“NY Times” diz que “remédio da austeridade está a matar doente europeu”
Por António Ribeiro Ferreira, publicado em 16 Abr 2013 in (jornal) i online
Conselho editorial do diário norte-americano dá o exemplo de Portugal para afirmar que a austeridade provoca mais recessão e desemprego
Nem de propósito. No dia em que a troika iniciou uma visita intercalar a Portugal para discutir planos de cortes na despesa pública, incluindo prestações sociais, para compensar as medidas do Orçamento do Estado chumbadas pelo Tribunal Constitucional, que o governo calcula em 1326 milhões, e a quebra de receitas fiscais devido ao aumento da recessão de 1% para 2,3% do PIB este ano, de modo a garantir o cumprimento do défice de 5,5% em 2013, o conselho editorial do norte-americano “New York Times” acha que o “remédio amargo” da austeridade está a matar o doente, usando o exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela zona euro. “Há mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um cocktail de austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente”, diz o conselho editorial, um órgão composto por editores e antigos directores. O artigo, publicado ontem, explica que o principal problema de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o Movimento 5 Estrelas, em Itália.
OS RISCOS DA SAÍDA DO EURO
“O verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e os eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, para não falar no resto do mundo”, escreve o jornal, sublinhando que, “se os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganhar força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficará pior.”
Numa parte dedicada exclusivamente a Portugal, o jornal escreve que “o governo de Passos Coelho cortou a despesa e aumentou os impostos, tanto que o défice orçamental caiu cerca de um terço entre 2010 e 2012”, e acrescenta que o resultado destas e de outras reformas é que o desemprego subiu para os 18%. Assim, “os economistas dizem que Portugal vai provavelmente ter um défice orçamental este ano maior que o acordado com a troika porque as políticas nacionais, sem surpresa, causaram uma recessão mais profunda que o previsto”.
PAREM COM A AUSTERIDADE
O artigo defende por isso que líderes como a chanceler Merkel parem de insistir na austeridade e “ajudem a aumentar a procura, por exemplo, permitindo que os países mais frágeis emitam dívida pública apoiada pela zona euro”.
Com Lusa
Europe’s Bitter Medicine
By THE EDITORIAL BOARD in The New York times / http://www.nytimes.com/2013/04/15/opinion/europes-bitter-medicine-of-austerity.html
Published: April 14, 2013
For more than two years, European leaders have pushed a cocktail of fiscal austerity and structural reforms on troubled countries like Portugal, Spain and Italy, promising that it will be the tonic to cure their economic and financial ailments. All the evidence shows that this bitter medicine is killing the patient.
Portugal’s highest court recently ruled against cuts to the wages and pensions of government employees. Protesters in Spain have picketed the homes of lawmakers to demand better treatment of homeowners behind on their mortgages. And frustrated Italians cast such a large vote for an anti-establishment movement that the country still does not have a new government more than a month after its national elections.
From the beginning, it was clear that economic austerity (cutting government spending and public benefits) and structural reforms (relaxing tough labor laws and privatizing state-owned companies, for example) could not be accomplished simultaneously during a deep recession. And that painful reality is playing out with no end in sight.
In Portugal, the government of Prime Minister Pedro Passos Coelho cut spending and raised taxes so much that the fiscal deficit has fallen by about a third from 2010 to 2012. He also pushed through reforms to phase out rent control for tenants and legal changes that make it easier for companies to fire workers. The result is that the country’s unemployment rate has risen to close to 18 percent, from 12.7 percent in 2011. Economists say Portugal will likely have a bigger fiscal deficit this year than it agreed to in exchange for loans from other European countries and the International Monetary Fund, because national policies, not surprisingly, have made the recession deeper than anticipated.
Portugal and other European countries, in the longer term, will need to reduce their deficits and reform policies that have held their economies back for decades. But, for now, this approach, beyond fostering economic disaster, has created widespread public anger and resistance aimed at domestic politicians.
The biggest political beneficiaries have been groups like the Five Star Movement in Italy, which has refused to support any political party in forming a government and has called for a referendum on the country’s use of the euro. The real danger for Europe is that such movements will increase and voters and leaders in struggling countries will see less and less value in sticking with the euro. If countries start ditching the currency, it would cause widespread panic across the Continent and tens of billions of dollars in losses to governments, banks and investors in Germany and other richer European countries, not to mention in the rest of the world.
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