EDITORIAL
O aeroporto onde já não cabem palavras
Mas se há uma lição a tirar deste longo processo do novo
aeroporto é a de que não decidir depressa e o melhor possível é a pior das
opções.
Manuel Carvalho
28 de Novembro de
2022, 22:30
https://www.publico.pt/2022/11/28/economia/editorial/aeroporto-onde-ja-nao-cabem-palavras-2029511
Um país que
demora mais de meio século a tomar uma decisão sobre um investimento
estratégico para o seu futuro como um aeroporto que serve a capital não
reflecte apenas a imagem de um país adiado: expõe-se também como um país
inseguro, descrente e conformista. Quando, depois de tantos anos de espera,
quando tudo está visto, estudado e sabido, se concede a uma comissão técnica
independente um ano para rever a matéria dada, estamos perante um sinal de que
a velha indecisão continua a resistir.
Quando o PÚBLICO
e o Conselho Económico e Social se juntam para organizar uma discussão aberta
sobre o novo aeroporto e escolhem como lema “tempo de decidir”, fica implícito
um sublinhado inadiável: chegou a hora de agir.
Não se fez nada
até agora para lá da inventariação de lugares e o seu estudo por muitas razões,
umas compreensíveis, outras nem tanto. Na longa história da não-decisão
entraram crises económicas, muita instabilidade política e definição de
prioridades em que não cabia uma obra cara. Mas entrou também muito medo de
decidir, ou, por outras palavras, falta de coragem política para escolher
opções e assumi-las. O acordo entre o PS e o PSD é um bom prenúncio de que a
escolha do lugar baseada na indicação de técnicos vai evitar esse drama.
Até porque não
falta a Portugal nem saber técnico, nem capacidade de execução. O país foi
capaz de modernizar a sua infra-estrutura rodoviária num curto espaço de tempo
e a engenharia nacional não terá dificuldades de maior em definir e fazer um
aeroporto. O que falta é por isso coragem para assumir que não vai haver uma
escolha consensual. Que vai haver vencedores e vencidos. Que qualquer
localização tem prós e contras. Que o novo aeroporto deve considerar não apenas
uma visão estratégica para Lisboa, como para todo o país.
Na era da crise
climática, quando tantas coisas estão e estarão no limbo da incerteza,
persistem dúvidas como as que condicionaram ou adiaram as escolhas noutros
tempos. Mas se há uma lição a tirar deste longo processo é a de que não decidir
depressa e o melhor possível é a pior das opções. Até num momento em que se
começam a sentir os excessos do turismo, dos serviços de empresas
internacionais, dos “vistos gold” ou dos nómadas digitais, continua a ser bom
viver num país aberto, cosmopolita e com uma imagem externa positiva e
atraente.
Um aeroporto com
condições, capacidade e qualidade para alimentar esse destino é por isso um
desígnio nacional. Fique onde ficar no rol de opções sustentadas pelo
conhecimento, faz falta. Faça-se.
tp.ocilbup@ohlavrac.leunam
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