Afinal, onde está o Moedas!?
A surpreendente eleição de Moedas deixou sérias dúvidas
sobre o seu verdadeiro conteúdo e significado para aqueles que se interessam
por Lisboa.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
19 de Março de
2022, 1:53
https://www.publico.pt/2022/03/19/opiniao/opiniao/afinal-onde-moedas-1999375
Este podia ser o
título de mais um livro sobre a procura desesperada do Wally, só que neste caso
a busca tomaria lugar num contexto onde as multidões seriam substituídas pelo
amontoado de urgentes desafios que aguardam pelo reaparecimento/ressurgimento
desta personagem invisível e desaparecida, o Moedas.
Estou à vontade
para fazer esta pergunta, pois, durante anos escrutinei de forma crítica a
dupla Medina/Salgado neste jornal.
A surpreendente
eleição de Moedas, personagem retornada da Europa sobre uma auréola de
“competência tecnocrática” e que exprimiu a sua motivação não em argumentos
solidificados em longa, madura e reflectida experiência sobre os desafios de
Lisboa, mas numa declaração de amor, ilustrada em vaguíssimas e avulsas
observações, numa collage de tímidos sound bites, foi considerada como uma
vitória política, mas deixou sérias dúvidas sobre o seu verdadeiro conteúdo e
significado para aqueles que se interessam por Lisboa.
Como já tinha
afirmado anteriormente: “Ficámos com a impressão de que ele constitui apenas o
candidato de forças políticas moribundas, que assim e desesperadamente procuram
um renascimento.”(1)
Ora os cidadãos
que Moedas procura desesperadamente, através de iniciativas anunciadas, eu já
tive oportunidade de definir: “Estas forças, constituídas por grupos
heterogéneos e flutuantes de cidadãos, unidos apenas por temas, mas com
diferentes, variadas e pluralistas motivações e convicções, mantêm-se
exteriores às definições de campos políticos.” (2)
Portanto, os cidadãos há anos activos à volta de temas como a Tapada de Ajuda,
a Tapada das Necessidades, a ameaça de demolição de um edifício do sec. XVIII,
inclusive com um interior único e insubstituível décor em chinoiserie (etc),
são completamente indiferentes ao que se passa no PSD(3)
- e isto não porque são de “esquerda” ou de “direita”, mas porque consideram
grave e insultuoso que estas questões, aparentemente, se sobreponham às
urgentes necessidades de Lisboa.
Isto, com a
agravante de que o presidente eleito é invisível e desaparecido e mais difícil
de encontrar que o mítico Sebastião da neblina matinal.
Vivo numa cidade
“moderna” e muito ligada a dinâmicas financeiras e hubs de que Moedas tanto
gosta de propor. Assim esta cidade de Amesterdão vai brevemente para eleições
municipais.
Convém informar
que o alcaide de Amesterdão não é eleito, mas é nomeado pela Coroa. Assim o
alcaide terá apresentado, pelo seu percurso, um perfil experiente e completo,
através de provas dadas e experiência acima e independente das forças e
partidos políticos.
Portanto, quem
vai a eleições são os partidos políticos.
Ora as eleições
são dominadas por uma necessidade imperativa de encontrar soluções para a
espiral especulativa no imobiliário e garantir o direito constitucional à
habitação.
Pela vontade
explícita de controlar rigorosamente a Airbnb (que Moedas vê como um exemplo
“moderno” de iniciativa juntamente com a Uber) e explicitamente recusar o
turismo de massas.
Todos os aspectos
erosivos e predadores do turismo de massas e os seus efeitos no tipo de lojas,
na vida quotidiana e identidade local são expressamente reconhecidos em todos
os programas políticos destas eleições. Amesterdão quer reposicionar-se na sua
imagem internacional e libertar o seu centro da prostituição e droga.
Isto para não
falar das preocupações ambientais. Amesterdão tem a mais completa e vasta rede
de ciclovias da Europa.
Afinal, onde está
o Moedas!?
Historiador de
Arquitectura
( 1 ) https://www.publico.pt/2021/04/22/opiniao/noticia/partido-lisboa-2-1959644
( 2 ) https://www.publico.pt/2021/04/22/opiniao/noticia/partido-lisboa-2-1959644
( 3 ) https://www.publico.pt/2021/12/16/politica/noticia/carlos-moedas-vai-congresso-psd-1988929
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