quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

“Olha o Ventura!” Líder do Chega atrai as pessoas e trata a rua por tu

 


REPORTAGEM

“Olha o Ventura!” Líder do Chega atrai as pessoas e trata a rua por tu

 

André Ventura domina a arte de fazer propaganda política nas ruas e numa acção em Lisboa saiu com o ego bem afagado.

 

Luciano Alvarez

27 de Dezembro de 2023, 6:01

https://www.publico.pt/2023/12/27/politica/reportagem/olha-ventura-lider-chega-atrai-pessoas-trata-rua-2074227

 

Ainda faltam mais de dois meses para as eleições legislativas, mas os políticos já tomaram as ruas em acções de propaganda. André Ventura é um deles. Numa acção de campanha em Lisboa, que o PÚBLICO acompanhou, o líder do Chega foi recebido com beijos e abraços e não perdeu uma oportunidade para “malhar” nos seus adversários políticos.

 

A acção de contacto com a população no Mercado de Natal de Alvalade, em Lisboa, esteve marcada para as 16h30, foi antecipada para as 14h30, André Ventura chegou às 15h. À sua espera no topo norte da Avenida da Igreja estavam cerca de duas dezenas de apoiantes, entre os quais alguns deputados do partido. Assim que o líder do Chega se abeirou do grupo foi saudado com uma salva de palmas.

 

Ventura a todos cumprimentou e às senhoras distribuiu beijos. “Agora que isto começou, todas têm direito a dois beijinhos.” Comentou. Presume-se que “isto” seja uma referência ao início da caminhada para as eleições legislativas de 10 Março.

 

 

Na rua do bairro alfacinha considerado como sendo habitado por pessoas da classe média e média alta, além do PÚBLICO, estavam jornalistas de quatro televisões e da agência Lusa. O presidente do Chega dirigiu-se de imediato às câmaras de televisão perfiladas à sua frente, começando desde logo por explicar os motivos da acção: “Queremos mostrar ao país como o Partido Socialista não resolveu os problemas em várias vertentes. Foi o que fizemos há dois dias num outro mercado, aqui também, e temos procurado ouvir as pessoas sobre se o grande desígnio que o Governo socialista tinha para Portugal nestes oito anos, que era a recuperação de rendimentos, foi cumprido ou se não foi cumprido.”

 

Depois respondeu a todas as perguntas dos jornalistas sobre temas da actualidade noticiosa e lá partiu para a arruada, acompanhado pelos seus apoiantes, que não levaram bandeiras nem gritaram palavras de ordem. De olho nele esteve sempre o segurança que o segue para todo o lado.

 

A trabalhar para “boneco”

Ainda não tinha dada uma dúzia de passos quando parou a marcha pela primeira vez junto a um pedinte sentado no chão, com um coelho branco entre as pernas. Ventura baixou-se, deixou uma moeda na lata do pobre e fez algumas festas na cabeça do alvo animal. “Com certeza lembrou-se do seu coelho que morreu há pouco tempo”, comentou uma das suas apoiantes. “Coitado”, rematou outra.

 

Ventura anda nas ruas em campanha com toda a naturalidade. Nas portas das lojas do mais variado comércio e nas barraquinhas de Natal não cumprimentou ninguém sem antes pedir autorização e mostrou-se sempre disponível para, no tempo que fosse preciso, ouvir o que as pessoas lhe tinham para dizer, na maior parte dos casos, queixas à situação do país.

 

Outra das características de Ventura na rua é a de procurar situações para o chamado “boneco”. Ou seja, para as câmaras de televisão. Foi o que aconteceu quando viu um adolescente com uma bola de futebol nas mãos. “Passa aí”, pediu. O jovem lançou-lhe a bola para os pés. “Dantes fazia uma coisa muito bem”, acrescentou. E logo o fez: levantou a bola em jeito com um pé e, de imediato, passou para trás de calcanhar com o outro.” Os apoiantes gostaram e aplaudiram o momento político/futebolístico. “Era de um tipo como tu que o Benfica precisava”, disse um dos seus seguidores.

 

A meio da arruada os jornalistas questionaram Ventura sobre as eleições do PS, que tinham tido início no dia da sua acção política. O presidente do Chega fez logo mira ao ainda primeiro-ministro: “Não há outra opção, há um Governo de direita ou há António Costa. Eu acho que, quer ganhe Pedro Nuno Santos, quer ganhe José Luís Carneiro, a continuidade de António Costa é clara.”

 

Ventura considerou que, “ao contrário do que aconteceu na altura de José Sócrates, o PS não fez a sua catarse, não fez o seu momento de reflexão”. “O PS quer fazer a continuidade de António Costa”, acentuou.

 

Questionado sobre que prendas de Natal daria ao primeiro-ministro e ao Presidente da República, respondeu que a escolha recairia sobre “aqueles cartões que dizem 'até sempre', mas que não vão deixar saudades”.

 

“Olha o Ventura!” A frase foi das mais soltas ao longo da arruada por muitos dos surpreendidos transeuntes. A maioria dirigiu-se ao líder do Chega, para lhe dar apoio e garantir-lhe o voto. Mais de uma dezena, na maior parte adolescentes, pediram-lhe para com ele tirar uma selfie. “O Marcelo é melhor que eu nisto”, comentou durante uma dessas paragens. “Tu és melhor em tudo resto”, garantiu um dos apoiantes.

 

Durante a mais de meia hora que durou a arruada, apenas por uma vez Ventura ouviu palavras críticas de uma das pessoas com quem se cruzou. O político ouviu sem dar resposta. De todos os outros que lhe travaram o passo ou aqueles a quem se dirigiu foi sempre recebido com palavras simpáticas, entre muitas queixas à situação do país.

 

“Tenho 30 anos, tenho três filhos e nem [tenho] casa. Desta vez vou votar em si porque é o único que promete mudar isto tudo para melhor”, disse uma mulher. Ventura fechou o semblante e disse-lhe: “Prometo trabalhar para isso.”

 

Já de volta ao topo norte da Avenida da Igreja, um grupo do Grupo da Universidade Sénior Briosos de Alvalade prepara-se para cantar alguns temas natalícios. Mais uma oportunidade para o “boneco”. Ventura dirige-se a uma das idosas, pediu-lhe emprestado o cavaquinho e todos tocaram algumas notas. Os “briosos” gostaram, alguns também lhe prometeram o voto e pediram-lhe que esperasse um pouco, pois queriam cantar-lhe “uma musiquinha”. Lá se organizaram rapidamente e cantaram-lhe em coro A linda noite de Natal. A arruada chegava ao fim com André Ventura visivelmente satisfeito.

 

“Ameaças têm diminuído”

Ao PÚBLICO, o presidente do Chega disse estar “prontíssimo” para a longa pré-campanha e campanha eleitorais: “O país não deveria esperar tanto tempo para haver uma mudança eleitoral. Foi a vontade do Presidente da República e nós estamos e sempre estivemos preparados para ir a eleições. Há uma máquina partidária que está a ser oleada, mas nós estamos prontos.”

 

Ventura diz que vai “abordar vários temas” nas suas intervenções, mas destaca “a necessidade de haver crescimento económico, para acabar com este ciclo de pobreza e de perda de rendimentos, “o combate à corrupção e a luta pela transparência das instituições” do Estado.

 

O contacto com as pessoas é o que mais lhe agrada em tempos de campanha e o que mais lhe desagrada é “a violência” dos que, por vezes, cercam as suas acções políticas nas ruas.

 

Essa violência e as ameaças de que diz ser alvo são a justificação que dá para andar sempre acompanhado por um “guarda-costas”. “Há ameaças, mas também há muito apoio. Hoje sinto que há muito mais apoio e o nível de ameaças tem diminuído, mas temos de estar alerta”, conclui.

Sem comentários: