segunda-feira, 28 de junho de 2021

Fernando Medina “está a branquear as suas obrigações”


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 INQUÉRITO PÚBLICO

Fernando Medina “está a branquear as suas obrigações”

 

A presidente da Associação dos Profissionais de Proteção e Segurança de Dados, Inês Oliveira, afirma nunca ter acontecido um caso como este em que a Câmara de Lisboa quer exonerar um funcionário, encarregado da protecção de dados, por causa da partilha de informações com embaixadas como a da Rússia

 

Helena Pereira

25 de Junho de 2021, 21:46

https://www.publico.pt/2021/06/25/sociedade/entrevista/fernando-medina-branquear-obrigacoes-1967979

 

Já entregou queixa formal contra a Câmara de Lisboa por causa da exoneração do encarregado de protecção de dados na sequência do caso “Russiagate", como anunciou?

Ainda não. Só depois da reunião de câmara que irá formalizar a exoneração. Temos a informação que o assunto irá a reunião de câmara na próxima segunda-feira. Portanto, ainda não há uma exoneração mas uma intenção de exoneração. Esta tem que ser tomada por decisão do executivo camarário.

 

À luz do Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD), o responsável pela protecção de dados nunca poderá ser responsabilizado?

À luz do RGPD, é responsável pelo tratamento de dados o organismo e não o técnico que aconselha, ou seja, o encarregado de protecção de dados. Vamos ter rigor nos conceitos. Esse encarregado é responsável à luz das responsabilidades disciplinares. É responsável se executar mal as suas tarefas. Não pode é ser responsável por exercer bem as suas tarefas de informar e recomendar.

 

E neste caso agiu sempre bem?

Sim. Há provas documentais de que agiu a partir do momento em que soube, em Abril, dando recomendações e sugerindo o apagamento de dados. Estamos na posse desses elementos.

 

Está a ser o bode expiatório de Fernando Medina, é isso?

Não lhe queria chamar isso, mas é imputar a um técnico a responsabilidade, isentando-se quem decide de tomar o pulso à sua responsabilidade. Não podemos ver nesta exoneração outra coisa que não uma forma de branquear obrigações que não foram cumpridas pela Câmara de Lisboa. Não há aqui qualquer margem para o responsabilizar.

 

A CNPD já deliberou a aplicação de multas reconhecendo casos de violação do regulamento. Nesses casos, algum encarregado de protecção de dados foi exonerado?

Nunca. E temos cerca de 200 associados. Não conheço nenhum caso destes.

 

Os encarregados de protecção de dados têm a formação adequada?

A profissão não obriga a certificação. É a própria lei 58/2019 que o diz mas tem que ser uma pessoa que comprove as qualidades que o RGPD impõe: ter conhecimentos especializados no domínio do Direito e prática de protecção de dados. A maior parte dos encarregados de protecção de dados são juristas. Também temos muitos da área da informática e da segurança da informação. Há muitos cursos de formação nesta área, o próprio INA (Instituto Nacional de Administração) tem cursos.

 

A lei permite que os organismos públicos externalizem a função de encarregado de protecção de dados. Tem conhecimento de alguns casos desses na administração pública?

Alguns. O Ministério da Educação, por exemplo, tem externalização. Nesse caso, a diferença é que a responsabilidade é civil, no âmbito contratual, e não disciplinar.

 

tp.ocilbup@arierep.aneleh

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