Moita Flores. "Eu também quero que a troika se lixe! Eu não quero isto"
Por Sérgio Soares
publicado em 27 Maio 2013 in (jornal) i online
Quando entreguei a medalha de Santarém ao Eng.º Sócrates, os barões do PSD reclamaram de mim todas as penitências
Moita Flores sente-se um cidadão do mundo. E diz que também não se sente estrangeiro em lado nenhum onde se fale português. Com esta afirmação resolve de uma assentada os que o criticam por não ser de Oeiras e candidatar-se à respectiva Câmara Municipal. Transmite uma aparência calma, de alguém determinado que já pisou muito mundo e comeu o pão que o diabo amassou na emigração e, ao mesmo tempo, não esconde a paixão pelos projectos em que se vai envolvendo. Sobre Oeiras, elogia o trabalho de Isaltino Morais e diz que agora quer ajudar o concelho a passar para o patamar da "excelência".
Se estivéssemos na sua terra, no Alentejo, era caso para dizer "isto anda mau, compadre!"
Isto está mau. Está mau... Vejo isto mau... E agora o compadre dizia: "muito mau!.."
Está mau porque estamos numa encruzilhada sem destino certo. O governo insiste numa política que muita gente não compreende, mas que tem o apoio internacional, e isto é um dado incontornável da comissão europeia, do FMI, do BCE, dos vários países da UE. Mas nós, em Portugal, não conseguimos compreender esse apoio, nem conseguimos perceber como é que isto vai ser o motivo para entrarmos naquilo que é decisivo para o país pagar as suas dívidas e nós termos melhores condições de vida para as quais é preciso ter crescimento. Um país que produz menos do que aquilo que consome e, neste momento, pelo serviço de dívida paga de mais, não subsiste... Isto é irrealizável a longo prazo.
E então, acha que este caminho é o caminho certo?
Não sei, porque oiço alguns especialistas dizer que vêem nele o melhor dos caminhos. O mais difícil, mas o que melhor resultados dará. Vejo outros que, de uma forma avassaladora, atacam e acham que este é o pior dos caminhos. Basta pensar em três Presidentes da República. O actual, Professor Cavaco Silva, fala de uma maneira, o Dr. Mário Soares fala de outra, mais radical, e o Dr. Jorge Sampaio fala de uma forma mais conciliadora. Nem ao nível daqueles que já nos governaram e dirigiram o país, há unanimidade sobre o caminho a seguir. E isto revela depois, nos grandes debates de economia, toda a contradição que existe e envolve esta discussão que julgo que é, do ponto de vista psicológico, uma forma de nos deprimir... e julgo que, por outro lado, aquilo que há a fazer é criar condições para dar esperança. Não existe futuro para um país sem esperança, nem para uma família ou comunidade. É preciso esperança. E isso é contraditório, porque se nós temos filhos, se temos alunos, se temos jovens, não podemos retirar a esperança. O nosso maior défice é esse. E o outro défice enorme é o da construção de sonhos e tem a ver com este radicalismo político que se instalou, em que cada um é do tamanho do seu umbigo sem capacidade de falarmos uns com os outros. Este foi o pior dos erros que se cometeu.
No PSD há vozes importantes e discordantes desta política, veja-se, por exemplo, Manuela Ferreira Leite. Não se pode dizer que ela seja da oposição...
(Ri-se)...Eu julgo que isto tem graça, sabe, porque estão aqui umas ironias da História muito engraçadas. Quando eu, ao serviço de Santarém e servindo o concelho, entreguei a medalha de ouro ao Eng.º José Sócrates e ao Professor Cavaco Silva levantaram-se os barões todos do partido, esses que agora ouvimos, reclamando de mim não sei quantas penitências. São exactamente hoje aqueles que são mais agressivos contra o governo e aqueles que mais atacam o executivo. Não sei se o conjunto de críticas é ditado por um conhecimento, uma nova forma de fazer política, ou se é ditado por rancores antigos e velhos ressabiamentos por não se estar lá. Enfim, hoje confundem-se muito os desejos com os discursos. Mas, efectivamente, o PSD está dividido, o CDS está dividido. O PS fez um grande esforço de cosmética para estar unido. Os únicos que estão sempre unidos são os do PCP.
O Moita Flores acredita que não há outro caminho?
Eu quero acreditar que existe. Não vi nenhuma alternativa em cima da mesa e eu queria que ela aparecesse. Não tenha dúvidas que eu votaria nessa alternativa. Se houver um caminho sensato a seguir, ponderado e que não ponha em perigo o país e o destino dos nossos filhos...
Mas esta actual política está a resultar nisso...
Está a resultar nisso. Mas eu não vejo outra! Aquela ideia do "vamos sair do euro", "vamos abandonar a troika" ou "que se lixe a troika" é muito fácil de dizer. Eu também quero que a troika se lixe! Eu não quero isto. Mas não tenho quem me ofereça outra coisa. Oferecem-me a demagogia, a retórica e o folclore. Muitas vezes confundimos política com protesto. Faço parte de uma geração que protestou antes do 25 de Abril, e que teve lutas sérias. Protestávamos, mas queríamos um compromisso. Esse veio com o 25 de Abril. Agora retórica do protesto, sem alternativa séria, nós sentimo-nos cercados. Se me pergunta se eu concordo com esta política ou se discordo dela, do ponto de vista da minha liberdade sinto-me cercado, sem ter capacidade de escolha.
Os portugueses protestam, refilam, eu refilo muito, não sou um fiel do governo, mas o meu refilanço também é uma impotência, porque nós precisamos do compromisso e isso não encontro.
Mas esta postura de bom discípulo e de aceitar tudo...
Eu nunca fui isso!
Refiro-me à relação do governo com as instâncias financeiras internacionais...
O drama... isso não vai acabar. Esse discurso apocalíptico faz parte dos indivíduos que nem têm sentido de pátria. Isso não vai acabar. Nós já passámos por períodos muito mais difíceis do que este.
Mas o facto de sistematicamente as previsões macro-económicas da troika se revelarem erradas...
Só revela que eles são todos incompetentes. São incompetentes, tanto os tipos da troika como os que negoceiam com a troika e ainda os que discutem a troika, porque todos eles falharam. E vêm sempre com discursos apocalíticos. Ora, já vivemos momentos muito mais críticos e sobrevivemos. Estou a lembrar-me de 1918. Foi a bancarrota, logo a seguir à Primeira Guerra Mundial, que ganhámos com os aliados, apesar da humilhação tremenda de La Lys. Foi também o ano da gripe pneumónica em que morreram 150 mil portugueses; foi o ano das filas de espera para o racionamento, da sopa do Sidónio, e foi o assassinato do próprio Sidónio! Se houve annus horribilis na nossa vida colectiva recente foi esse ano. Passámos por outras coisas difíceis, estou a lembrar-me da bancarrota a seguir ao Ultimato inglês, à política do Fontismo, em que também estoirámos e ficámos nas mãos dos ingleses, como agora estamos nas mãos dos alemães...
Parece que recorrentemente caímos nos mesmos erros.
Nos mesmos erros. Tivemos várias bancarrotas ao longo da nossa História. E eu recuso-me a entender um momento difícil como o fim do país. Tenho um orgulho profundo em falar português, em escrever português... e em sentir que esta pátria produziu um dos maiores patrimónios da humanidade que é a sua língua. E ainda ninguém perguntou à senhora Merkel quanto é que custa ter 250 milhões de pessoas a falarem em português? Quanto é que isso vale? O Vítor Gaspar devia saber isto! Neste património grande que entregámos à humanidade qual é o valor no Excel da língua portuguesa? E este património, esta cultura e esta forma de existir? Recuso-me a aceitar que está na véspera de cair de um precipício onde vamos todos morrer. Até porque tenho netos e filhos que são o centro da minha vida e acredito que vão ser felizes dobrando todos os cabos das tormentas.
Mas, olhando para o lado, vê-se os jovens a emigrar, a fuga de cérebros...
Os meus filhos estão na emigração. Portanto sei do que falo. Eu fui emigrante. Eu não tenho esses complexos.
Falava da sangria de cérebros...
A sangria de cérebros existirá sempre. A nossa língua produziu universalidade. Portugal é dos países mais universalizados. O que é perfeitamente conservador, reaccionário, diria mesmo proto-fascista, é nós enclausurarmo-nos dentro dos limites da nossa rua. Isso é que nos destrói. E continuarmos a olhar para o país como uma rua, uma fronteira...que já nem temos.
Mas o discurso das lideranças não é animador. É de desesperança.
Exactamente. O grande drama da nossa classe política é viver a cultivar e divulgar o pessimismo e estas visões fatalistas da História. Eu julgo que é por ignorância, porque muitas vezes o Excel substitui o compêndio da História. E a História não é mais nem menos do que o concentrado da nossa memória. E a nossa memória só faz sentido se formos procurar o que de pior já vivemos para percebermos que é possível vencer e atravessar esta crise.
Então, ainda não é desta que acabámos como nação...
Se fosse para acabarmos como nação nem faria sentido estarmos aqui a falar. Não fazia sentido haver governo, não fazia sentido candidatar-me a uma autarquia se vamos acabar. Preferia gozar os últimos dias antes da matança final dos inocentes... Isso é ridículo.
Se resolvermos esta crise gravíssima, acha que vamos aprender alguma coisa para o futuro?
A História mostra que nunca aprendemos. Quando se lê "As causas da Decadência dos Povos Peninsulares", do Antero de Quental, ou o "Labirinto da Saudade" do Eduardo Lourenço, percebe-se que somos os poetas do desenrasca. Fora de Portugal, vivemos sempre com níveis de competitividade e produtividade enormes. Tanto conduzimos táxis no Alaska, como vivemos numa palhota do centro de África, com o mesmo à-vontade com que vivemos nas Avenidas Novas em Lisboa. Somos estes grandes artistas do improviso. E o improviso está muito associado à nossa construção como portugueses e à diáspora e à forma como nos construímos no mundo. Eu não sei se uma crise destas será o suficiente para fazer das nossas cabeças cabeças alemãs ou dinamarquesas. Eu acho e espero bem que não o faça, porque nós somos nós! O que não nos podemos é voltar a entalar como agora e noutras alturas do passado.
Então sempre vamos aprender alguma coisa desta vez?
Acho que sim. As novas gerações vão aprender alguma coisa. Até porque hoje o sentido de pátria integrada, esta ausência da noção de fronteira, este cosmopolitismo que resulta da União Europeia, está a produzir gerações com cabeças diferentes. Os meus filhos não têm consciência que são emigrantes. Só agora se começou a falar de emigração. Eles andam nessas vidas na Europa e na China há 15 anos e nunca tiveram consciência disso. Nós vivemos dos anátemas da velha emigração. Eu sou desse tempo. E quando se fala disso, estamos a falar de milhares de ilegais que saltavam a fronteira debaixo de tiros, sem documentos, e que iam para os bidonvilles de Paris e outros destinos para viver como verdadeiros escravos a executar trabalhos dificílimos. A Europa tem uma dívida para com Portugal. Foram décadas de mão-de-obra escrava até à sua emancipação.
Acha que temos valorizado o nosso património cultural e linguístico?
Não valorizamos. Nem o da cultura nem o da língua, nem o património da nossa capacidade de resiliência e sobretudo a maior das capacidades que temos que é o da integração e de cooperação de braços abertos.
O ministro das Finanças da Alemanha. Shauble, diz que os países do Sul da Europa têm inveja da Alemanha...
Ele é que tem inveja de nós porque não tem sol, não tem mulheres bonitas. Eu não tenho inveja de nenhum alemão. Quando muito tenho admiração pelo esforço de reconstrução colectivo da Europa, nomeadamente de Portugal, de que a Alemanha beneficiou. Por acaso, as memórias mais negras das nossas gerações são da Alemanha pelo mal que nos fizeram com as suas guerras brutais.
Já falámos do mundo. Regressemos a Oeiras. O que é que o move ao candidatar-se aqui à câmara de Oeiras?
Eu fui convidado pelo PSD para este desafio estraordinário. Este concelho transformou-se, graças ao presidente Isaltino ao longo de 30 anos, num concelho de referência do país. Chegou o momento de se transformar num concelho de excelência.
Tem noção que este é dos melhores concelhos do país?
Sim, sem dúvida. Como acabei de reconhecer. A obra realizada ao longo destes trinta anos fez com que Oeiras se transformasse num concelho de referência. Conheço isto muito bem desde 1974. Isto era uma vilória sem significado e Isaltino teve aqui um papel decisivo no arranque do concelho com objectivos estratégicos. Daí prestar-lhe esse tributo e reconhecer que transformou este concelho numa referência para o país. Oeiras está num ponto para mudar e para mudar para a excelência. Vamos aproveitar tudo o que temos de bom sem destruir, mas vamos continuar essa construção. É esse o grande desafio que Oeiras nos propõe. Falta ligar tudo isto. Nós temos boas escolas e bons professores, mas só temos uma no ranking das melhores escolas. Temos de apostar no investimento das crianças e dos jovens e de ter melhores estudantes. Daí que lhe anuncie algumas medidas que constam do nosso programa e que são compromissos que assumimos de forma muito séria. O primeiro deles, ao longo de todo o mandato - numa primeira fase até ao 4.o ano - mas depois em todo o ensino obrigatório, será o de libertar gratuitamente os livros escolares para que deixe de ser um peso no orçamento das famílias. Será criada uma grande bolsa de livros para depois serem entregues e partilhados com os alunos que vêm a seguir sem o medo de não haver orçamento familiar para os comprar.
Uma política de livro único?
Não. Os livros são escolhidos pelas escolas. Vamos criar o processo para que isto aconteça e sem prejudicar ninguém mas favorecendo as famílias e os estudantes. O ensino tem de ser tendencialmente gratuito, apesar de toda a turbulência que existe no sistema educativo não vamos permitir que essa turbulência tenha tantos reflexos em Oeiras como no resto do país. Investir nos nossos jovens e nas escolas de qualidade é a forma de assegurarmos um tecido social mais coeso e fraterno. Temos a maior concentração de empresas de tecnologias e vamos transformar Oeiras num concelho digital e disponibilizar internet por wireless em qualquer sítio. A ideia é fazer de Oeiras o epicentro de um foco potente de luz da área metropolitana de Lisboa. Queremos incluir Oeiras na lista das 100 cidades inteligentes do mundo. Oeiras será uma comunidade sustentável ao fim de quatro anos. Esta projecção nacional e internacional de Oeiras será possível também graças ao trabalho que já foi feito anteriormente no concelho. Agora vamos fazer o upgrade desse trabalho.
Nas suas visitas ao concelho, apesar da sua modernidade, já viu que também há bolsas de pobreza...
Há grandes desequilíbrios comuns às grandes metrópoles. Oeiras construiu- -se num quadro metropolitano e foi procurada por gentes de todos os lados com uma multiculturalidade dispersa e diversa e com todos os reflexos dos dramas das metrópoles. As bolsas de pobreza, enfim, todos os indicadores feios que existem no país e particularmente nas grandes metrópoles.
Queremos proceder a mais políticas de integração através de uma dimensão relacional culta com os outros. Isto é: não separarmos a sociedade entre angolanos, portugueses, cabo-verdianos porque isso não corresponde à nossa génese histórica. Somos todos daqui, tenhamos vindo de Cabo Verde, de Angola, Moçambique, do Brasil. Somos todos de cá. Isso fará com que olhemos para os mais desfavorecidos não em termos de côr de pele, raça, religião ou idade.
O que acabou de dizer sobre as diversas origens dos habitantes do concelho leva-me a si. É alentejano, já foi presidente da câmara de Santarém, agora está aqui. Encara esse processo com naturalidade?
Só não encara isso com naturalidade quem ainda vive no século XIX, quando não havia televisão nem transportes. O Marquês de Pombal não era de Oeiras, o Isaltino não é de Oeiras. Essa ideia do "não ser de cá" tem muito a ver com o espírito aldeão retratado por Júlio Diniz, com o seu provincianismo. Somos todos de cá, os que temos esta língua matriz.
A sua passagem por Santarém deu-lhe alguma experiência que aqui lhe possa ser útil?
Serve de base pela experiência: primeiro porque apanhei uma câmara arruinada que me obrigou a um esforço extraordinário de fazer omeletes sem ovos. A câmara não tinha um tostão. Devo dizer que hoje continua com as mesmas dificuldades financeiras. Isso obrigou a uma imaginação muito grande para fazer o que se fez. Santarém não tem nada a ver com Oeiras. Tinha apenas 60% do saneamento básico. Deixámos Santarém com 92% de saneamento. O serviço municipalizado valia 30 milhões de euros e hoje vale 90 milhões. Requalificámos todo o património e espaço público e os seus belos jardins, etc. Recuperámos a auto-estima daquela gente que vivia deprimida. Foi preciso "inventar" milhões onde não havia tostões...
E quanto a elefantes-brancos em Oeiras?
Em Oeiras há elefantes-brancos e que estão associados a zonas nublosas que nós não conhecemos bem. Tenho medo de alguns projectos que aí estão. Medo, no sentido de estar preocupado com a forma como os vamos resolver, nomeadamente o SATU, o Centro de Congressos. Não sei como se vai resolver o SATU. Uma coisa sei, o Centro de Congressos tem de ser concluído porque faz muita falta ao concelho. Precisamos de mais investimento no apoio à terceira idade e aos jovens. Temos uma grande preocupação com o envelhecimento do concelho. O crescimento fulgurante da população jovem parou há seis, sete anos. Há cada vez mais idosos com muitas necessidades. Queremos duplicar o apoio em dinheiro na assistência medicamentosa e social. Vamos dar muita atenção à terceira idade. É uma promessa para cumprir e não para arrecadar votos.
Tem noção do desafio que o espera?
É um desafio fascinante. Mas isso não é nada. Difícil, difícil, é transferir a população de uma aldeia (Aldeia da Luz) para outra; entrar num cemitério - e fiz esse trabalho com o Dr. Isaltino, enquanto ministro das Cidades - e mudar 1200 cadáveres para outra aldeia. Isso é que é difícil e ultrapassa o sobre-humano porque estamos perante os sentimentos mais radicais das pessoas e temos de viver com eles. Devo dizer que fiquei com uma belissíma experiência desse trabalho com ele que ainda hoje é reconhecido pela comunidade científica. O meu caminho em Oeiras é um grande desafio, mas não tem a barreira da derrota nem do pessimismo.
Autárquicas. Os casos mais complicados para o PSD.
Por Pedro Rainho
publicado em 27 Maio 2013
Distritais do PSD confiantes num bom resultado, apesar da austeridade e da insatisfação com o governo
Por todas as razões e mais alguma, o PSD terá pela frente quatro meses de uma campanha autárquica com muitas dificuldades, numa altura em que o país discute mais medidas de austeridade, como despedimentos de funcionários públicos ou cortes nos pensionistas. Os líderes distritais ouvidos pelo i recusam deitar a toalha ao chão antes de se saberem os resultados finais, é certo. Mas, a menos de meio ano de se iniciar um novo ciclo para a liderança local, e tudo somado, há candidatos que não sabem se poderão candidatar-se, militantes que viraram as costas ao partido para irem à luta por sua conta e risco e outros que lançam farpas para dentro – e para eleitor ver –, tentando livrar-se do jugo pesado de um partido que lidera o governo em tempos de crise.
Com a campanha na rua, o PSD arrisca-se a perder alguns dos seus principais candidatos - o caso de Fernando Seara e Luís Filipe Menezes – à beira das eleições. Com decisões judiciais favoráveis a ambas as interpretações da lei – poder ou não um autarca recandidatar-se noutro município –, Lisboa e Porto são apenas dois dos locais onde a dúvida persiste: conseguirá o PSD ver o seu escolhido desejado ir às urnas? Luís Filipe Menezes já anda em campanha pelo Porto, depois de o Tribunal da Relação ter levantado a providência cautelar interposta pelo Movimento Revolução Branca contra a sua candidatura. E em Lisboa, Fernando Seara garante que só vai para o terreno quando souber em definitivo se pode ou não ir a votos.
Algo que poderá só acontecer já (demasiado?) perto do momento eleitoral, quando o Tribunal Constitucional se pronunciar sobre a matéria. E se do palácio Ratton não vier um parecer favorável? Oficialmente, e para já, o partido mantém a confiança nos nomes escolhidos.
Governo treme mas não cai
Há menos de um mês, Passos Coelho pôs as cartas na mesa, garantindo que as autárquicas não serão uma “espécie de antecâmara do colapso nacional”. Ao contrário do que fez António Guterres, que se demitiu a seguir a um mau resultado dos socialistas nas eleições locais, o primeiro--ministro garante que com ele “não haverá pântanos em Portugal”.
Os mais críticos do governo já falam, porém, na convocação de um congresso extraordinário se o PSD sofrer uma derrota pesada. “Admito que se a derrota for grande isso possa tornar insustentável que o partido sustente um presidente que não consegue dar a volta ao país”, disse António Capucho, na RTP.
Apesar de todas as barreiras que tiveram e terão de superar, os responsáveis distritais do PSDacreditam que os eleitores sabem separar as águas. “Há uma separação clara do plano local para o plano nacional”, garante Miguel Pinto Luz. Ainda sem candidato garantido para a capital, o líder da distrital de Lisboa confia na “capacidade de distinção” dos lisboetas e fala mesmo em “níveis de aceitação muito grandes” na rua.
Virgílio Macedo prefere falar numa “maturidade dos portugueses”, que saberão separar as eleições para locais, das nacionais. O deputado e presidente da distrital do Porto acrescenta ainda que os “estudos” que o partido tem realizado “não traduzem essa penalização tão acentuada” sobre os candidatos do partido.
Este fim-de-semana, Carlos Carreiras, candidato a Cascais, recorreu-se da retórica política para defender o partido: “Se as eleições autárquicas servissem para penalizar os governos nacionais, acredito que o PSD teria 100% [de votos], porque o PS seria altamente penalizado, já que é o grande responsável” pela situação do país. Também presente na conferência promovida pela JSD/Lisboa, o primeiro vice do partido, Jorge Moreira da Silva, defendeu que as próximas eleições “são especiais”, não porque “alguns as olham como muito difíceis para o PSD”, mas porque “ocorrem num momento em que o poder local” pode participar “num novo momento de desenvolvimento que vá além de um resgate económico e financeiro.
Lord Byron museum to open in Palazzo Guiccioli in Ravenna
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