BANCO CENTRAL
EUROPEU
Após nova subida de juros, Lagarde avisa que “ainda não
terminou”
BCE voltou a subir as taxas em mais 0,5 pontos
percentuais e anunciou que pretende fazer o mesmo em Março. O agravamento das
prestações de crédito das famílias e empresas ainda não ficou por aqui.
Sérgio Aníbal
2 de Fevereiro de
2023, 20:21
Foi a sexta
reunião consecutiva do Banco Central Europeu de onde saiu uma subida das taxas
de juro. E, de uma forma que não deixa margens para dúvidas, Christine Lagarde
fez questão de esclarecer que, no mínimo, vai haver uma sétima em Março e que o
agravamento dos custos de acesso ao crédito que já está a ser sentido pelos
portugueses ainda pode estar para durar.
Esta
quinta-feira, cumprindo aquelas que eram as expectativas nos mercados, os 20
governadores dos bancos centrais nacionais do Eurosistema (incluindo Mário
Centeno por Portugal) e os seis membros do conselho executivo do BCE (incluindo
a presidente, Christine Lagarde) decidiram subir em mais 0,5 pontos percentuais
as taxas de juro de referência do banco central. São estas taxas que depois
acabam por se reflectir nos juros pagos pelas famílias e empresas por conta dos
seus empréstimos.
As taxas de
refinanciamento e de depósito do BCE – que até Julho tinham estado situadas em
zero e -0,5% e que a partir daí começaram a subir – passaram a ser de 2,5% e
3%, respectivamente.
A decisão tomada
esta quinta-feira não causou qualquer surpresa. Na verdade, confirmou aquilo
que a presidente do BCE tinha dito em Dezembro logo a seguir a também ter
elevado as taxas em 0,5 pontos: que os juros ainda teriam de subir
“significativamente” e que tal iria ser feito de forma “regular”.
O que mudou com a
reunião desta quinta-feira foram as pistas dadas pelos responsáveis do BCE em
relação ao que pode vir a acontecer nas próximas reuniões e em relação à
questão que domina a atenção dos mercados, das famílias e dos milhões de
europeus que têm um empréstimo para pagar: até onde é que podem ir as taxas de
juro do BCE.
Mas, em
contrapartida a esta quase certeza sobre uma nova subida de 0,5 pontos
percentuais em Março, o BCE aumentou a incerteza em relação ao que irá
acontecer a partir daí. Lagarde já não fala de subidas significativas e
regulares a partir de Março, voltando antes a aplicar-se a regra que o BCE
normalmente definia para o seu processo de decisão: “Reunião a reunião,
baseados nos dados.”
Será que isto
significa que após pôr a taxa de refinanciamento em 3,5% (e a de depósito em
3%) em Março, o BCE pode ficar por aí? Christine Lagarde deu poucas esperanças
de que tal possa acontecer. “Temos um caminho a percorrer, ainda não terminou”,
disse. E explicou, passo a passo, aquilo que espera que se passe nos próximos
tempos.
Fazer a inflação regressar a 2%
“Vamos fazer
regressar a inflação para 2% de uma forma atempada e sabemos que as subidas de
taxas de juro são a melhor forma de conseguir isso. Teremos de as pôr a um
nível restritivo e não estamos certamente lá agora, nem estaremos em Março. O
que irá acontecer a seguir a isso dependerá de quanto mais terreno teremos
ainda de cobrir [para pôr os juros ao nível adequado]. Muito provavelmente,
haverá ainda terreno por cobrir”, disse, salientando que, quando as taxas de
juro atingirem o seu pico, terão de ficar a esse nível elevado durante algum
tempo, para garantir que a inflação baixa para o objectivo de 2% de forma
sustentada.
Nos mercados, a
ligeira mudança de discurso por parte dos responsáveis do BCE parece ter sido
lida como um sinal de que as taxas de juro na zona euro, afinal, podem não ir
tão longe como se previa, como demonstra o recuo registado nas taxas de juro da
dívida alemã nas horas a seguir às declarações de Lagarde.
Ainda assim,
basta olhar para o que já aconteceu nos EUA (onde as taxas de juro e a inflação
começaram a subir e depois a descer mais cedo) para perceber que há um caminho
ainda a percorrer pelo BCE. Nos EUA, a taxa de juro de referência foi posta na
quarta-feira no intervalo entre 4,25% e 4,5%, também sendo provável que não
fique por aqui. No Reino Unido, o Banco de Inglaterra subiu de igual modo esta
quinta-feira as suas taxas de juro em 0,5 pontos percentuais, para 4%.
E a presidente do
BCE, dando sinais de descontentamento com a desconfiança que os mercados têm
demonstrado em relação à determinação do BCE em subir muito as taxas de juro,
deixou-lhes uma mensagem: “Aqueles que nos observam devem perceber que não
devem duvidar de nós. Não se deve duvidar da nossa determinação em subir as
taxas de juro de forma significativa para entrar num terreno restritivo e não
se deve duvidar que, assim que entrarmos nesse território restritivo, vamos
querer ficar lá durante tempo suficiente para termos a certeza de que essas taxas
farão a inflação regressar a 2%.”
Governos devem retirar apoios
No meio do debate
sobre o nível futuro dos juros, a presidente do BCE ainda teve tempo para
deixar uma mensagem aos governos, a de que não devem contribuir para sustentar
as pressões inflacionistas, seja por via dos salários, seja através das
descidas de impostos e subsídios que apoiem o consumo de bens energéticos.
O banco central
quer que os governos europeus, entre os quais o português, sejam rápidos a
retirar as medidas de mitigação dos preços da energia, numa altura em que a
taxa de inflação desses produtos se começa a reduzir.
“Em particular, à
medida que a crise da energia se torna menos aguda, é importante começar agora
a retirar as medidas de apoio de forma rápida, em linha com a queda dos preços
da energia e de forma concertada. Se estas medidas não cumprirem esses
princípios, podem aumentar as pressões inflacionistas de médio prazo, o que
exigiria uma resposta mais forte da política monetária”, afirmam os
responsáveis do BCE, no comunicado publicado esta quinta-feira.
tp.ocilbup@labina.oigres
EUROPEAN CENTRAL
BANK
After new
interest rate hike, Lagarde warns that "not yet finished"
ECB has again moved rates by another 0.5 percentage
points and announced that it intends to do the same in March. The worsening of
credit benefits for households and businesses has not yet been left here.
Sergio Hannibal
February 2, 2023,
20:21
It was the sixth
consecutive meeting of the European Central Bank, where an interest rate hike
came out. And, in a way that leaves no room for doubt, Christine Lagarde made a
point of clarifying that, at the very least, there will be a seventh in March and
that the worsening costs of access to credit that is already being felt by the
Portuguese may still be to last.
This Thursday,
meeting those that were expectations in the markets, the 20 governors of the
national central banks of the Eurosystem (including Mário Centeno for Portugal)
and the six members of the executive board of the ECB (including the president,
Christine Lagarde) decided to raise the central bank's reference interest rates
by another 0.5 percentage points. It is these rates that then end up reflecting
on the interest paid by households and businesses on account of their loans.
The ECB's
refinancing and deposit rates – which by July had been at zero and -0.5% and
which have since started to rise – have been 2.5% and 3% respectively.
The decision made
on Thursday did not cause any surprise. In fact, it confirmed what the
PRESIDENT of the ECB had said in December after also raising rates by 0.5
points: that interest rates would still have to rise "significantly"
and that this would be done "on a regular" basis.
What has changed
with Thursday's meeting are the clues given by ECB officials as to what may
happen at the next meetings and on the issue that dominates the attention of
markets, households and the millions of Europeans who have a loan to pay: how
far can the ECB's interest rates go.
Firstly, the ECB has chosen, in an unprecedented way, to dispel virtually all doubts about what will happen at the March meeting. In the statement announced that the decision to raise rates was announced, the central bank wrote that it "intends to raise interest rates by another 0.5 percentage points at its next meeting in March." And then, at the press conference, Christine Lagarde stated that this was not "a 100% commitment", but acknowledged that "intended" was a "strong word".
But in contrast
to this almost certainty about a further rise of 0.5 percentage points in
March, the ECB has increased uncertainty about what will happen from there.
Lagarde no longer talks about significant and regular increases from March, but
rather applies to the rule that the ECB normally defined for its
decision-making process: "Meeting the meeting, based on data."
Does this mean
that after putting the refinancing rate at 3.5% (and the deposit rate at 3%) in
March, can the ECB stick around? Christine Lagarde has given little hope that
this could happen. "We have a way to go, it's not over yet," he said.
And he explained, step by step, what he hopes will be the case in the near
future.
Bring inflation back to 2%
"We are
going to bring inflation back to 2% in a timely manner and we know that
interest rate hikes are the best way to achieve this. We will have to put them
at a restrictive level and we are certainly not there now, nor will we be in
March. What will happen next will depend on how much more ground we still have
to cover [to put interest at the appropriate level]. Most likely, there will
still be ground to cover," he said, noting that when interest rates reach
their peak, they will have to stay at that high level for some time to ensure
that inflation drops to the 2% target on a sustained basis.
In the markets,
the slight change of speech by ECB officials appears to have been read as a
sign that interest rates in the euro zone, after all, may not go as far as
anticipated, as demonstrated by the decline in German debt interest rates in
the hours following Lagarde's statements.
Still, just look
at what has already happened in the US (where interest rates and inflation have
begun to rise and then fall early) to realise that there is still a way to go
for the ECB. In the US, the benchmark interest rate was set on Wednesday in the
range between 4.25% and 4.5%, and is also likely not to stop there. In the UK,
the Bank of England also raised its interest rates by 0.5 percentage points on
Thursday to 4%.
And the PRESIDENT
of the ECB, showing signs of discontent with the mistrust that markets have
shown about the ECB's determination to raise interest rates too much, left them
a message: "Those who watch us must realise that they should not doubt us.
We should not doubt our determination to raise interest rates significantly to
enter a restrictive ground and it should not be doubted that once we enter this
restrictive territory, we will want to stay there long enough to make sure that
these rates will bring inflation back to 2%."
Governments should withdraw support
In the midst of
the debate on the future level of interest rates, the PRESIDENT of the ECB
still had time to leave a message to governments that they should not
contribute to sustaining inflationary pressures, either through wages or
through lower taxes and subsidies that support the consumption of energy goods.
The central bank
wants European governments, including Portuguese, to be quick to withdraw
energy price mitigation measures at a time when the inflation rate of these
products is starting to fall.
"In
particular, as the energy crisis becomes less acute, it is important now to
start withdrawing support measures quickly, in line with falling energy prices
and in concert. If these measures do not comply with these principles, they
could increase medium-term inflationary pressures, which would require a
stronger monetary policy response," ECB officials said in a statement
published on Thursday.
tp.ocilbup@labina.oigres
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