terça-feira, 17 de março de 2020

Coronavírus, o dia seguinte



Coronavírus, o dia seguinte

A actual catástrofe na perspectiva Humana que representa o surto de coronavírus traz óptimas notícias para o Planeta na perspectiva ecológica.

António Sérgio Rosa de Carvalho
16 de Março de 2020, 20:07

No passado dia 1 de Março, a NASA publicou uma comparação de imagens, verdadeiramente impressionantes, entre os níveis de poluição de dióxido de azoto (N02) entre 2019 e 2020 no mesmo período na China central. Este período em 2020 corresponde ao período de abrandamento da economia e da produção industrial motivados pela quarentena do coronavírus. A diferença é abismal e provavelmente este último período corresponde a uma das raras ocasiões nas três últimas décadas de crescimento acelerado, onde a China se transformou na “fábrica do mundo”, em que os seus habitantes viram o céu e se lembraram que habitam, como hóspedes, o Planeta Terra.

Esse mesmo Planeta que, segundo a NASA, teria que se quadruplicar, ou mesmo de se repetir cinco vezes, para ter capacidade de absorver os níveis de consumo actuais da sociedade americana.

A actual catástrofe na perspectiva Humana que representa o surto de coronavírus traz óptimas notícias para o Planeta na perspectiva ecológica. Com a paralisação da espiral produtiva, a alteração dos níveis de consumo e a interrupção do modelo (totalmente insustentável) do crescimento infinito e ilimitado, e também da orgia global de consumo, o Planeta pode afrouxar um pouco a máscara que é obrigado a utilizar devido ao vírus humano, e finalmente ter um pouco a ilusão de poder respirar.

Vamos, finalmente, aprender alguma coisa, parar para reflectir, durante esta pausa a que fomos obrigados por este ‘factor externo’, microscópica mensagem emitida pelo macro organismo onde estamos inseridos?

Na última crise, a de 2008, não aprendemos absolutamente nada, pois a pegada de carbono não parou de aumentar, apesar de nos restarem apenas dez anos para minimizar um cataclismo sem retorno, de proporções bíblicas, através das alterações do clima.

Se o nosso ‘episódio’ corona representa no tempo humano um importante e dramático acontecimento, no tempo planetário ele é um insignificante ponto, super-milimétrico e Uber-microscópico. Embora os efeitos da actividade humana sejam evidentemente nocivos para o organismo planetário, a actual crise ecológica e climática constitui um episódio na história da Terra.

O que está ameaçada é a civilização humana e o ciclo de vida neste período planetário. O planeta continuará, depois deste período de tosse convulsa, a ser provocado pelo vírus humano. Cabe-nos, portanto, a nós decidir e escolher no curtíssimo tempo que nos resta.

Uma última ilustração da fragilidade e insustentabilidade do sistema e do modelo: no caos e império do medo que reina no sistema das teias financeiras e económicas, os únicos oráculos e ‘experts’ para onde os líderes mundiais se podem virar são os virologistas.

Historiador de Arquitectura

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