IMOBILIÁRIO
Preços das casas e das rendas estão a cair com a pandemia
Tanto no arrendamento como na compra e venda, os
contratos relativos à habitação sofreram quebras nos últimos meses de 2020, de
acordo com os índices apurados pela Confidencial Imobiliário. Porto ainda
mantém variação positiva.
Luísa Pinto
1 de Fevereiro de
2021, 6:08
https://www.publico.pt/2021/02/01/economia/noticia/precos-casas-rendas-estao-cair-pandemia-1948562
Os efeitos da
pandemia estão a tornar-se mais visíveis no mercado da habitação, com descidas
dos preços tanto no mercado de arrendamento, como na compra e venda de imóveis.
Os indicadores
apurados pela Confidencial Imobiliário, uma empresa especializada em
estatísticas do sector, relativos ao último trimestre de 2020, revelaram a
chegada a terreno negativo das variações registadas na área de Lisboa, tanto no
mercado de arrendamento (caiu 4,8% em termos trimestrais), como no mercado de
compra e venda (recuo de 0,8%). No Porto, as variações do preço de venda ainda
se fazem em terreno positivo (1,2%), mas já tinham estado negativas no
trimestre anterior (-0,4%).
Apesar da descida
de 0,8% em Lisboa ser ainda residual, ela é relevante por ser a primeira
variação negativa em cadeia desde o início de 2015, altura em que arrancou o
ciclo de valorização intensa que durou cinco anos consecutivos. O Índice de
Preços Residenciais da Confidencial Imobiliário para o concelho de Lisboa
iniciou o ano de 2020 com uma subida em cadeia de 3%, registou uma variação trimestral
nula no segundo trimestre, seguida de uma subida de 0,8% no terceiro, atingindo
terreno negativo nos últimos três meses do ano.
No caso das
rendas habitacionais, os novos contratos de arrendamento registaram uma
evolução descendente pelo quarto trimestre consecutivo: -4,8% em termos
trimestrais e -16,8% em termos homólogos. Esta travagem fez o nível das rendas
praticadas no mercado regressar a patamares de meados de 2017. Esta descida de
preços traduz uma maior oferta no mercado, trazida especialmente pela migração
que houve dos imóveis do Alojamento Local para o arrendamento de longa duração,
por incapacidade de manter a lógica de rentabilidade que a procura
internacional de turistas havia proporcionado no arrendamento de curta duração
nos meses anteriores à pandemia.
No Porto, a
Confidencial Imobiliário também apurou uma ligeira descida, mas refere que aqui
a amostra foi muito reduzida e ainda que se celebraram muito poucos novos
contratos.
"Notícia
armadilhada"
“A notícia de que
as rendas estão a baixar parece positiva, mas é uma notícia armadilhada. Porque
elas baixam em resposta, e na sequência, da redução de rendimento e da produção
de riqueza que é gerada. Há uma descida nas rendas mas a descida nos rendimentos
das famílias é ainda maior”, nota Ricardo Guimarães, director da Confidencial
Imobiliário (CI).
Este responsável
sublinha, antes, a tónica de estabilidade que encontrou nesta variação de
preços, que vão mantendo a mesma trajectória, com variações mais ou menos
positivas. “O que encontramos é uma quebra muito grande no ritmo de
valorização. Foi isso que trouxe a pandemia. No Porto ainda há um comportamento
positivo dos preços, mas muito abaixo daquilo que era há um ano. O que fez foi
travar a valorização”, explica. Ou seja, para este responsável, estes
indicadores não demonstram uma desvalorização, apenas anulam as expectativas de
uma trajectória em termos de valorização.
Certo é que o
valor a que os bancos avaliam os imóveis para fins de concessão de crédito à
habitação subiu novamente em Dezembro, fechando o ano com um novo recorde.
Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística
(INE), no último mês do ano o indicador de avaliação bancária por metro
quadrado habitacional fixou-se no valor mediano de 1156 euros, uma subida de 12
euros em comparação com o mês anterior.
“Era expectável
que o mercado reagisse com uma desvalorização. Mas essa também foi a
expectativa em Março, quando se deu o primeiro confinamento, e isso acabou por
não se verificar”, comenta Ricardo Guimarães. No entanto, cada vez que há
confinamento, concede, “é mais um fosso que se cava na economia, que afecta
todos os sectores”. E é isso que torna difícil fazer projecções seguras.
A pressão para a desvalorização acontece
sobretudo nos centros históricos das duas principais cidades do país, porque
são mercados que estavam muito expostos à procura turística. “Temos agora este
mercado muito condicionado, ou praticamente inactivo. O que não quer dizer que
não seja também o segmento de mercado que pode recuperar mais rapidamente”,
comentou Ricardo Guimarães, que diz acreditar que “enquanto houver condições
para os proprietários segurarem os preços, essa vai ser a opção que vão tomar”.
A existência de
moratórias para pagamentos dos empréstimos é, assim, determinante para esse
propósito de manter os preços estabilizados. As moratórias foram prolongadas
até Setembro, mas as empresas de mediação imobiliária já vieram pedir nova
extensão desse prazo.
Num momento em
que a economia está, de novo, confinada, e em que o anúncio da chegada das
vacinas foi ultrapassado por uma terceira vaga da crise sanitária que está
atingir Portugal de uma forma sem precedentes, só há uma projecção que pode ser
feita de forma clara: “O que já é seguro dizer é que o mercado não vai ter
nenhuma valorização em 2021. Isso parece-me claro. Tudo o resto é uma grande
incerteza”, termina.
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