quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Assembleia Municipal de Lisboa aprova referendo sobre o fim do Alojamento Local / Lisbon Municipal Assembly approves referendum on the end of Local Lodging

 


03 dezembro 2024 às 20h35

Assembleia Municipal de Lisboa aprova referendo sobre o fim do Alojamento Local

 

A ser validado pelo Tribunal Constitucional, será a primeira vez que este instrumento é utilizado no país por iniciativa popular.  Proposta do grupo de cidadãos visa responder à atual crise da habitação com travão ao alojamento de curta-duração em prédios com uso habitacional na capital.

 

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Rute Simão

Assembleia Municipal de Lisboa aprova referendo sobre o fim do Alojamento Local

Foto: Orlando Almeida

 

A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) deu luz verde, esta terça-feira, 3, à realização de um referendo popular sobre o fim do alojamento local (AL) em imóveis destinados à habitação na cidade.  A proposta foi aprovada com os votos a favor do BE, PAN, PEV, PS, Livre e dos  deputados independentes do Cidadãos Por Lisboa Miguel Graça e Daniela Serralha. Já o Chega, IL, CDS-PP, PSD, o PPM e a deputada independente Margarida Penedo votaram contra. O PCP e o MPT abstiveram-se.

 

Em causa está a iniciativa do Movimento Referendo pela Habitação (MRH) que, para responder à atual crise da habitação na cidade, pretende avançar com a realização de uma consulta popular para travar a atividade do AL em prédios com uso habitacional. O grupo de cidadãos entregou na AML, a 8 de novembro, cerca de 11 mil assinaturas, recolhidas durante o último ano e meio. Destas, são válidas 6600, que respeitam a eleitores recenseados na capital e que superam o número legalmente exigido (5 mil). As restantes correspondem a assinaturas de solidariedade com a ação.

 

 

 

"A nossa vontade é que ganhe o sim para que as casas da cidade sejam libertadas do peso do turismo e seja possível sonhar com um futuro em que os bairros sejam espaços habitados, onde, em vizinhança, se construam laços de solidariedade e de vivência em comunidade. Sabemos que a lei do AL mudou recentemente por decreto, mas essa mudança não tira poderes de regulação ao município, ao contrário do que o lobby do AL tem dito. A proposta está viva, válida e deve seguir em frente", referiu esta tarde a porta-voz do MRH, Rosa Maria dos Santos, durante a reunião pública do executivo municipal.

 

Também a mandatária do movimento de cidadãos, Teresa Mamede, destacou que "não importa se se considera o AL bom ou mau, o que importa é a democracia", disse, destacando a possibilidade de serem os cidadãos da cidade a decidir sobre a matéria.

 

Já em defesa do AL, o  munícipe Ricardo Serrão sublinhou que esta categoria de alojamento de curta-duração tem sido "um bode expiatório, há mais de 10 anos, para todos os problemas relacionados com a habitação". O responsável, que falou no início da sessão municipal, criticou o facto de serem criadas zonas de contenção à atividade do AL mas, no entanto, ser permitida a construção de hotéis nestas áreas. "Há milhares de imóveis do Estado que estão ao abandono e não são utilizados e ninguém parece fazer nada para agilizar. Queremos resolver a habitação ou atacar o AL?", questionou diante dos deputados municipais.

 

O MRH propõe que sejam referendadas duas questões: “Concorda em alterar o Regulamento Municipal do Alojamento Local no sentido de a Câmara Municipal de Lisboa, no prazo de 180 dias, ordenar o cancelamento dos alojamentos locais registados em imóveis destinados a habitação?” e “Concorda em alterar o Regulamento Municipal do Alojamento Local para que deixem de ser permitidos alojamentos locais em imóveis destinados a habitação?”.

 

Após a entrega das assinaturas, a AML avançou com a criação de uma comissão liderada pelo deputado municipal do PS, Ricardo Marques, com o intuito de apreciar a iniciativa e endereçar aos serviços competentes da administração pública o pedido de verificação administrativa, por amostragem, da autenticidade das assinaturas e da identificação dos subscritores.

 

As duas questões serão agora enviadas ao Tribunal Constitucional (TC) que irá avaliar a conformidade constitucional e legal. Caso seja validado, o referendo terá de ser realizado num prazo de entre 40 a 60 dias. A avançar, será a primeira vez que este instrumento constitucional é utilizado no país por iniciativa popular.

 

 Recorde-se que a Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), criticou recentemente, em declarações ao DN, a proposta do MRH apelidando-a de “farsa” e de "circo político". "É uma petição que, por coincidência, todos acreditam que atrasou dois anos para sair justamente perto das eleições autárquicas. Foi uma mera manobra estratégica”, apontou Eduardo Miranda. O presidente da ALEP acusou os partidos políticos de se escudarem da ação para “perseguir” o AL e “ganhar alguma vantagem eleitoral”. “Há partidos sem soluções para a habitação e atacam o AL ”, lamentou.

 

Já o advogado especialista em direito imobiliário,  Miguel Ramos Ascensão, defendeu que as perguntas propostas para este referendo podem colidir com a lei.

 

Dúvidas jurídicas justificam votos contra e abstenções

As dúvidas sobre a constitucionalidade das perguntas a integrar o referendo, a ser votado pelos lisboetas, foram também o principal motivo apresentado pelos deputados municipais para justificar os votos contra e as abstenções. "As perguntas levadas ao TC são matérias excluídas do referendo local”, garantiu a deputada municipal do PSD, Ana Mateus, adiantando que “só uma alteração à lei poderá acolher a vontade dos mandatários mas não o referendo”.

 

As mesmas indagações foram partilhadas pelo CDS-PP que informou ter solicitado apoio jurídico na matéria, tendo recebido a indicação de que as perguntas não serão validadas pelo TC. Martim Borges de Freitas destacou ainda o "conflito entre o direito à habitação e à liberdade económica" como um dos fatores para o chumbo da proposta.

 

Também o Chega levantou o cartão vermelho à consulta popular. "É duvidoso que os municípios possam reduzir ou fazer cessar o AL fora das áreas de contenção. Acreditamos que o TC impedirá a realização deste referendo", defendeu Nuno Pardal. O deputado municipal culpou ainda a "imigração descontrolada" de "ocupar e contribuir para o aumento do preços das rendas". 

 

Natacha Amaro, do PCP, acusou o AL de ser “uma das causas da falta de habitação a preços acessíveis”, mas referiu que a proposta de referendo “não apresenta segurança jurídica relativamente à competência regulamentar do municipio” motivo pelo qual o partido se absteve.

 

Do lado dos partidos que viabilizaram a proposta, a deputada municipal do Bloco de Esquerda, Isabel Pires, destacou o “momento inédito na democracia” e apontou o dedo às “consequências desastrosas da atividade económica do AL” que “expulsou moradores” das suas casas nos últimos anos incitando a “especulação dos preços da habitação”. A deputada frisou que a decisão sobre o AL é uma “competência municipal” e lamentou que o “Governo de direita” esteja a retirar “as poucas limitações que existem à atividade”.

 

O socialista Ricardo Marques evidenciou os “ 6500 lisboetas que assinaram o manifesto e que têm direito à sua voz" sendo fundamental aprovar, disse,  "este sinal tão positivo ao final de 50 anos de democracia”.

 

António Morgado Valente, do PAN, esclareceu que o partido “não é contra o AL”, mas admitiu, no entanto, que “há graves problemas em cidades como Lisboa e Porto”.

 

"A participação cidadã faz parte do ADN do Livre, que votou naturalmente a favor desta proposta. O Livre esteve na Comissão Eventual e teve oportunidade de avaliar esta iniciativa, uma iniciativa cidadã, que nunca foi experimentada em 50 anos de democracia e que tem por objecto um direito constitucionalmente protegido, o direito à habitação. Face à grave crise habitacional em Lisboa, o Livre só poderia votar a favor”, rematou a deputada do Livre, Ofélia Janeiro.

 

*Atualizada às 21h00


03 December 2024 at 20h35

Lisbon Municipal Assembly approves referendum on the end of Local Lodging

 

If validated by the Constitutional Court, it will be the first time that this instrument is used in the country by popular initiative.  The citizens' group's proposal aims to respond to the current housing crisis by curbing short-term accommodation in buildings with residential use in the capital.

 

https://www.dn.pt/701257868/assembleia-municipal-de-lisboa-aprova-referendo-sobre-o-fim-do-alojamento-local/

Rute Simão

Lisbon Municipal Assembly approves referendum on the end of Local Lodging

Photo: Orlando Almeida

 

The Lisbon Municipal Assembly (AML) gave the green light, this Tuesday, 3, to the holding of a popular referendum on the end of local accommodation (AL) in properties intended for housing in the city.  The proposal was approved with the votes in favor of the BE, PAN, PEV, PS, Livre and the independent deputies of Citizens for Lisbon Miguel Graça and Daniela Serralha. Chega, IL, CDS-PP, PSD, PPM and independent deputy Margarida Penedo voted against. The PCP and the MPT abstained.

 

At stake is the initiative of the Referendum Movement for Housing (MRH) which, to respond to the current housing crisis in the city, intends to move forward with a popular consultation to stop the activity of AL in buildings with residential use. The group of citizens delivered to the AML, on November 8, about 11 thousand signatures, collected during the last year and a half. Of these, 6600 are valid, which concern registered voters in the capital and exceed the legally required number (5 thousand). The rest correspond to signatures of solidarity with the action.

 

 

 

"Our desire is for the yes to win so that the city's houses are freed from the weight of tourism and it is possible to dream of a future in which neighborhoods are inhabited spaces, where, in neighborhoods, bonds of solidarity and community living are built. We know that the AL law has recently changed by decree, but this change does not take away regulatory powers from the municipality, contrary to what the AL lobby has said. The proposal is alive, valid and must move forward," said MRH spokesperson Rosa Maria dos Santos this afternoon during the public meeting of the municipal executive.

 

The representative of the citizens' movement, Teresa Mamede, also pointed out that "it doesn't matter if you consider AL good or bad, what matters is democracy," she said, highlighting the possibility of the city's citizens deciding on the matter.

 

In defense of AL, the citizen Ricardo Serrão underlined that this category of short-term accommodation has been "a scapegoat, for more than 10 years, for all problems related to housing". The official, who spoke at the beginning of the municipal session, criticized the fact that containment zones are created for the activity of AL but, however, the construction of hotels in these areas is allowed. "There are thousands of state properties that are abandoned and are not used and no one seems to do anything to speed it up. Do we want to solve housing or attack AL?", he questioned in front of the municipal deputies.

 

The MRH proposes that two questions be endorsed: "Do you agree to amend the Municipal Regulation of Local Accommodation in the sense that the Lisbon City Council, within 180 days, orders the cancellation of local accommodation registered in properties intended for housing?" and "Do you agree to change the Municipal Regulation of Local Accommodation so that local accommodation in residential properties is no longer allowed?".

 

After the delivery of the signatures, the AML moved forward with the creation of a commission led by the municipal deputy of the PS, Ricardo Marques, in order to assess the initiative and address to the competent services of the public administration the request for administrative verification, by sampling, of the authenticity of the signatures and the identification of the signatories.

 

The two questions will now be sent to the Constitutional Court (TC) which will assess constitutional and legal compliance. If validated, the referendum will have to be held within 40 to 60 days. If it goes ahead, it will be the first time that this constitutional instrument is used in the country by popular initiative.

 

 

 

It should be recalled that the Association of Local Lodging in Portugal (ALEP), recently criticized, in statements to DN, the MRH proposal, calling it a "farce" and a "political circus". "It is a petition that, by coincidence, everyone believes was delayed by two years to come out just close to the local elections. It was a mere strategic maneuver," Eduardo Miranda pointed out. The president of ALEP accused the political parties of hiding behind the action to "persecute" AL and "gain some electoral advantage". "There are parties without solutions for housing and attack AL", he lamented.

 

The lawyer specializing in real estate law, Miguel Ramos Ascensão, argued that the questions proposed for this referendum may collide with the law.

 

Legal doubts justify votes against and abstentions

Doubts about the constitutionality of the questions to be part of the referendum, to be voted on by the people of Lisbon, were also the main reason given by the municipal deputies to justify the votes against and abstentions. "The questions taken to the TC are matters excluded from the local referendum", guaranteed the municipal deputy of the PSD, Ana Mateus, adding that "only a change to the law can accommodate the will of the representatives but not the referendum".

 

The same questions were shared by the CDS-PP, which informed that it had requested legal support in the matter, having received the indication that the questions will not be validated by the TC. Martim Borges de Freitas also highlighted the "conflict between the right to housing and economic freedom" as one of the factors for the lead of the proposal.

 

Chega also raised the red card to the popular consultation. "It is doubtful that municipalities can reduce or cease AL outside the containment areas. We believe that the TC will prevent this referendum from taking place", defended Nuno Pardal. The municipal deputy also blamed "uncontrolled immigration" for "occupying and contributing to the increase in rent prices". 

 

Natacha Amaro, from the PCP, accused AL of being "one of the causes of the lack of affordable housing", but said that the referendum proposal "does not present legal certainty regarding the regulatory competence of the municipality", which is why the party abstained.

 

On the side of the parties that made the proposal possible, the municipal deputy of the Left Bloc, Isabel Pires, highlighted the "unprecedented moment in democracy" and pointed the finger at the "disastrous consequences of the economic activity of AL" that "expelled residents" from their homes in recent years inciting "speculation in housing prices". The deputy stressed that the decision on AL is a "municipal competence" and regretted that the "right-wing government" is removing "the few limitations that exist on the activity".

 

The socialist Ricardo Marques highlighted the "6500 Lisboners who signed the manifesto and who have the right to their voice" and it is essential to approve, he said, "this very positive sign at the end of 50 years of democracy".

 

António Morgado Valente, from the PAN, clarified that the party "is not against AL", but admitted, however, that "there are serious problems in cities like Lisbon and Porto".

 

"Citizen participation is part of the DNA of Livre, which naturally voted in favor of this proposal. Livre was in the Eventual Commission and had the opportunity to evaluate this initiative, a citizens' initiative, which has never been tried in 50 years of democracy and which has as its object a constitutionally protected right, the right to housing. In view of the serious housing crisis in Lisbon, Livre could only vote in favor", concluded the deputy of Livre, Ofélia Janeiro.

 

*Updated at 9:00 p.m.

 

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