quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Governo vê Portugal pronto para reexportar gás a partir de Sines em “poucos meses” / Government sees Portugal ready to re-export gas from Sines in "a few months"

 


GÁS

Governo vê Portugal pronto para reexportar gás a partir de Sines em “poucos meses”

 

Enquanto a ideia do gasoduto para ligar a Península Ibérica ao resto da Europa não se concretiza, Portugal aposta no transshipment de gás natural, desde o porto de Sines, através de “barcos mais pequenos”.

 

David Santiago e Ana Brito

31 de Agosto de 2022, 22:00

https://www.publico.pt/2022/08/31/politica/noticia/governo-ve-portugal-pronto-reexportar-gas-partir-sines-meses-2018948

 

O Governo acredita que “a muito curto prazo, num espaço de poucos meses, é possível montar a operação” que permitirá reexportar gás natural para o resto da Europa desde o porto de Sines e através do transbordo (o chamado transshipment) de gás natural liquefeito (GNL) via “barcos mais pequenos”.

 

Tiago Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, afirma ao PÚBLICO que o pretendido gasoduto que visa ligar a Península Ibérica à Europa Central “levará alguns anos a concretizar, mas temos uma solução mais de curto prazo que passa pela utilização do porto de Sines e através deste, via transshipment, fornecer [gás natural] ao resto da Europa, através de barcos mais pequenos”.

 

“Portanto, o porto de Sines, pela sua localização geográfica estratégica, pode ter um papel muito importante na diversificação das fontes de abastecimento de gás para o centro da Europa”, diz o governante em declarações feitas à margem da escola de Verão da representação da Comissão Europeia em Portugal que juntou 40 jovens entre 27 e 30 de Agosto na Ribeira Grande, Açores.

 

Em Maio, o Expresso noticiava um relatório feito, entre outras entidades, pelo porto de Sines, pela REN e pelo Governo que sinalizava que seria possível reexportar gás natural a partir de Sines ainda em 2022.

 

Em finais de Julho, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática garantia, a perguntas remetidas pelo PÚBLICO, que esta “solução de curto prazo poderá estar disponível dentro de seis meses a um ano”.

 

“O porto de Sines tem condições para, no curto prazo, montar operações de transshipment de GNL, de navios de grande capacidade (entre 175.000 e 210.000 m3) para navios de menor capacidade (entre 50.000 e 80.000 m3)”, detalhava ainda o ministério tutelado por Duarte Cordeiro, acrescentando que “estas operações permitem aprovisionar portos de descarga muito congestionados, do Centro e Norte da Europa. Este é um contributo importante para flexibilizar e assegurar alternativas à importação de gás natural russo”.

 

O Ministério do Ambiente adiantava ainda que “a médio prazo (18 a 24 meses) poderá estar disponível uma solução mais definitiva e também preparada para a exportação de hidrogénio líquido, assegurando maior flexibilidade entre a recepção e expedição de navios”. E que “numa última fase, com prazo superior a três anos, será possível a construção de um segundo cais, permitindo acréscimos significativos de injecção de gás natural na rede de gasodutos nacional/ibérica/europeia e de recepção e exportação de GNL”.

 

 

Estas diferentes soluções, e dependendo das escolhas que vierem a ser concretizadas, representam um investimento variável “entre 12 e 100 milhões de euros”, especificava o ministério.

 

Podíamos não estar “na situação em que estamos hoje”

Ante a ameaça russa de corte de abastecimento de gás no próximo Inverno e numa altura em que Moscovo interrompeu temporariamente o fornecimento de gás via Nord Stream 1, ganha força renovada o projecto de construção de um gasoduto que permita tornar a Europa menos dependente da Rússia.

 

O chanceler alemão Olaf Scholz defendeu há três semanas a necessidade deste gasoduto, ao que o primeiro-ministro António Costa reagiu com garantias de que Berlim “pode contar 100% com o empenho de Portugal” para a concretização deste há muito pretendido projecto.

 

Questionado sobre quantos anos até à sua concretização, Tiago Antunes responde: “Espero que poucos.” Já sobre os passos dados desde as declarações aparentemente decisivas de Scholz, o governante refere que “temos vindo a falar e haverá certamente iniciativas em breve para consolidar esta ideia de que é preciso ultrapassar os bloqueios que tem havido no passado e para encontrar os recursos financeiros para concretizar esta interligação entre Portugal e Espanha e o resto da Europa”.

 

Relativamente ao custo do gasoduto, o secretário de Estado diz apenas que “esse trabalho técnico está a ser feito”, para depois salientar que “a Comissão Europeia está muito empenhada, designadamente trabalhando em várias alternativas, não só a ligação com a Europa através de França, mas também a ligação com a Europa por Itália, via marítima”. Esta terça-feira, Scholz e Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, defenderam precisamente que, nesta altura, o que importa é “resolver [o problema]” das interligações, “seja por França ou por Itália”.

 

“Tudo está a ser estudado no plano técnico, há iniciativas políticas que também estão em desenvolvimento que creio que terão expressão em breve. Porque salta à evidência que se estamos à procura de alternativas aos fornecimentos vindos de Leste, designadamente da Rússia, temos que olhar para Oeste como uma porta de entrada para matérias-primas energéticas”, prossegue Tiago Antunes.

 

Para que a Península Ibérica possa ser “um local de produção de gases renováveis, designadamente de hidrogénio verde e outros, e os possamos fornecer à União Europeia”, o antigo Adjunto do primeiro-ministro vinca que “precisamos das ditas interligações”.

 

Até porque, sustenta, “o racional económico e geoestratégico está já claro para toda a gente, é pena que tenhamos perdido bastante tempo pois se tivesse sido ouvido na altura em que começámos a falar disto, e a trabalhar nesse sentido, não estávamos na situação em que estamos hoje em termos de dependência”.

 

Ganha portanto força a ideia de que será desta que Portugal e Espanha ficarão ligados ao resto da Europa em termos energéticos: “Cremos que este é o momento em que é preciso passar das palavras aos actos, tornou-se evidente a necessidade de concretizar este projecto. Isso já foi muito expressamente reconhecido recentemente pelo chanceler Scholz e a Comissão está também muito empenhada”, atira Tiago Antunes.

 

Sines como hub de hidrogénio

Além dos GNL, o Ministério do Ambiente considera determinante “posicionar o porto de Sines como um importante hub de hidrogénio verde e matérias-primas associadas, que permita a exportação para o Norte da Europa e para outros países e regiões”.

 

E tal como em relação ao gás natural se aposta num projecto gradual, o gabinete do ministério liderado por Duarte Cordeiro frisa que “Portugal pretende, numa primeira fase, utilizar a via marítima para o transporte de amónia e metanol” e afiança que “já se encontram em desenvolvimento projectos para o transporte de hidrogénio líquido por barco, outra solução futura em estudo”.

 

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Gas

Government sees Portugal ready to re-export gas from Sines in "a few months"

 

While the idea of the pipeline to connect the Iberian Peninsula to the rest of Europe is not realized, Portugal bets on the transshipment of natural gas, from the port of Sines, through "smaller boats".

 

David Santiago and Ana Brito

August 31, 2022, 10:00 PM

https://www.publico.pt/2022/08/31/politica/noticia/governo-ve-portugal-pronto-reexportar-gas-partir-sines-meses-2018948

 

The Government believes that "in the very short term, within a few months, it is possible to set up the operation" that will allow the re-export of natural gas to the rest of Europe from the port of Sines and through the transhipment (the so-called transshipment) of liquefied natural gas (LNG) via "smaller boats".

 

Tiago Antunes, Secretary of State for European Affairs, tells the PUBLIC that the intended pipeline that aims to connect the Iberian Peninsula to Central Europe "will take a few years to come to fruition, but we have a more short-term solution that involves using the port of Sines and through it, via transshipment, providing [natural gas] to the rest of Europe,  through smaller boats."

 

"Therefore, the port of Sines, due to its strategic geographical location, can play a very important role in diversifying the sources of gas supply to the centre of Europe," says the governor in statements made on the sidelines of the Summer School of the European Commission's representative in Portugal that brought together 40 young people between 27 and 30 August in Ribeira Grande,  Azores.

 

In May, Expresso reported a report made, among other entities, by the port of Sines, REN and the Government that signaled that it would be possible to re-export natural gas from Sines in 2022.

 

At the end of July, the Ministry of Environment and Climate Action assured, to questions submitted by the PUBLIC, that this "short-term solution may be available within six months to a year".

 

"The port of Sines is able to, in the short term, set up LNG transshipment operations, from large-capacity vessels (between 175,000 and 210,000 m3) to smaller capacity ships (between 50,000 and 80,000 m3)," said duarte Cordeiro's ministry, adding that "these operations allow the very congested discharge ports of Central and Northern Europe. This is an important contribution to making it more flexible and secure alternatives to the import of Russian natural gas."

 

The Ministry of the Environment also said that "in the medium term (18 to 24 months) a more definitive solution and also prepared for the export of liquid hydrogen may be available, ensuring greater flexibility between the reception and dispatch of ships". And that "at a last stage, with a term of more than three years, it will be possible to build a second pier, allowing significant increases in the injection of natural gas into the national/Iberian/European gas pipeline network and the reception and export of LNG".

 

 

These different solutions, and depending on the choices that may be made, represent a variable investment "between 12 and 100 million euros", the ministry specified.

 

We might not be "in the situation we're in today".

In the face of the Russian threat of a cut in gas supplies next winter and at a time when Moscow has temporarily halted gas supplies via Nord Stream 1, the project to build a pipeline that will make Europe less dependent on Russia is gaining momentum.

 

German Chancellor Olaf Scholz defended the need for this pipeline three weeks ago, to which Prime Minister António Costa reacted with assurances that Berlin "can count 100% on Portugal's commitment" to the implementation of this long-sought project.

 

Asked how many years until its realization, Tiago Antunes replies: "I expect few." Already on the steps taken since the seemingly decisive statements of Scholz, the governor says that "we have been talking and there will certainly be initiatives soon to consolidate this idea that we need to overcome the blockades that have been in the past and to find the financial resources to achieve this interconnection between Portugal and Spain and the rest of Europe".

 

Regarding the cost of the pipeline, the Secretary of State says only that "this technical work is being done", and then points out that "the European Commission is very committed, namely working on various alternatives, not only the connection with Europe through France, but also the connection with Europe by Italy, by sea". On Tuesday, Scholz and Pedro Sánchez, the Spanish Prime Minister, argued precisely that at this point, what matters is "solving [the problem]" of interconnections, "whether by France or Italy."

 

"Everything is being studied at the technical level, there are political initiatives that are also under development that I believe will be expression soon. Because it jumps to the evidence that if we are looking for alternatives to supplies from the East, namely from Russia, we have to look west as a gateway to energy raw materials", continues Tiago Antunes.

 

So that the Iberian Peninsula can be "a place of production of renewable gases, in particular green hydrogen and others, and we can supply them to the European Union", the former Deputy Prime Minister says that "we need these interconnections".

 

Because, he argues, "the economic and geostrategic rationale is already clear to everyone, it is a pity that we have wasted a lot of time because if we had been heard at the time we started talking about this, and working in this direction, we were not in the situation we are in today in terms of dependency."

 

It therefore gains strength the idea that it is from this that Portugal and Spain will be linked to the rest of Europe in energy terms: "We believe that this is the moment when we need to move from words to deeds, the need to implement this project has become evident. This has already been very much recognised recently by Chancellor Scholz and the Commission is also very committed", says Tiago Antunes.

 

Sines  as hydrogen hub

In addition to LNG, the Ministry of the Environment considers it crucial to "position the port of Sines as an important hub of green hydrogen and associated raw materials, enabling exports to Northern Europe and other countries and regions".

 

And as with regard to natural gas, the ministry's office led by Duarte Cordeiro stresses that "Portugal intends, as a first stage, to use the sea route for the transport of ammonia and methanol" and says that "projects are already under development for the transport of liquid hydrogen by boat,  another future solution under study."

 

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