Todos
somos turistas
VÍTOR BELANCIANO
(Texto) e SIBILA LIND (Vídeo)
20/12/2015 - PÚBLICO
As
cidades turisticamente atractivas do século XXI existem entre
paradoxos, na fronteira entre serem metrópoles de sucesso e vítimas
desse sucesso. O holandês Marc Glaudemans dedica-se a pensar como é
que se podem criar ambientes urbanos coerentes e sustentáveis.
Todos somos
turistas. Mesmo os que não se sentem forçosamente identificados com
aquilo a que chamamos turismo. “E é bom termos essa noção, para
que não olhemos para os turistas como se fossem extraterrestres”,
diz-nos por entre risos o holandês Marc Glaudemans. É o fundador e
director do Stadslab European Urban Design Laboratory, um think tank
internacional sem fins lucrativos e também laboratório de design
urbano, que tem actuado ao nível do impacto do turismo massificado
no espaço público, no desenvolvimento urbano e no dia-a-dia dos
cidadãos das cidades europeias. “O turismo não pode ser
eliminado, é qualquer coisa à qual nos temos de adaptar”,
acrescenta, “mas pode ser gerido, regulado ou sustentado.”
É a sua segunda vez
em Lisboa. Foi a associação Academia Cidadã, fundada por
activistas que pertencem a diversos movimentos cívicos portugueses,
em conformidade com a Câmara Municipal de Lisboa, que o desafiou a
desenvolver um programa de Master Class — que decorrerá em Abril
de 2016 — que contará com participantes internacionais e
portugueses, abordando a gentrificação e o turismo de massas em
Lisboa, no sentido de serem desenhadas estratégias partindo de um
caso concreto, o bairro da Mouraria.
A capital
portuguesa, onde hoje circulam os tuc-tuc que se viam na Tailândia,
constituiu, diz, um estudo de caso com interesse, ou não fosse uma
das cidades europeias com maior crescimento turístico nos últimos
anos — em 2014, cresceu cerca de 15,4% face a 2013, segundo a
Associação de Turismo de Lisboa.
Segundo ele, nada de
estrutural ainda foi colocado em causa, podendo aprender-se com os
equívocos cometidos noutros territórios como Barcelona, ao mesmo
tempo que Lisboa pode servir de embrião para outras cidades, num
tempo histórico em que o turismo é uma das questões globais mais
desafiantes.
Encontramo-nos no
Chiado, coração de Lisboa, e percebemos logo que está por dentro
do contexto do que se passa na cidade. “Os sintomas repetem-se de
cidade para cidade. Por norma começa com o regozijo de ver chegar
turistas, depois advêm preocupação e mais tarde a reacção a esse
estado de coisas.”
É isso, sim.
Inicialmente existiu satisfação pelos proveitos económicos e
orgulho pelo reconhecimento. Depois adveio a apreensão de quem vive
na zona histórica, e também nas adjacentes, pelas perturbações
que foram surgindo. No presente já se percebeu que alguma coisa terá
de ser feita. Não há alarmismo. Mas existe o confronto com uma
realidade nova, com tudo o que isso acarreta de conflito.
Nos cafés, nas
esplanadas, na rua, enfim, no espaço público, as marcas de
hostilidade entre autóctones e forasteiros ainda são subtis, mas
não é preciso ser vidente para antecipar que irão aumentar. Isso
já se vislumbra nas expressões de enfado. Nas incompreensões.
Nunca se falou tanto
de turismo em Portugal como nos últimos anos. Durante muito tempo
parecia ser um tema sazonal, ajustando-se aos meses de Verão no
Algarve. Foi uma longa época em que o país se pensava a si próprio
como destino de Verão. Com o fluxo dos últimos anos a atingir
algumas cidades portuguesas — com relevo para Lisboa e Porto —,
já não é assim. “A ideia sazonal morreu. Hoje temos de pensar o
turismo como fenómeno de todo o ano”, diz Marc. “Existe uma
amplificação temporal do uso turístico do espaço. O turismo já
não é ocasional, é constante. Se se tornou global, o tempo
turístico é agora total.”
O holandês Marc
Glaudemans, especialista em estratégias de desenvolvimento urbano e
reitor da Academia de Arquitectura e Urbanismo em Tilburg, percorreu
algumas zonas emblemáticas de Lisboa com o jornalista do PÚBLICO
Vítor Belanciano. Da Baixa à Mouraria, trocaram ideias sobre o
crescimento urbano, a indústria turística actual e aquilo que os
turistas procuram: autenticidade e familiaridade, ao mesmo tempo.
VÍTOR BELANCIANO, SIBILA LIND
A própria ideia de
turismo mudou. Dizemos que estamos na era do turismo de massas, mas
só se o pensarmos como algo possuído por uniformidade ao nível do
tempo, dos lugares e das preferências, porque as ofertas são
infindas, com uma variedade de lugares, paisagens e experiências à
nossa espera. Assistimos a uma intensificação dos tipos de turismo
conhecidos, a que não é estranha a revolução dos voos de baixo
custo que amplificaram os utentes das companhias low cost.
A multiplicação de
tipos de turismo não tem fim: enológico, de sobrevivência,
gastronómico, sexual, religioso, cultural, LGBT, de praia. O
resultado é uma segmentação do mercado. Encontramos tantos
destinos como potenciais segmentos de consumidores. O turismo actual
não é de massas, embora seja mais massificado do que nunca,
cumprindo-se a partir do consumo emocional de um certo lugar.
“Enquanto turistas, sugamos a paisagem em função de ela nos
devolver uma experiência, expor uma história ou garantir uma
emoção. Por isso as cidades turísticas se vêm obrigadas a
parecer-se com esse imaginário que o viajante espera encontrar.”
Às tantas, na nossa
deambulação pelo Chiado, paramos ao fundo da Rua Garrett junto a
uma dessas lojas de marca global que estão em qualquer parte do
mundo. Quando se quer falar de homogeneização, recorre-se quase
sempre a estes exemplos. Diz-se que as metrópoles perdem a sua
identidade quando são tomadas por este tipo de lojas. “Em parte é
verdade porque tendem a crescer de forma semelhante em todo o lado”,
afirma Marc, “mas o segredo, como sempre, é conseguir equilíbrio
entre este tipo de comércio global e o local. Neste caso, mantiveram
a fachada do edifício, não é muito intrusivo, embora o que
encontramos no interior seja o mesmo aqui ou em Roma.”
É verdade. Mas ao
contrário do que se possa pensar, não são apenas os locais que
apreciam este tipo de comércio. Os turistas, mesmo os que dizem
estimar a diferença dos lugares que visitam, também não as perdem
de vista. Apesar de tudo, tem de existir alguma familiaridade no
ambiente que se visita. “Este tipo de pavimento, a calçada, os
edifícios, as pessoas ou a comida, fazem parte do contexto português
e são enaltecidos. Os turistas esperam de alguma forma encontrar
essa identidade, mas ao mesmo tempo desejam o que têm em casa. O
mesmo tipo de conforto, os seus cafés, a sua comida, as suas lojas.
O turista gosta de sentir-se longe de casa, mas não muito longe.”
O que todas as
cidades procuram é como preservar uma identidade genuína enquanto
absorvem um número elevado de turistas.
O turismo, já se
percebeu, vive entre tensões não resolvidas. Não é uma questão
portuguesa. Em todo o mundo se discute como criar ambientes urbanos
coerentes e sustentáveis. Como preservar a herança urbana. Ou como
fazer com que uma maioria de cidadãos possa beneficiar dessa
indústria em vez de apenas alguns grupos privilegiados. “Isso é o
que todas as cidades procuram: como preservar uma identidade genuína
enquanto absorve um número elevado de turistas. É difícil por
causa da própria natureza transformadora do turismo que, mesmo
quando é predominantemente individual, pode ter um impacto maciço.
Em princípio, o turismo 2.0 ou 3.0 — como o Airbnb ou plataformas
online semelhantes — têm um impacto reduzido. Baseiam-se no que
existe e em propriedades individuais. Mas as áreas onde predomina
podem perder o seu carácter distintivo e tornarem-se
‘turistificadas’, ficando menos atractivas, não só para os
turistas como para os locais.”
Como garantir,
então, a sustentabilidade ambiental, social e cultural das cidades?
O diagnóstico é conhecido: sobreocupação do espaço público.
Homogeneização do comércio. Banalização da paisagem urbana.
Habitantes a abandonar o centro. Aumento dos preços de arrendamento
motivado pela procura do alojamento temporário. Proliferação de
hostels e outras formas de alojamento que põem em risco a função
residencial da população autóctone. Não é apenas a qualidade de
vida dos residentes que é posta em causa, mas a sua capacidade de
viver na área. Quando o interesse dos residentes é suplantado pelos
benefícios negociais, muitas vezes o efeito é paradoxal, acabando
na degeneração daquilo que era atraente para os visitantes: a
atmosfera única da cultura local.
Até agora, na maior
parte das cidades, tem-se apostado, como reacção, em políticas de
contenção, de restrição ou de deslocalização. Limitação do
número de cruzeiros, construção de réplicas das atracções
turísticas para deslocalizar a pressão dos visitantes,
diversificação da oferta cultural de maneira a que não sejam
apenas as zonas históricas a ser percorridas, limitação do número
de noites permitidas de aluguer de casas privadas, controlo do número
de visitantes ou regulação da utilização máxima do Airbnb, eis
algumas das medidas tomadas nos últimos anos nos mais variados
locais do globo. Numa das cidades onde o turismo tem tradição,
Paris, os turistas são vistos como “cidadãos temporários” com
direitos, mas também obrigações. Ainda assim, essas medidas não
bastam. É preciso antecipar as mudanças, percebê-las na sua curva
ascendente, para melhor as gerir.
Essas políticas de
antecipação “devem incluir planos de zoneamento e áreas de
desenvolvimento integrado para que o equilíbrio do desenvolvimento
urbano seja salvaguardado a longo prazo”, afirma Marc, apontando
para a participação de todos nessa dinâmica. “O desenvolvimento
destes instrumentos de planeamento são um processo de co-criação,
no qual os actores públicos e privados e os cidadãos têm de
trabalhar unidos para formular uma visão estratégia dos seus
bairros.”
BRUNO LISITA
Num processo
colaborativo deste género, o desenvolvimento equilibrado pode ser
definido por todas as partes interessadas, a partir de uma base de
valores e interesses compartilhados. “As acções individuais que
conduzem à gentrificação ou à sobrecarga do turismo são
racionais, mas o seu efeito de conjunto pode ser potencialmente
negativo para toda a comunidade”, aponta Marc. “É por isso que
um plano de desenvolvimento para uma determinada área deve ser
apoiado no longo prazo, para que todos os actores possam ver
cumpridas as suas aspirações. Pelo menos até um certo ponto.”
Durante muitos anos,
a indústria do turismo não foi levada muito a sério. Era
consensual, junto de governos, organismos internacionais e meios de
comunicação que a energia, o petróleo, as finanças, a ciência, a
agricultura e, vá lá, a cultura, eram vitais para o desenvolvimento
económico. O turismo não entrava nas agendas dos poderosos. Hoje,
segundo Marc, já não é assim. “É uma das indústrias mais
relevantes em termos económicos. E não é como a indústria do
petróleo, onde existem talvez dez grandes players. No turismo é
tudo muito mais disperso, individual e democrático.” Será
verdade. Mas a competição entre destinos é também renhida. Hoje
todas as cidades querem ser distintivas, únicas e aprazíveis.
Segundo o
secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), o
jordano Taleb Rifai, citado pelo El País, o mundo de hoje vive duas
revoluções: “A tecnológica, que conecta o mundo virtualmente, e
a das viagens, que nos conecta fisicamente.” Em 2014, segundo essa
organização dependente das Nações Unidas, 1138 milhões de
turistas passaram pelo menos uma fronteira — o que significa que
mais de um em cada sete habitantes do mundo realizou uma viagem
internacional. Outro dado significativo: um em cada onze empregos no
mundo foram criados graças ao turismo, embora também existam muitas
vozes críticas a sugerir que esse tipo de ocupação é
maioritariamente precário, de baixos salários e apoiado em
contratos temporários.
É inegável: o
turismo gera receitas e por vezes reabilita zonas urbanas. Mas também
pode contribuir para a diminuição da qualidade de vida local. Esta
é a encruzilhada das cidades atractivas. Por vezes fica-se com a
ideia de que a indústria do turismo tira vantagem do que a cidade e
a comunidade têm para oferecer (hospitalidade, ruas, monumentos,
equipamentos) mas os resultados económicos nunca revertem para o
colectivo, apenas para privados.
Para Marc, esta é
uma verdade parcial. “Os turistas e as empresas da indústria pagam
impostos específicos que podem acabar por beneficiar toda a
comunidade se as autoridades municipais o souberem gastar sabiamente.
Mas é verdade que esses instrumentos fiscais podem ser melhorados e
adaptados para lidar com novos tipos de turismo, que nem sempre são
abrangidos por sistemas fiscais desactualizados. A cidade de
Amesterdão, por exemplo, fez um acordo com a Airbnb, em que um
imposto de 5% é adicionado a todas as reservas feitas através desta
plataforma. Esta é uma forma de criar condições de concorrência
equitativas, não favorecendo um determinado tipo de turismo. Mas
existem propostas mais radicais como as taxas de ingresso em Veneza
ou as de alojamento.” Recorde-se que, esta semana, ficou a saber-se
que Câmara de Lisboa não vai, ao contrário do que estava previsto,
começar a cobrar em Janeiro a Taxa Municipal Turística a quem
chegar à cidade por via aérea ou marítima. Mas quem dormir num
hotel da capital vai ter de pagar um euro por noite a partir do
primeiro dia do próximo ano.
Para Marc
Glaudemans, o importante é “certificarmo-nos de que os benefícios
do turismo são investidos de forma igualitária por toda a cidade e
criadas as soluções para manter uma certa simetria”, mesmo as
zonas que ficam fora dos circuitos turísticos. “Essas áreas não
colhem benefícios, mas podem sentir os efeitos negativos, ao nível
do congestionamento do tráfego ou porque os preços de serviços e
bens aumentaram, por exemplo.”
Nesse sentido, o
governo municipal deve criar condições para uma distribuição
justa para evitar o aumento de desigualdades devido aos benefícios
económicos do turismo. “Preferia encarar isso como uma
oportunidade para as cidades que atraem um grande número de turistas
e não como um problema.”
As cidades
secundárias talvez consigam um padrão de vida mais elevado para os
seus cidadãos, na sua relação com o turismo, do que as capitais ou
as zonas de atracção turística”
Na actualidade, já
não é possível pensar nas questões do turismo a partir de um
prisma local. Para o comprovar, Marc vai apontando para os imóveis
que na Baixa ou Martim Moniz estão em obras, com anúncios de venda
da parte de imobiliárias que operam no mercado internacional. “Este
fenómeno é global”, reflecte. “Provavelmente, alguém em
Londres acabará por comprar este edifício e daqui construirá um
hotel. Este é um indicador de como o fluxo de capitais é global e
de como a regeneração urbana não é um processo apenas local
porque as partes interessadas são de diferentes origens e, na
verdade, com interesses diversos. É necessário pensar nessas forças
globais, e Lisboa, hoje, faz parte dessa comunidade mundial.”
Curiosamente, quando
pensa em casos actuais de sucesso, ao nível das cidades que
conseguem ter uma relação harmónica com o turismo, não lhe vêm à
cabeça capitais. “As cidades secundárias talvez consigam um
padrão de vida mais elevado para os seus cidadãos, na sua relação
com o turismo, do que as capitais ou as zonas de atracção
turística”, diz.
“Haverá sempre
excepções, mas quando penso em San Sebastian, no País Basco
espanhol, vislumbro uma cidade costeira atractiva, que é acima de
tudo um local para viver e trabalhar, integrando especificidades
turísticas, como a gastronomia, o festival de cinema ou o surf na
sua identidade. Lyon, em França, é outro exemplo de uma cidade que
mantém a sua matriz, combinada com a realização de eventos de
expressão internacional. As cidades que são conhecidas por
acontecimentos sazonais específicos, em vez de serem destinos de
todo o ano, talvez estejam mais preparadas para evitar a espiral
negativa dos excessos turísticos. Mas não existem fórmulas
perfeitas e as situações mudam rapidamente.”
É a pensar na forma
como se podem administrar as contradições que são hoje uma
constante do turismo global que Marc está em Lisboa. Nas ruas do
bairro da Mouraria diz sentir que ali ainda se distinguem as relações
de proximidade e há um estilo de vida humanizado. Mas não foi isso
que o levou a escolher o bairro para centro da sua intervenção.
“Escolhemos esta
área porque há aqui muitos paquistaneses, indianos e chineses, ou
seja, tem uma segunda camada para além de ser um bairro tradicional,
o que lhe acrescenta complexidade. Em Barcelona, por exemplo, os
bairros com estas características estão num acelerado processo de
transformação e alguns perderam as suas características
basilares.”
Um bairro é um
ecossistema complexo. Não surpreende a tensão que se manifesta
entre residentes e frequentadores ocasionais, entre comércio
tradicional e novas actividades ou entre utilizadores diurnos e
nocturnos. A harmonia é quase sempre instável. Mas é dessa
conjugação de actuações, e da forma como os diferentes actores se
relacionam entre si, que depende o equilíbrio. A coexistência nem
sempre é fácil. Mas é possível. Exige-se actuação pública. Mas
com pinças. Às vezes mais vale ser orientadora ou apenas
reguladora, do que pró-activa.
O Stadslab é parte
da Universidade Fontys, na Holanda, e tem ajudado a introduzir
modelos inovadores de governança urbana. Na Mouraria a ideia é
semelhante. “A nossa acção vai no sentido de ajudar municípios e
agentes privados a salvaguardarem um desenvolvimento urbano
equilibrado. Portugal não está familiarizado com o desenvolvimento
em área e acreditamos que este modelo de co-criação colaborativa
pode ser benéfico aqui.”
A Master Class de
Abril será supervisionada por especialistas internacionais mas os
participantes serão uma mistura de profissionais locais e
internacionais, entre trabalhadores municipais, arquitectos,
urbanistas e organizações comunitárias. O objectivo é trabalhar
durante dez dias com um grupo de 15 profissionais e manter uma
relação interactiva com os cidadãos e as organizações locais. A
apresentação final das ideias e recomendações ocorrerá num
evento público.
Apesar das lojinhas
de recordações, dos novos cafés e mercearias que prometem
invariavelmente “produtos tipicamente portugueses” e de alguns
sintomas de gentrificação na zona histórica, Marc é da opinião
que o seu carácter se mantém. “Sente-se que a regeneração
urbana ainda é orgânica, não é artificial, o que é bom. Vimos
poucas transformações de grande escala irremediáveis. Está a
acontecer uma transformação, mas é lenta e orgânica, o que é bom
para a cidade, ao mesmo tempo que o seu caracter histórico pôde ser
recriado porque alguns edifícios estavam muito degradados.”
Mas esse equilíbrio
é instável. Tem que ser reavaliado a todo o momento. A indústria
do turismo vive processos disruptivos muito rápidos. Por exemplo, em
Nova Iorque, estima-se que 50% da oferta de Airbnb já não se
encontra nas mãos dos habitantes, mas sim de empresas que se servem
do serviço para escaparem às normas hoteleiras. São assim as
cidades do século XXI, a viverem entre paradoxos: sendo sedutoras,
mas sem quererem ser esmagadas pelo seu desejo, assumindo que o
turismo pode ser voraz, mas não prescindindo dele, compreendendo que
a fronteira entre ter sucesso e ser-se vítima dele é ténue.
OPINIÃO
Bye,
bye Lisboa!
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO 13/09/2015 - PÚBLICO
A
Câmara de Lisboa abdicou da sua responsabilidade planeadora e
reguladora, abrindo a caixa de pandora.
Em 1990 Barcelona
com 1,5 milhões de habitantes atraiu 1,7 milhões de Turistas. Em
2014 Barcelona recebeu 7,5 milhões de Turistas. Rendimento anual
através do Turismo atingiu os 12 mil milhões de euros.
Nas Ramblas, em cada
10 transeuntes, 9 são turistas. 1991: 23,7191991 dormidas; 2003:
37,224 dormidas; 2013: 69,128 dormidas.
Assistiu-se assim, à
tranformação de toda a cidade num Parque Temático Turístico e à
redução de todas as actividades a uma única, omnipresente e
obsessiva Monocultura. O Turismo.
Todo e qualquer
sentido do Viver e Habitar quotidiano foi dominado e reduzido à
erosão permanente do visitar, do residir temporário, do permanente
happening nocturno e da festa contínua.
Ao permitir este
consumir de forma erosiva, predadora e esgotante, de todas as
características que, precisamente, constituíram o atractivo e o
motivo da vinda e, originalmente, o apelo de vísita, Barcelona cada
vez mais, e paradoxalmente, foi transformada num local onde Turistas
apenas encontram outros Turistas. Uma plataforma globalizada,
esvaziada dos seus conteúdos, dos seus moradores e autenticidade
original.
Tudo isto levou a
uma crescente revolta local, com movimentos cívicos e crescentes
manifestações de rua, culminando este processo com a eleição de
Ada Colau para presidir o Município.
A primeira medida de
Colau foi instalar uma moratória durante 1 ano, de todo o
licenciamento para novos projectos turísticos, incluindo hóteis,
hostels, reconversões para alojamentos temporários, etc.
Levou também à
produção do já famoso Documentário “Bye Bye Barcelona”, no
qual, todas estas situações e desafios são ilustrados.
Entretanto, Colau
entrou em confronto directo com a airbnb e a Booking.com, exigindo
destas organizações especialistas em estadias temporárias, a
relação completa das moradas e registos de ofertas dos seus sites.
A todos os endereços
ilegais serão impostas multas de 15.000 a 90.000 euros, oferecendo
Colau como alternativa ao pagamento das multas pelos proprietários
destes alojamentos, a disponibilização pelos mesmos, destas moradas
durante três anos, como habitaçào social, para os residentes
locais.
A recusa das
organizações referidas de disponibilizar as informações exigidas,
poderá levar à proibição de acesso a estes sites especializados
em oferta de alojamentos temporários, em todo o território da
Catalunha.
Alfama recebeu
recentemente, a visita do Secretário de Estado do Turismo e do
Ministro da Economia, que triunfalmente e com um distanciamento
“blasé” em relação a um possível papel regulador,
equilibrador, planeador, recusaram qualquer reflexão ou dúvida
quanto ao crescimento avassalador da oferta e transformação de
todas as residências, em alojamentos temporários, sem qualquer tipo
de regulamento ou limites, dedicados ao Turismo.
Nesta irrealista e
irresponsável atitude caracterizada por um “laissez faire, laisser
aller” in extremis, até criticaram uma tímida e tardia
preocupação, formulada por um dos grandes responsáveis por esta
ausência de gestão e planeamento, Manuel Salgado.
Com efeito, Manuel
Salgado ao anunciar em 2008 “A Baixa nunca será um bairro
residencial” e ao propor exclusivamente um investimento na
hotelaria, residências universitárias e alojamentos de curta e
média permanência, entregando a dinâmica do investimento
únicamente às exigências dos “mercados”, abdicou da sua
responsabilidade planeadora e reguladora, abrindo a caixa de pandora.
No início do
processo, antes da crise e respectiva transformação, motivada pela
mesma crise, da cidade num gigantesco negócio de estadias
temporárias, e acima de tudo, do exôdo maciço de toda a juventude
Portuguesa, estes, naturalmente os potenciais habitantes de uma Baixa
ainda vazia , ainda teria sido possível planear / estabelecer um
equilíbrio.
Assim também, a
possível inserção da totalidade da Baixa num regulamento de rigor
Patrimonial determinado pela Unesco não convinha à liberdade de
manobra de intervenção e licenciamento de Manuel Salgado, pois iria
impedir a sua política de “fachadismo” e de destruição
sistemática dos Interiores Pombalinos pelos “investidores”.
Agora,
dramaticamente é tarde, e provavelmente de forma irreversível
Manuel Salgado e os dois ilustres visitantes de Alfama vão acabar
perversamente por “ter razão” na sua irresponsável atitude e
ausência de visão.
Entretanto,
brevemente, em frente a Alfama vai surgir o novo terminal de
Cruzeiros, aumentando o “potencial” e alargando, através das
respectivas intervenções e arranjos da envolvente incluindo
possivelmente a desejada desactivação da estação de Santa
Apolónia, a plataforma da Monocultura.
Bye Bye Lisboa!
Historiador de
Arquitectura
OPINIÃO
“O
bezerro de ouro”
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO 22/05/2014 - PÚBLICO
Todo
o centro histórico está, através de uma “gentrificação”
especulativa, a ser transformado num “gueto” do turismo de
massas.
Portugal submisso
acordou “limpo”. Sentido-se culpado e tímido desde a
descolonização, aceitou a condenação e a sentença impostas por
outros. Sente-se agora aliviado por uma solução também imposta por
outros, e restabelecido com plenas honras no clube a que deseja
desesperadamente pertencer.
Esta saída foi
comemorada simbolicamente por duas “entradas”.
A primeira foi
ilustrada através de viagem iniciática ao Portugal renascido para a
banca internacional, num barquinho viajando através de um Portugal
de cartolina, agora já não dos “pequeninos” mas dos
pequeníssimos.
A segunda, esta de
maior escala, pela visita de três paquetes históricos, mensageiros
das promessas do novo “bezerro de ouro”, o turismo de massas.
Foi com grande
regozijo esperançado que recebemos este sinal de um futuro
promissor.
Enquanto a juventude
portuguesa parte, a tal que iria construir Portugal de forma
sustentada, aqueles que irão trazer dinheiro de forma instantânea
chegam.
De resto, Manuel
Salgado e Costa já desenvolveram e garantiram o décor e palco para
o culto deste “bezerro de ouro”.
Assim, todo o centro
histórico está, através de uma “gentrificação” especulativa,
a ser transformado num “gueto” do turismo de massas.
O planeamento e
construção de hotéis não pára. A entrega de todo o património
pombalino às imobiliárias, exclusivamente para habitação de luxo,
está já vitoriosamente, ajudada pelos vistos gold, a aumentar os
preços.
Há promessas de que
muitos reformados do Norte da Europa se instalem, usufruindo da
docilidade natural local, anestesiada pela crise e pela confirmação
de dependência e inferioridade.
O mundo das
imobiliárias e da construção espera agora desesperadamente que lhe
entreguem todo o centro histórico, em nome da famigerada
“reabilitação urbana”.
As poucas famílias
locais que se instalaram nos “bairros históricos” são agora
obrigadas a transformarem as suas habitações num gigantesco negócio
de estadias temporárias, simultaneamente tentando escapar ao barulho
e lixo permanentes, garantidos pela “animação do 'Zé'”, que
estão a tornar Lisboa inabitável.
Está assim
garantida a transformação de toda a Lisboa, não em cidade
apropriada e vivida pelos residentes locais com identidade própria,
mas sim em produto de consumo efémero e temporário, palco
globalizado pronto a ser devorado pelo turismo de massas.
Barcelona produziu
um documentário dirigido de forma muito crítica às consequências
para a cidade e os seus habitantes de um turismo massificado.
São conhecidas as
quatro fases progressivas das reacções locais aos efeitos do
turismo de massas: euforia, apatia, irritação e antagonismo.
Estamos
simultaneamente na fase de euforia e de apatia.
Apatia perante as
consequências da estratégia delineada por Manuel Salgado, que não
só destrói todos os interiores do património pombalino, mas leva a
uma “demolição” sociológica de ocupação, muito mais grave.
Um centro histórico ocupado apenas por ricos ou turistas, sem
identidade ou famílias locais, produto temporário e décor efémero
pronto a ser devorado.
Não tardará muito
que se passe à fase da irritação. Se se passará à fase do
antagonismo, duvido.
De qualquer maneira,
este é um processo irreversível e imparável.
Por detrás do altar
do “bezerro de ouro” esconde-se a plataforma de sacrifício onde
milhares de cordeiros dóceis, com a corda ao pescoço, aguardam a
matança.
Historiador de
Arquitectura
Da
“airbnbização” de Lisboa, do Porto e de "Todo" o
Portugal,
António Sérgio
Rosa de Carvalho
A 27 de Novembro
vai entrar em vigor um novo Regulamento que define as condições de
Aluguer de Alojamentos a Turistas. Quando comparado com outros
Regulamentos Internacionais, este revela-se insuficiente e apresenta
grandes lacunas.
Precisamente, a
questão dos seus efeitos perversos no direito à Habitação
Permanente nos Centros Históricos, na incapacidade de regulamentar a
tendência crescente para a monopolização especulativa de
habitações e consequente ocupação omnipresente de todos os
espaços disponíveis para alojamento temporário, seja a Turistas ou
“Expats”, é algo que preocupa as autoridades e estrategas das
Cidades no Estrangeiro.
Aqui em Portugal,
pelo contrário, afirma-se calmamente e de forma acrítica na
Comunicação Social: “Em Portugal, não se impede que as casas
estejam exclusivamente destinadas a este efeito, não se limitam
períodos de estadia, não se limita o número de apartamentos que
uma pessoa pode ter no mercado, não se estabelecem obrigações de
prestação de serviços no apartamento, não se impõem capacidades
máximas nem números de equipamentos a constar do apartamento. Um
regime muito mais aberto do que em Madrid ou Barcelona ou Amesterdão,
portanto.”
É precisamente
neste contexto preocupante que surge a seguinte Proposta/ Convite:
UMA PROPOSTA AOS
SENHORES JORNALISTAS.
Há cerca de duas
semanas o jornal de referência Holandês , “Volkskrant” dedicou
uma destacada reportagem ao fenómeno Airbnb e aos seus efeitos na
cidade de Amsterdão.
Airbnb iniciou a sua
actividade há cerca de seis anos. Tratava-se no início de um
conceito simpático. Airbnb fornecia através do seu site uma
plataforma para o aluguer de casas a particulares, garantindo assim
uma estadia local personalizada em ambiente autêntico, numa inserção
imediata no contexto de uma cidade e seus habitantes. Os preços
variavam em função do nível da qualidade oferecida, mas o
atractivo fundamental era poder usufruir de uma verdadeira casa de
forma económica. Tudo isto se inseria no novo conceito da Economia
Participativa da Troca e Partilha.
Desde logo surgiram
reacções da indústria hoteleira alertando para uma concorrência
desleal perante as questões fiscais e garantias de segurança dos
hóspedes. No seguimento do grande êxito alcançado, ( entretanto
oferta de 800.000 alojamentos com mais de metade neste número na
Europa) as diversas cidades começaram a desenvolver regulamentos,
não sem um grau de resistência da própria Airbnb e respectiva
polémica.
Assim a reportagem
foi motivada pelo facto que a filosofia inícial de cosmopolitismo e
partilha foi acentuadamente corrompida pelo negócio especulativo e
monopolizador. Assim surgiram verdadeiros Empresários e trocou-se o
conceito privado da oferta pessoal e particular de uma casa, pela
compra de prédios inteiros apenas dedicados às estadias
temporárias.
Além da fuga aos
impostos e da questão da garantia de segurança ( incêndios )
existe a questão da ocupação e da perda progressiva de espaços de
habitação Local Permanente para os residentes e habitantes da
Cidade.
O regulamento em
Amsterdão estabelece que o periodo máximo de oferta de um
alojamento por Ano é de 60 dias. O número máximo de hóspedes é
de 4 pessoas. ( não apenas por alojamento mas por edifício ) . O
alojamento tem que garantir segurança e a instalação de um sistema
de prevenção e combate a incêndio é obrigatório. Os hóspedes
não podem ser fonte de incómodo para a vizinhança e a envolvente.
A autorização do Proprietário é necessária. Aquele que
disponibiliza o alojamento para aluguer tem que pagar 5,5% como
Imposto Turístico e declarar os seus rendimentos aos Impostos. ( a
própria Airbnb cobra pelos seus serviços 6 a 12 % sobre a quantia
paga pelo hóspede ).
Comparar com a
versão Portuguesa que entra em vigor a 27 de Novembro. “Em
Portugal, não se impede que as casas estejam exclusivamente
destinadas a este efeito, não se limitam períodos de estadia, não
se limita o número de apartamentos que uma pessoa pode ter no
mercado, não se estabelecem obrigações de prestação de serviços
no apartamento, não se impõem capacidades máximas nem números de
equipamentos a constar do apartamento. Um regime muito mais aberto do
que em Madrid ou Barcelona ou Amesterdão, portanto.”
Esta perda de
espaços de habitação no Centro histórico é agravada por um
grande número de oferta de residência permanente a “expats” e
um intenso negócio especulativo à volta deste fenómeno, diminuindo
acentuadamente a oferta residencial aos habitantes locais e
inflacionando os preços de forma astronómica.
Uma das cidades onde
esta tendência é mais gritante é Londres que se transformou num
recreio permanente para multimilionários Russos e Árabes, exibindo
de forma ostensiva a sua riqueza opulenta, enquanto que, mesmo para
os Yuppies locais na herança “tatcheriana” tornou-se impossível
de habitar o Centro. Mesmo um casal, ambos com um bom emprego, tem
que se adaptar com esforço financeiro a habitar numa simples
periferia, agora “gentrificada”.
Os “Yuppies”
transformaram-se numa nova tribo, os “Endies” , ou seja aqueles
que mesmo bem empregados não dispõem de rendimentos além do limite
de sobrevivência. Se quiserem ter casa, têm que ficar diáriamente
nela em frente da televisão e alimentar-se no Lidl, isto para não
falar em ter filhos.
Como último exemplo
Internacional, New York. Aqui o confronto entre as autoridades locais
e a Airbnb foi fortíssimo. Deu artigo polémico e denunciador por
parte do Procurador da Cidade no New York Times,( ERIC T.
SCHNEIDERMAN APRIL 22, 2014 / New York Times) e depois de período
de resistência por parte da Airbnb que terminou em processo jurídico
movido pela Cidade, a Airbnb foi obrigada a disponibilizar a lista
completa/ moradas/alojamentos/clientes/empreededores e a expulsar
2.000 como não dignos de confiança.
E em Lisboa? Por
falta de espaço, deixo um convite aos jornalistas para uma possível
investigação/ reportagem sobre este fenómeno e os seus efeitos
para a Cidade no Presente e no Futuro.
Não, sem relembrar
a “estratégia”que Manuel Salgado definiu no PDM : a Baixa “nunca
será um bairro residencial” e as suas propostas reduziam-se
exclusivamente a “ um investimento na hotelaria, residências
universitárias e alojamentos de curta e média permanência.”
Assim, deixo mais
uma proposta de investigação para os senhores jornalistas. Agora
que o Império BES ruiu,”pilar” Imobiliário onde Manuel Salgado
sustentava o seus planos de Investimento dos Projectos para a Cidade,
o que vai acontecer ?
António Sérgio Rosa de Carvalho
Historiador de Arquitectura
VER ainda :
Da “airbnbização”
de "Todo" o Portugal
OVOODOCORVO /19 de
Agosto 2013.
A boa gestão do
Turismo está intrísecamente e necessáriamente interligada com o
Planeamento Urbanístico e Gestão do Espaço Público. Alojamentos
alternativos sobem em flecha. Why Hotel Industry Lobbyists Want A
Global Crac kdown On Airbnb.
Manuel Salgado
elegeu a Baixa, coração estratégico da cidade de Lisboa, como
palco globalizado de eventos e animação, e área apenas e
exclusivamente de residência temporária através de mais de 100
projectos para Hotéis além dos inúmeros Hostels.
A ideia de residir,
habitar, Identidade Local, assegurada por famílias, foi
completamente posta de parte …
Agora, nos Bairros
Históricos essas mesmas famílias, acossadas pela crise
disponibilizam as sua casas, que se tornaram inabitáveis a partir de
5a Feira devido à “Animação” de rua, “boteillon” e afins,
para aluguer, através de sites como o Airbnb.
Claro que este
fenómeno sem planeamento e sem controle em termos de Hotelaria
Paralela está já a concorrer já de forma determinante com a
Hotelaria Clássica.
Adivinha-se neste
conjunto de circunstâncias, inevitávelmente o desastre de saturação
do mercado com uma oferta que vai largamente ultrapassar a procura.
Chama-se a isto mau
Planeamento Urbanístico, assim como a ausência total de estratégia
e planeamento na área do Urbanismo Comercial, tem vindo a provocar
o desaparecimento de vários estabelecimentos Tradicionais que
garantem a Identidade de Lisboa como Cidade Autêntica e não como
palco /Globalizado de eventos e “Happenings”.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
OVOODOCORVO/ 19 DE
AGOSTO DE 2013
Airbnb: we're here
to stay, says billionaire as rental website is accused of evading
rules and tax
Nathan Blecharczyk,
co-founder of controversial global lodging startup, insists company
is a force for good and wants to help authorities adapt to its new
technology
Rory Carroll in San
Francisco
The Observer,
Saturday 21 June 2014 /
http://ovoodocorvo.blogspot.nl/2014/06/airbnb-were-here-to-stay-says.html
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