segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Os riscos de um PSD amarrado às bases

 


EDITORIAL

Os riscos de um PSD amarrado às bases

 

Para ganhar o país, Rui Rio vai precisar de uma equipa forte, credível e com conhecimento e provas dadas. Os melhores do seu partido, porém, estiveram ao lado de Rangel.

 

Manuel Carvalho

28 de Novembro de 2021, 21:30

https://www.publico.pt/2021/11/28/politica/editorial/riscos-psd-amarrado-bases-1986734

 

A vitória de Rui Rio sobre as elites e o aparelho do PSD diz muito sobre o seu perfil político e diz ainda mais sobre o que é hoje o PSD. Contra todas as previsões, Rio teve a coragem de ir à luta e foi capaz de convencer os militantes comuns da bondade do seu projecto com uma mensagem clara que o colocava como o verdadeiro representante dos interesses do país contra o baronato que, ora vive na estratosfera, ora está na política a perseguir “interesses pessoais”. Mas se este discurso popular e vagamente populista triunfou, é porque o PSD dos militantes ganhou consciência própria do seu poder, acabou de vez com o patrocinato dos líderes locais e regionais e desligou-se da sua elite intelectual. Nasceu assim um partido de bases, que não é necessariamente melhor do que um partido de elites.

 

O maior problema de Rui Rio desta fractura exposta entre dirigentes e militantes, entre figuras públicas com palco e influência e cidadãos normais que pagam as quotas do PSD, participam na vida interna do partido e regressam às suas vidas. Em anteriores eleições, os barões sempre se inclinaram mais para um ou outro candidato, mobilizando as suas hostes e determinando à partida o vencedor. Desta vez, o partido fracturou-se de uma forma espectacular: a maioria esmagadora dos líderes concelhios ou distritais, as figuras históricas (salvo excepções raras) do partido, os nomes fortes do último Governo do PSD estiveram ao lado de Paulo Rangel. Ganhando-lhes, Rui Rio mostrou a sua vulnerabilidade, mas ao consegui-lo expõs também a vulnerabilidade do PSD.

 

Ganho o partido, Rio precisa mais do que operários de base para colar cartazes. Para ganhar o país, Rui Rio não pode continuar a aparecer apenas ao lado de Salvador Malheiro ou de José Silvano, com uma ou outra aparição de David Justino. Vai precisar de uma equipa forte, credível e com conhecimento e provas dadas em matérias sensíveis como a política fiscal, de Justiça ou dos Negócios Estrangeiros. Vai precisar de reunir os melhores, extrair-lhes as suas experiências profissionais e mostrar aos portugueses que é capaz de construir uma alternativa. Felizmente, há no país muita gente qualificada, mas a maior parte dos melhores do PSD aliou-se a Paulo Rangel.

 

 Tendo tão pouca massa crítica do seu lado, Rui Rio precisa de pontes para o PSD que derrotou este sábado. Se tiver sucesso, ser-lhe-á mais fácil dispor de trunfos para as Legislativas. Com o seu actual séquito, será difícil ir para lá dos militantes. O eleitorado vai pedir provas para se convencer que, para lá dos programas, há gente capaz de os executar. 

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