EDITORIAL
Os riscos de um PSD amarrado às bases
Para ganhar o país, Rui Rio vai precisar de uma equipa
forte, credível e com conhecimento e provas dadas. Os melhores do seu partido,
porém, estiveram ao lado de Rangel.
Manuel Carvalho
28 de Novembro de
2021, 21:30
https://www.publico.pt/2021/11/28/politica/editorial/riscos-psd-amarrado-bases-1986734
A vitória de Rui
Rio sobre as elites e o aparelho do PSD diz muito sobre o seu perfil político e
diz ainda mais sobre o que é hoje o PSD. Contra todas as previsões, Rio teve a
coragem de ir à luta e foi capaz de convencer os militantes comuns da bondade
do seu projecto com uma mensagem clara que o colocava como o verdadeiro
representante dos interesses do país contra o baronato que, ora vive na
estratosfera, ora está na política a perseguir “interesses pessoais”. Mas se
este discurso popular e vagamente populista triunfou, é porque o PSD dos
militantes ganhou consciência própria do seu poder, acabou de vez com o
patrocinato dos líderes locais e regionais e desligou-se da sua elite
intelectual. Nasceu assim um partido de bases, que não é necessariamente melhor
do que um partido de elites.
O maior problema
de Rui Rio desta fractura exposta entre dirigentes e militantes, entre figuras
públicas com palco e influência e cidadãos normais que pagam as quotas do PSD,
participam na vida interna do partido e regressam às suas vidas. Em anteriores
eleições, os barões sempre se inclinaram mais para um ou outro candidato,
mobilizando as suas hostes e determinando à partida o vencedor. Desta vez, o
partido fracturou-se de uma forma espectacular: a maioria esmagadora dos
líderes concelhios ou distritais, as figuras históricas (salvo excepções raras)
do partido, os nomes fortes do último Governo do PSD estiveram ao lado de Paulo
Rangel. Ganhando-lhes, Rui Rio mostrou a sua vulnerabilidade, mas ao
consegui-lo expõs também a vulnerabilidade do PSD.
Ganho o partido,
Rio precisa mais do que operários de base para colar cartazes. Para ganhar o
país, Rui Rio não pode continuar a aparecer apenas ao lado de Salvador Malheiro
ou de José Silvano, com uma ou outra aparição de David Justino. Vai precisar de
uma equipa forte, credível e com conhecimento e provas dadas em matérias
sensíveis como a política fiscal, de Justiça ou dos Negócios Estrangeiros. Vai
precisar de reunir os melhores, extrair-lhes as suas experiências profissionais
e mostrar aos portugueses que é capaz de construir uma alternativa. Felizmente,
há no país muita gente qualificada, mas a maior parte dos melhores do PSD
aliou-se a Paulo Rangel.
Tendo tão
pouca massa crítica do seu lado, Rui Rio precisa de pontes para o PSD que
derrotou este sábado. Se tiver sucesso, ser-lhe-á mais fácil dispor de trunfos
para as Legislativas. Com o seu actual séquito, será difícil ir para lá dos
militantes. O eleitorado vai pedir provas para se convencer que, para lá
dos programas, há gente capaz de os executar.
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