quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

PACTO ECOLÓGICO EUROPEU / O pacto europeu para o mundo



PACTO ECOLÓGICO EUROPEU

“Os europeus vão mudar o seu estilo de vida para proteger o planeta”, anuncia Von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia desvenda roteiro para alcançar a neutralidade carbónica em 2050. Pacto Ecológico Europeu prevê 50 medidas “para reconciliar a economia com o planeta”. Regiões e sectores mais vulneráveis terão acesso a um Mecanismo para a Transição Justa, com 100 mil milhões de euros.

Rita Siza
Rita Siza , Bruxelas 11 de Dezembro de 2019, 13:00
https://www.publico.pt/2019/12/11/mundo/noticia/europeus-vao-mudar-estilo-vida-proteger-planeta-anuncia-von-der-leyen-1896953

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desvendou esta quarta-feira o roteiro do novo Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), o seu ambicioso plano para transformar a economia do continente e tornar a Europa o primeiro território a alcançar a neutralidade climática em 2050. “A viagem começa aqui”, afirmou, descrevendo este primeiro passo como “o momento do homem na Lua para a Europa”.

Von der Leyen resumiu numa frase a premissa do Pacto Ecológico Europeu. “Os europeus vão mudar o seu estilo de vida para proteger o planeta”, antecipou. “O nosso objectivo é reconciliar a economia com o planeta, o que implica mudar a forma como produzimos e consumimos”, acrescentou.


O combate às alterações climáticas é o mote do seu plano, mas acções não se esgotam na redução das emissões. Há medidas e iniciativas distribuídas por vários pilares, que abrangem todos os sectores da economia, da produção agrícola e industrial à energia e aos transportes, e uma atenção especial à preservação dos ecossistemas e da biodiversidade e à alteração dos hábitos dos cidadãos europeus.

“Temos um roteiro dedicado de 50 acções para 2050”, revelou a presidente da Comissão. Com a aprovação do Pacto Ecológico Europeu pelo colégio de comissários, esta manhã, arrancou oficialmente a contagem para uma série de medidas a tomar já nos próximos cem dias.

A mais emblemática, e que pretende tornar a transição para um novo paradigma verde irreversível, tem a ver com a apresentação da primeira Lei Climática Europeia, que dará força legal ao objectivo de alcançar a neutralidade carbónica em 2050. Está prevista para Março de 2020, embora possa ser “emendada” alguns meses mais tarde, quando estiverem concluídos os estudos sobre o esforço necessário ao cumprimento dessa meta. A ideia é que, em 2030, a União Europeia já tenha reduzido entre 50 a 55% as suas emissões.

“O Pacto Ecológico Europeu é a nossa nova estratégia de crescimento económico: um crescimento que terá de devolver ao planeta mais do que lhe retira”, afirmou Ursula von der Leyen, que disse estar “convencida que o antigo modelo de crescimento baseado nos combustíveis fósseis e na poluição está desactualizado”.

A intenção da presidente da Comissão é começar a “fazer as coisas de maneira diferente” e colocar a Europa na liderança, em termos de tecnologias verdes, ou de financiamento verde. Reconhecidamente, o seu plano de acção exigirá investimentos elevados: segundo os cálculos avançados pelo executivo comunitário, o esforço para cumprir as metas climáticas e energéticas em 2030 vai exigir um reforço anual de 260 mil milhões no investimento (correspondente a 1,5% do PIB europeu de 2018). Para isso, a Comissão está a preparar a apresentação de um Plano de Investimento para uma Europa Sustentável, bem como uma Estratégia para o Financiamento Verde, de forma a mobilizar recursos públicos e privados.

Além disso, a Comissão vai lançar um novo Mecanismo para a Transição Justa das regiões dependentes dos combustíveis fósseis, que ficará sob a alçada da comissária para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira. “Temos a ambição de mobilizar 100 mil milhões de euros para apoiar as regiões e sectores mais vulneráveis”, anunciou Ursula von der Leyen

Esse dinheiro ficará acessível através de um novo Fundo para a Transição Justa, que será inscrito no próximo Quadro Financeiro Plurianual mas cujo modelo e envelope financeiro ainda não está totalmente fechado; de uma linha dedicada no âmbito do fundo de promoção do investimento InvestEU, alavancado pela Comissão e pelo Banco Europeu de Investimento; e ainda pelo financiamento com capitais próprios do BEI.


Ursula von der Leyen
OPINIÃO
O pacto europeu para o mundo
O nosso objetivo é fazer da Europa o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050, retardando o aquecimento global e atenuando os seus efeitos. O Pacto Ecológico Europeu permitirá reduzir as emissões e, ao mesmo tempo, criar empregos e melhorar a nossa qualidade de vida.

11 de Dezembro de 2019, 6:06 actualizada às 11:40



Será que nós, os seres humanos, queremos continuar a viver bem e em segurança neste planeta? A humanidade enfrenta uma ameaça existencial — o mundo inteiro está a começar a ter essa consciência. As florestas ardem desde a América até à Austrália. Em Portugal, todos conhecem sobejamente o drama dos fogos que se repetem quase todos os verões. Os desertos estão a avançar em África e na Ásia. A subida do nível do mar ameaça as cidades europeias e também as ilhas do Pacífico. A costa portuguesa terá de se adaptar. A humanidade já assistiu a estes fenómenos no passado, mas nunca a esta velocidade.

A ciência diz-nos que ainda podemos pôr termo a este flagelo, mas o tempo está a esgotar-se. A nova Comissão Europeia não vai perder tempo. Hoje, decorridas menos de duas semanas após o início do nosso mandato, apresentamos o nosso roteiro para o Pacto Ecológico Europeu.


O nosso objectivo é fazer da Europa o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050, retardando o aquecimento global e atenuando os seus efeitos. Trata-se de uma tarefa para esta geração e para a próxima, mas a mudança tem de começar agora — e sabemos que podemos fazê-lo.

O Pacto Ecológico Europeu é o fio verde que percorrerá todas as nossas políticas — desde os transportes até à fiscalidade, da alimentação à agricultura e da indústria às infra-estruturas
Ursula van der Leyen

O Pacto Ecológico Europeu (green deal) que hoje apresentamos é a nova estratégia de crescimento da Europa. Permitirá reduzir as emissões e, ao mesmo tempo, criar empregos e melhorar a nossa qualidade de vida.

É o fio verde que percorrerá todas as nossas políticas — desde os transportes até à fiscalidade, da alimentação à agricultura e da indústria às infra-estruturas. Com o nosso pacto ecológico, queremos investir em energias limpas e alargar o comércio de licenças de emissão, mas vamos também impulsionar a economia circular e preservar a biodiversidade da Europa.

O Pacto Ecológico Europeu não é apenas uma necessidade: será um motor de novas oportunidades económicas. Muitas empresas europeias estão já a fazer a sua transição ecológica. Estão a reduzir a sua pegada de carbono e a descobrir as tecnologias limpas. Estão conscientes de que o planeta tem limites: as empresas europeias de todas as dimensões compreendem que todos temos de cuidar da nossa casa comum. Sabem também que, se descobrirem as soluções sustentáveis de amanhã, terão a enorme vantagem de serem pioneiras.

O que as empresas e os agentes da mudança precisam da nossa parte é um acesso facilitado ao financiamento. Para que tal aconteça, iremos apresentar o Plano de Investimento para Uma Europa Sustentável. Ao longo da próxima década, proporcionará apoios ao investimento no valor de um bilião de euros. Trabalharemos em estreita colaboração com o Banco Europeu de Investimento, o banco europeu para o clima.

O que as empresas e os agentes da mudança precisam da nossa parte é um acesso facilitado ao financiamento. Para que tal aconteça, iremos apresentar um Plano de Investimento para uma Europa Sustentável

No próximo mês de Março, iremos propor a primeira lei europeia do clima, para traçar o caminho a seguir e torná-lo irreversível: os investidores, inovadores e empresários precisam de regras claras para planear os seus investimentos a longo prazo.

Ao mesmo tempo que promoveremos a transformação da nossa forma de produzir e de consumir, de viver e de trabalhar, devemos também proteger e acompanhar aqueles que correm o risco de ser mais afectados por essa mudança. Esta transição tem de funcionar para todos ou então não irá funcionar. Proporei a criação do Fundo para Uma Transição Justa e quero que este mobilize, associado ao efeito de alavanca do Banco Europeu de Investimento e a fundos privados, um investimento de 100 mil milhões de euros nos próximos sete anos. Este Fundo está sob a alçada da comissária Elisa Ferreira, em estreita colaboração com o vice-presidente executivo Frans Timmermans.


Vamos certificar-nos de que ajudamos as regiões europeias que terão de dar um passo maior, de modo a não deixarmos ninguém para trás.

Nove em cada dez cidadãos europeus pedem a adoção de medidas decisivas em matéria de luta contra as alterações climáticas. Os nossos filhos contam connosco

Por toda a Europa, pessoas de todas as idades não estão só a exigir uma acção a favor do clima. Essas pessoas já estão a alterar o seu estilo de vida: basta pensar em todos os que, nas suas deslocações diárias, usam a bicicleta ou os transportes públicos, os pais que optam pelas fraldas reutilizáveis, as empresas que renunciam aos plásticos de utilização única e proporcionam alternativas sustentáveis ao mercado. Muitos de nós fazemos parte deste movimento europeu e mundial para o clima. Em Portugal, mais de metade da electricidade consumida já é gerada por recursos renováveis. E o país tem como objectivo que este número aumente significativamente em 2030, estando já programado, para 2021 e 2023, o encerramento das duas únicas centrais a carvão.

Nove em cada dez cidadãos europeus pedem a adopção de medidas decisivas em matéria de luta contra as alterações climáticas. Os nossos filhos contam connosco. Os europeus querem que a sua União actue em casa e seja líder no estrangeiro. Nestes últimos dias, o mundo inteiro esteve reunido em Madrid na conferência das Nações Unidas sobre o clima, a fim de debater a acção colectiva contra o aquecimento global.

O Pacto Ecológico Europeu é a resposta da Europa ao apelo dos nossos cidadãos. É um pacto da Europa, pela Europa e um contributo para um mundo melhor. Todos os europeus podem fazer parte da mudança.

Correcção: O Plano de Investimento para Uma Europa Sustentável proporcionará apoios ao investimento no valor de um bilião de euros​ ao longo da próxima década, não de mil milhões de euros

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