terça-feira, 2 de maio de 2023

O que assusta nos bastidores do caso TAP

 



EDITORIAL

O que assusta nos bastidores do caso TAP

 

O caso TAP mostra que estamos em boa parte entregues a gente incompetente, malpreparada, voluntarista, com muita ambição e nenhuma sensatez ou sabedoria

 

Manuel Carvalho

1 de Maio de 2023, 21:30

https://www.publico.pt/2023/05/01/politica/editorial/assusta-bastidores-caso-tap-2048070

 

Secretários de Estado recrutados sem se confirmar que no seu rasto não há negócios ruinosos e suspeitos que os devam excluir de altas funções no Estado; ministros que não sabem e depois sabem ou talvez soubessem de decisões delicadas como o pagamento de uma indemnização milionária e indevida a uma gestora pública; secretários de Estado envolvidos nessas negociações com a ligeireza de quem come amendoins; assessores que, na versão dos seus superiores, dizem nada ter a apresentar a uma comissão parlamentar de inquérito para depois dizerem o contrário…

 

Punir altos responsáveis por esta maré de desnorte com a demissão ou com a censura política pode ser uma espécie de antídoto para tudo o que nos angustia com a tutela política da gestão da TAP. Mas para lá do problema e da solução, matérias nas quais a transparência da democracia, com o seu escrutínio e equilíbrio de poderes, garante, há uma outra revelação preocupante: a qualidade do pessoal político. O caso TAP mostra que estamos em boa parte entregues a gente incompetente, malpreparada, voluntarista, com muita ambição e nenhuma sensatez ou sabedoria.

 

Nesse particular, o gabinete de Pedro Nuno Santos que João Galamba herdou em parte é um pesadelo. Aí, a irresponsabilidade tornou-se lendária. Já o suspeitávamos quando se anunciou uma solução para o aeroporto que afinal não existia. Confirmamo-lo quando uma disputa sobre a existência ou não de notas para a comissão de inquérito acabou em pancadaria. Mais do que dedicação ou competência, o que ali se encontra é vaidade que alimenta o protagonismo, a incompetência que impede o sentido de prioridades e a imaturidade que explica os erros ou os ajustes de contas.

 

Os boys que enxameiam os ministérios podem ter fidelidades políticas vincadas pelo cartão de militante, mas não é isso que lhes garante decência ou saber-fazer. Podem ser zelosos na sua fé ao partido ou ao ministro que os protege, mas à primeira tensão expõem com crueza impreparação ou falta de qualidades. Não será o visto prévio à sua nomeação que travará esta degenerescência. O Governo, cansado e em apertos, vive cada vez mais isolado. Precisa de um golpe de génio para se tornar credível junto de pessoas qualificadas.

 

Os ministros orientados pela ideologia gostam dos apparatchiks que lhes garantem fidelidade e poder. O Estado e o Governo dispensam-nos. Agora que se discute a demissão de João Galamba, este dado tem de ser considerado: quem teve ao seu lado um assessor que agora é acusado de roubo, de violência, de mentira e omissão não é competente a escolher pessoas, condição primordial para se ser competente a governar.

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