Chega de dar razões ao Chega para ter razão
Num momento em que o resto da Europa impõe condições,
Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de legalizações” e num
exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
4 de Abril de
2023, 6:21
https://www.publico.pt/2023/04/04/opiniao/opiniao/chega-dar-razoes-chega-razao-2044760
Repentinamente o
invisível Moedas manifestou-se com uma frase cheia de razão.
Eu já me tinha
também manifestado aqui no PÚBLICO, de forma crítica sobre as capacidades de
Moedas para dirigir uma cidade,(1) portanto
estou à vontade para reconhecer que Moedas, ao fazer um apelo para quantificar
e regular, alertando para a “política” de portas abertas desenvolvida pela
antiga "geringonça" e actual Governo e para a (ir)responsabilidade de
António Costa na mesma, teve razão.
No seguimento, um
editorial do PÚBLICO apelava ao debate. Só um colunista teve a coragem
intelectual para o fazer: António Barreto.(2)
Numa série
magistral de sólida argumentação fundamentada em longa experiência de análise
sociológica e política, António Barreto publicou uma série de artigos,
alertando para as forças democráticas reconhecerem que o problema existe, assim
como existem forças políticas que irão tirar grandes vantagens através do “voto
de protesto” deste “limbo” intelectual e desta implícita proibição para pensar
e reconhecer, de forma sensata, o problema.
O último grave
acontecimento do ataque no Centro Ismaili,(3)
independentemente das conclusões da investigação, veio ilustrar uma
precipitação neutralizadora de conclusões, equivalente a uma antecipação
inibidora do pensamento e discernimento que vai muito além da prudência exigida
neste casos.
Mais uma vez, só
Maria João Marques (4) teve a coragem
intelectual para denunciar isto num artigo de Opinião, aqui no PÚBLICO.
Em 25 de Maio de
2021, eu já tinha publicado, (5) quando da
extinção do SEF, e da nova lei da Imigração, um artigo sobre o complexo problema,
que tem duas vertentes: por um lado Portugal encontra-se num ciclo de emigração
no qual centenas de milhares de jovens diplomados saíram do país; e em que os
que ficaram, confrontados com uma vida sem perspectiva profissional e
financeira são obrigados a permanecerem em casa dos pais num mercado de
habitação absolutamente proibitivo.
Num Portugal com
um grande problema demográfico estes jovens não podem constituir família e só
sonham em partir.
Simultaneamente
foram dadas vantagens fiscais a grupos crescentes de investidores
Internacionais, ‘Expats’ e nómadas digitais, em profundo contraste com a pesada
carga fiscal dos portugueses.
O efeito perverso
no preço da habitação já não precisa de ser explicado.
A outra vertente
do problema reside em leis da imigração que permitem a qualquer pessoa
instalar-se em Portugal durante seis meses à procura de trabalho. Junto a isto
através de acordos, é garantido de forma automática um visto aos países da
CPLP.
Os novos bairros
da lata começam a ressurgir nas periferias de Lisboa.
Num momento em
que no resto da Europa os países impõem condições, exigem regulamentos,
desenvolvem estratégias, Portugal transformou-se numa irresponsável “fábrica de
legalizações” e exportador de imigração ilegal para os países de Schengen.
Um paraíso para
as máfias da imigração, bem ilustrado nos grupos crescentes de jovens vindos da
Índia, Nepal e Paquistão, bem visíveis no espaço público determinados a
utilizar Portugal como trampolim para a Europa.
Se não começarmos
a debater estes desafios integrando-os no espaço democrático corremos o risco
de que este “limbo” frustrante se transforme num perigoso e fértil potencial
irracional de voto de protesto.
Termino com a
frase como concluía o meu artigo de 25 de Maio de 2021: ( …) Senão, podemos
estar perante um outro e grave paradoxo: as mesmas forças políticas que
vociferam indignações e rasgam continuamente as vestes pelos Direitos Humanos e
a Justiça Social transformaram-se nos principais coveiros da democracia!
Historiador de
Arquitectura
(1) https://www.publico.pt/2022/03/19/opiniao/opiniao/afinal-onde-moedas-1999375
(2)
https://www.publico.pt/autor/antonio-barreto
(4) https://www.publico.pt/2023/03/29/opiniao/opiniao/atentado-criminoso-fofinho-2044201
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