INVESTIGAÇÃO
PÚBLICO
Reino Unido sanciona mais um oligarca a aguardar a
nacionalidade portuguesa
God Nisanov é um dos quatro oligarcas sancionados pelo
Governo de Londres. Lev Leviev, que também aguarda naturalização em Portugal,
está a ser interrogado pelas autoridades israelitas por tráfico de diamantes.
Paulo Curado
28 de Setembro de
2022, 6:13
God Nisanov, um
dos maiores promotores imobiliários da Rússia, que está a aguardar pela
naturalização portuguesa ao abrigo da “lei dos sefarditas”, é um dos alvos das
novas sanções do Reino Unido contra Moscovo, em resposta aos pretensos
referendos para a anexação das quatro regiões da Ucrânia ocupadas pelos russos.
Em Israel, Lev Leviev, outro oligarca russo, também conhecido como o “Rei dos
Diamantes”, que aguarda igualmente para ser português, foi interrogado pelas
autoridades numa investigação de contrabando de diamantes.
“As sanções terão
como alvo aqueles que estão por trás dessas votações falsas [referendos], bem
como os indivíduos que continuam a sustentar a guerra de agressão do regime
russo”, justificou nesta segunda-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros,
James Cleverly, no comunicado do Governo britânico. Ao todo, estão referidas 92
entidades e personalidades, entre as quais, os líderes pró-russos das regiões
ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijjia e quatro oligarcas russos
que entram na lista negra de Londres. God Nisanov está entre eles.
Vladimir “Putin
continua a confiar na sua cabala de oligarcas e elites seleccionadas a fim de
financiar a sua guerra. Hoje [segunda-feira], mais quatro oligarcas, com um
património líquido global combinado estimado em 6,3 mil milhões de libras
esterlinas [sete mil milhões de euros], foram também sancionados por apoiarem
ou obterem benefícios do Governo da Rússia e operarem em sectores de
importância estratégica”, refere-se no mesmo comunicado.
Nascido na antiga
república soviética do Azerbaijão, Nisanov, de 50 anos, já tinha sido incluído
numa lista de sanções dos Estados Unidos, no início de Junho deste ano.
Considerado um dos maiores promotores imobiliários da Rússia, o multimilionário
— com uma fortuna avaliada em 4,3 mil milhões de euros pela revista americana
de economia Forbes — era também vice-presidente do Congresso Mundial Judaico
(CMJ), antes de ser afastado do cargo na sequência das sanções americanas.
“O CMJ reitera e
reafirma que ninguém que esteja incluído em qualquer lista de indivíduos
sancionados pelos Estados Unidos, Reino Unido ou União Europeia em relação ao
conflito da Ucrânia pode ocupar qualquer cargo ou desempenhar qualquer papel na
organização”, justificou na altura o organismo judaico.
Em Julho de 2014,
pouco depois da anexação da Crimeia pela Rússia, Nisanov, que possui em
conjunto com o seu sócio Zarakh Iliev (também sancionado nesta segunda-feira)
um património imobiliário de 1,3 milhões de metros quadrados só em Moscovo, foi
homenageado pelo Presidente russo com a Ordem da Amizade, pelos seus projectos
de desenvolvimento económico.
A 26 de Junho de
2020, o oligarca requereu a naturalização portuguesa junto da Conservatória dos
Registos Centrais (CRC), tutelada pelo Ministério da Justiça, estando o
processo concluído e a aguardar despacho das autoridades nacionais. God Nisanov
foi certificado como judeu sefardita pela Comunidade Israelita do Porto (CIP),
um passo determinante para obter a nacionalidade ao abrigo da “lei dos
sefarditas” que permite a naturalização aos descendentes destas antigas
comunidades judaicas que receberam ordem de expulsão da Península Ibérica no
final do século XV.
Leviev interrogado em Israel
Quem aguarda
também pela naturalização portuguesa é Lev Leviev, sócio da empresária angolana
Isabel dos Santos e apelidado de “Rei dos Diamantes”.
Conhecido por ter
acabado com o monopólio do grupo De Beers no mercado mundial de diamantes na
década de 1980, o multimilionário russo-israelita estabeleceu lucrativos
acordos com os governos de Angola e da Rússia para a exploração das vastas
reservas destas pedras preciosas nos dois países. É igualmente amigo íntimo de
Putin.
Leviev aterrou no
dia 20 de Setembro em Israel para ser interrogado pelas autoridades policiais
no âmbito de um processo de contrabando de diamantes do qual é suspeito de
estar envolvido. As autoridades, que investigam o contrabando para Israel de
diamantes no valor de centenas de milhares de euros, suspeitam de que a empresa
do multimilionário, LLD Diamonds, terá usado “correios” — que escondiam as
pedras dentro dos próprios corpos — para contrabandear diamantes através do
Aeroporto Internacional Ben Gurion durante 16 anos.
A investigação já
levou à detenção de vários altos-funcionários da empresa, incluindo Zvulun
Leviev, filho de Lev Leviev e antigo administrador executivo da LLD. Dias
depois do início do inquérito, um dos funcionários da contabilidade da empresa,
Mazal Hadani, morreu após cair do 10.º andar do escritório da LLD em Israel. A
polícia concluiu tratar-se de suicídio.
De acordo com o
jornal israelita Haaretz, o oligarca terá negociado este interrogatório com os
investigadores da unidade nacional de crimes e corrupção da polícia do Estado
judaico. Fontes próximas de Leviev revelaram ao jornal a existência de um
“acordo informal” com o Ministério Público, em que terão sido prestadas
garantias de que o empresário não seria preso. As autoridades negaram.
O processo de
naturalização de Lev Leviev — nascido na antiga república soviética do
Uzbequistão em 1956 — deu entrada no CRC a 6 de Novembro de 2020, depois de
também ter sido certificado como judeu sefardita pela CIP. Até à invasão da
Ucrânia, o empresário repartia a sua residência entre Moscovo e Chipre, onde
também obteve a nacionalidade. Às autoridades portuguesas apresentou a ilha do
Mediterrâneo oriental como sua residência.
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