavagem ao cérebro” dos artistas. A pretexto de
aprenderem com o povo a formar “uma ideia correcta do que é a arte”, artistas
de todos os sectores serão enviados para o campo. Xi Jinping quer que promovam
o “socialismo” e, se não o fizerem voluntariamente, hão-de fazê-lo
“reeducados”. Os que conhecem a história sabem no que isto vai dar. Com Mao
Tsétung deu milhões de mortos. Com Xi Jinping, em tempo de capitalismo
associado aos “benefícios” ditatoriais do comunismo, dará certamente
perseguições, censura e o que mais se verá. Os passos até hoje dados pela
sociedade civil chinesa rumo a um ideal de democracia estão, como se pode ver,
em retrocesso.
Governo chinês vai mandar
artistas para o campo, para aprenderem o socialismo
PÚBLICO
02/12/2014 -
Esta decisão "vai dar um
grande impulso aos artistas, ajudá-los a ter uma visão correcta da arte e a
criarem mais obras-primas".
O Governo chinês
vai enviar artistas, cineastas, realizadores e produtores de televisão para o
campo, onde deverão viver com o povo de forma a "formarem uma ideia
correcta do que é a arte", noticia a agência oficial chinesa, Xinhua.
Trata-se de uma
decisão do Partido Comunista que recorda a Revolução Cultural de Mao Tsé-tung,
que mandou todos os que cabiam na definição de intelectuais para campos de
trabalho e reeducação no campo.
A notícia nos
media estatais surge semanas depois de o Presidente Xi Jinping ter dito a um
grupo de artistas que não devem procurar a fama através de trabalhos
"vulgares". Xi incitou-os a mudar de atitude e a promover o
socialismo — e os próprios jornais oficiais disseram que as palavras do
Presidente se pareciam com um discurso que Mao Tsé-tung fez, em 1940.
A um grupo de
escritores, artistas e actores, reunidos num fórum, Xi disse que a arte deve
servir o socialismo e o povo e ser consistente com o pensamento
marxista-leninista.
A Xinhua explica
como se vão processar estas viagens. A agência estatal que controla os media
irá organizar grupos que, nos meios rurais, irão contactar e conhecer as
"bases, as comunidades, as aldeias e as zonas mineiras" com o
objectivo de "realizarem trabalho de campo e terem experiência da
vida". Os argumentistas, realizadores, apresentadores e outros profissionais
do cinema, televisão e rádio vão, desta forma, viver "30 dias" em
"comunidades de minorias étnicas das zonas de fronteira e noutras zonas
que tenham sido determinantes para a vitória na guerra revolucionária",
diz a Xinhua.
Esta decisão,
concluiu a agência, "vai dar um grande impulso aos artistas e ajudá-los a
ter uma visão correcta da arte e a criarem mais obras-primas".
O Governo de
Pequim exerce um grande controlo sobre a cultura e a arte e há muitas
limitações ideológicas. Estas estão a ser apertadas por Xi. Joseph Cheng,
professor de Ciência Política em Hong Kong, define esta decisão como um acto
semelhante às "campanhas de rectificação" de Mao, destinadas a
silenciar os crtíticos.
"Xi está
debaixo de uma grande pressão devido à sua campanha anticorrupção que
prejudicou muitos interesses. Estamos outra vez a assistir a um período de
tácticas de pressão sobre os intelectuais e os críticos", disse o
professor ao jornal de Hong Kong South China Morning Post.
Outro académico,
Steve Tsang, da Escola de Estudos Contemporâneos chineses da Universidade de
Nottingham (Reino Unido), disse ao mesmo jornal que as auoridades chineses
estão a apertar o controlo idológico sobre as artes, pretendendo com este gesto
deixar claro que a arte promove a visão do partido comunista e o nacionalismo.
"Xi está a
adensar a censura e o controle. Pretende que as artes e a literatura façam o
que Xi e o partido querem e que moldem a opinião pública. Este foco no
nacionalismo tem implícita uma xenofobia e o que Xi considera serem os ‘valores
chineses e os direitos chineses’", disse Tsang.
1 comentário:
É o que dá não ter media suficientemente competentes para tratar do assunto.
Enviar um comentário