Itália. Napolitano ataca os partidos e exige uma coligação que dê um governo ao país.
Por Diogo Vaz Pinto, publicado em 24 Abr 2013 in (jornal) i online
Fortemente aplaudido no discurso da tomada de posse, o presidente reeleito traçou um diagnóstico brutal, culpando os partidos pela criseGiorgio Napolitano deixou ontem claro perante os responsáveis pela sua recondução na presidência italiana que a sua paciência chegou ao limite e desferiu um dos maiores ataques de que há memória contra os diferentes partidos que na sequência das eleições legislativas foram incapazes de chegar a acordo para dar ao país um novo governo.
Aos 87 anos, Napolitano tornou-se no sábado o primeiro presidente italiano reeleito, numa altura em que a grave crise política fez da responsabilidade do chefe de Estado uma pesada cruz, recaindo sobre ele a responsabilidade de mediar o conflito entre as diferentes forças políticas. O presidente rejeitava há muito as sugestões que insistiam na sua recondução. Não terá mudado de ideias, mas o actual cenário tê-lo-á convencido de que não lhe restava alternativa.
Napolitano encarou o parlamento e cuspiu fogo em todas as direcções, avisando deputados, senadores e representantes das regiões que tinha à frente que se voltassem uma vez mais a não honrar o compromisso com os cidadãos italianos ele tomaria medidas.
“Tenho o dever de ser franco. Se me voltar a deparar com a insensatez com a qual choquei no passado, não hesitarei em expor as suas consequências ao país.” Num tom que vibrava de ríspida emoção, as palavras de Napolitano foram acolhidas - com excepção dos membros do Movimento 5 Estrelas (M5S) de Beppe Grillo - por fortes aplausos, mas logo, e de forma cortante, o presidente fez saber que “os aplausos não podem servir para vos levar à auto-indulgência”.
Depois de nos dias 24 e 25 de Fevereiro os italianos terem ido às urnas, a distribuição dos votos atomizou as duas câmaras do parlamento. Com as coligações do centro-esquerda e do centro- -direita de costas voltadas - lideradas respectivamente por Pier Luigi Bersani e Silvio Berlusconi -, e a formação anti-sistema M5S - que saiu na terceira posição, encabeçada pelo comediante Grillo - a juntar-se à festa. Tudo isto enquanto a situação económica do país se degradava, com o parlamento incapaz de constituir uma maioria política clara para actuar.
Uma das mais urgentes reformas seria a da actual lei eleitoral. “A falta de revisão desta lei”, explicou Napolitano, “abriu caminho a uma encarniçada luta pela conquista, no fio da navalha, de um extraordinário prémio, em que o vencedor acabou por nem ter condições para governar”.
Após Bersani ter desistido da missão que lhe confiou o presidente de alcançar uma solução governativa, chegando mesmo a afirmar que “só um louco gostaria de governar Itália”, os analistas e os políticos são consensuais quanto à necessidade de se aprovar uma nova lei eleitoral.
A reeleição de Napolitano no sábado foi o primeiro sinal de acordo entre as diversas forças políticas - com excepção do M5S -, e mesmo este foi já um sinal desesperado, impondo ao líder o dever de cumprir um mandato que só termina em 2020, quando este contará 94 anos de idade.
O antigo comunista que na sua juventude combateu os nazis dirigiu um ultimato aos partidos políticos italianos: “Está na hora de passar aos actos. É preciso um governo baseado num compromisso entre as forças políticas.” [...] “O ter-se difundido em Itália uma espécie de horror a qualquer hipótese de compromisso, aliança, mediação ou convergência entre forças políticas distintas é um sinal de regressão.”
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