REPORTAGEM
“Olha o Ventura!” Líder do Chega atrai as pessoas e trata
a rua por tu
André Ventura domina a arte de fazer propaganda política
nas ruas e numa acção em Lisboa saiu com o ego bem afagado.
Luciano Alvarez
27 de Dezembro de
2023, 6:01
Ainda faltam mais
de dois meses para as eleições legislativas, mas os políticos já tomaram as
ruas em acções de propaganda. André Ventura é um deles. Numa acção de campanha
em Lisboa, que o PÚBLICO acompanhou, o líder do Chega foi recebido com beijos e
abraços e não perdeu uma oportunidade para “malhar” nos seus adversários
políticos.
A acção de
contacto com a população no Mercado de Natal de Alvalade, em Lisboa, esteve
marcada para as 16h30, foi antecipada para as 14h30, André Ventura chegou às
15h. À sua espera no topo norte da Avenida da Igreja estavam cerca de duas
dezenas de apoiantes, entre os quais alguns deputados do partido. Assim que o
líder do Chega se abeirou do grupo foi saudado com uma salva de palmas.
Ventura a todos
cumprimentou e às senhoras distribuiu beijos. “Agora que isto começou, todas
têm direito a dois beijinhos.” Comentou. Presume-se que “isto” seja uma
referência ao início da caminhada para as eleições legislativas de 10 Março.
Na rua do bairro
alfacinha considerado como sendo habitado por pessoas da classe média e média
alta, além do PÚBLICO, estavam jornalistas de quatro televisões e da agência
Lusa. O presidente do Chega dirigiu-se de imediato às câmaras de televisão
perfiladas à sua frente, começando desde logo por explicar os motivos da acção:
“Queremos mostrar ao país como o Partido Socialista não resolveu os problemas
em várias vertentes. Foi o que fizemos há dois dias num outro mercado, aqui
também, e temos procurado ouvir as pessoas sobre se o grande desígnio que o
Governo socialista tinha para Portugal nestes oito anos, que era a recuperação
de rendimentos, foi cumprido ou se não foi cumprido.”
Depois respondeu
a todas as perguntas dos jornalistas sobre temas da actualidade noticiosa e lá
partiu para a arruada, acompanhado pelos seus apoiantes, que não levaram
bandeiras nem gritaram palavras de ordem. De olho nele esteve sempre o
segurança que o segue para todo o lado.
A trabalhar para “boneco”
Ainda não tinha
dada uma dúzia de passos quando parou a marcha pela primeira vez junto a um
pedinte sentado no chão, com um coelho branco entre as pernas. Ventura
baixou-se, deixou uma moeda na lata do pobre e fez algumas festas na cabeça do
alvo animal. “Com certeza lembrou-se do seu coelho que morreu há pouco tempo”,
comentou uma das suas apoiantes. “Coitado”, rematou outra.
Ventura anda nas
ruas em campanha com toda a naturalidade. Nas portas das lojas do mais variado
comércio e nas barraquinhas de Natal não cumprimentou ninguém sem antes pedir
autorização e mostrou-se sempre disponível para, no tempo que fosse preciso,
ouvir o que as pessoas lhe tinham para dizer, na maior parte dos casos, queixas
à situação do país.
Outra das
características de Ventura na rua é a de procurar situações para o chamado
“boneco”. Ou seja, para as câmaras de televisão. Foi o que aconteceu quando viu
um adolescente com uma bola de futebol nas mãos. “Passa aí”, pediu. O jovem
lançou-lhe a bola para os pés. “Dantes fazia uma coisa muito bem”, acrescentou.
E logo o fez: levantou a bola em jeito com um pé e, de imediato, passou para
trás de calcanhar com o outro.” Os apoiantes gostaram e aplaudiram o momento
político/futebolístico. “Era de um tipo como tu que o Benfica precisava”, disse
um dos seus seguidores.
A meio da arruada
os jornalistas questionaram Ventura sobre as eleições do PS, que tinham tido
início no dia da sua acção política. O presidente do Chega fez logo mira ao
ainda primeiro-ministro: “Não há outra opção, há um Governo de direita ou há
António Costa. Eu acho que, quer ganhe Pedro Nuno Santos, quer ganhe José Luís
Carneiro, a continuidade de António Costa é clara.”
Ventura
considerou que, “ao contrário do que aconteceu na altura de José Sócrates, o PS
não fez a sua catarse, não fez o seu momento de reflexão”. “O PS quer fazer a
continuidade de António Costa”, acentuou.
Questionado sobre
que prendas de Natal daria ao primeiro-ministro e ao Presidente da República,
respondeu que a escolha recairia sobre “aqueles cartões que dizem 'até sempre',
mas que não vão deixar saudades”.
“Olha o Ventura!”
A frase foi das mais soltas ao longo da arruada por muitos dos surpreendidos
transeuntes. A maioria dirigiu-se ao líder do Chega, para lhe dar apoio e
garantir-lhe o voto. Mais de uma dezena, na maior parte adolescentes,
pediram-lhe para com ele tirar uma selfie. “O Marcelo é melhor que eu nisto”,
comentou durante uma dessas paragens. “Tu és melhor em tudo resto”, garantiu um
dos apoiantes.
Durante a mais de
meia hora que durou a arruada, apenas por uma vez Ventura ouviu palavras
críticas de uma das pessoas com quem se cruzou. O político ouviu sem dar
resposta. De todos os outros que lhe travaram o passo ou aqueles a quem se
dirigiu foi sempre recebido com palavras simpáticas, entre muitas queixas à
situação do país.
“Tenho 30 anos,
tenho três filhos e nem [tenho] casa. Desta vez vou votar em si porque é o
único que promete mudar isto tudo para melhor”, disse uma mulher. Ventura
fechou o semblante e disse-lhe: “Prometo trabalhar para isso.”
Já de volta ao
topo norte da Avenida da Igreja, um grupo do Grupo da Universidade Sénior
Briosos de Alvalade prepara-se para cantar alguns temas natalícios. Mais uma
oportunidade para o “boneco”. Ventura dirige-se a uma das idosas, pediu-lhe
emprestado o cavaquinho e todos tocaram algumas notas. Os “briosos” gostaram,
alguns também lhe prometeram o voto e pediram-lhe que esperasse um pouco, pois
queriam cantar-lhe “uma musiquinha”. Lá se organizaram rapidamente e
cantaram-lhe em coro A linda noite de Natal. A arruada chegava ao fim com André
Ventura visivelmente satisfeito.
“Ameaças têm diminuído”
Ao PÚBLICO, o
presidente do Chega disse estar “prontíssimo” para a longa pré-campanha e
campanha eleitorais: “O país não deveria esperar tanto tempo para haver uma
mudança eleitoral. Foi a vontade do Presidente da República e nós estamos e
sempre estivemos preparados para ir a eleições. Há uma máquina partidária que
está a ser oleada, mas nós estamos prontos.”
Ventura diz que
vai “abordar vários temas” nas suas intervenções, mas destaca “a necessidade de
haver crescimento económico, para acabar com este ciclo de pobreza e de perda
de rendimentos, “o combate à corrupção e a luta pela transparência das
instituições” do Estado.
O contacto com as
pessoas é o que mais lhe agrada em tempos de campanha e o que mais lhe
desagrada é “a violência” dos que, por vezes, cercam as suas acções políticas
nas ruas.
Essa violência e
as ameaças de que diz ser alvo são a justificação que dá para andar sempre
acompanhado por um “guarda-costas”. “Há ameaças, mas também há muito apoio.
Hoje sinto que há muito mais apoio e o nível de ameaças tem diminuído, mas
temos de estar alerta”, conclui.

Sem comentários:
Enviar um comentário