GÁS
Governo vê Portugal pronto para reexportar gás a partir
de Sines em “poucos meses”
Enquanto a ideia do gasoduto para ligar a Península
Ibérica ao resto da Europa não se concretiza, Portugal aposta no transshipment
de gás natural, desde o porto de Sines, através de “barcos mais pequenos”.
David Santiago e
Ana Brito
31 de Agosto de
2022, 22:00
O Governo
acredita que “a muito curto prazo, num espaço de poucos meses, é possível
montar a operação” que permitirá reexportar gás natural para o resto da Europa
desde o porto de Sines e através do transbordo (o chamado transshipment) de gás
natural liquefeito (GNL) via “barcos mais pequenos”.
Tiago Antunes,
secretário de Estado dos Assuntos Europeus, afirma ao PÚBLICO que o pretendido
gasoduto que visa ligar a Península Ibérica à Europa Central “levará alguns anos
a concretizar, mas temos uma solução mais de curto prazo que passa pela
utilização do porto de Sines e através deste, via transshipment, fornecer [gás
natural] ao resto da Europa, através de barcos mais pequenos”.
“Portanto, o
porto de Sines, pela sua localização geográfica estratégica, pode ter um papel
muito importante na diversificação das fontes de abastecimento de gás para o
centro da Europa”, diz o governante em declarações feitas à margem da escola de
Verão da representação da Comissão Europeia em Portugal que juntou 40 jovens
entre 27 e 30 de Agosto na Ribeira Grande, Açores.
Em Maio, o
Expresso noticiava um relatório feito, entre outras entidades, pelo porto de
Sines, pela REN e pelo Governo que sinalizava que seria possível reexportar gás
natural a partir de Sines ainda em 2022.
Em finais de
Julho, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática garantia, a perguntas
remetidas pelo PÚBLICO, que esta “solução de curto prazo poderá estar
disponível dentro de seis meses a um ano”.
“O porto de Sines
tem condições para, no curto prazo, montar operações de transshipment de GNL, de
navios de grande capacidade (entre 175.000 e 210.000 m3) para navios de menor
capacidade (entre 50.000 e 80.000 m3)”, detalhava ainda o ministério tutelado
por Duarte Cordeiro, acrescentando que “estas operações permitem aprovisionar
portos de descarga muito congestionados, do Centro e Norte da Europa. Este é um
contributo importante para flexibilizar e assegurar alternativas à importação
de gás natural russo”.
O Ministério do
Ambiente adiantava ainda que “a médio prazo (18 a 24 meses) poderá estar disponível
uma solução mais definitiva e também preparada para a exportação de hidrogénio
líquido, assegurando maior flexibilidade entre a recepção e expedição de
navios”. E que “numa última fase, com prazo superior a três anos, será possível
a construção de um segundo cais, permitindo acréscimos significativos de
injecção de gás natural na rede de gasodutos nacional/ibérica/europeia e de
recepção e exportação de GNL”.
Estas diferentes
soluções, e dependendo das escolhas que vierem a ser concretizadas, representam
um investimento variável “entre 12 e 100 milhões de euros”, especificava o
ministério.
Podíamos não
estar “na situação em que estamos hoje”
Ante a ameaça
russa de corte de abastecimento de gás no próximo Inverno e numa altura em que
Moscovo interrompeu temporariamente o fornecimento de gás via Nord Stream 1,
ganha força renovada o projecto de construção de um gasoduto que permita tornar
a Europa menos dependente da Rússia.
O chanceler
alemão Olaf Scholz defendeu há três semanas a necessidade deste gasoduto, ao
que o primeiro-ministro António Costa reagiu com garantias de que Berlim “pode
contar 100% com o empenho de Portugal” para a concretização deste há muito
pretendido projecto.
Questionado sobre
quantos anos até à sua concretização, Tiago Antunes responde: “Espero que
poucos.” Já sobre os passos dados desde as declarações aparentemente decisivas
de Scholz, o governante refere que “temos vindo a falar e haverá certamente
iniciativas em breve para consolidar esta ideia de que é preciso ultrapassar os
bloqueios que tem havido no passado e para encontrar os recursos financeiros
para concretizar esta interligação entre Portugal e Espanha e o resto da
Europa”.
Relativamente ao
custo do gasoduto, o secretário de Estado diz apenas que “esse trabalho técnico
está a ser feito”, para depois salientar que “a Comissão Europeia está muito
empenhada, designadamente trabalhando em várias alternativas, não só a ligação
com a Europa através de França, mas também a ligação com a Europa por Itália,
via marítima”. Esta terça-feira, Scholz e Pedro Sánchez, primeiro-ministro
espanhol, defenderam precisamente que, nesta altura, o que importa é “resolver
[o problema]” das interligações, “seja por França ou por Itália”.
“Tudo está a ser
estudado no plano técnico, há iniciativas políticas que também estão em
desenvolvimento que creio que terão expressão em breve. Porque salta à
evidência que se estamos à procura de alternativas aos fornecimentos vindos de
Leste, designadamente da Rússia, temos que olhar para Oeste como uma porta de
entrada para matérias-primas energéticas”, prossegue Tiago Antunes.
Para que a
Península Ibérica possa ser “um local de produção de gases renováveis,
designadamente de hidrogénio verde e outros, e os possamos fornecer à União
Europeia”, o antigo Adjunto do primeiro-ministro vinca que “precisamos das
ditas interligações”.
Até porque,
sustenta, “o racional económico e geoestratégico está já claro para toda a
gente, é pena que tenhamos perdido bastante tempo pois se tivesse sido ouvido
na altura em que começámos a falar disto, e a trabalhar nesse sentido, não
estávamos na situação em que estamos hoje em termos de dependência”.
Ganha portanto
força a ideia de que será desta que Portugal e Espanha ficarão ligados ao resto
da Europa em termos energéticos: “Cremos que este é o momento em que é preciso
passar das palavras aos actos, tornou-se evidente a necessidade de concretizar
este projecto. Isso já foi muito expressamente reconhecido recentemente pelo
chanceler Scholz e a Comissão está também muito empenhada”, atira Tiago
Antunes.
Sines como hub de hidrogénio
Além dos GNL, o Ministério
do Ambiente considera determinante “posicionar o porto de Sines como um
importante hub de hidrogénio verde e matérias-primas associadas, que permita a
exportação para o Norte da Europa e para outros países e regiões”.
E tal como em
relação ao gás natural se aposta num projecto gradual, o gabinete do ministério
liderado por Duarte Cordeiro frisa que “Portugal pretende, numa primeira fase,
utilizar a via marítima para o transporte de amónia e metanol” e afiança que
“já se encontram em desenvolvimento projectos para o transporte de hidrogénio
líquido por barco, outra solução futura em estudo”.
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Gas
Government sees
Portugal ready to re-export gas from Sines in "a few months"
While the idea of the pipeline to connect the Iberian
Peninsula to the rest of Europe is not realized, Portugal bets on the
transshipment of natural gas, from the port of Sines, through "smaller
boats".
David Santiago
and Ana Brito
August 31, 2022,
10:00 PM
The Government
believes that "in the very short term, within a few months, it is possible
to set up the operation" that will allow the re-export of natural gas to
the rest of Europe from the port of Sines and through the transhipment (the
so-called transshipment) of liquefied natural gas (LNG) via "smaller
boats".
Tiago Antunes,
Secretary of State for European Affairs, tells the PUBLIC that the intended
pipeline that aims to connect the Iberian Peninsula to Central Europe
"will take a few years to come to fruition, but we have a more short-term
solution that involves using the port of Sines and through it, via
transshipment, providing [natural gas] to the rest of Europe, through smaller boats."
"Therefore,
the port of Sines, due to its strategic geographical location, can play a very
important role in diversifying the sources of gas supply to the centre of
Europe," says the governor in statements made on the sidelines of the
Summer School of the European Commission's representative in Portugal that brought
together 40 young people between 27 and 30 August in Ribeira Grande, Azores.
In May, Expresso
reported a report made, among other entities, by the port of Sines, REN and the
Government that signaled that it would be possible to re-export natural gas
from Sines in 2022.
At the end of
July, the Ministry of Environment and Climate Action assured, to questions
submitted by the PUBLIC, that this "short-term solution may be available
within six months to a year".
"The port of
Sines is able to, in the short term, set up LNG transshipment operations, from
large-capacity vessels (between 175,000 and 210,000 m3) to smaller capacity
ships (between 50,000 and 80,000 m3)," said duarte Cordeiro's ministry,
adding that "these operations allow the very congested discharge ports of
Central and Northern Europe. This is an important contribution to making it
more flexible and secure alternatives to the import of Russian natural
gas."
The Ministry of
the Environment also said that "in the medium term (18 to 24 months) a
more definitive solution and also prepared for the export of liquid hydrogen
may be available, ensuring greater flexibility between the reception and
dispatch of ships". And that "at a last stage, with a term of more
than three years, it will be possible to build a second pier, allowing
significant increases in the injection of natural gas into the
national/Iberian/European gas pipeline network and the reception and export of
LNG".
These different
solutions, and depending on the choices that may be made, represent a variable
investment "between 12 and 100 million euros", the ministry
specified.
We might not be
"in the situation we're in today".
In the face of
the Russian threat of a cut in gas supplies next winter and at a time when
Moscow has temporarily halted gas supplies via Nord Stream 1, the project to
build a pipeline that will make Europe less dependent on Russia is gaining
momentum.
German Chancellor
Olaf Scholz defended the need for this pipeline three weeks ago, to which Prime
Minister António Costa reacted with assurances that Berlin "can count 100%
on Portugal's commitment" to the implementation of this long-sought project.
Asked how many
years until its realization, Tiago Antunes replies: "I expect few."
Already on the steps taken since the seemingly decisive statements of Scholz,
the governor says that "we have been talking and there will certainly be
initiatives soon to consolidate this idea that we need to overcome the
blockades that have been in the past and to find the financial resources to
achieve this interconnection between Portugal and Spain and the rest of
Europe".
Regarding the
cost of the pipeline, the Secretary of State says only that "this
technical work is being done", and then points out that "the European
Commission is very committed, namely working on various alternatives, not only
the connection with Europe through France, but also the connection with Europe
by Italy, by sea". On Tuesday, Scholz and Pedro Sánchez, the Spanish Prime
Minister, argued precisely that at this point, what matters is "solving
[the problem]" of interconnections, "whether by France or
Italy."
"Everything
is being studied at the technical level, there are political initiatives that
are also under development that I believe will be expression soon. Because it
jumps to the evidence that if we are looking for alternatives to supplies from
the East, namely from Russia, we have to look west as a gateway to energy raw
materials", continues Tiago Antunes.
So that the
Iberian Peninsula can be "a place of production of renewable gases, in
particular green hydrogen and others, and we can supply them to the European
Union", the former Deputy Prime Minister says that "we need these
interconnections".
Because, he
argues, "the economic and geostrategic rationale is already clear to
everyone, it is a pity that we have wasted a lot of time because if we had been
heard at the time we started talking about this, and working in this direction,
we were not in the situation we are in today in terms of dependency."
It therefore
gains strength the idea that it is from this that Portugal and Spain will be
linked to the rest of Europe in energy terms: "We believe that this is the
moment when we need to move from words to deeds, the need to implement this
project has become evident. This has already been very much recognised recently
by Chancellor Scholz and the Commission is also very committed", says
Tiago Antunes.
Sines as hydrogen hub
In addition to
LNG, the Ministry of the Environment considers it crucial to "position the
port of Sines as an important hub of green hydrogen and associated raw
materials, enabling exports to Northern Europe and other countries and
regions".
And as with
regard to natural gas, the ministry's office led by Duarte Cordeiro stresses
that "Portugal intends, as a first stage, to use the sea route for the
transport of ammonia and methanol" and says that "projects are
already under development for the transport of liquid hydrogen by boat, another future solution under study."
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