IMAGEM DE OVOODOCORVO
OPINIÃO
Orçamento penaliza quadros técnicos especializados e
carreiras docentes
Atitude que o corpo docente perceciona como profundamente
injusta, agrava o mal-estar nas escolas e pode dar lugar a movimentos
“sindicais” inorgânicos radicalizados e extremistas, sob o anonimato
incontrolável das redes sociais.
Filipe do Paulo
21 de Outubro de
2022, 17:20
A inflação tem
vindo a subir de forma galopante, cada vez que renovamos o nosso cabaz de
compras sentimo-lo na “pele” e principalmente na carteira! Isto para já não
falar da compra de combustível automóvel indispensável a grande parte dos
professores, por esse país fora, de modo a poderem cumprir quotidianamente os
seus horários letivos e outros em escolas mais ou menos distantes, não raro em
lugares recônditos.
Sempre sem
direito a qualquer ajuda de custo ou subsídio de renda, como, neste caso,
acontece com os agentes do Ministério Público e com outros magistrados.
Lamentavelmente,
a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano prevê a penalização de
grande parte das classes médias assalariadas, que, devido ao facto de terem
investido muitos recursos na sua formação inicial e contínua, desempenham
funções científicas e técnicas especializadas, como é o caso de engenheiros,
médicos, inspetores, enfermeiros, investigadores e professores, entre outros. Para
estes quadros e técnicos superiores mais especializados, que integram carreiras
do regime especial, o Governo propõe atualizações salariais de apenas 2% a 3%,
quando, por ex., para os assistentes operacionais, propõe aumentos até aos
8%...
Com a agravante
de que, no caso dos professores, o Governo não quer ouvir falar na recuperação
dos 6 anos, 6 meses e 23 dias do tempo de serviço congelado e que ainda falta
ser recuperado. Atitude que o corpo docente perceciona como profundamente
injusta, agrava o mal-estar nas escolas e pode dar lugar a movimentos
“sindicais” inorgânicos radicalizados e extremistas, sob o anonimato
incontrolável das redes sociais, idênticos ao “movimento zero” das forças e
serviços de segurança.
O Governo não quer ouvir falar na recuperação dos 6 anos,
6 meses e 23 dias do tempo de serviço congelado e que ainda falta ser
recuperado
Em sede de IRS,
segundo as melhores expectativas, apenas haverá atualizações de escalões em
linha com a inflação ou, porventura, alguma baixa mas apenas nos escalões
iniciais. Também aqui excluindo uma boa parte das classes médias assalariadas,
as quais, no fundo, são quem mais paga impostos na nossa terra, já que grande
parte das micro, pequenas e médias empresas, porque não apresentam muitos lucros
no final de cada exercício, pouco ou nada acabam por entregar ao fisco.
Os vencimentos
brutos das carreiras docentes (do básico, secundário, politécnico e
universitário) em Portugal até nem se comparam muito mal com os vencimentos dos
professores dos países da OCDE, o problema são os vencimentos líquidos, pois o
fisco retém na fonte um quinhão demasiado grande. Quinhão esse que fica a fazer
falta às famílias!
Refiro-me às
famílias das classes médias assalariadas que, fruto de políticas públicas como
a dos “vistos gold”, quando desproporcionados (atualmente a carecerem de
revisitação por parte do legislador), e agora das relativas aos chamados
nómadas digitais, foram sendo relegadas para territórios urbanos cada vez mais
periféricos, e que, não obstante, se encontram sobrecarregadas com a subida dos
juros relativos às prestações da casa e do carro. Nuns casos sem acesso a vaga
em creches gratuitas por perto e noutros a terem de custear os estudos
universitários dos filhos mais velhos.
Ainda se o “Leviatã”
que absorve os nossos réditos nos proporcionasse um Serviço Nacional de Saúde
minimamente satisfatório (por ex., dispondo de médicos dentistas, sem filas de
espera desmesurada para consultas de especialidade ou para atos cirúrgicos
urgentes e sem maternidades inesperadamente encerradas à tão necessária
natalidade…) e com padrões de qualidade de um país europeu não teríamos
necessidade de descontar para a facultativa ADSE e/ou também para seguros de
saúde privados.
Não é
desvalorizando salarialmente os quadros das carreiras especiais, com mais
formação técnica e científica (note-se, por ex., que para o ingresso na
carreira docente dos ensinos básico e secundário passou a ser exigido como
habilitação de ingresso o grau de mestre, desde 2008) que se aplica o princípio
da equidade ou que se evita o aproveitamento por parte de países estrangeiros
da nossa geração mais qualificada de sempre, como o Governo gosta de a
designar, mas que, como aqui se constata, pouco ou nada faz para que ela fique
ao serviço do desenvolvimento económico e social de um país cada vez mais
envelhecido.
O autor escreve
segundo o novo acordo ortográfico
Sem comentários:
Enviar um comentário