terça-feira, 31 de março de 2020

Holanda: uma achega à reacção de Costa



OPINIÃO CORONAVÍRUS
Holanda: uma achega à reacção de Costa

O estilo escolhido por Costa é o da bravata lusitana e do murro na mesa, que, julgo, prejudica os interesses português e europeu.
  

PAULO RANGEL

31 de Março de 2020, 6:15

1. Por mais que se discorra, só há uma prioridade imediata: salvar vidas.

2. Estou muito à vontade para criticar e corroborar a crítica à posição do ministro das Finanças do Governo holandês de Mark Rutte. Ela não é nova na substância, nem inédita na forma e no tom. Corresponde a uma posição consistente dos governos holandeses. Estou à vontade porque critiquei esse posicionamento sistemático um dia antes do Conselho Europeu (25 de Março, na SIC Notícias). Esse foi o Conselho em que António Costa fez as declarações tonitruantes, que tão bem caíram à opinião pública. Depois (27 de Março na CMTV), apoiei a crítica de Costa, sem o acompanhar na forma e no tom. De resto, há dois anos, num debate plenário com Mark Rutte, confrontei-o, face a face, com as posições quanto à reforma da zona euro, à dimensão do orçamento da UE e ao quadro financeiro plurianual. Este inventário de intervenções recentes serve apenas para deixar claro: não é aceitável a posição “clássica” do executivo neerlandês (muito menos neste contexto) e é altamente censurável a sobranceria com que, a espaços, falam os seus ministros.

3. Isto assente, merece a pena olhar não para a reacção de António Costa mas para os exactos e precisos termos desta reacção. Compreendo bem que o primeiro-ministro, sendo um europeísta e um humanista, não pudesse em consciência ignorar as declarações do ministro das Finanças holandês (cujo exacto teor se desconhece). Podia tê-lo feito, porém, de um modo igualmente veemente, convicto e firme, mas que não criasse uma hostilidade e um antagonismo “quase pessoal” com o Governo holandês. O tom, a linguagem e a postura podem até ser de indignação genuína, mas prestam-se a manipulações simplistas de que quis atingir a nação holandesa ou o povo holandês. Cria um evidente “antagonismo” pessoal, e esta questão não configura um assunto pessoal: é assunto nacional, é assunto de Estado. O estilo escolhido por Costa é o da bravata lusitana e do murro na mesa, que, valha a verdade, nos enche o ego e as medidas, ocupa o espaço mediático por inteiro, mas que, julgo, prejudica os interesses português e europeu.

4. O primeiro-ministro fez as declarações impactantes cá fora, para os jornalistas; mas as verdadeiras questões jogam-se lá dentro, na reunião do Conselho. É ali que se promove e defende a nossa visão do interesse europeu e nacional. E aí foram os primeiros-ministros italiano e espanhol que mostraram convicção, rumo, estratégia. Giuseppe Conte, em particular, foi duríssimo e claríssimo, entrando mesmo em debate com Mark Rutte.

Já no espaço público e nos dias seguintes, tanto Conte como Sánchez reagiram forte e inteligentemente à posição holandesa. No caso italiano, até o Presidente Matarella o fez na sua alocução à nação. Eles foram duros, claros e reforçaram a ideia de que não vão claudicar e, no entanto, abstiveram-se de criar uma tensão ou crispação “pessoal” ou “nacional”. Não alimentaram um caso contra o Governo holandês, que, com manipulação hábil, se pode transformar num caso “contra os holandeses”. A Espanha e, por osmose, a Itália eram os visados e, mesmo assim, puseram os interesses europeus e nacionais à frente de uma compreensível indignação.

Diga-se também que não é comum que um primeiro-ministro venha polemizar directamente com um ministro de outro país, como se ambos estivessem no mesmo patamar. António Costa, sem se furtar a expressar a sua indignação, poderia ter deixado a resposta “à letra” a um ministro do seu Governo. O mais natural é que fosse Centeno, homólogo do ministro das Finanças, embora se entenda que, enquanto presidente do Eurogrupo, lhe fosse difícil assumir esse papel. Mas tinha sempre disponível o ministro dos Negócios Estrangeiros, que, aliás, é um confesso adepto da “arte de malhar”. O recado estaria dado e o primeiro-ministro preservar-se-ia para uma “reacção” dura, em tudo semelhante à dos seus pares latinos.

5. Perguntar-se-á porque me incomodo tanto com o tema. Porque estou convencido de que Portugal – não estando na situação da Espanha e da Itália e comungando de visão idêntica e similar – podia ser um actor-chave no desenho de uma solução europeia para esta crise sem paralelo. E que, designadamente, António Costa poderia ter aí um papel relevante, que pura e simplesmente descartou e desbaratou. Depois disto, dificilmente Costa e Portugal poderão ser os artífices de um acordo que realmente represente uma resposta solidária sem precedentes; um avanço único no processo de integração europeia. Depois de uma intervenção que preencheu o nosso orgulho nacional, mas que criou óbvios anticorpos, corremos o risco de ter ficado “neutralizados”. Situação tanto mais preocupante quanto vamos assumir a Presidência da União já no primeiro semestre de 2021 e teríamos aí também uma oportunidade única para ocupar esse espaço.

Em rigor, este padrão de táctica diplomática em Costa não é inédito. Em Junho, ele também garantiu “à cidade e ao mundo” que, com a sua veia europeia, havia entronizado Timmermans como presidente da Comissão – o que faria dele um influente “king maker”. Resultado: isso simplesmente não aconteceu e o espanhol Sánchez, que até aí o acompanhara, abandonou-o sem dó, para “sacar” para a Espanha o alto-representante para a Política Externa.

6. Em suma, a atitude do ministro holandês é deplorável, mas o primeiro-ministro podia sinalizar isso de muitas formas, todas eficazes. Estará tudo perdido? Não, Costa tem ainda na sua mão dois instrumentos substanciais. Um é Mário Centeno: agora vai ver-se se este Cristiano Ronaldo faz ou não a diferença nos jogos difíceis. E o outro, um tanto prejudicado por esta controvérsia, é a sua influência no Partido Socialista Europeu. A figura-chave do imbróglio é Olaf Scholz, ministro das Finanças alemão, do SPD e da família socialista, que é um férreo opositor de eurobonds e quejandos (bem mais que Merkel). Se lograr convencê-lo, prestar-nos-á a todos um inestimável serviço.

The Dutch-led opposition to a ‘coronabond’ to raise funds for nations hardest-hit by the pandemic is self-defeating



This is Europe
The Dutch-led opposition to a ‘coronabond’ to raise funds for nations hardest-hit by the pandemic is self-defeating

David Adler and Jerome Roos
Tue 31 Mar 2020 09.47 BSTLast modified on Tue 31 Mar 2020 12.33 BST

Dutch PM  Mark Rutte.
 ‘Rutte declared that he could not foresee any circumstances in which the Netherlands will accept eurobonds.’

Last Thursday, the leaders of the European Union convened a video conference to deliberate the escalating Covid-19 crisis. On the agenda was a simple proposal co-signed by nine different eurozone governments: the “coronabond”, a new type of public debt instrument backed by all the members of the currency union as they come together to combat the virus.

After a long decade of crisis fighting in the eurozone – pitting north against south, creditor against borrower – the proposal marked a rare display of unity, and the meeting was a perfect opportunity to ratify it. Issued collectively, the “coronabond” would drive down the borrowing costs of some of Europe’s most heavily affected countries, staving off another sovereign debt crisis and freeing up much-needed resources to invest in public health and economic recovery. “We are all facing a symmetric external shock,” the proposal read, “and we are collectively accountable for an effective and united European response.”

 As long as the pandemic rages in Europe, even the supposedly frugal burghers of Amsterdam will suffer the consequences

Alas, the request for solidarity was swiftly rejected. At the video conference, the eurobond motion came up against the eurozone’s “frugal four” – Germany, the Netherlands, Austria and Finland – who argued that the issuance of a common debt instrument would punish the countries that had saved for such a rainy day, and encourage further fiscal mismanagement by those who did not. Solidarity, they claimed, just created moral hazard.

In the course of this standoff, it was the Netherlands that positioned itself as the stony face of the frugal four. For a small and trade-dependent country that has long portrayed itself as Europe’s liberal beacon – open, progressive and internationally oriented – it was a remarkably short-sighted position to take. Without a collective mobilisation of fiscal resources, countries such as Italy and Spain will be powerless to prevent further contagion, of both the medical and economic kind. And as long as the pandemic continues to rage elsewhere in Europe, even the supposedly frugal burghers of Amsterdam will suffer the consequences.

Yet the Dutch government has held firm. Speaking after the meeting, the prime minister, Mark Rutte, declared that he could not foresee “any circumstances in which the Netherlands will accept eurobonds”. Adding insult to injury, the finance minister, Wopke Hoekstra, called on Brussels to investigate why some eurozone member states had failed to get their houses in order ahead of the pandemic – comments that the Portuguese prime minister, António Costa, later described as “repugnant” and “senseless”.

The spat has reopened painful old wounds. In the early stages of the eurozone crisis, the Dutch were among the most vocal opponents of the initial Greek “bailout”, and demanded draconian austerity measures in return for the emergency loans. The former Dutch finance minister Jeroen Dijsselbloem gained widespread notoriety for his penny-pinching in the Greek debt negotiations, at one point appearing to suggest that his southern European neighbours had wasted their money on “booze and women”.

But Europe’s governments have run out of patience with such fiscal moralism. Over the weekend, reports suggested that Latvia, Lithuania, Estonia, Cyprus and Slovakia may add their names to the original eurobond proposal. Among these 14 governments, there is broad agreement that this is not the time for petty lectures on fiscal book-keeping, it is a time to think big and confront the continent’s greatest collective challenge since the second world war as a united front. As Costa drily observed: “No one has any more time to hear Dutch finance ministers as we heard in 2008, 2009, 2010 and so forth.”

Beside its untimely nature, the Dutch government’s position is also exceedingly hypocritical. The Netherlands has long been known as one of the world’s most infamous tax havens, siphoning off hundreds of billions of euros in corporate profits and international financial flows and keeping other governments from taxing them properly. To depict the Netherlands as a pillar of fiscal rectitude is to deny the myriad ways in which the very architecture of the Dutch tax system actively serves to undermine the fiscal capacity of its European and international partners.

Ultimately, however, the best argument against the Dutch position is that it is self-defeating. By rejecting the call for “coronabonds”, the Netherlands and its partners in the frugal four have undermined the ability of the wider eurozone to fight the pandemic as a whole – threatening the health and wellbeing of each of its members in turn.

Solidarity is not charity. It is the recognition that the struggle of one is the struggle of all. In a pandemic like Covid-19, that logic is global. But it becomes all the more urgent in the context of a currency union as thoroughly integrated as the eurozone. If the frugal four continue to obstruct a common fiscal response to this crisis, the remaining eurozone countries will be right to ask if they are not better off going their own way.

As Spain’s foreign minister, Arancha González, kindly reminded Hoekstra following his much-maligned intervention last week: “We are in this EU boat together. We hit an unexpected iceberg. We all share the same risk. No time for discussions about first- and second-class tickets … History will hold us responsible for what we do now.”

• David Adler is a policy leader fellow at the School of Transnational Governance (EUI) and the policy coordinator of the Democracy in Europe Movement (DiEM25). Jerome Roos is a fellow in international political economy at the London School of Economics, and author of Why Not Default? The Political Economy of Sovereign Debt

Há 315 mil recibos verdes em risco de ficar sem apoio em Abril



CORONAVÍRUS
Há 315 mil recibos verdes em risco de ficar sem apoio em Abril

Trabalhadores independentes sem trabalho neste momento só recebem o primeiro apoio a partir de Maio. Para os que abriram a actividade no início deste ano, o acesso está em dúvida. Governo não esclarece.

Pedro Crisóstomo
Pedro Crisóstomo 31 de Março de 2020, 6:38

O apoio só se aplica a quem tenha pago as contribuições durante pelo menos três meses consecutivos

Há 315 mil trabalhadores a recibos verdes em Portugal que se arriscam a passar o mês de Abril sem o apoio extraordinário de 438 euros que o Governo decidiu criar para ajudar quem enfrenta uma paragem súbita da actividade por causa da propagação do novo coronavírus.

Apesar de muitos poderem já estar a sentir os efeitos económicos, com projectos e encomendas cancelados ou por simplesmente não poderem ir trabalhar por causa do confinamento, o primeiro apoio só deverá ser pago em Maio pela Segurança Social.

Como, à luz do diploma do Governo, esse envelope financeiro de 438,81 euros é pago a partir do mês seguinte àquele em que é submetido o requerimento, e esse formulário só será disponibilizado no portal Segurança Social Directa nesta quarta-feira (o primeiro dia de Abril), ninguém vai poder apresentar o requerimento em Março para poder beneficiar da “bóia de salvação” em Abril. E é isso que explica que, na prática, os primeiros apoios só cheguem a milhares de cidadãos em Maio.

Caso estejam em “situação comprovada de paragem total da sua actividade ou da actividade do respectivo sector” por causa do surto da covid-19 e não beneficiem de outra medida extraordinária, são 314.734 as pessoas que em teoria poderão aceder a esse apoio, pois este é o universo de trabalhadores independentes que, segundo os registos da administração fiscal, têm exclusivamente rendimentos do trabalho independente em Portugal.

Questionada pelo PÚBLICO sobre se reconhece que este universo potencial de trabalhadores ficará sem o apoio em Abril, e se é por razões operacionais de processamento das verbas (ou por outra razão) que o requerimento apenas é disponibilizado em Abril, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, não respondeu.

Esta medida não deve ser confundida com o apoio à família (de 438,81 euros a 1097,025 euros) que se destina a apoiar os trabalhadores a recibos verdes (assim como os trabalhadores por conta de outrem) que ficam em casa a acompanhar os filhos se, durante o período em que as escolas estão fechadas, não puderem exercer a profissão em teletrabalho ou de qualquer outra forma.

No leque dos trabalhadores independentes potencialmente abrangidos pelo apoio à paragem da actividade há um subgrupo em relação ao qual não é claro se o apoio se aplica ou não. Como para aceder a esta medida é necessário que os trabalhadores tenham cumprido com a obrigação contributiva à Segurança Social durante três meses consecutivos nos últimos 12 meses, quem começou a trabalhar no início de 2020 arrisca-se a ficar de fora. Pelo menos para já. Uma das questões que se colocam neste momento — e que o Ministério do Trabalho continua sem esclarecer ao PÚBLICO — é a de saber se, estando os trabalhadores isentos das contribuições no primeiro ano de trabalho, ficam dentro ou fora dos apoios. Mesmo para juristas, a norma do Governo não é de compreensão imediata.

Quem abriu actividade em Janeiro de 2020 só completa esses três meses em Março, mas para isso é preciso que apresente no próximo mês a declaração trimestral relativamente aos rendimentos de Janeiro, Fevereiro e Março. Só aí e no cenário de ter cumprido a obrigação contributiva é que uma pessoa poderá requerer o apoio extraordinário.

Neste caso, tal como para a generalidade dos recibos verdes, a primeira verba também só chegará ao terreno em Maio. E este é o cenário em que a actividade tenha sido aberta em Janeiro, porque o problema arrasta-se para quem só a tenha iniciado em Fevereiro ou mesmo até meados de Março antes de a situação epidemiológica do novo coronavírus se agravar.

Primeiro ano em dúvida
É preciso ter em conta a situação de quem está no primeiro ano de trabalho, pois só ao fim do 12.º mês do início da actividade é que se entra no regime dos trabalhadores independentes e, por isso, a apresentação da declaração trimestral (em Abril, Julho, Outubro e Janeiro) não é obrigatória.

Justamente algumas dúvidas têm chegado à Plataforma Resposta Solidária — um projecto lançado há poucos dias para responder por e-mail a dúvidas dos cidadãos sobre questões laborais e de habitação — por parte de trabalhadores que estão no primeiro ano e querem perceber se, estando isentos das contribuições nesses primeiros 12 meses, podem beneficiar do apoio, conta Mafalda Pinto, uma das dinamizadoras da iniciativa que junta a Associação de Combate à Precariedade — Precários Inflexíveis e a Rés do Chão — Associação pelo Direito à Habitação.

Não é apenas entre potenciais trabalhadores abrangidos que a redacção do diploma gera incertezas — também as há entre juristas. Se, à luz do diploma, os trabalhadores independentes que reiniciaram actividade em 2020 são abrangidos pela medida extraordinária, pois, como sublinha a advogada Sílvia A. Araújo, da RSN Advogados, podem “ter registo de contribuições em três meses consecutivos” no tal período de referência dos 12 meses, o mesmo já não acontece com aqueles que efectivamente iniciaram a actividade, que “parecem efectivamente estar (pelo menos para já) excluídos” do apoio. “Digo pelo menos para já pois entendo não existir no diploma qualquer impedimento a que estes trabalhadores acedam ao apoio extraordinário num momento posterior, após e se, entretanto, passarem a cumprir o requisito do registo de contribuições em três meses consecutivos”, explica a mesma advogada.

Também Francisco Aventino Pinheiro, advogado da Aventino & Associados, considera que os trabalhadores independentes que tenham iniciado actividade em Janeiro só ficam aptos se cumprirem com as obrigações contributivas relativamente aos “meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 2020”, de forma a pedirem o apoio em Abril e receberem no mês seguinte “se os serviços da Segurança Social tiverem possibilidade de processar o pedido atempadamente”.

De acordo com dados da AT, há 58.214 trabalhadores independentes que iniciaram ou reiniciaram a actividade em 2020 e que se mantêm activos em sede de IVA (não sendo claro, porém, se alguns acumulam recibos verdes com trabalho dependente, o que automaticamente os deixa de fora do apoio).

Para Ricardo Lourenço da Silva, advogado da sociedade Antas da Cunha ECIJA, o diploma do Governo “levanta sérias dúvidas de interpretação” e isso, adverte, “agudiza o clima de incerteza (e conflitualidade legal)” num momento “já de si suficientemente inquieto devido à pandemia”. Sabendo o Governo do número de pessoas que iniciaram a actividade este ano, parece ao advogado que, tendo esses números em mãos, o executivo não poderia “ter legislado de modo a criar algum apoio específico que não contemplasse, de algum modo, uma parte considerável destes trabalhadores” e que, por hipótese, “venham a necessitar de requerer o apoio em Abril”.

O apoio em causa dura um mês e pode ser prolongado até um máximo de seis meses. Embora corresponda ao valor da remuneração registada como base de incidência contributiva, o Governo impôs um tecto que limita o valor a 438,81 euros mensais (o equivalente a um Indexante de Apoios Sociais).

segunda-feira, 30 de março de 2020

André Freire: "A crise é obviamente um terreno mais fértil para os populismos"




André Freire: "A crise é obviamente um terreno mais fértil para os populismos"

O politólogo André Freire diz que a Europa poderá ser o "farol" para o mundo consoante a resposta que der à crise pandémica e à económica que se segue. Se não existir solidariedade entre Estados, a "fatura" chegará. Em forma de forças políticas indesejadas.

Paula Sá
30 Março 2020 — 00:22

Considera que o estado de emergência era inevitável e foi bem decretado no tempo que foi pelo Presidente da República?
O que se está a passar em Portugal e no mundo é vertiginoso e os acontecimentos evoluem mais rápido do que se imaginava. Se calhar, naquela altura muitas pessoas pensaram que fosse cedo demais, até o próprio primeiro-ministro, e eu próprio tinha algumas dúvidas. Isto tem sempre uma racionalização a posteriori. Mas, perante o que se está a passar em Espanha e em Itália, se calhar foi a decisão mais prudente. O Conselho Nacional de Saúde Pública, no final da tarde de uns dias anteriores, tinha dito que não era recomendável o fecho das escolas... Mas foi prudente a decisão no contexto em que estamos a viver. Na dúvida, vale mais ser exigente. E agora ainda faz mais sentido com tudo o que estamos a observar e porque é tudo tão incerto. Os cientistas não conhecem bem o vírus, as suas consequências, como se propaga. Por isso, o lado da prudência deve merecer o maior crédito. Hoje até é mais consensual do que era na altura.

Uma sondagem mostrou que a adesão dos cidadãos ao decretar do estado de emergência foi esmagadora. Terá sido pelo que estavam a ver no resto da Europa?
Seguramente, as pessoas estão todas apreensivas. Eu próprio vejo relato de pessoas amigas que estão com problemas e o grau vertiginoso com que as coisas se estão a passar e é natural que as pessoas fiquem sensíveis. De qualquer modo, a implementação do estado de emergência não é ainda, pelo menos em termos de circulação das pessoas, tão intrusivo como vemos noutros sítios. E as pessoas estão a tentar seguir isso de uma forma geral, com um certo cuidado. Pelo menos é o que vejo na minha zona e o que tenho ouvido do relato de outras pessoas aqui em Benfica. Há pessoas a fazer jogging, outras que vão passear o cão ou às compras, mas as ruas estão a tender para o deserto. Tirando uma coisa ou outra, uma situação ou outra, os relatos que vejo são de prudência geral. O que não quer dizer que não possam existir alguns problemas e até alguma subestimação nos dados ou pelo número de testes que são realizados. Mas não há razão para não confiarmos nas autoridades.

Os cidadãos, perante o medo, e no caso da doença, ficam dispostos a abdicar dos seus direitos, aqueles que são considerados fundamentais, como a liberdade de circulação e de viverem a vida comunitária? Direitos ainda suspensos de uma maneira suave, mas podem vir a ser suspensos de maneira mais dura.
Acho que sim. Aqui há vários valores, e o da vida sobrepõe-se aos outros. Até agora, as restrições têm sido interpretadas com sensatez e equilíbrio no caso português, também porque a situação não é tão grave como nos casos italiano e espanhol. A ação das pessoas, que tem sido generalizada, e se a evolução da situação não for tão demorada e for mais contida, pode ser que não se avance muito. Mas estou convencido de que as pessoas estão disponíveis, perante o risco de vida, para aceitar medidas mais restritivas. Mas pode haver um problema de pânico e de insensatez.

Sobretudo se for um período muito prolongado...
Sim, se for muito prolongado tem outros efeitos. Já ouvi falar de um plano para a saúde mental, porque isto tem um efeito sobre as pessoas fechadas em casa sempre. Por isso é que os tais passeios higiénicos, do cão, de um certo exercício contíguo à zona de residência, etc., faz sentido para preservar algum equilíbrio mental e também físico. É também uma sensatez que é desejável que seja preservada. Só se a situação ficar fora de controlo.

"Estou convencido que as pessoas estão disponíveis, perante o risco de vida, para aceitar medidas mais restritivas"

Sente que poderá existir algum atropelo aos direitos dos cidadãos neste tempo de emergência, nomeadamente de as autoridades exacerbarem o seu poder?
Poderá existir excesso de zelo e exageros, mas globalmente não vejo que haja aqui uma situação generalizada de abusos. Os próprios agentes de autoridade podem vir a ser alvo do medo e do pânico e exagerarem, mas também penso que, mesmo que aconteça, não seja generalizado.

O confinamento quase voluntário dos portugueses, porque começou antes de ser decretado o estado de emergência, mostra que podemos ser um povo mais disciplinado e mais unido perante uma situação de crise extrema?
As pessoas foram bastante previdentes, mas se calhar beneficiámos de ver o que se estava a passar, nomeadamente em Itália, antes dos outros. Portugal não tem propriamente uma tradição de povo disciplinado, o que também não quer dizer que seja o oposto. Aprendemos e interiorizamos os problemas que estamos a ver à nossa volta e as pessoas foram mais cuidadosas. Isso foi positivo e deve ser valorizado. Mas isso não é uma virtude que os outros não tenham. Se calhar, quando o vírus apareceu na Itália, não havia esta informação para pôr as campainhas de alarme acionadas.

Preocupa-o a resposta do SNS no combate e tratamento da pandemia
Estou preocupado não no sentido de o SNS - e os meios privados que foram agora mobilizados - não ser competente ou que não confie em termos de orientações médicas ou técnico-científicas. Mas o problema que está aqui colocado é se a situação se tornar explosiva, e houver um crescimento do número de casos, isso se possa tornar um problema para a capacidade de resposta do SNS - do nosso como de outro qualquer. Agora, o nosso é um que ainda tem problemas adicionais por causa do período da troika e porque não somos um país rico. Vivemos esta crise muito forte que foi a recessão, com a intervenção da troika, e isso gerou uma grande contração do investimento na saúde, dos recursos e dos meios. Portanto, o ponto de partida já é problemático, aqui é mais problemático do que na Suécia ou na Alemanha. Um dos dados que estão em cima da mesa muito fortes é tentar que o crescimento da curva não seja tão exponencial, tão explosivo, de modo a que o SNS consiga gerir os picos de procura relacionados com isto. Mas que há motivos de apreensão, há, e em Portugal ainda mais, pelo que acabei de dizer.

Como professor universitário, que constrangimentos lhe trouxe o ensino à distância?
No ensino universitário somos um bocadinho mais privilegiados porque nos adaptamos mais depressa a este sistema de videoconferências. Parámos as aulas presenciais, mas tenho estado a dar as aulas aos alunos regularmente. Os alunos têm os seus computadores, são mais maduros, mais crescidos. É diferente do secundário e do primário. A minha experiência é que têm funcionado bem as aulas, fazemos as reuniões também por videoconferência. O ministério já legislou, porque havia, em termos de júris de concursos, a obrigação de a última reunião ser presencial, para suspender isso neste período de exceção e permitir que seja tudo por videoconferência. Mas não funcionou tão bem por videoconferência e acho que há muitas vantagens na interação presencial. Presumo que no ensino primário e no secundário seja muito mais difícil.

"Vivemos esta crise muito forte que foi a recessão, com a intervenção da troika e isso gerou uma grande contração do investimento na saúde"

No campo político, é possível fazer oposição neste tempo de emergência?
É difícil, mas é desejável que haja. É preciso manter a vigilância sobre todos nós e a bem de todos nós. Mas neste contexto é mais difícil fazer uma oposição contundente, mais assertiva, até porque é desejável que seja mais contida, mais moderada. Mas acho que é possível.

Quando passar a pandemia, haverá outra crise social e económica. A oposição também estará condicionada porque não pode assacar ao governo a responsabilidade por essa crise?
Ah, pois! A crise que há de vir será económico-financeira, e esperemos que isto não se prolongue muito, pois assim ela será menos profunda. A responsabilidade disso não poderá ser assacada, pelo menos diretamente e linearmente, em toda a sua extensão, ao governo. Penso que os eleitores também não irão responsabilizar, mas tudo depende das medidas que forem tomadas, das respostas. Mas é um tipo de crises em que os responsáveis não são os agentes políticos, a não ser que estejam a gerir a situação de uma forma irresponsável e imprudente, como vimos nalguns países.

Então, não vê nesta crise campo para progredirem os populismos, que já tinham muito terreno na Europa e algum em Portugal?
No imediato, não sei se vejo, mas, se isto se prolongar e dependendo das respostas, a crise é obviamente um terreno mais fértil para os populismos. Mas depende muito da duração desta crise pandémica e dos seus efeitos e da resposta dos agentes políticos. Mas nós acabámos de sair de uma crise violentíssima, os problemas de dívida continuam e não temos muita margem. Portanto, a resolução não vai ser muito simples e o contexto é propício ao populismo. Também dependerá da União Europeia, que tem dado sinais contraditórios. Vê-se uma certa renitência em adotar soluções solidárias por parte da Alemanha e da Holanda, o que é preocupante, porque depois vai surgir um problema de dívida. Aliás, nós temos a memória do que se passou em 2008 e 2009, em que também flexibilizaram as regras para gastar e contrariar a recessão. Depois veio a fatura e caiu para cima de nós. O Dr. António Costa e o Presidente Marcelo, os agentes políticos portugueses e de outros países, nomeadamente os que sofreram isto e têm memória, devem agir. Podemos gerir isto de uma forma mais solidária, europeia, com as tais obrigações conjuntas para esta dívida extra ou então vamos ficar à mercê dos mercados de capitais e vamos ter por cima desta crise uma crise ainda mais grave. Em qualquer caso, recessão teremos. Por isso, tudo depende das respostas, da visão, da capacidade visionária dos agentes políticos, sobretudo europeus. E poderá ser um elemento de luta política, a marcação de posições diferentes e de opções e de alianças que se façam.

"Vê-se uma certa renitência a adotar soluções solidárias por parte da Alemanha e da Holanda, o que é preocupante, porque depois vai surgir um problema de dívida. Aliás, nós temos a memória do que se passou em 2008 e 2009, em que também flexibilizaram as regras para gastar e contrariar a recessão. Depois veio a fatura e caiu para cima de nós"

No próximo ano vamos ter autárquicas, que eram muito importantes, por exemplo, para o PSD. Esta crise não irá ter influência nessas eleições?
É muito distante para se poder perceber. Depende da duração da pandemia e da profundidade e durabilidade da crise económica e como ela for politicamente gerida. Agora, se entrarmos num ciclo recessivo e ele se prolongar, isso pode afetar. As autarquias são especiais, porque o fator local, a situação de cada concelho, conta mais do que noutro tipo de eleições, mas há sempre o efeito nacional. Se houver uma situação de refluxo, mesmo sabendo-se agora que não é uma responsabilidade dos atores domésticos, é expectável que possa ter algum efeito a la longue e possa ter alguma influência. Mas ainda é muito longe, porque as eleições só são em outubro do próximo ano e muita água há de passar sob as pontes.

O que também se aplica à ideia de poder eventualmente ter efeitos na durabilidade do mandato de um governo minoritário do PS?
Pois, o governo não tem nenhum aliança formal, o PS decidiu governar com alianças ad hoc, embora tivesse dito que preferia lidar com os parceiros. Claro que em situação de escassez, de crise, ainda tem menos coisas para oferecer à esquerda. Portanto, a situação pode ficar mais complicada. Não para já, porque há uma certa contenção, no sentido de responsabilidade, mas para a frente a situação pode-se colocar.

Nomeadamente se o desemprego disparar?
Pois, isso é um risco muito grande. Estes pequenos negócios que foram muito atingidos com o estado de emergência - restaurantes, os pequenos negócios -, isso pode ser um problema. Hoje houve uma tomada de posição de vários líderes europeus, penso que o Dr. António Costa deve priorizar de modo a que as respostas europeias sejam mais solidárias. Porque a fatura há de vir.

"Parece a peste que regressa no século XXI, que era uma coisa remota que pensávamos que no estado de desenvolvimento das nossas sociedades estava arredada"

Como perspetiva o mundo após a crise? Ninguém vai conseguir escapar, mesmo os que resistiram mais, como Trump e Bolsonaro?
Estão a ter uma gestão um bocado irresponsável, pode ser que nesse caso, se a situação evoluir como tem evoluído e com o padrão de resposta que estão a ter, possa ter o efeito de os fazer tremer e eventualmente perder o poder. A situação aconselha prudência e isso a gente não vê nem no Bolsonaro nem no Trump, estão mais preocupados com a economia do que com tudo o resto. Para já, isto é uma coisa de que ninguém estava à espera. Parece a peste que regressa no século XXI, que era uma coisa remota que pensávamos que no estado de desenvolvimento das nossas sociedades estava arredada. Embora tivéssemos visto o ébola não há muito tempo. Isto veio denunciar a fragilidade em que estamos todos e que nada está garantido e que o nosso avanço económico e científico também não é garantia de que estejamos a salvo, embora nos capacite para respostas se calhar melhores do que noutros que estão mais enfraquecidos e menos desenvolvidos. Mas vai mudar radicalmente o paradigma da nossa existência, até em termos de horizonte. Depois, pode refrear a globalização, que é até um elemento que pode ser positivo. De repente, descobrimos que se houver um grande problema, uma guerra, por exemplo, estamos completamente dependentes da China para nos mandar coisas. E Europa será um sítio de sinalização do que de melhor e pior pode ocorrer. Podemos dar respostas solidárias e isso pode contaminar outros ou pode haver uma questão de egoísmos e de falta de solidariedade, e isso pode levar a explosões e ao surgimento de forças políticas indesejáveis, à instabilidade e a conflitos militares. A Europa pode ser um farol, para o melhor e para o pior, do mundo.

João Duque: “Os preços das casas podem vir a cair por aí abaixo”



João Duque: “Os preços das casas podem vir a cair por aí abaixo”

Rodolfo Alexandre Reis e Shrikesh Laxmidas 27 Março 2020, 09:25

Economista fala em “paragem absoluta” no mercado. Agentes, inquilinos, proprietários e consultores pintam ao JE um cenário dramático.

“Uma paragem absoluta. Passámos para uma coisa que era absolutamente inesperada. Neste momento não devem andar-se a vender casas”. É desta forma que João Duque olha para o impacto que o surto da Covid-19 já tem no setor imobiliário em Portugal. O economista, tal como os principais players no mercado, diz que é prematuro falar em números sobre os preços das casas, mas diz ser possível que “venham por aí abaixo”.

Alarmado com esta situação está também Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). “Na conjuntura atual quem é que se atreve a entrar dentro de casa alguém?” Luís Lima pede ao Governo para que não se esqueça de um setor do qual “dependem 40 mil pessoas”. Em relação aos preços, responde de forma pragmática: “Se não há mercado… está tudo dito”.

Com o estado de emergência decretado na semana passada muitas foram as áreas da sociedade que pararam a sua atividade ou aderiram ao teletrabalho. No setor da construção, foi uma paragem parcial. “Tudo o que é trabalho intelectual (projetistas, diretores de obra) está em teletrabalho, mas quem realmente põe a ‘mão na massa’ continua no terreno”, afirma Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult, empresa de gestão e fiscalização de obras. “As obras continuam a rolar e com alguma normalidade dentro do possível”.

Assume, contudo, que se começa a notar “alguma dificuldade no fornecimento de materiais e mão-de-obra contagiada”, já que “a construção por si só é um meio onde o risco de contágio é brutal, as regras básicas de higiene são difíceis de implementar numa obra, como por exemplo lavar as mãos constantemente e o cumprimentar a outra pessoa continua a ver-se muito”, refere.

Os especialistas assumem que a quebra no valor das rendas também se vai fazer sentir. Romão Lavadinho, presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), mostra-se preocupado com o valor das rendas especulativas como “aquelas que existem dentro de Lisboa ou no Porto, que é pagar 20 e 30 eurosm2 por uma renda, ou seja, uma casa com 50m2 se pagar 20eurosm2, paga mil euros de renda por um T1 e isso é completamente impossível”, sublinha.

Esta semana, a AIL apresentou uma proposta ao Governo para baixar a renda na mesma percentagem em que baixe o rendimento.

Luís Menezes Leitão, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), refere que a queda das rendas “é um fator claríssimo, em virtude da falta de rendimento” deixando um reparo ao Governo. “Andámos nos últimos tempos a queixar-nos do turismo e a fazer restrições ao alojamento local e agora, de repente vamos ter muitas saudades do funcionamento do imobiliário nos termos em que estava”, alerta.

O alojamento local será por isso um dos segmentos do imobiliário que poderá sofrer mais com esta crise, e ao mesmo tempo readaptar-se. “No início do ano já estávamos a registar movimentos de pequenos proprietários que tinham duas ou três casas em alojamento local e que estavam a transitar para o arrendamento tradicional. Estamos a ver agora com a queda abrupta no turismo, que muitos deles têm prejuízos e isso cria uma necessidade de venda ou então optarem por ter a casa em regime de arrendamento e ganhar menos”, refere Ricardo Sousa, CEO da Century21 Portugal. Acredita que neste ponto “vamos ver também um aumento da oferta, quem tinha três casas poderá vender duas”.

Francisco Horta e Costa, managing director da CBRE, diz ser “natural que os preços das casas abrandem ou desçam, porque o nível de confiança das pessoas desceu drasticamente numa semana”. “Tudo aquilo que tínhamos por garantido de repente foi posto em causa em meia dúzia de dias”, diz, adiantando que “quem tiver liquidez para investir provavelmente vai comprar melhor, e comprar para arrendar neste momento é uma boa opção”.

Por serem “áreas mais expostas, o alojamento local, os hotéis e o comércio (centros comerciais e de rua) serão as mais afetadas no imediato” diz Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal, que traça um cenário geral dos segmentos. “O residencial é das áreas mais defensivas quando falamos em transações imobiliárias, porque quando há um clima de incerteza as pessoas demoram mais tempo a tomar decisões”. O CEO considera que o teletrabalho para a área de escritórios “é um teste gigantesco a todos nós e que na esmagadora maioria dos casos está a ser superado”.

Sentimento partilhado por Eric van Leuven, CEO da Cushman & Wakefield. “Não acredito de todo no fim dos escritórios, porque também vamos dar-nos conta de que gostamos de estar rodeados das pessoas e precisamos delas para trocar ideias, mas acredito que o teletrabalho terá uma expressão ainda maior”, realça.

João Duque diz que a grande questão é saber quanto tempo o mercado imobiliário vai demorar a ser reanimado. “A minha expetativa é que no primeiro trimestre de 2021 consiga mais ou menos recuperar”, conclui.

Notícia publicada na edição semanal do Jornal Económico de 27 de março

'They are leading us to catastrophe': Sweden's coronavirus stoicism begins to jar




'They are leading us to catastrophe': Sweden's coronavirus stoicism begins to jar

There’s a surreal calm in the last country in Europe to hold out against lockdown. But the death toll is rising and some are voicing dissent

Derek Robertson in Malmö
Mon 30 Mar 2020 18.38 BSTLast modified on Tue 31 Mar 2020 02.06 BST

The Øresund Bridge – yes, that bridge – is an engineering marvel linking the Swedish city of Malmö and Copenhagen that normally transports 70,000 people daily. It has fallen eerily silent. Denmark is under coronavirus lockdown, and the Danes have imposed strict border controls. On the Swedish side, the Øresund remains open, although, understandably not many are making that journey.

It feels surreal in Sweden just now. Working from my local cafe, I terror-scroll through Twitter seeing clips of deserted cities, or army trucks transporting the dead in Italy, surrounded by the usual groups of chatty teenagers, mothers with babies and the occasional freelancer.

Outdoors, couples stroll arm in arm in the spring sunshine; Malmö’s cafe terraces do a brisk trade. On the beach and surrounding parkland at Sibbarp there were picnics and barbecues this weekend; the adjoining skate park and playground were rammed. No one was wearing a mask.

The global pandemic has closed down Europe’s economies and confined millions of people across the continent to their homes. But here, schools, gyms, and (fully stocked) shops remain open, as do the borders. Bars and restaurants continue to serve, and trains and buses are still shuttling people all over the country. You can even, if you wish, go to the cinema (it smainly indie fare: The Peanut Butter Falcon and Mr Jones were on at my local arthouse over the weekend).

The precautions that Swedes have been advised to adopt – no gatherings of more than 50 people (revised down from 500 last Friday), avoid social contact if over 70 or ill, try to work from home, table service only in bars and restaurants – seem to have allayed public fears that the shocking images from hospitals in Italy and Spain could be repeated here.

The prime minister, Stefan Löfven, has urged Swedes to behave “as adults” and not to spread “panic or rumours”.

Panic, though, is exactly what many within Sweden’s scientific and medical community are starting to feel. A petition signed by more than 2,000 doctors, scientists, and professors last week – including the chairman of the Nobel Foundation, Prof Carl-Henrik Heldin – called on the government to introduce more stringent containment measures. “We’re not testing enough, we’re not tracking, we’re not isolating enough – we have let the virus loose,” said Prof Cecilia Söderberg-Nauclér, a virus immunology researcher at the Karolinska Institute. “They are leading us to catastrophe.”

Strong words, but stoicism is a way of life here, as is unflappability. A 300-year history of efficient and transparent public administration, and high levels of trust in experts and governing officials, have left the public inclined to believe what they are told, and that those doing the telling have their best interests at heart.

“I trust that the doctors working with the government know what they are doing, so I suppose we’re as well prepared as we can be,” Robert Andersson, 50, a vendor manager in IT who lives in Södermalm, Stockholm, said. “This ‘hysteria’ that the media is launching is far more dangerous than the virus itself.”

Simon Strand, 30, a business consultant in Östermalm, Stockholm, agrees. “There is no reason to believe the authorities are not paying attention,” he said.

Anders Tegnell, Sweden’s chief epidemiologist, who is leading the government’s handling of the crisis, advocates a strategy of mitigation: allow the virus to spread slowly without overwhelming the health system, and without recourse to draconian restrictions. Just don’t call it “herd immunity”, a phrase that Tegnell, and the authorities, have steadfastly refused to use.

It says much for the transparency and accountability that Swedes expect from public figures that Tegnell remains so accessible to the media. With criticism of Sweden’s response to Covid-19 mounting, he has the slightly exasperated tone of a man tired of repeating the obvious when asked what he thinks of the growing concern and calls for a city-wide quarantine of Stockholm, given the very recent spike in cases there. On Monday, Sweden said it had recorded 3,700 cases and 110 deaths.

“Yes, there has been an increase but it’s not traumatic so far. Of course, we’re going into a phase in the epidemic where we’ll see a lot more cases in the next few weeks, more people in the ICU, but that’s just like any other country – nowhere has been able to slow down the spread considerably.”

Sweden’s nearest EU neighbours – the Danes, Finns, and Norwegians – have accepted a lockdown strategy, closing schools, workplaces, and borders weeks ago. “The problem with that approach is you tire the system out,” Tegnell said. “You can’t keep a lockdown going for months – it’s impossible.”

But such a situation may become inevitable. “The government thinks they can’t stop it, so they’ve decided to let people die,” Söderberg-Nauclér said. “They don’t want to listen to the scientific data that’s presented to them. They trust the Public Health Agency [Folkhälsomyndigheten] blindly, but the data they have is weak – embarrassing even.

“We are seeing signs of a higher doubling rate than Italy, Stockholm will soon have an acute ICU shortage, and they don’t understand that by then it will be too late to act. All of this is very dangerous.”

Tegnell gives such criticism short shrift: “There is no evidence whatsoever that doing more at this stage would make any difference. It’s far better to introduce stringent measures at very specific intervals, and keep them running for as little time as possible.”

While there is a constant reappraisal of the situation, Tegnell says Sweden has the crisis under control. “We believe we have the most important measures in place already. Of course, we might have to do more things, but we’re not there yet.”

For now, Swedes seem to believe him, going about their daily routines wondering if – not when – that point might be reached. Tegnell and the government have set their course, and while it is hard to doubt their sincerity, it is difficult to reconcile Sweden’s response with efforts across the rest of Europe. Perhaps other Swedes privately feel the same, but so far are unwilling to give voice to such concerns.

Orla Vigsö, a professor of crisis communications at Gothenburg University, sums up the dilemma. “People are starting to ask: are others stupid and paranoid? Or is Sweden doing it wrong?”

Dominic Cummings self-isolating with coronavirus symptoms





Dominic Cummings self-isolating with coronavirus symptoms

Boris Johnson’s top adviser remains ‘in contact’ with the prime minister.

By ANNABELLE DICKSON 3/30/20, 12:22 PM CET Updated 3/30/20, 12:25 PM CET

LONDON — Boris Johnson's senior adviser Dominic Cummings is self-isolating after showing symptoms of coronavirus over the weekend, a No. 10 official said Monday.

The U.K. prime minister tested positive for the virus last week. He has held videoconference calls from his flat in No. 11 Downing Street.

The No. 10 official said Cummings remains "in contact" with the prime minister.

Health Secretary Matt Hancock is also self-isolating after he tested positive for the virus.

Dutch face friendly fire as corona bond bad cops



Dutch face friendly fire as corona bond bad cops

Blunt stance sparks criticism at home as well as abroad.

By HANS VON DER BURCHARD AND ELINE SCHAART 3/30/20, 10:58 PM CET Updated 3/31/20, 4:44 AM CET

Too much, even for the Dutch?

Politicians and economists in the Netherlands have accused Prime Minster Mark Rutte's government of going too far in rejecting "corona bonds" to help countries hit hardest by the coronavirus, and by calling for the EU to probe why those states don't have the financial buffers to cope better with the economic shock.

The Dutch stance — and the blunt tone of Dutch leaders — has infuriated southern European countries such as Italy, Spain and Portugal, re-opening wounds still raw from the eurozone debt crisis a decade ago. At a time when thousands are dying and southern Europe is asking for European solidarity, the Dutch stand accused of saying the wrong things at the wrong time.

“The image that Italians have of the Netherlands has been drastically polluted in just a few days,” former Italian Prime Minister Enrico Letta told Dutch newspaper De Volkskrant. “And not just in Italy … Look at the reactions in Portugal and Spain. They are surprised, severely disappointed reactions. Nobody expected that the Netherlands, one of the founders of the European Union, would behave like this at just such a moment.”

The Dutch are no strangers to criticising the financial management of southern European capitals and Rutte and his Finance Minister Wopke Hoekstra are sticking to their guns. But their decision to take such a strident position in the current crisis has prompted reflection among the political class at home — even within Rutte's four-party coalition, where the socially liberal D66 party has voiced criticism.

"The Netherlands, like many other governments, enjoys that feeling of 'We're a little bit stubborn.' But it is becoming clear that they are playing with fire, because if Italy falls, then the eurozone and EU falls and then we fall as well," — Sophie in 't Veld, MEP

“The Netherlands got rich through the EU. Now that jobs and incomes are at stake throughout Europe because of the corona crisis, we cannot let our friends suffocate,” Rob Jetten, head of the D66 parliamentary group, tweeted on Friday. “Only together can we survive.”

Sophie in 't Veld, a D66 member of the European Parliament, said the government's "attitude and tone were so inappropriate and so blunt, and I do not think you need to be a northerner or southerner to feel that."

"The Netherlands, like many other governments, enjoys that feeling of 'We're a little bit stubborn.' But it is becoming clear that they are playing with fire, because if Italy falls, then the eurozone and EU falls and then we fall as well," she told POLITICO.

Even the president of the Dutch central bank, Klaas Knot, issued a veiled criticism of the government. “This is a test for the eurozone,” he told newspaper NRC Handelsblad. “When you see what is now happening with the coronavirus in countries like Italy and Spain, I find the call for solidarity extraordinarily logical.”


For some countries, the issue of European solidarity is crystalized in the issue of corona bonds — debt that would be backed by all members of the eurozone. The Dutch are not the only country to oppose the idea — Germany, Austria and Finland also have reservations — but they have been the most outspoken critics.

Knot said solidarity could come through corona bonds but also credit lines issued via the eurozone's bailout fund, the European Stability Mechanism (ESM) — an alternative solution championed by German Chancellor Angela Merkel and cautiously supported by the Dutch government.

Knot’s predecessor Nout Wellink was even more blunt in his criticism, saying that economic instability in Southern Europe would severely harm Dutch interests. “If the whole south collapses, the rich north ceases to exist,” he told Dutch national radio on Monday.

'Old arguments'
Opposition parties also lambasted the government’s approach. "Despite being faced by a shock inherently different from the eurozone crisis, the Dutch government has fallen back on the much-rehearsed arguments of ‘moral hazard,'" said Lodewijk Asscher, head of the Dutch Labor Party (PvdA).

"Failing to act means risking a crisis unparalleled in the history of the eurozone. The choice is between weathering this storm as a collective, or going under on our own."

Paul Tang, an MEP from PvdA, said Rutte and Hoekstra had not adjusted to a new reality. “In the Netherlands, a conservative fiscal policy is usually really popular,” he said. “But these old arguments don't make any sense in these new times."

Dutch diplomats have spent recent days on the phone trying to calm outrage among their EU partners, arguing in particular that Hoekstra had not intended to point fingers at any particular countries.

But Rutte, leader of the liberal VVD party, and Hoekstra have shown no signs of backing down. On Friday, Rutte again ruled out corona bonds and linked potential credit lines via the ESM to strict conditions.


“Look at the Netherlands, we have taken incredibly difficult measures over the past 10 years,” he said. “I would like other countries to do the same, and if they make use of this emergency shield, then they should also make arrangements to ensure that, should there be another crisis — economic or health or something else — that they are also able to deal with it.”

Despite the criticism at home and abroad, Rutte and Hoekstra have good domestic political reasons for sticking to their line, according to Rem Korteweg, a political analyst from the Dutch Clingendael think tank. The country faces a national election in a year and with the ruling coalition increasingly fractious, each partner is out to appeal to its base and to win popular support.

“Dutch politicians are first and foremost concerned with how they come across among their peers,” said  Korteweg. “The Dutch parliament embraces Rutte and Hoekstra’s approach.”

Hoekstra’s party, the center-right Christian Democratic Appeal (CDA), is looking for a new leader and the finance minister is considered a favorite for the job, alongside Health Minister Hugo de Jonge.

“Both are now trying to boost their profile — De Jonge by dealing with the corona crisis, while Hoesktra is doing that, among other things, by his performance in Brussels,” Korteweg said.

The Dutch style of politics doesn’t always go down well abroad, even if it gets results, said Korteweg, who last year co-authored a study about European perceptions of Dutch EU policy entitled "Effective without Empathy."

He said that what is seen in the Netherlands as a virtue — directness — is viewed in the rest of Europe as “rude, even a little insulting, and moralizing.”

The question for the Netherlands is whether the empathy deficit is now damaging its effectiveness.

Two days after Hoekstra made his controversial proposal last week, Agriculture Minister Carola Schouten asked for EU support to compensate the Dutch flower industry for the impact of the coronavirus crisis. Solidarity for tulip growers was not forthcoming.

“That the ministers didn’t think those two things would be connected is almost embarrassing,” said Korteweg.

domingo, 29 de março de 2020

Oportunidade única para vencer a crise climática


OPINIÃO CORONAVÍRUS
Oportunidade única para vencer a crise climática

Se a covid-19 apareceu de rompante, já a crise climática é conhecida pelo menos desde os anos 80 e reúne um consenso científico e político possivelmente sem precedentes. Não há desculpas para a inacção – nem mesmo a covid-19.

Nuno Quental
29 de Março de 2020, 20:00

Vivemos como que anestesiados pela actual tragédia provocada pela covid-19. Compreensivelmente, televisões e jornais dedicam-se a cobrir os mais ínfimos detalhes do que se passa. Da mesma forma que seguimos a Guerra do Iraque em directo, conhecemos a evolução do vírus em qualquer ponto do mundo e as medidas que governos e organizações internacionais têm lançado na tentativa de vencer esta guerra sui generis.

Permito-me, no entanto, chamar a atenção para o facto de existirem outras batalhas a travar, batalhas essas perante as quais nem agora podemos esmorecer. O facto de sermos temporariamente poupados a notícias sobre novos recordes de temperaturas, degelo polar ou extinção de biodiversidade não significa que não continuem o seu caminho – mas apenas que estamos, naturalmente, menos atentos.

É certo que a queda da actividade económica (aponta-se para uma quebra homóloga do PIB relativamente a 2019 na ordem dos 5-10%) acarreta uma espécie de moratória auto-imposta nas emissões de carbono ou exploração de recursos naturais. Mas também é verdade que, no momento em que escrevo, foram já prometidas à economia ajudas de pelo menos sete biliões de euros um pouco por todo o mundo, o equivalente a cerca de 5% do PIB mundial – tudo somado entre acréscimo de despesa pública, emissão de moeda, garantias de empréstimos e perdões fiscais. Esta reacção célere e peremptória é fulcral para evitar uma depressão socioeconómica, mas creio haver margem para melhorar tais medidas contracíclicas.

De facto, no desespero de recuperar actividade económica o mais rapidamente possível, corremos o risco de afrouxar legislação ambiental e, portanto, de enveredar por um rumo de desenvolvimento ainda mais insustentável do que o anterior à crise. Foi esta precisamente a mensagem da Polónia ao pedir que a Comissão Europeia isentasse o país do regime de comércio de licenças de emissão – que viu o preço do carbono cair 40% desde Julho de 2019. Não deixa de ser interessante, aliás, verificar que a fraqueza do mercado do carbono corrobora a existência de uma desaceleração económica anterior à covid-19. O mercado carbónico corre assim o risco de se tornar novamente uma inutilidade, à semelhança do que aconteceu entre 2011 e 2017. Será um teste à eficácia da reforma que sofreu há dois anos.

Mas, por muito que custe escrever isto, as crises são oportunidades para repensar decisões e realocar capital, usando-o de forma mais eficiente. Creio estarmos perante outro desses momentos históricos. A diferença é que, ao contrário de períodos anteriores de ‘destruição criativa’ que semearam as bases para sociedades mais prósperas, o actual poderá ser também fulcral para a própria sobrevivência da nossa civilização a longo prazo.

Neste momento crítico é preciso tirar partido dos enormes recursos mobilizados e exigir que os novos investimentos sejam compatíveis com um cenário de aquecimento global de 1,5°C e com o objectivo comunitário de atingir zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa em 2050 (de notar que, ao contrário do que se possa pensar, um nível neutro de emissões líquidas não requer zero emissões propriamente ditas, o que seria impossível, mas apenas que quaisquer emissões seriam compensadas pelo sequestro de carbono). Simultaneamente, os governos poderiam usar esses recursos para acelerar decisivamente a construção e adopção de energias renováveis e de tecnologias limpas. Parece incompreensível, face à urgência climática que requer uma duplicação do investimento em energias limpas até 2030, que na Europa este tenha decrescido 7% entre 2018 e 2019. Reptos semelhantes têm sido lançados por diversas organizações internacionais, por exemplo pelo director executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol.

É crucial não baixar a guarda e compreender que a crise ambiental em que já nos encontramos será ainda mais gravosa do que a da covid-19 caso falhemos as metas climáticas. Enquanto que a covid-19 será previsivelmente balizada no tempo graças às medidas em curso de distanciamento social e, esperemos, à invenção de tratamentos e vacinas, a crise climática assemelharseá mais a um fogo lento, duradoura e inescapável. E se a covid-19 apareceu de rompante, já a crise climática é conhecida pelo menos desde os anos 80 e reúne um consenso científico e político possivelmente sem precedentes. Não há desculpas para a inacção – nem mesmo a covid-19.

Stiglitz Says U.S. Did Not Learn Lessons From 2008 Financial Crisis

Coronavirus: how to tackle the economic crisis | FT

'As the president fiddles, people are dying': Nancy Pelosi slams Trump's...

Birds, buds and bright days: how spring can make us healthier and happier / Nature can be source of solace in crisis, says David Attenborough



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Birds, buds and bright days: how spring can make us healthier and happier
Health & wellbeing

Longer, lighter days can help us banish old habits, sleep better and improve our mental health, even during the lockdown

Amy Fleming
Sun 29 Mar 2020 15.00 BST

Thank goodness that, in this time of crisis, it is now spring. In the northern hemisphere, at least, we can say hello to green shoots, flowers, bumblebees and butterflies. Finally, the clocks have gone back to British Summer Time. We’ve lost an hour of sleep, but hello, light.

The greatest hope for the new season this year is that better weather will start to make it harder for coronavirus to spread. And for those lucky enough to still have their health, spring can provide other consolations. Its strong sense of a new beginning nudges our outlook and actions in welcome ways. Katherine Milkman, a behavioural scientist at the Wharton School at the University of Pennsylvania, has studied the phenomenon and found that there is more to spring cleaning than the sunlight suddenly showing up cobwebs and window smears. “The start of spring generally makes us feel more motivated – it’s a so-called ‘fresh start date’,” she says. As such, it makes us feel less connected to the past. “That disconnect gives us a sense that whatever we messed up on previously, we can get right now. Maybe the old you failed to quit smoking or start a lasting exercise routine, but the new you can do it.”

These moments, she says, also tend “to promote bigger-picture thinking, which gets us focused on our goals”. Whether facing health, financial or professional worries, newly working from home or home schooling, or being suddenly at a loss for something to do, Milkman says this effect can stretch “across all of our goal-oriented activities. We’ve seen that it affects everything from decisions about exercise to retirement savings.”

Spring can also fortify us with the relief it brings from seasonal affective disorder (Sad). Even if you do not have a clinical case of it, says Hugh Selsick, chair of the sleep working group at the Royal College of Psychiatrists, “most people will experience some degree of lifting of mood in the summer months”. Studies looking at populations in North America have illustrated this neatly, according to Selsick. “The further north you go, the worse our mood gets in the winter, because of that lack of light. For us [in the north] the payoff is that we also get these really nice bright long, spring and summer days.

“As humans, we evolved in a tropical place, where there was a lot more light,” Selsick says. This means our brains have evolved to expect a certain amount of it. “It’s probably why we are so susceptible to changes in light,” he says. And why the gloomier months can negatively affect sleep patterns and mood.

Sad symptoms that spring might alleviate include low mood, tiredness, sleeping longer than normal and, says Selsick, cravings of carbohydrates in particular. So feel free to harness this knowledge to fuel a new effort to start exceeding your five a day.

Now that most of us are only allowed out once a day, for exercise, the greatest gains in terms of making the most of spring light are to be had from stepping out first thing in the morning. Not only will getting up and out help avoid the crowds of joggers, but morning light is the most crucial for setting our circadian rhythms. “It’s much better at synchronising our body clocks and getting us back into sync with the outside world,” says Selsick.

When it’s dark, we produce melatonin, which acts as a time signal to the body, telling it we should be sleepy. “That first bit of light in the morning,” says Selsick, “is very effective at switching that melatonin off, which then tells the brain and the rest of the body it’s now time to be awake and active.

“We have a special set of receptors in our eyes which communicate directly with the body clock in the brain,” he adds. “They’re particularly sensitive to blue-green light, which on a [sunny] day like today is the colour of the sky. So that sort of bright sunlight, that outdoor light is what our brains are particularly sensitive to.” Exposure to this in the morning helps us to wake up and shake off bleary-eyed grumpiness. “And it helps to regulate our sleep. If your body knows when the day is starting, it’s easier for it to also know at what time it needs to start winding down and getting ready for sleep.” And of course sleeping well has the positive knock-on effect of giving you a better shot at feeling content and having good overall health.

The big danger with being locked down, warns Selsick, is “allowing your whole rhythm to drift”. Even if a temporary break from commuting allows you to sleep in a little, keep your waking-up time consistent to reap the benefits of the spring sunshine. “If you’re getting that first dose of light at a different time every morning, your body has no idea where it is in time,” he says. “You’re essentially jet-lagging your body by having a different rising time every day.” Setting regular meal times helps keep our daily rhythms in sync, too.

It’s essential that we make the most of opportunities to be outside, whether it’s that one permitted outing, or additional gardening, or spending some time on the balcony. “The more outdoors you can get the better, without getting in close contact with people,” says Selsick.

Getting some sun can fill our heads with new ideas, too. In 2005, psychologists at the University of Michigan found that half an hour out in the sun boosted not only mood, but also memory and creativity. To test the latter, they assessed changes in what they call cognitive broadening – “a style of thinking in which people become more creative and which is hypothesised to be an adaptive shift in cognition that leads to behavioral flexibility and exploration”, write the authors.

Late-evening light may be less likely to have an impact on circadian rhythms than morning rays, but, says Selsick, “people do generally report a better quality of life if they have some light in the evening”. Indeed. A 2016 study by researchers at Brigham Young University in Utah looked at six years of data from more than 16,000 adults and found that seasonal increases in hours of sunshine correlated with decreased mental health distress.

Longer days also seem to extend the amount of use we get from waking hours. When it’s light in the evenings, it feels like daytime for longer. Staying up to batch cook, bake bread or, in the current climate, have beers with friends over Zoom, will seem appealing all of a sudden. “Light does to some extent push sleep away a little bit,” says Selsick. “And people do often feel more alert when there’s bright light.”

And of course, with spring, light and warmth comes nature. April will see the return of swallows, swifts, cuckoos, martins and other feathery summer visitors. The more birds we see in our neighbourhoods, and the more greenery, the more robust our mental health will be, according to a 2017 study by the University of Exeter. In 2019, data from 20,000 British people crunched by researchers at the same university showed that the more time spent enjoying nature, the greater life satisfaction reported.

This is why GPs have been prescribing gardening as therapy. So plant some seeds and watch them grow, whether that’s in a flowerbed or a window-sill or balcony pot. Get a bird feeder – ensuring it’s inaccessible to squirrels, which are bird’s nest predators. Dig out your binoculars and indulge in some twitching, or figure out (with some online help) which song belongs to which bird.

The green shoots of a new chapter in our lives provide opportunities to do better, says Milkman. “The Covid-19 crisis is inaugurating a new era and shaking up our routines. Horrific as the crisis is, it presents an opportunity to size up our routines and consider what we want to change and how we can be better. I hope people will capitalise on that motivation and find ways to help one another (from a requisite social distance) and themselves achieve important goals.”

Yes, we are on lockdown. We may be emotionally exhausted and scared, but at least spring makes our daily outdoor exercise allowance more enticing. On warmer days, we can throw open the windows, let the fresh air flood in and expel the indoor pollutants that have accumulated from a winter’s worth of cooking and cleaning. We can welcome the reduction in traffic noise and fumes. These may be bittersweet byproducts of virus hell, but it’s all the better to hear the birds.



Nature can be source of solace in crisis, says David Attenborough

Broadcaster says in magazine interview that if we damage nature ‘we damage ourselves’

PA Media
Mon 30 Mar 2020 00.01 BST

David Attenborough
 David Attenborough spoke to the Big Issue in early March, before the UK went into lockdown.
The natural world can be a source of solace during times of crisis, Sir David Attenborough has said.

Speaking about the climate, the broadcaster and naturalist, 93, said the world was at an unprecedented point.

He told Big Issue magazine: “In times of crisis, the natural world is a source of both joy and solace. The natural world produces the comfort that can come from nothing else. And we are part of the natural world. If we damage the natural world, we damage ourselves.”

He also said he had cause for hope: “Kids these days are knowledgeable, aware of what’s happening, and are concerned. They are vocal. I haven’t known a generation of children that could be placed alongside these today.”

He said of the environment: “We’re in an unprecedented situation. We know quite a lot about the history of the world. We go back 500m years and there is no species with anything like the power Homo sapiens has over the natural world.

“There is nothing remotely like the situation we’re in at the moment. There’s no moral to be taken from what happened in the past. We’ve got a completely blank sheet of paper in front of us.

“The plain fact is that every mouthful of food you eat comes from the natural world. There’s no food that nourishes you that doesn’t come from the natural world. Every lungful of air that you take is refined by the natural world, oxygen breathed out by plants. If you can’t breathe and you can’t eat, you don’t exist.”

Attenborough was interviewed by the magazine in early March, before the UK went into lockdown.

He said: “Problems are short-term and long-term … the short-term we deal with and the long-term ‘we’ll do tomorrow’. But tomorrow never comes. And then suddenly we discover it’s too late.”

The full interview is in the current edition of Big Issue. Vendors are unable to sell it on the streets because of the coronavirus pandemic, but the publication and its beneficiaries can be supported via subscription.