PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
Cavaco Silva avalia seis meses do Governo de Costa:
“Desorientado” e “sem vontade reformista”
Esta é a terceira vez que Aníbal Cavaco Silva se
pronuncia sobre o desempenho do actual executivo de António Costa. Faz balanço
dos primeiros seis meses e a nota é, sem surpresas, negativa. O ex-Presidente
da República diz que o Governo está “desorientado”, a “navegar à vista” e a
desperdiçar oportunidades de reforma.
Liliana Borges
30 de Setembro de
2022, 0:01
O prazo tinha
sido traçado por Aníbal Cavaco Silva: precisava de seis meses do Governo de
maioria absoluta do PS para ter “informação objectiva” que permitisse uma
avaliação da “coragem política” de António Costa para fazer “reformas
decisivas”. Esta sexta-feira, num artigo de opinião no PÚBLICO, o antigo
Presidente da República dá nota negativa ao executivo e aponta para “um conjunto
desarticulado e desorientado de ministros desgastados, sem rumo, sem ambição e
vontade reformista”. “Um governo à deriva navegando à vista”, resume.
No terceiro
artigo de opinião em seis meses (o primeiro foi em Abril), Cavaco Silva diz que
sente falta de “reformas decisivas” que coloquem Portugal numa “trajectória de
crescimento sustentável”. E traça objectivos. Fala em aumentar salários,
aumentar pensões de reforma e em melhorar a qualidade da saúde e da educação.
Cavaco, que
liderou as únicas maiorias absolutas do PSD, afirma ainda que era expectável
que um Governo com apoio maioritário no Parlamento “adoptasse como uma das suas
primeiras prioridades o desenvolvimento de uma estratégia reformista de médio e
longo prazo”. E desafia António Costa a liderar “uma mudança de atitude do
Governo”, o que deve ser feito com “urgência”.
No debate sobre
política geral desta quinta-feira, no Parlamento, o primeiro-ministro
desviou-se das críticas ao seu executivo para vincar que o seu compromisso é
garantir respostas “aos problemas das pessoas” e não distrair-se com a “espuma
dos dias” que marca “a agenda mediática”.
No seu artigo de
opinião, o antigo Presidente da República mostra-se ainda preocupado com a
“credibilidade” do executivo devido aos “comportamentos politicamente
reprováveis de alguns membros do Governo”. E destaca dois casos: a “afronta
política” do ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, e a reacção da
ministra da Agricultura às críticas da Confederação dos Agricultores de
Portugal (CAP) sobre a falta de apoios públicos para o sector.
Para Cavaco,
António Costa “não podia deixar de demitir o ministro”. “Ao não fazê-lo,
evidenciou falta de força política”, considera o também ex-primeiro-ministro.
“A razão é ainda uma incógnita”, completa, com esperança que Costa venha ainda
a revelar o que o levou a desculpar Pedro Nuno Santos. Ao agarrar o seu
ministro, Costa “pôs em causa a sua autoridade” e “a credibilidade” do restante
executivo. Mas houve um vencedor nesta história: Pedro Nuno Santos, que “saiu
inequivocamente reforçado como candidato à sucessão do primeiro-ministro como
líder do PS”, considera o antigo Presidente da República.
Quanto à ministra
da Agricultura, Cavaco diz que a gravidade da declaração ultrapassa a
governante. E lança a sua maior acusação do texto, dizendo reflectir “uma
convicção enraizada” de que os apoios financeiros “devem ser orientados
prioritariamente para os apoiantes do PS e para aqueles que se abstêm de
criticar o executivo”. Uma convicção, prossegue, que “só pode resultar da
cultura política por ela apreendida nas reuniões do Conselho de Ministros”,
insinua. Umas linhas abaixo, Cavaco lamenta também “a prática do PS de vetar a
chamada de ministros às comissões parlamentares”.
Numa nova ronda
de desafios – desta vez não ao Governo – Cavaco pede à oposição, sociedade
civil e comunicação social que ajudem António Costa e a sua equipa a saírem “da
situação de imobilismo e encontrem um rumo”. O antigo líder social-democrata
traça um objectivo concreto: colocar Portugal como o 15.º país mais
desenvolvido entre os 27 países da União Europeia.
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