EDITORIAL
O que assusta nos bastidores do caso TAP
O caso TAP mostra que estamos em boa parte entregues a
gente incompetente, malpreparada, voluntarista, com muita ambição e nenhuma
sensatez ou sabedoria
Manuel Carvalho
1 de Maio de
2023, 21:30
https://www.publico.pt/2023/05/01/politica/editorial/assusta-bastidores-caso-tap-2048070
Secretários de
Estado recrutados sem se confirmar que no seu rasto não há negócios ruinosos e
suspeitos que os devam excluir de altas funções no Estado; ministros que não
sabem e depois sabem ou talvez soubessem de decisões delicadas como o pagamento
de uma indemnização milionária e indevida a uma gestora pública; secretários de
Estado envolvidos nessas negociações com a ligeireza de quem come amendoins;
assessores que, na versão dos seus superiores, dizem nada ter a apresentar a
uma comissão parlamentar de inquérito para depois dizerem o contrário…
Punir altos
responsáveis por esta maré de desnorte com a demissão ou com a censura política
pode ser uma espécie de antídoto para tudo o que nos angustia com a tutela
política da gestão da TAP. Mas para lá do problema e da solução, matérias nas
quais a transparência da democracia, com o seu escrutínio e equilíbrio de
poderes, garante, há uma outra revelação preocupante: a qualidade do pessoal
político. O caso TAP mostra que estamos em boa parte entregues a gente
incompetente, malpreparada, voluntarista, com muita ambição e nenhuma sensatez
ou sabedoria.
Nesse particular,
o gabinete de Pedro Nuno Santos que João Galamba herdou em parte é um pesadelo.
Aí, a irresponsabilidade tornou-se lendária. Já o suspeitávamos quando se
anunciou uma solução para o aeroporto que afinal não existia. Confirmamo-lo
quando uma disputa sobre a existência ou não de notas para a comissão de
inquérito acabou em pancadaria. Mais do que dedicação ou competência, o que ali
se encontra é vaidade que alimenta o protagonismo, a incompetência que impede o
sentido de prioridades e a imaturidade que explica os erros ou os ajustes de
contas.
Os boys que
enxameiam os ministérios podem ter fidelidades políticas vincadas pelo cartão
de militante, mas não é isso que lhes garante decência ou saber-fazer. Podem
ser zelosos na sua fé ao partido ou ao ministro que os protege, mas à primeira
tensão expõem com crueza impreparação ou falta de qualidades. Não será o visto
prévio à sua nomeação que travará esta degenerescência. O Governo, cansado e em
apertos, vive cada vez mais isolado. Precisa de um golpe de génio para se
tornar credível junto de pessoas qualificadas.
Os ministros
orientados pela ideologia gostam dos apparatchiks que lhes garantem fidelidade
e poder. O Estado e o Governo dispensam-nos. Agora que se discute a demissão de
João Galamba, este dado tem de ser considerado: quem teve ao seu lado um
assessor que agora é acusado de roubo, de violência, de mentira e omissão não é
competente a escolher pessoas, condição primordial para se ser competente a
governar.
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