domingo, 28 de novembro de 2021

PSD fecha noite eleitoral: Rio teve 52,43% e Rangel conseguiu 47,57% / A desolação de Rangel: “Apresentei-me com uma estratégia diferente da que teve a vitória”

 


01:27

https://www.publico.pt/2021/11/27/politica/noticia/rio-rangel-sera-proximo-lider-psd-1986631

PSD fecha noite eleitoral: Rio teve 52,43% e Rangel conseguiu 47,57% - dados provisórios

Os resultados oficiais, mas ainda provisórios, foram anunciados na sede do PSD, em Lisboa, pelo presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do partido, Paulo Colaço. De acordo com o dirigente social-democrata, citado pela Lusa, do total de 46.664 inscritos, votaram 35.991 militantes. Rio alcançou 18.604 votos (52,43%) e Rangel 16.879 (47,57%), havendo ainda 189 votos nulos e 319 votos em branco.

Por esta altura, Rio tinha ganho Aveiro, Braga, Bragança, Faro, Leiria, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Viseu, Évora, Açores e Madeira. Rangel tinha conseguido vencer em Beja, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Lisboa Área Metropolitana, Lisboa Área Oriental, Portalegre, Setúbal, Vila Real, Europa e Fora da Europa.

 


PSD

A desolação de Rangel: “Apresentei-me com uma estratégia diferente da que teve a vitória”

 

Desolação nas hostes rangelistas. O candidato defendeu que tinha razão ao insistir na disputa interna: o líder reeleito parte relegitimado para as legislativas.

 

Ana Sá Lopes

28 de Novembro de 2021, 1:01

https://www.publico.pt/2021/11/28/politica/noticia/desolacao-rangel-apresenteime-estrategia-diferente-vitoria-1986672

 

O eurodeputado apelou à unidade do partido com vista à disputa das legislativas

 

Nunca chegou a existir qualquer euforia no quartel-general de Paulo Rangel. Entre a esperança numa vitória taco-a-taco, houve muita tensão e apreensão entre os apoiantes que aguardaram os resultados no quartel-general montado no Hotel Sana Malhoa, em Lisboa. À medida que caíam várias praças-fortes, a tensão transformava-se em desconsolo. A vitória de Rui Rio parecia próxima e pouco antes das 21h30, a toalha foi atirada ao chão: Paulo Rangel tinha perdido, 47% contra 52%, ia telefonar a Rui Rio e assumir a derrota.

 

No discurso da derrota – o segundo de Rangel, pois tinha concorrido contra Passos Coelho e perdido – deu os parabéns públicos a Rui Rio, fez “um apelo muito importante à unidade” e declarou que, depois da noite deste sábado, o líder do PSD sai “relegitimado”.

 

Contra aquilo que era a opinião de Rio, Rangel fez questão de dizer que tinha razão ao insistir nas directas antes das legislativas: “Ninguém tem dúvidas de que eu tinha razão a este respeito. O processo reforçou a legitimidade do líder”. Aqui, houve palmas. As directas tiveram, segundo Rangel, “um efeito legitimador relevante que vai ter consequências positivas para o PSD nas legislativas de 2022”.

 

Agora, “temos que nos concentrar nas eleições que aí vêm”. Rangel promete “colaboração leal” e evita falar sobre o que terá causado esta derrota, apesar dos apoios de peso que foi conquistando nesta campanha interna. “A reflexão” sobre a derrota “será feita a seu tempo”. “Apresentei-me por uma questão de missão e serviço, com uma estratégia diferente da que teve a vitória. A unidade significa que temos que ir para as legislativas unidos contra o principal adversário, o PS e António Costa”. Rangel está “empenhado” e “determinado” em contribuir para que o PSD possa ter “uma excelente vitória nas eleições de 30 de Janeiro”.

 

Agora o tempo é de campanha eleitoral: “Temos de concentrar as nossas energias nas próximas eleições legislativas que começam para o PSD em velocidade cruzeiro”.

 

Paulo Rangel participará na campanha das legislativas e continuará no Parlamento Europeu. Sair de Bruxelas “não é uma questão que se coloca”: “Vou cumprir o meu mandato até ao fim. Comprometi-me perante os portugueses e o PSD e vou cumpri-lo até ao fim”. Quando lhe perguntam se, em caso de derrota eleitoral do PSD, a 30 de Janeiro, Rui Rio tem legitimidade para levar o mandato agora conquistado até ao fim, transfere a questão para o líder reeleito: “O dr. Rui Rio responderá. O mandato é de dois anos”.

 

Faz questão de acentuar as suas boas relações com Rui Rio, apesar desta campanha ter criado publicamente um fosso entre os dois. Quando lhe perguntam se, quando telefonou a Rio, fez “as pazes” com o líder, responde da forma mais gentil: “Nós não fizemos as pazes porque nunca estivemos em guerra. Estávamos numa contenda eleitoral. Eu tive sempre uma relação de estima e respeito pelo dr. Rui Rio. A minha relação de respeito, estima e grande franqueza manteve-se igual e foi esse o registo em que decorreu o nosso telefonema”.

 

Com Paulo Rangel, no momento da derrota, estiveram o antigo candidato a líder do PSD Miguel Pinto Luz, os deputados Pedro Pinto, Duarte Marques e Pedro Rodrigues, o advogado Carlos Reis, o ex-presidente da RTP Gonçalo Reis, o líder da concelhia de Lisboa Luís Newton. E também João Taborda da Gama e o historiador António Araújo.

 

É a segunda derrota de Paulo Rangel numa corrida à liderança do PSD. Foi candidato contra Passos Coelho em 2010, perdendo com 34,4%, numas directas em que o futuro primeiro-ministro – que seria eleito no ano seguinte, em 2011 – conseguiu 66,2% do universo eleitoral.

 

Os tempos mudam e hoje Paulo Rangel é acusado, dentro e fora do partido, de ser uma espécie de símbolo do “regresso do passismo”, ao ter como seus apoiantes antigos colaboradores de Passos, como Miguel Poiares Maduro, Miguel Morgado e até – embora envergonhadamente – Carlos Moedas. Mas, na verdade, nesse longínquo ano de 2010, Rangel tinha herdado os votos dos apoiantes da antecessora de Passos, Manuela Ferreira Leite.

 

Nesses anos, Rui Rio não quis ser candidato: preferiu que Ferreira Leite avançasse com o argumento de que não era muito popular dentro do aparelho do partido (uma questão antiga, que remonta ao tempo em que Marcelo Rebelo de Sousa era presidente do PSD, Rio secretário-geral e impôs uma polémica refiliação, odiada pelas distritais).

 

A avaliar pelas declarações dos últimos dias, em que o líder do PSD fez duras críticas ao aparelho partidário e apelou ao “voto livre”, a questão do aparelho tem sido uma constante na sua vida política. Paulo Rangel fez questão de defender “as estruturas”, no seu discurso de derrota, contra a tese do “voto livre” de Rio: “Essa distinção é artificial e prejudicial para o PSD. As estruturas são eleitas por militantes, os mesmos que elegem o presidente do partido”. Mas, no fim da noite desolada, um apoiante de Rangel desabafava que uma das lições a tirar era que os líderes concelhios tinham perdido o poder sobre as bases.

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