terça-feira, 29 de novembro de 2022

O aeroporto onde já não cabem palavras

 


EDITORIAL

O aeroporto onde já não cabem palavras

 

Mas se há uma lição a tirar deste longo processo do novo aeroporto é a de que não decidir depressa e o melhor possível é a pior das opções.

 

Manuel Carvalho

28 de Novembro de 2022, 22:30

https://www.publico.pt/2022/11/28/economia/editorial/aeroporto-onde-ja-nao-cabem-palavras-2029511

 

Um país que demora mais de meio século a tomar uma decisão sobre um investimento estratégico para o seu futuro como um aeroporto que serve a capital não reflecte apenas a imagem de um país adiado: expõe-se também como um país inseguro, descrente e conformista. Quando, depois de tantos anos de espera, quando tudo está visto, estudado e sabido, se concede a uma comissão técnica independente um ano para rever a matéria dada, estamos perante um sinal de que a velha indecisão continua a resistir.

 

Quando o PÚBLICO e o Conselho Económico e Social se juntam para organizar uma discussão aberta sobre o novo aeroporto e escolhem como lema “tempo de decidir”, fica implícito um sublinhado inadiável: chegou a hora de agir.

 

Não se fez nada até agora para lá da inventariação de lugares e o seu estudo por muitas razões, umas compreensíveis, outras nem tanto. Na longa história da não-decisão entraram crises económicas, muita instabilidade política e definição de prioridades em que não cabia uma obra cara. Mas entrou também muito medo de decidir, ou, por outras palavras, falta de coragem política para escolher opções e assumi-las. O acordo entre o PS e o PSD é um bom prenúncio de que a escolha do lugar baseada na indicação de técnicos vai evitar esse drama.

 

Até porque não falta a Portugal nem saber técnico, nem capacidade de execução. O país foi capaz de modernizar a sua infra-estrutura rodoviária num curto espaço de tempo e a engenharia nacional não terá dificuldades de maior em definir e fazer um aeroporto. O que falta é por isso coragem para assumir que não vai haver uma escolha consensual. Que vai haver vencedores e vencidos. Que qualquer localização tem prós e contras. Que o novo aeroporto deve considerar não apenas uma visão estratégica para Lisboa, como para todo o país.

 

Na era da crise climática, quando tantas coisas estão e estarão no limbo da incerteza, persistem dúvidas como as que condicionaram ou adiaram as escolhas noutros tempos. Mas se há uma lição a tirar deste longo processo é a de que não decidir depressa e o melhor possível é a pior das opções. Até num momento em que se começam a sentir os excessos do turismo, dos serviços de empresas internacionais, dos “vistos gold” ou dos nómadas digitais, continua a ser bom viver num país aberto, cosmopolita e com uma imagem externa positiva e atraente.

 

Um aeroporto com condições, capacidade e qualidade para alimentar esse destino é por isso um desígnio nacional. Fique onde ficar no rol de opções sustentadas pelo conhecimento, faz falta. Faça-se.

 

tp.ocilbup@ohlavrac.leunam

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