quarta-feira, 15 de maio de 2024

Letter from Amsterdam, por António Sérgio Rosa de Carvalho ( English Version below )


AMSTERDÃO
Antes e depois do Corona

O texto que se segue foi escrito antes do surto do Corona ter provocado uma radical e profunda mudança nas nossas vidas e do quotidiano nas nossas cidades.
Assim, muitas das circunstâncias descritas no texto foram completamente alteradas.
O longo processo de luta de Amsterdão para se libertar da imagem negativa e do estigma do ‘esgoto humano’ da Europa ligada ao Red Light District, isto, associado à necessidade imperativa e urgente de gerir os malefícios do Turismo de Massas associado ao ‘low cost’ flying e aos fenómenos da AIRBNB e BOOKING.com, foi repentinamente e surpreendentemente ‘resolvido’ de forma radical pelo Lockdown Mundial.
Estamos portanto numa pausa, mas mesmo durante esta pausa, importantes decisões foram tomadas pelo Municipal de Amsterdão.
Assim, devido à decisão do Conselho de Estado de Dezembro de 2019 que todo e qualquer aluguer de alojamento a turistas necessita de licenciamento, o Municipal de Amsterdão instituiu uma proibição absoluta de aluguer em algumas e importantes áreas da cidade (https://www.dutchnews.nl/news/2020/04/amsterdam-to-ban-airbnb-in-city-centre-bring-in-permits-for-holiday-rentals/ )
O Municipal estabeleceu também uma aliança com os peritos económicos da Economia Doghnut https://www.theguardian.com/world/2020/apr/08/amsterdam-doughnut-model-mend-post-coronavirus-economy
, ou seja um conceito circular de que defende um modelo de crescimento que respeita os limites e exigências da Ecologia.
No entanto é importante conhecermos os sintomas descritos no texto seguinte para nos apercebermos dos desafios futuros do período pós-corona, que irá, sem dúvida, ser determinado por Desglobalização.
Mesmo durante a crise do Corona, a ambiguidade e efectividade do policiamento e fiscalização das medidas impostas pelo Lockdown manteve-se. Isto, porque as tarefas de policiamento e fiscalização divididas entre hesitantes, tímidos e desrespeitados funcionários de segurança da Câmara Municipal ( os 'Boas / Handhaving' ) e a polícia não estão bem definidas, o que cria um vácuo e desprestigia a autoridade do Estado.
Afinal, em todos os temas descritos em baixo de forma polarizada e aguda, trata-se da procura de um equilibrio fundamental entre Cosmopolitismo e Cultura Local, entre Internacionalização, Globalização e Identidade Local.


              Letter from Amsterdam

A Europa, que devia estar pulsante de energia na plenitude das expectativas de um futuro promissor encontra-se refém de uma malaise, de uma crise de confiança e prisioneira de um sentimento indefinível de desconfiança.
Desconfiança e distanciamento do cidadão/ã de uma classe política que sente que o/a não representa e não reconhece as suas ansiedades.
 Insegurança profundamente existencial determinada pela crise do Clima. Insegurança na realidade do quotidiano, onde o caos impera pelo desaparecimento das referências de identidade cultural varridas no turbilhão da massificação do Turismo; Pela avalanche da  globalização e do “cosmopolitismo” atenuador das referências e rituais locais; Pela invasão dos “expats” das grandes companhias Internacionais que contribuem para a inflação dos preços no Imobiliário;  Pelo eclipse da autoridade do Estado e do seu indispensável efeito regulador e função controladora e pedagógica.
Direitos fundamentais e essenciais garantidos pela Constituição e pelo Estado, como o direito à habitação e à saúde, estão ameaçados pela sobreposição dos valores dos ‘Mercados’ aos valores do Estado.
Globalização, onde o materialismo, o egocentrismo e a ganância triunfam, cumprindo as malfadadas profecias de Ayn Rand. Profecias estas que, definidas ideologicamente pelos gurus de Wall Street e pelos mundos da finança e dos Mercados como ‘Neo Liberalismo’, afectaram e erodiram todo os equilíbrios no tecido social, perturbaram os rituais humanos de vida em Sociedade e minaram como um cancro toda a organicidade das culturas Europeias.
Dividindo e reduzindo as pessoas exclusivamente em dois tipos: ‘Aqueles que têm tudo’ e ‘Aqueles que não têm nada’. A Vida reduzida exclusivamente ao critério único do sucesso a qualquer custo, e sempre, sobrepondo o Ter ao Ser.(impondo como condição definidora ‘sine qua non’, o Ter para poder Ser).
Esta profunda crise, determinando um sentimento de mal estar crescente, um ‘limbo’ impossível de definir que alimenta uma insegurança progressiva e um ressentimento ( “nós” e “eles”), encontra uma perigosa compensação e, uma também alienada procura de identificação, para muitos um ‘consolo’, e um pretendido escape para um dominante ressentimento, no Populismo.
Assim, o Populismo pretende, através da sua pretendida irreverência e hipotética autenticidade, “abanar o sistema”, e, por meio da sua radical vitalidade, desconstruir as teses ‘politicamente correctas’ das elites, segundo ele, barricadas nas “cliques” políticas da Democracia Representativa.(os Partidos)
Num cocktail ecléctico, confuso e irracionalmente emotivo, o Populismo define estas Elites, como distanciadas e irrealisticamente isoladas das realidades e desafios dos cidadãos na sua vida quotidiana. O Populismo pretende corrigir este vazio e ultrapassar este, segundo ele, ‘fosso obscuro e corrupto’, através da “ponte” da Democracia Directa e dos Referendos e Plebiscitos.
Tudo isto baseado num conceito mítico/ identitário do ‘Povo’ como entidade orgânica, coerente e aglutinada por uma cultura e vivência comuns, através dos séculos da sua História Nacional.

Nas cidades Europeias, no presente encontramos os efeitos nocivos destes fenómenos de Globalização e os desafios que eles representam, no seu efeito erosivo, para o prestígio e efectividade do Estado Democrático, perante as tendências Populistas.
Uma cidade, com características específicas,  onde podemos encontrar todos estes temas reunidos num cocktail explosivo e, embora ainda de forma latente, dirigido a uma ‘tempestade perfeita’ é Amsterdão.
Não que em cidades como Lisboa ou Porto, não se encontrem os mesmos desafios fundamentais e determinantes, mas, em Portugal no seu estado apático e sonâmbulo de País dependente de ‘tudo e de todos’, o Governo e as Autarquias continuam paquidermicamente e passivamente a ignorar e negar estes urgentes desafios.
Em Amsterdão, os eleitos da Democracia Representativa, acordaram do seu torpor e permissividade e estão a reconhecer os desafios e perigos e, embora tardiamente, a tentar reagir.

A crise da Habitação e a luta para regular e regulamentar a AIRBNB.

A espiral especulativa em Amsterdão no preço da Habitação é comparável a outras cidade Europeias, apesar da Holanda ter conhecido até aos finais dos anos 80 do Sec. XX , e antes do triunfo do Neo Liberalismo, um modelo único, regulado e equilibrado, entre mercado livre e controlado, que garantia e oferecia acesso à Habitação Social de alta qualidade.
Os tempos mudaram e de tal forma que a partir dos anos 90, até as exemplares e importantes Cooperativas de Habitação, alienaram-se do seu objectivo original e começaram a privatizar o seu Património Imobiliário e a especular com a venda do mesmo.
Isto coincide com uma vaga de privatizações dos Serviços Públicos, também reconhecíveis em vários países da Europa.
Um exército de jovens urbanos profissionais surgiram com os seus mitos tecnocráticos de eficiência de gestão, como uma praga de gafanhotos que devoram tudo na sua dinâmica, dominando com as suas teorias de ‘ managing’ toda a cultura Europeia.
Uma ilustração exemplar, constituiu o escândalo de um dos Príncipes de Oranje, se ter revelado um especulador máximo no imobiliário em Amsterdão, proprietário de muitas centenas de edifícios que eram rentabilizados ao máximo, desrespeitando e especulando, simultâneamente aproveitando-se e contribuindo para a mesma crise na Habitação,  o que fez correr muita tinta nos Media.

A ideia da Economia de partilha e do Alojamento Local parecia no início uma iniciativa simpática e interessante. Contacto genuíno e pessoal com os habitantes locais. Preços simpáticos. Uma forma de garantir uma estadia personalizada e mais autêntica. Mas, através da Globalização e massificação do Turismo tornada possível pelo ‘low cost flying’, essa ideia inicial, rápidamente degenerou num gigantesco negócio  especulativo com sérios investimentos  inflacionantes e com os conhecidos efeitos no preço e acesso à habitação. Os centros históricos das cidades Europeias tornaram-se zonas proibidas para os habitantes locais e são agora ocupados exclusivamente por turistas e ‘expats’ de companhias Internacionais que podem pagar os preços proibitivos exigidos.
AIRBNB iniciou a sua actividade em 2008. Em Amsterdão iniciou a sua actividade em 2011. Devido à fama de tolerância de Amsterdão para o consumo das chamadas ‘drogas leves’, rapidamente o pacote de voos baratos, Alojamento Local ‘à rédea solta’ e Red Light District, levou à abertura das famosas ‘coffee shops’. 






O público atraído por este fenómeno não correspondia de forma nenhuma ao conceito de Turismo Cultural. Hordas embriagadas e ululantes começaram a dominar alguns bairros. Os Ingleses desenvolveram especial fama neste sentido, também pelas suas festa de despedida e outros ‘festins’. Muito Turismo jovem do Sul da Europa ( Espanha, Itália., etc. )  também.
A recente notícia vinda das Ilhas Baleares (Ibiza e Maiorca/)  de pesadas multas e rigoroso controle policial para este tipo de Turismo, saturante e provocador de altas irritações e de hostilidade dos autóctones e habitantes locais, já não surpreende ninguém.
Ora, voltando à AIRBNB. A Autarquia de Amsterdão chegou a acordo sobre o limite de 60 dias anuais em 2016, onde a AIRBNB se comprometia a colaborar no controle deste limite estabelecido pela Autarquia.
Mas este ‘diálogo’ era aparente pois a AIRBNB, apesar de ter adaptado tecnicamente a sua plataforma para o limite dos 60 dias, sempre se recusou a fornecer as moradas dos seus clientes, condição fundamental para tornar possível o controle e policiamento do cumprimento das regras de 60 dias.
A Autarquia viu-se sempre obrigada a utilizar denúncias de situações irregulares afim de aplicar sanções e multas.
Em 2018, confrontada com os efeitos perversos do aumento explosivo do Alojamento Local no acesso à Habitação a Autarquia decide impor um novo limite de ocupação anual. 30 dias.
Num novo encontro com a AIRBNB e outras plataformas, a Autarquia sempre representada pelo Vereador Laurens Ivens impõe também a obrigação de registo dos clientes. Aqui a máscara de ‘colaboração’ por parte da AIRBNB cai.
Esta situação de confronto onde a Autarquia explicitamente não abdica do princípio de que as cidades têm o direito de decidir sobre a gestão das mesmas, já tinha sido confirmado na união estratégica com 9 outras cidades Europeias. Este conjunto de 10 cidades pretendem ter o reconhecimento da Comissão Europeia do seu direito de Auto Determinação.
Uma primeira batalha foi perdida ( mas não a Guerra ) em Dezembro de 2019, através do parecer do Tribunal Europeu que não reconheceu a AIRBNB como uma poderosa Agência Hoteleira, mas apenas como uma plataforma de mediação.
Entretanto, muito recentemente, como reacção a todos estes desenvolvimentos, Berlim confirmou a sua autonomia de decisão, através do congelamento de rendas dos alugueres por um período de 5 anos.(Janeiro de 2020)
Noutro surpreendente parecer, muito recentemente, o Conselho de Estado da Holanda declarou que todo e qualquer tipo de aluguer a turistas necessita imperativamente de uma licença. Assim, toda a actividade de Alojamento Local, é e está, portanto ilegal.(Dezembro de 2019)
Isto surpreendeu a própria Autarquia de Amsterdão. A nova legislação tem agora que ser estabelecida através do Governo Central e do parlamento em Haia(O que deve acontecer em Julho de 2020). A procissão está portanto ainda no adro.
De acentuar também a surpreendente recente victória eleitoral do Sinn Féin, não determinada directamente pela questão do Brexit, mas pelos temas dos Direitos à Habitação e à Saúde… Apesar do Brexit ter aberto a caixa de Pandora, levando à victória de três Nacionalismos cruzados (Inglês, Escocês e Irlandês), o que pode significar o fim do Reino Unido, os Irlandeses da Irlanda do Norte não votaram num Partido, mas fundamentalmente em dois Temas que os preocupam



Criminalidade Organizada, Tráfego de Droga, Lavagem de Dinheiro, Ordem Pública, Autoridade do Estado, Policiamento e Prestígio da Democracia Representativa.

Ao longo do ano de 2018, Arre Zuurmond, o Provedor da cidade de Amsterdão desenvolveu um estudo em contacto directo com a cidade e a sua vida nocturna. Assim instalou-se e habitou, durante um primeiro período, na área do Leidsplein, um dos centros da ‘noite’ e a seguir na área do ‘Red Light District’ conhecida como ‘de Wallen’.
As conclusões foram devastadoras. Trânsito caótico de ciclistas onde ninguém respeita os sinais. Trafico  e consumo generalizado de Droga ( Químicas, Heroina, Cocaina).Bebedeiras e tumultos a dominarem a via pública. Tudo isto num desrespeito explícito pela autoridade policial ou por regras estabelecidas que ninguém cumpre, pois a impunidade impera.
Amsterdão fechou as principais esquadras no Centro da cidade. Raramente se vê um policia.
Apesar de a cidade ter estabelecido uma multa de 95 euros para o consumo de álcool na via pública ninguém respeita esta medida.
Instalou-se um sentimento de impunidade. O sentimento de malaise descrito no início deste texto, pode constituir uma fonte permanente de alimento para sentimentos Populistas, e constitui portanto um importante potencial para mudança política, pois aquilo que é permanentemente desprestigiado e erodido, é a imagem da Democracia.



Femke Halsema de visita ao Red Light District


Perante isto a alcaide de Amsterdão, Femke Halsema encomendou um estudo aos peritos Pieter Tops e Jan Tromp. Os resultados foram conhecidos em Agosto de 2019 e provocaram grande comoção política.


As 167 coffee shops de Amsterdão especializadas na venda de cannabis, além de lucros astronómicos, constituem uma fachada para o tráfego de Drogas pesadas, que se processa através da porta dos fundos. Entre 2014 e 2016 o número de pequenos restaurantes aumentou em um quarto, totalizando o número de 5.800. Estes estabelecimentos, devido às rendas incomportáveis que pagam, são postos de lavagem de dinheiro da Máfia da Droga.
Essa mesma Máfia tem resolvido nestes últimos anos as suas guerras na via pública com linchamentos, executados por jovens de minorias que por quantias rídiculas estão dispostos a executar alguém por encomenda.
Esta espiral atingiu um climax, com a execução em pleno dia do advogado Derk Wiersum a 18 de Setembro de 2019 (44anos) que representava uma das principais testemunhas de acusação de criminosos de topo.
Isto constituiu um ataque directo ao estado de Direito, e tudo indica que a Holanda está finalmente a acordar, para esta conjugação de factores, que constituem uma ‘tempestade perfeita’e que colocam Amsterdão na ‘front line’ do confronto com esta crise Europeia da Democracia Representativa.
Femke Halsema quer acabar com as coffee shops e deslocar a prostituição para as periferias de Amsterdão. Esta comprovado que esta medida levará à diminuição do Turismo ‘low-cost’ de 50%, e ao controle das desordens permanentes na via pública.
Algo de conjugado está a acontecer na Holanda e em particular em Amsterdão.
A cultura de debate e consenso que dominou o pós-guerra e garantiu a criação de uma verdadeira e exemplar Social-Democracia , está directamente ameaçada por novos fenómenos, que levaram à criação de uma ‘terra de ninguém’, de uma zona cinzenta que está lentamente a ser ocupada e coberta pelo manto de forças malignas que ameaçam a própria Democracia Representativa.
O retorno do Policiamento, do controle directo e da exigência do cumprimento das leis e respectivo respeito pelo Estado de Direito, tornou-se numa urgência imperativa e os cidadãos querem, como nunca antes, sentirem-se representados e protegidos.

                         António Sérgio Rosa de Carvalho
                              Historiador de Arquitectura
                                    

LETTER FROM AMSTERDAM
ENGLISH VERSION

AMSTERDAM
Before and after Corona


The following text was written before the Corona outbreak caused a radical and profound change in our lives and daily lives in our cities.
Thus, many of the circumstances described in the text have been completely changed.
The long process of Amsterdam's struggle to free itself from the negative image and stigma of Europe's 'human sewage' linked to the Red Light District, coupled with the imperative and urgent need to manage the harms of mass tourism associated with 'low cost' 'flying and the phenomena of AIRBNB and BOOKING.com, was suddenly and surprisingly' resolved 'in a radical way by World Lockdown.
We are therefore on a break, but even during this break, important decisions were made by the Amsterdam Municipal.
Thus, due to the decision of the State Council of December 2019 that any rental of accommodation to tourists requires licensing, the Municipal of Amsterdam has instituted an absolute rental ban in some important areas of the city https://www.dutchnews.nl/news/2020/04/amsterdam-to-ban-airbnb-in-city-centre-bring-in-permits-for-holiday-rentals/
The Municipal also established an alliance with economic experts from the Doghnut Economy https://www.theguardian.com/world/2020/apr/08/amsterdam-doughnut-model-mend-post-coronavirus-economy
, that is, a circular concept that defends a growth model that respects the limits and requirements of Ecology.
However, it is important to know the symptoms described in the following text to realize the future challenges of the post-corona period, which will undoubtedly be determined by deglobalization.
Even during the Corona crisis, the ambiguity and effectiveness of policing and enforcement of the measures imposed by Lockdown remained. This is because the policing and inspection tasks divided between hesitant, shy and disrespected security officials from the City Council (the 'Boas / Handhaving') and the police are not well defined, which creates a vacuum and discredits the authority of the State.
After all, in all the themes described below in a polarized and acute way,  it is about the search for a fundamental balance between Cosmopolitanism and Local Culture, between Internationalization, Globalization and Local Identity.


              Letter from Amsterdam

Europe, which should be pulsating with energy in the full expectations of a promising future, is hostage to a malaise, a crisis of confidence and a prisoner of an indefinable feeling of distrust.
Citizen mistrust and detachment from a political class that feels that he / she does not represent and does not recognize his / her anxieties.
 Deeply existential insecurity determined by the climate crisis. Insecurity in the reality of everyday life, where chaos reigns due to the disappearance of references to cultural identity swept away in the turmoil of the massification of Tourism; Due to the avalanche of  globalization and “cosmopolitanism” that attenuate local references and rituals; For the invasion of the “expats” of the great International companies that contribute to the inflation of the prices in the Real Estate;  For the eclipse of the authority of the State and of its indispensable regulatory effect and controlling and pedagogical function.
Fundamental and essential rights guaranteed by the Constitution and the State, such as the right to housing and health, are threatened by the overlap of the values ​​of the 'Markets' over the values ​​of the State.
Globalization, where materialism, self-centeredness and greed triumph, fulfilling Ayn Rand's ill-fated prophecies. Prophecies that, ideologically defined by the Wall Street gurus and the worlds of finance and markets as 'Neo Liberalism', affected and eroded all the balances in the social fabric, disturbed the human rituals of life in society and undermined like a cancer all over the world. organicity of European cultures.
Dividing and reducing people exclusively into two types: 'Those who have everything' and 'Those who have nothing'. Life is reduced exclusively to the sole criterion of success at any cost, and always, superimposing Having on Being.
This profound crisis, determining a growing feeling of malaise, an 'limbo' impossible to define that fuels progressive insecurity and resentment (“us” and “them”), finds a dangerous compensation and, also, an alienated search for identification, for many a 'consolation', and an intended escape from a dominant resentment in Populism.
Thus, Populism intends, through its intended irreverence and hypothetical authenticity, to “shake the system”, and, through its radical vitality, to deconstruct the 'politically correct' theses of the elites, according to it, barricaded in the political “clicks” of the Representative Democracy. (The Parties)
In an eclectic, confusing and irrationally emotional cocktail, Populism defines these elites as distant and unrealistically isolated from the realities and challenges of citizens in their daily lives. Populism intends to correct this void and overcome this, according to it, 'dark and corrupt gap', through the “bridge” of Direct Democracy and Referendums and Plebiscites.
All this based on a mythical / identity concept of 'People' as an organic entity, coherent and joined by a common culture and experience, throughout the centuries of its National History.

In European cities, at present we find the harmful effects of these globalization phenomena and the challenges they represent, in their erosive effect, for the prestige and effectiveness of the Democratic State, in the face of Populist tendencies.
A city, with specific characteristics,   where we can find all these themes gathered in an explosive cocktail and, although still latently, directed towards a 'perfect storm' is Amsterdam.
Not that in cities like Lisbon or Porto, the same fundamental and determining challenges are not to be found, but in Portugal, in its listless and sleepy state of a country dependent on 'everything and everyone', the Government and Local Authorities continue to be pachidermically and passively ignore and deny these urgent challenges.
In Amsterdam, the representatives of Representative Democracy have awakened from their torpor and permissiveness and are recognizing the challenges and dangers and, although belatedly, trying to react.

The Housing crisis and the struggle to regulate and regulate AIRBNB.

The speculative spiral in Amsterdam in the price of housing is comparable to other European cities, although Holland had known until the late 1980s of the 20th century, and before the triumph of Neo Liberalism, a unique model, regulated and balanced, between the market free and controlled, which guaranteed and offered access to high quality Social Housing.
Times have changed and in such a way that from the 90's, even the exemplary and important Housing Cooperatives, alienated themselves from their original objective and began to privatize their Real Estate and speculate with the sale of it.
This coincides with a wave of privatization of Public Services, also recognizable in several countries in Europe.
An army of young urban professionals emerged with their technocratic myths of management efficiency, like a plague of locusts that devour everything in their dynamics, dominating with their theories of 'managing' the whole European culture.
An exemplary illustration, constituted the scandal of one of the Princes of Oranje, to have proved to be a maximum speculator in the real estate in Amsterdam, owner of many hundreds of buildings that were profitable to the maximum, disrespecting and speculating, simultaneously taking advantage and contributing to it. housing crisis,   which caused a lot of ink in the media.

The idea of ​​sharing economy and local accommodation seemed at first a nice and interesting initiative. Genuine and personal contact with the locals. Friendly prices. A way to guarantee a personalized and more authentic stay. But, through the Globalization and massification of Tourism made possible by the 'low cost flying', this initial idea, quickly degenerated into a gigantic   speculative business with serious   inflationary investments and with the known effects on price and access to housing. The historic centers of European cities have become a no-go zone for locals and are now occupied exclusively by tourists and 'expats' from international companies who can afford the required prohibitive prices.
AIRBNB started its activity in 2008. In Amsterdam it started its activity in 2011. Due to Amsterdam's fame of tolerance for the consumption of the so-called 'soft drugs', quickly the cheap flight package, Local Accommodation 'on a loose rein' and Red Light District, led to the opening of the famous 'coffee shops'.






 The public attracted by this phenomenon did not correspond in any way to the concept of Cultural Tourism. Drunken and screaming hordes began to dominate some neighborhoods. The British developed a special reputation in this regard, also for their farewell party and other 'feasts'. Very young tourism from Southern Europe (Spain, Italy., Etc.) as   well.
The recent news coming from the Balearic Islands (Ibiza and Mallorca /)   of heavy fines and strict police control for this type of Tourism, saturating and causing high irritation and hostility of the indigenous and local inhabitants, no longer surprises anyone.
Now, returning to AIRBNB. The Amsterdam City Council reached an agreement on the annual 60-day limit in 2016, where AIRBNB was committed to collaborating in the control of this limit established by the City.
But this 'dialogue' was apparent because AIRBNB, despite having technically adapted its platform for the 60-day limit, has always refused to provide the addresses of its customers, a fundamental condition to make it possible to control and police compliance with the rules 60 days.
The Municipality has always been obliged to use reports of irregular situations in order to apply sanctions and fines.
In 2018, faced with the perverse effects of the explosive increase in Local Accommodation on access to Housing, the Municipality decides to impose a new annual occupancy limit. 30 days.
In a new meeting with AIRBNB and other platforms, the Municipality always represented by Councilman Laurens Ivens also imposes the obligation to register customers. Here the mask of 'collaboration' by AIRBNB falls.
This confrontational situation, where the Municipality explicitly does not give up the principle that cities have the right to decide on their management, had already been confirmed in the strategic union with 9 other European cities. This set of 10 cities intends to have the European Commission's recognition of their right of self determination.
A first battle was lost (but not the War) in December 2019, through the opinion of the European Court that did not recognize AIRBNB as a powerful Hotel Agency, but only as a mediation platform.
However, very recently, as a reaction to all these developments, Berlin confirmed its autonomy of decision, by freezing rental rents for a period of 5 years. (January 2020)
In another surprising opinion, very recently, the Dutch Council of State declared that any type of rental to tourists is in absolute need of a license. Thus, all the activity of Local Accommodation, is and is therefore illegal. (December 2019)
This surprised the Amsterdam Municipality itself. The new legislation now has to be established through the Central Government and the parliament in The Hague (which should happen in July 2020). The procession is therefore still in the churchyard.
Also noteworthy is the surprising recent electoral victory of Sinn Féin, not directly determined by the issue of Brexit, but by the themes of Housing Rights and Health ... Despite Brexit opening the Pandora's box, leading to the victory of three crossed Nationalisms (English , Scottish and Irish), which could mean the end of the United Kingdom, Northern Irish people did not vote for a Party, but fundamentally for two Themes that concern them






Organized Crime, Drug Trafficking, Money Laundering, Public Order, State Authority, Policing and Prestige of Representative Democracy.

Throughout 2018, Arre Zuurmond, the Amsterdam City Ombudsman developed a study in direct contact with the city and its nightlife. Thus, the Leidsplein area, one of the centers of the 'night', was set up and inhabited during the first period and then the area of ​​the 'Red Light District' known as 'de Wallen'.
The conclusions were devastating. Chaotic cyclist traffic where no one respects the signs. Trafficking   and widespread consumption of drugs (Chemicals, Heroin, Cocaine). Drunks and riots dominating the public road. All of this in an explicit disrespect for the police authority or for established rules that nobody obeys, because impunity reigns.
Amsterdam closed the main police stations in the city center. You rarely see a police officer.
Although the city has established a fine of 95 euros for alcohol consumption on public roads, no one respects this measure.
There was a feeling of impunity. The feeling of malaise described at the beginning of this text, can constitute a permanent source of food for Populist feelings, and therefore constitutes an important potential for political change, since what is permanently discredited and eroded, is the image of Democracy.



Femke Halsema visiting the Red Light District

 

In view of this, the mayor of Amsterdam, Femke Halsema commissioned a study from experts Pieter Tops and Jan Tromp. The results were known in August 2019 and caused great political commotion.




The 167 Amsterdam coffee shops specializing in the sale of cannabis, in addition to astronomical profits, constitute a front for heavy drug traffic, which takes place through the back door. Between 2014 and 2016 the number of small restaurants increased by one quarter, totaling 5,800. These establishments, due to the incomparable rents they pay, are money laundering stations for the Drug Mafia.
This same Mafia has resolved its wars on the public road in recent years with lynching, carried out by minority youths who, for small sums, are willing to execute someone on demand.
This spiral reached a climax, with the execution in the middle of the day of the lawyer Derk Wiersum on September 18, 2019 (44 years) who represented one of the main witnesses of the accusation of top criminals.
This constituted a direct attack on the rule of law, and everything indicates that the Netherlands is finally waking up, for this combination of factors, which constitute a 'perfect storm' and which put Amsterdam on the 'front line' of the confrontation with this European crisis. Representative Democracy.
Femke Halsema wants to end the coffee shops and move prostitution to the outskirts of Amsterdam. It is proven that this measure will lead to a 50% decrease in 'low-cost' tourism, and to the control of permanent disorders on the public road.
Something is happening in the Netherlands and in Amsterdam in particular.
The culture of debate and consensus that dominated the post-war period and ensured the creation of a true and exemplary Social-Democracy, is directly threatened by new phenomena, which led to the creation of a 'no man's land', a gray area that is slowly being occupied and covered by the mantle of evil forces that threaten Representative Democracy itself.
The return of policing, direct control and the requirement to comply with the laws and the respective respect for the rule of law, has become an imperative urgency and citizens want, as never before, to feel represented and protected.

                         António Sérgio Rosa de Carvalho
                              Architectural Historian
                                   

Sem comentários: