domingo, 1 de dezembro de 2019

German far-right AfD party picks new leader / “A ala de Höcke na AfD é uma nova forma de fascismo”


German far-right AfD party picks new leader

Outgoing chief Gauland gets his preferred successor.

By JUDITH MISCHKE 11/30/19, 8:04 PM CET Updated 12/1/19, 7:55 AM CET

BRAUNSCHWEIG, Germany — The far-right Alternative for Germany party on Saturday chose a lawmaker from the east of the country to replace controversial departing co-leader Alexander Gauland.

Tino Chrupalla, who comes from the state of Saxony and is a house painter by profession, won the contest to succeed Gauland with nearly 55 percent of votes at a party congress in the city of Braunschweig.

Germany's mainstream political parties refuse to cooperate with the AfD, branding it xenophobic and questioning its attachment to democratic norms.

Gauland, who is retiring from frontline politics at the age of 78, drew widespread criticism last year when he played down the Nazi era, describing it as " just bird shit in more than 1,000 years of successful German history."

Gauland is nevertheless regarded as a relative moderate within the AfD and he had made clear that Chrupalla was his preferred successor. Chrupalla, 44, defeated Gottfried Curio, seen as more of a hardliner, in a run-off vote.

Chrupalla’s co-leader will be Jörg Meuthen, a member of the European Parliament who was re-elected to his party post with 69 percent of votes at the congress.

The AfD experienced a surge in popularity in the wake of the 2015 migration crisis and forms the third-largest group in the German parliament. The party is also represented in all of Germany's 16 regional parliaments and is particularly strong in the east of the country.

Authors:

Judith Mischke



“A ala de Höcke na AfD é uma nova forma de fascismo”

O sociólogo Klaus Dörre, da Universidade de Jena (na Turíngia), estudou a presença da direita radical nos movimentos sindicais. Não acredita que a maior radicalização lhe tire força.

Maria João Guimarães
Maria João Guimarães 30 de Novembro de 2019, 7:00

Klaus Dörre, sociólogo da Universidade de Jena

Klaus Dörre, que esteve em Lisboa no âmbito do ciclo Conversas com História da historiadora Raquel Varela, no CCB, detalhou ao PÚBLICO os vários modos como a AfD apela a grupos diferentes e como pensa que pode ser contrariado este apelo.

Fez um estudo sobre a direita radical nos movimentos sindicais. Quais foram as conclusões?

Porque é que o Leste da Alemanha ainda hoje é diferente?

A extrema-direita sempre esteve nos movimentos de trabalhadores, observamos isso há 30 anos. O que há de novo é que há membros activos no coração dos sindicatos com esta orientação, fazendo greves, e que por outro lado não têm problemas em organizar autocarros de pessoas para participar em manifestações do Pegida ["movimento anti-islamização”, que age sobretudo em Dresden, ligado à AfD].


O que leva as pessoas a votar na AfD?

Os motivos são essencialmente três, e muito diferentes.

O primeiro pode dizer-se que é o “populismo de direita radical rebelde": protesta-se contra as desigualdades sociais. Há cerca de dez anos que temos prosperidade na Alemanha, mas muitos não tiraram proveito. Sobretudo no Leste, onde os salários são cerca de 20% mais baixos. Os radicais de direita apresentam-se como um partido de protesto para os mais fracos, para os trabalhadores, apesar de no centro dos seus programas estarem medidas de mercado neoliberais.
O segundo motivo é um “populismo de direita conservador": pessoas empregadas, que têm bons ordenados, mas que temem vir a perder a sua posição. Por exemplo, na indústria do carvão, na Alemanha de Leste, mas também no Oeste. Trabalham em indústrias que pagam bons salários, cujas empresas financiam associações e clubes mantendo a vida social na região, ou na indústria automóvel, que quando houver a transição para o eléctrico vai precisar de menos pessoas. Isto aumenta o interesse em partidos contra a “histeria do clima” – como os radicais de direita.
O terceiro motivo é o “radical de direita conformista”: pessoas muito qualificadas com muito bons ordenados que fizeram tudo para subir, saindo de um percurso expectável de um modo extraordinário, e esperam dos outros o mesmo. Todos os que fazem menos – migrantes, pessoas que vivem de subsídios – são vistos como “não pessoas”, que não são passíveis de integração, e que devem sair.    

O que destaca no estudo?

Entre as pessoas que entrevistámos, nenhuma declinou claramente o uso de violência. A AfD diz que cultura alemã está ameaçada. Constrói uma situação de emergência, o risco de a Alemanha ser “invadida” por muçulmanos e imigrantes, um estado de excepção. E aí justifica-se o uso de violência.

A divisão de classes agora não é alta versus baixa, mas de dentro versus de fora. [O líder da AfD na Turíngia] Björn Höcke diz que a questão moderna não é a luta de classes clássica entre ricos e pobres, mas de migrantes que vêm de fora (e sem pretensões legítimas) e pessoas de dentro.

Há quem diga que com o crescimento dos radicais na AfD, o partido perderá apoio eleitoral e enfraquecerá, o que acha?

Não acredito muito nesta divisão entre bons e maus, militantes ou menos militantes, eles jogam com isso de modo muito habilidoso. Não acredito numa desradicalização pelo poder ou Parlamento – em Itália vimos o que aconteceu com [Matteo] Salvini, que não se desradicalizou, aconteceu precisamente o contrário.

E apesar de a AfD se querer apresentar como mais conservadora que os conservadores, com posições mais à direita, às vezes cai a máscara – quando se lê o livro de Höcke, por exemplo, as palavras que usa, a permanente troca de estatuto de vítima e carrasco/perpetrador, há marcas típicas de fascismo. A ala de Höcke na AfD é uma nova forma de fascismo.

Eu sou optimista e acho que é possível, a longo prazo, derrotar a AfD. Mas é preciso lutar pelo futuro da sociedade e torná-lo atraente, dar passos visíveis nesse sentido. E é preciso mostrar que a imigração é necessária – por exemplo nos cuidados de saúde e a idosos.


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