opinião
Pedro Santos
Guerreiro
Diretor executivo
CNN Portugal
Quem não matou Rio tornou-o mais forte
Ontem às 23:21
O “voto livre”
lançou para as legislativas o homem que não representa o sistema mas representa
o regime. Barões e tubarões do PSD: tomem pastilhas para a azia, deixem de
atrapalhar e deixem-no trabalhar. E nós, cá fora, olhamos para as propostas
para o país do homem que teve razão nesta campanha. Já Rangel desceu no
elevador social… democrata. Dois anos depois do confronto Costa-Rio, a política
roda 360 graus para um confronto… Costa-Rio
Rui Rio
transformou um obstáculo num trampolim. Aqueles que quiseram derrubá-lo com uma
fisga acabam de dar-lhe o elástico da catapulta para as legislativas de 30 de
janeiro. Rio vence contra tudo e contra todos, vence os barões que há quase
quatro anos tentem aniquilá-lo, vence depois de derrotas eleitorais - e vence o
sistema mesmo se quer preservar o regime.
Não é uma
contradição. Rio representa o regime quando defende abertamente acordos com o
PS para mudanças ao centro, que outra coisa não farão do que mudar o regime
para preservá-lo nos termos em que ele governa há décadas. Mas Rio tem tido o
sistema contra ele, o sistema das elites e o sistema mediático que tem embalado
contra ele, enganando-se aliás sempre na antecipação de derrotas de que ele faz
vitórias.
E Rio venceu
também, este domingo, a vertigem do seu partido para a autocombustão. Foi a
quarta (quarta!) vitória do Rio no partido, depois da vitória inicial contra
Santana Lopes, de dois desafios de Luís Montenegro e desta corrida em cima das
legislativas de Paulo Rangel. Muitos barões do PSD não podem com Rio nem com
molho de tomate, mas Rio venceu todos com sumo de laranja. Rio teve uma vitória
grandiosa no plano simbólico: não fez campanha virada para dentro, não seduziu
o aparelho, disse acreditar no voto livre, falou como primeiro-ministro,
colocando-se com inteligência acima da disputa interna e dinamitando o
caciquismo. Enquanto Rangel se fechou, provavelmente com excesso de confiança
de uma vitória antecipada, Rio abriu-se, deu entrevistas claras e afirmou-se
como candidato a primeiro-ministro.
Se nada une mais
um partido do que o poder, nada convence mais um partido do que a expectativa
de ganhar o poder. E Rio foi quem mais mostrou capacidade de ganhar as próximas
eleições. É tão simples quanto isso.
Costa, tens aí a
tua gente?
Mas o que está em
causa não é apenas a vitória de Rio contra a deprimência no seu partido. É o
lance do PSD para as legislativas. E é o novo desafio contra António Costa. O
regime manteve-se exatamente igual, a política rodou 360 graus, ficou na mesma.
Dois anos depois do embate eleitoral Costa-Rio, teremos um embate eleitoral…
Costa-Rio. Não é falta de imaginação, é mesmo conservação. E faz perguntar
sobre a utilidade da dissolução do Parlamento e das próximas eleições. Os
personagens são os mesmos. Os partidos menores atrevem-se a ficar maiores, e os
maiores arriscam-se a ficar menores. E assim, a única utilidade aparente é de
poder legitimar politicamente a viragem ao centro depois de se ter esgotado a
forma ou plataforma de esquerda.
Rui Rio quer o
centro. Quer acordos com o PS, que nunca escondeu, para reformar a segurança
social e a administração pública, para impor a sua obsessão com (contra?) a
justiça, sobretudo contra a Ministério Público, mas também contra o Tribunal de
Contas e contra os jornalistas. E é bem possível que seja isso que o país
queira: um novo Cavaco Silva. Seco, sério, de vistas curtas e com pulso forte.
Um chefe que ponha esta casa “em ordem”.
Depois da noite
vitoriosa nas autárquicas e de voltar a ganhar o PSD, Rio Rio é um fortíssimo
candidato nas legislativas. António Costa tem de estar ralado, até porque as
dinâmicas de um de outro são contrárias – e há uma quinta vaga da pandemia pelo
meio. Se Costa ganhar, Rio estará disponível para acordos. Mas se Rio ganhar,
Costa demite-se e pode seguir-se no PS Pedro Nuno Santos, que não alinhará com
o PSD. Não é um pântano, é um delta de Nilo, que se bifurca em muitas
possibilidades.
A perceção de
ingovernabilidade pode ajudar Rio Rio, que iniciará imediatamente a campanha
eleitoral, beneficiando desta galvanização oferecida por aqueles que o quiserem
defenestrar. Rangel tanto defendeu a subida no elevador social para os
portugueses que acabou ele a descer o elevador social-democrata. E Rio é hoje
um vencedor, um vencedor justamente inchado, um vencedor contra o sistema que
se une contra ele, um vencedor não das elites mas do povo do seu partido. O que
mais poderia ele querer? O que quer agora: ser primeiro-ministro.
Nunca esteve tão perto.
Sem comentários:
Enviar um comentário