quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Adolfo Mesquita Nunes chega com um ano de atraso // Filipe Lobo d’Ávila demite-se de vice-presidente por considerar que a mensagem do partido “não está a passar”. // Autárquicas: PSD e CDS vão assinar acordo-quadro que exclui Chega de coligações

 



Adolfo Mesquita Nunes chega com um ano de atraso

 

“Daqui a um ano, será tarde demais”, escreve Mesquita Nunes. Infelizmente, não é daqui a um ano. É agora. O artigo de opinião de Adolfo Mesquita Nunes não é um “aqui estou” – é um “adeus”.

 

João Miguel Tavares

28 de Janeiro de 2021, 0:00

https://www.publico.pt/2021/01/28/opiniao/opiniao/adolfo-mesquita-nunes-chega-ano-atraso-1948244

 

Num artigo intitulado “Uma nova força para o CDS”, que fez publicar no Observador, Adolfo Mesquita Nunes assumiu o desejo de concorrer de imediato à liderança do CDS, propondo ao seu partido a “realização de um Conselho Nacional urgente que discuta se deve devolver a palavra aos militantes através de um congresso electivo”.

 

O actual líder, Francisco Rodrigues dos Santos, cada vez menos Chicão e cada vez mais Chiquinho, já veio dizer que “não se convocam eleições no CDS por dá cá aquela palha”. Mas o que interessa discutir aqui não é a palha, e sim a substância; não é as possibilidades de realização do dito congresso, mas sim as possibilidades de sobrevivência do CDS no actual contexto político. E a minha convicção é esta: a probabilidade de o CDS ultrapassar a terceira década do século XXI é minúscula, não tanto por mérito ou demérito dos seus líderes, mas porque o espírito do tempo conspirou contra si. Esmagado entre o PSD, o Chega e a Iniciativa Liberal, o CDS não tem hoje oxigénio político para sobreviver.

 

 

Mesquita Nunes elenca no seu artigo uma longa lista das coisas que o CDS já ofereceu ao país: “O CDS foi essencial para a desmilitarização do regime, para a desestatização da economia, para o fim do imposto sucessório, para a estruturação do sector social, para a definição de políticas de família, para a reforma do arrendamento, para a profissionalização das Forças Armadas, para a afirmação de uma agricultura empresarial” – e a lista continua. Só que o problema não está na lista, mas no tempo verbal – “o CDS foi”. Foi, e já ninguém acredita que volte a ser, com excepção dos que ainda militam na casa.

 

O CDS já foi tudo e um par de botas ao longo da sua história democrática, de elitista a populista, de centrista a extremista, de antieuropeísta a europeísta, de saudosista a reformista, o que lhe permitiu albergar no seu seio desde os expropriados do PREC aos liberais chiques como Mesquita Nunes, que ainda há oito meses era apontado por Carlos Guimarães Pinto, ex-líder da Iniciativa Liberal, como o candidato perfeito da IL à presidência da República. Só que esse tempo de albergue ideológico acabou, pela simples razão de que o albergue deu lugar a um Airbnb de apartamentos individuais.

 

O CDS é hoje um zombie no sistema político português. Está morto ou condenado à irrelevância, e a certidão de óbito chegará nas próximas legislativas

 

O pós-Passos/Portas, turbinado pela criação da “geringonça”, provocou o estilhaçar da direita. Essa fragmentação resultou numa clarificação ideológica: PSD mais ao centro; liberais organizados num partido que cheira a novo e é capaz de agradar aos urbanitas instruídos; o Chega a rapar com entusiasmo o tacho da direita do CDS, para mais com um líder que fala directamente com Deus. O que sobra para o CDS? Nada, excepto o cheiro a naftalina.

 

“Daqui a um ano, será tarde demais”, escreve Mesquita Nunes. Infelizmente, não é daqui a um ano. É agora. Agora já é tarde demais. O seu artigo só faz sentido se aquilo que ele estiver a tentar definir não for o futuro do CDS, mas sim o seu próprio futuro, preparando uma saída honrosa do partido (“tentei, esforcei-me, lamento, não deu”), para depois colocar o seu indiscutível talento político ao serviço de projectos que possam ter alguma ambição de crescimento a curto ou médio prazo, seja no PSD, seja na Iniciativa Liberal. O CDS é hoje um zombie no sistema político português. Está morto ou condenado à irrelevância, e a certidão de óbito chegará nas próximas legislativas. O artigo de opinião de Adolfo Mesquita Nunes não é um “aqui estou” – é um “adeus”.

 

Líder do CDS perde principal apoio na direcção

 

Filipe Lobo d’Ávila demite-se de vice-presidente por considerar que a mensagem do partido “não está a passar”.

 

Sofia Rodrigues

28 de Janeiro de 2021, 11:28

https://www.publico.pt/2021/01/28/politica/noticia/lider-cds-perde-principal-apoio-direccao-1948288

 

O primeiro vice-presidente do CDS-PP, Filipe Lobo d'Ávila, demitiu-se da comissão executiva do partido, confirmou o próprio ao PÚBLICO. O líder do CDS-PP perde, assim, o principal apoio na sua direcção já que Lobo d'Ávila lidera o grupo Juntos pelo Futuro que obteve 14,5% dos votos em congresso.

 

Ao que o PÚBLICO apurou, o dirigente alegou que o CDS tem “um problema de afirmação”, que não é ouvido e que “a mensagem não passa”. Filipe Lobo d'Ávila assumiu que não será candidato em 2021 e não se reserva “para outros calendários”.

 

O dirigente demissionário considera que já não é possível inverter o caminho sem que haja uma alteração, apelando a que o partido encontre uma solução pacífica. “As pessoas não nos ouvem. O CDS não é considerado. Os indicadores são trágicos. A projecção externa ou não existe ou não é boa. Infelizmente, e por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca”, escreveu na carta de demissão dirigida a Francisco Rodrigues dos Santos a que o PÚBLICO teve acesso.

 

 O CDS “não é dos de sempre, sobretudo daqueles que ao longo deste ano tudo fizeram para que as coisas não funcionassem ou mesmo daqueles outros que se reservam agora para 2022 ou para 2030, quando já não tiverem outros afazeres”, apontou num recado ao euroedeputado Nuno Melo que assumiu, em entrevista ao PÚBLICO, poder ser candidato à liderança no congresso de 2022.

 

Na carta, Lobo d'Ávila reconhece ter “estima” e ter criado “empatia pessoal” com Rodrigues dos Santos.

 

A demissão é conhecida depois de uma reunião, ontem à noite, da comissão executiva, o órgão mais restrito da direcção.

 

Filipe Lobo d'Ávila foi candidato à liderança no congresso de 2020 e ficou em terceiro lugar atrás de João Almeida, tendo feito uma aliança com Francisco Rodrigues dos Santos para integrar a direcção.

 

Em Dezembro passado, o vice-presidente deu apoio ao líder do partido num conselho nacional tenso e em que foram assumidas críticas à direcção por vários destacados militantes.

 

Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente, desafiou esta terça-feira a convocação de um conselho nacional extraordinário para realizar um congresso antecipado. Neste momento já estão a ser recolhidas assinaturas para convocar a reunião do órgão máximo entre congressos, sendo necessárias entre 35 a 40 subscrições. A ordem de trabalhos do conselho nacional será a da convocação de um congresso já em 2021, já que a reunião ordinária só está prevista para Janeiro de 2022.


Autárquicas: PSD e CDS vão assinar acordo-quadro que exclui Chega de coligações

 

Rio não vai mudar estratégia nem fazer “discurso violento à direita” para ganhar votos.

 

Lusa e PÚBLICO

27 de Janeiro de 2021, 20:05

https://www.publico.pt/2021/01/27/politica/noticia/autarquicas-psd-cds-vao-assinar-acordoquadro-exclui-chega-coligacoes-1948227

 

Os presidentes do PSD e do CDS-PP anunciaram nesta quarta-feira que vão assinar até meados de Fevereiro um acordo-quadro para as autárquicas que exclui a possibilidade de coligações com o Chega.

 

No final de uma reunião de cerca de hora e meia, Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos não quiseram referir-se nem a municípios concretos nem balizaram o número de coligações pré-eleitorais que esperam alcançar, que estará dependente da vontade das estruturas locais e da aceitação das direcções nacionais.

 

“Este acordo não vai dizer que só há coligações com o CDS e com mais ninguém (...). A única questão que estamos de acordo é que não haverá com o Chega, mas, tirando o Chega, logo se verá”, explicou Rui Rio, salientando que “há muito” que rejeitou essa hipótese e que esta posição nada tem a ver com os resultados das presidenciais.

 

Questionado sobre a razão dessa exclusão do partido liderado por André Ventura, Rio respondeu: “O Chega, para ter conversas com o PSD, tem de se moderar. O Chega não se tem moderado, não há conversa nenhuma”.

 

Na mesma linha, também Francisco Rodrigues dos Santos disse já ter sido “peremptório” que “não haverá coligações com o Chega, nem em autárquicas nem em legislativas”. O líder do CDS reuniu-se com Rui Rio no mesmo dia em que respondeu ao pedido do ex-vice-presidente do partido Adolfo Mesquita Nunes, que, num artigo de opinião, pediu um conselho nacional para marcar eleições internas, por entender que actual direcção não será capaz de estancar a erosão eleitoral dos centristas. Em entrevista à rádio Observador, Rodrigues dos Santos reagiu com um desafiou Mesquita Nunes: “Reúna as assinaturas necessárias para convocar um conselho nacional. Com todo o respeito, publicar artigos no Observador não é uma forma de convocar conselhos nacionais.”

 

 Noutra entrevista, à agência Lusa, o líder do CDS-PP defendeu que uma coligação PSD/CDS-PP nas eleições autárquicas é a “única hipótese” para derrotar o actual presidente da Câmara de Lisboa, o socialista Fernando Medina, mas recusou adiantar quem poderá ser o candidato.

 

"Não estou na política a qualquer preço”, diz Rio

 

Rui Rio assegurou que não vai mudar de estratégia face aos resultados das presidenciais de domingo nem fazer um discurso violento à direita para captar mais votos nesse espaço político. Questionado pelos jornalistas sobre se os 11,9% obtidos por André Ventura poderiam obrigar a uma mudança de estratégia do centro-direita, o presidente do PSD respondeu: “Se estão à espera que vá fazer agora um discurso à direita e violento para ir tentar captar uns votos que vêm com esse discurso violento à direita, esse não é o discurso do PSD, muito menos o meu. Teria então o PSD de ter um líder diferente para se colocar lá à direita. Era capaz era de perder os votos moderados... “.

 

O líder social-democrata admitiu que pode haver “pormenores de ordem táctica” a acertar, mas assegurou que “a estratégia e a ideologia não mudam”. “Não podem esperar que um líder do PSD desate com um discurso radical à direita. Eu não estou na política a qualquer preço, para qualquer discurso. Temos um espaço e o nosso espaço é, sobretudo, ao centro”, acrescentou.

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