Uma
maré humana em fuga de Alepo amontoa-se às portas fechadas da
Turquia
RITA SIZA 06/02/2016
- PÚBLICO
Governo
de Ancara montou campos temporários com abrigos e alimentos para as
populações que fogem da batalha de Alepo, mas manteve a fronteira
fechada.
O cerco das forças
governamentais a Alepo ameaça precipitar uma nova crise humanitária
na Síria, com cerca de 400 mil habitantes em risco, encurralados
dentro da cidade que era o principal centro comercial e financeiro do
país antes do início da guerra, e dezenas de milhares de pessoas em
fuga, a pé, numa marcha até à fronteira turca onde se concentram
já mais de 70 mil refugiados.
A Turquia, onde já
se encontram 2,5 milhões de refugiados sírios, não deu autorização
de entrada a este novo contingente de sírios desesperados por fugir
do conflito, que tomou conta do território de Alepo. Em campos
temporários para refugiados, instalados de urgência juntos dos
principais postos fronteiriços pelo Governo de Ancara e várias
organizações internacionais, foram albergadas mais de 70 mil
pessoas – um número que pode facilmente duplicar se o actual
fluxo, que vê chegar cerca de 35 mil pessoas por dia, se mantiver
constante. Mas a expectativa é que, à medida que o combate
endurece, o movimento das populações aumente exponencialmente.
O primeiro-ministro
turco, Ahmet Davutoglu, garantiu que os refugiados sírios não
ficariam sem abrigo ou alimentação, mas nada disse sobre a abertura
da fronteira ou o processo de acolhimento no seu país. Em
Amesterdão, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União
Europeia, reunidos numa cimeira informal, pediram a Ancara para abrir
a fronteira à passagem dos refugiados, lembrando que o acordo de
cooperação assinado com a Turquia visava garantir, precisamente, o
acolhimento e protecção das populações sírias deslocadas pela
guerra.
O governador da
provincial turca de Kilis, Suleyman Tapsiz, disse à Associated Press
que o posto de Oncupinar permaneceria fechado pelo segundo dia
consecutivo, mas garantiu que eram as autoridades turcas quem estavam
a acudir aos cerca de 35 mil sírios concentrados no outro lado da
fronteira, em Bab al-Salam. “Foram instalados campos para abrigar
estas pessoas, e de momento não vemos necessidade de elas entraram
no nosso país”, disse o mesmo responsável, que estimou que a
passagem seria aberta no caso de uma “crise extraordinária”,
cujos contornos se escusou de descrever.
O assessor do
secretário-geral das Nações Unidas disse que no campo provisório
de Afrin entraram 10 mil refugiados na sexta-feira, e que mais cinco
mil pessoas tinham chegado à localidade de Azaz, nos arredores de
Alepo, “empurradas” pelo avanço das tropas do Governo. Farhan
Haq repetiu o alerta da ONU para as dificuldades de transportes e
comunicações resultantes da intensificação dos combates, que
impedem as organizações internacionais de prestar assistência
local e tornam ainda mais perigosos os fluxos de refugiados.
A Reuters falou com
Muhammed Idris, um habitante que deixou Azaz com medo da aproximação
das tropas sírias, e esperava há quatro dias pela oportunidade de
entrar na Turquia. “Ouvimos o [Presidente turco] Recep Tayyip
Erdogan dizer na televisão que sírios e turcos eram irmãos. A
nossa casa foi destruída e por isso viemos para a dele, para onde
mais iríamos? Mas ele fecha-nos a porta”, lamentava.
Com metade da
população deslocada dentro do país ou no estrangeiro, a província
de Alepo era, actualmente, a mais populosa da Síria. A nova ofensiva
governamental gerou o pânico: além do avanço do Exército, apoiado
por combatentes de Hezbollah e outras milícias xiitas iranianas, a
população foge dos ataques da aviação russa – e da perspectiva
de um cerco prolongado como o de Madaya, onde dezenas de crianças e
idosos morreram de fome.
O Exército sírio
já conseguiu cortar as linhas de abastecimento a Alepo, parcialmente
destruída depois de três anos de confrontos e meses de
bombardeamentos. “A situação humanitária é catastrófica. A
população está desabastecida de comida ou energia, o auxílio da
comunidade internacional é urgente e crucial”, dizia um porta-voz
da oposição citado pela agência independente curda ARA News.
Além do apoio
humanitário, os grupos que compõem o chamado Exército Livre da
Síria, que combate o regime de Bashar al-Assad, reclamam apoio
militar e logístico aos seus aliados, principalmente os Estados
Unidos e a Arábia Saudita. “Sustentados nos bombardeamentos
russos, os soldados do Governo conseguiram capturar a localidade de
Ratyan, ao fim de dias de confronto com a Frente do Levante”,
confirmou Saleh Zein, um dos porta-vozes dos rebeldes na região.
Ratyan foi a
terceira grande perda em menos de uma semana para as forças rebeldes
moderadas, que ultrapassadas na sua capacidade foram obrigadas à
retirada. Perante a anulação da sua vantagem no terreno, a Arábia
Saudita e o Bahrain mostraram-se disponíveis para mobilizar tropas e
participar em acções terrestres na Síria, desde que fossem
comandadas pelos EUA: em Damasco, o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Walid al-Moualem garantiu que “todos os que violarem
as fronteiras sírias serão deportados para os seus países em
caixões”.
Syrians gather at
the Bab al-Salam border gate with Turkey
EU
urges Turkey to open its borders to Syrians fleeing war-torn Aleppo
Oncupinar
border remained closed despite an estimated 70,000 people expected to
head there in coming days
Chris Johnston and
agencies
Saturday 6 February
2016 17.15 GMT
The European Union
has urged Turkey to open its borders to thousands of Syrians fleeing
an onslaught by government forces and intense Russian airstrikes.
Turkey kept its
Oncupinar border crossing closed on Saturday despite a significant
increase in the number of arrivals to the European gateway in the
past 48 hours.
As many as 70,000
people are expected to head for the border in the coming days, said
Suleyman Tapsiz, governor of Turkey’s Kilis border province. There
are already between 30,000 and 35,000 displaced Syrians on the Syrian
side of the border being cared for by Turkey. Aid workers said the
refugees were being directed to nearby camps.
Fifteen Syrians
injured in bombings near Aleppo were allowed into Turkey through the
crossing late on Friday night, but the Turkish government had not
directly responded to the EU’s comments on Saturday evening. “Our
doors are not closed, but at the moment there is no need to host such
people inside our borders,” Tapsiz said.
Although the
Oncupinar crossing remained closed, the Turkish foreign minister,
Mevlüt Çavuşoğlu, said after a meeting with EU foreign ministers
in Amsterdam that his country would maintain its open border policy.
Approximately 2.5 million Syrians are now living in Turkey.
EU foreign policy
chief Federica Mogherini said the support being provided by the union
to Turkey was aimed at guaranteeing that Ankara could protect and
host all Syrians fleeing the war-torn country. On Thursday, the EU
approved €3bn (£2.3bn) to help Turkey cope with the number of
people.
EU foreign ministers
have discussed with their counterparts from Balkan states possible
ways of stemming the flow of people through the region. More than one
million refugees, mostly Syrian, have arrived in the EU in the past
12 months. Most have crossed into Greece from Turkey before making
their way through the Balkans to Germany and other countries such as
Sweden.
Earlier this week,
the EU said Greece had to re-establish full control over its border
with Turkey to preserve the Schengen zone. If Greece failed to do so,
Brussels could allow other member states to extend border controls
for up to two years – an option officials say they want to avoid at
all costs.
An estimated 850,000
people arrived in Greece last year, overwhelming its coast guard and
reception facilities. Aid groups say the country is able to provide
shelter for just 10,000 people – just over 1% of the total.
With Greece unable
to control the influx, some EU nations are now looking to help
Macedonia – which is not in the EU – stop them at its southern
border before they reach the Schengen zone of border-free travel.
The Hungarian
foreign minister, Peter Szijjarto, said: “If Greece is not ready or
able to protect the Schengen zone and doesn’t accept any assistance
from the EU then we need another defence line, which is obviously
Macedonia and Bulgaria.”
Hungary’s
right-wing government has taken one of the hardest lines against the
refugee crisis and closed the main land route for arrivals into the
EU last September. The country has led calls to build a fence along
Greece’s northern border in the same way it built a razor-wire
barrier along its own southern frontier last year.
Austria’s foreign
minister, Sebastian Kurz, said the EU did not seem to appreciate the
seriousness of the situation. “I say this very clearly – if we do
not manage to control the situation ... our only option will be to
cooperate with Slovenia, Croatia, Serbia and Macedonia,” he said
after the Amsterdam meeting.
Nikola Poposki, the
Macedonian foreign minister who was also in Amsterdam on Saturday,
said its army had been deployed to bolster border security. “They’re
making sure that we have decreased the illegal crossings through our
border and we’re going to continue to make these efforts,” he
said.
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