A SIC NÃO CONSEGUIU IMPOR AS SUAS AUDIÊNCIAS AO MERCADO
Por:Eduardo Cintra Torres (ectorres@cmjornal.pt)
A TVI e a RTP abandonaram na segunda-feira a CAEM, o órgão que deveria auto-regular os media e outras instituições no que toca à medição de audiências de televisão. A CAEM teve o que quis: maltratou dois dos três operadores generalistas ao negar uma nova auditoria à medição trapalhona da GfK, que ela adoptou num processo sem transparência e prejudicial ao mercado de televisão. A decisão da TVI e da RTP torna a CAEM inútil, o que a obriga a tentar um compromisso a partir de uma posição de fraqueza se quiser TVI e RTP de volta. Acabou em desastre a chefia da CAEM pela PT e pela SIC, a principal interessada na audimetria da GfK. A telenovela continua agora com um representante dos anunciantes a presidir à CAEM.
JÁ AGORA
ELE HÁ CADA COINCIDÊNCIA
Qual é a agência de "comunicação" da empresa presidida por Luís Mergulhão, o anterior presidente da CAEM, e principal responsável pela escolha da GfK? A agência LPM. E qual é a agência da CAEM? A LPM. E a agência da APAN, dos anunciantes, sempre do lado da GfK? A LPM. E a agência da GfK? A LPM. Mas nem com tanta "comunicação" concertada "resolveram" o problema GfK.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/eduardo-cintra-torres/a-praga-dos-famosos-domina-a-televisao
25 de Julho de 2012
Movimentos na guerra das audiências televisivas
(Crónica da edição de 22 de Julho de 2012)
José Queirós
Os leitores que tenham interesse em acompanhar o conflito em torno da medição de audiências televisivas, que desde há alguns meses agita as empresas operadoras e outros interesses em seu redor, talvez se recordem de um título extraordinário publicado neste jornal no passado dia 7 de Março, data em que a controvérsia ganhou visibilidade pública. Rezava ele: “RTP1 sem espectadores durante 30 minutos na tarde de terça-feira” (véspera da notícia).
Embora a peça assim intitulada referisse repetidamente um “apagão” no canal público — que não teria registado qualquer espectador “entre as 17h25 e as 17h55” dessa terça-feira, “quando transmitia a parte final do programa Portugal no Coração”, e ainda durante alguns períodos da madrugada do mesmo dia —, uma leitura atenta do texto permitia perceber que se estaria perante anomalias na recolha ou interpretação dos dados obtidos pela empresa de audimetria GfK, que desde 1 de Março assegura a medição de audiências televisivas, por indicação da Comissão de Análise de Estudos de Meios (CAEM), que integra nomeadamente os representantes das operadoras e dos anunciantes.
Na verdade não houve qualquer “apagão” da RTP1, como aliás comprovavam as mensagens que logo começaram a chegar à caixa de comentários do Público Online. “Mentira, eu estava a ver”, dizia um leitor, enquanto outro assegurava que a sua tia estava a essa hora ligada à RTP1, e outros ainda, citando os dados fornecidos pela notícia, manifestavam perplexidade pelo desaparecimento súbito de 247.800 espectadores que viam aquele canal às 17h24 e o seu não menos súbito reaparecimento, a que se acrescentavam mais cerca de 50.000 pessoas, às 17h56.
Tratou-se de um título enganoso para uma notícia tecnicamente mal elaborada. A informação relevante era, afinal, a de que a empresa que acabava de se estrear na medição de audiências falhara estrondosamente ao atribuir “zero espectadores” à RTP1 naquele período. Outros comentários de leitores sublinhavam esse facto, chamando a atenção para as suas consequência nocivas para o canal público, ao nível de futuros contratos publicitários, ou sugerindo que a divulgação de números falsos visaria desvalorizar uma RTP em processo anunciado de privatização.
As deficiências dessa notícia, assinada por Maria Lopes, foram, no essencial, corrigidas numa peça publicada dois dias depois pela mesma jornalista, em que se explicava que os supostos “apagões” da RTP1 mais não tinham sido do que o efeito mal interpretado de “uma falha técnica na gravação do som” utilizada no processo de medição a cargo da GfK. O texto dava ainda conta de que a RTP — que vira ser-lhe “cortado” quase um terço das audiências anteriormente reportadas pela empresa Marktest —punha em causa a fiabilidade do novo sistema de medição e a representatividade do painel de audiências constituído pela GfK, enquanto a direcção da CAEM os defendia, embora admitindo “ajustes” nos procedimentos.
Quatro meses depois, a polémica está longe de se extinguir. Ganhou um novo fôlego com recentes declarações do presidente da RTP, Guilherme Costa, afirmando que os resultados das audiências televisivas apresentados desde Março passado, que penalizam fortemente a estação pública, “não são credíveis”, e exigindo que o actual painel seja “substituído urgentemente”. Essas declarações foram noticiadas neste jornal na edição do passado dia 13, numa peça novamente assinada por Maria Lopes, sob o título “Auditoria às audiências dá razão à RTP: novo painel não representa a população”.
Segundo se informava, a auditoria em questão fora encomendada pela CAEM (que recusou disponibilizar o respectivo relatório) e foram as suas conclusões — para além de pareceres pedidos a três universidades, que apontarão para a falta de rigor do presente sistema de medição de audiências — que Guilherme Costa invocou para dizer o que disse. Referia-se ainda que a RTP admite recorrer aos tribunais para ser ressarcida dos “prejuízos já sofridos”, que poderiam representar a perda, este ano, de cerca de 12 milhões de euros em facturação de publicidade.
Esta notícia foi criticada por Luís Paixão Martins, administrador da empresa LPM, uma agência de consultores de comunicação que conta entre os seus clientes a GfK e a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes), sendo esta última considerada uma força especialmente poderosa no seio da CAEM. Em mensagem que me enviou, Paixão Martins considera que o título da notícia de 13 de Julho induz os leitores do PÚBLICO “a concluir que o jornal teve acesso ao relatório de uma auditoria”, e que estes “terão ficado frustrados porque no artigo não é citada nem uma palavra dessa ‘auditoria’, nomeadamente na parte do documento onde se concluirá que a RTP tem razão”.
Diz que os autores do estudo em causa afirmam que não se tratou de uma auditoria, e argumenta que o facto de não ser citado o respectivo relatório terá depois levado os leitores a concluir que afinal o jornal “não teve acesso ao documento”, tendo apenas ouvido uma das entidades (a RTP) representadas na comissão “que vai analisar o dossier” (a CAEM). Assinalando que “a RTP vem dizer que tenciona continuar a trabalhar com a CAEM” e que, “provando (…) ter ficado insatisfeita com os resultados [do relatório]”, terá “pedido opiniões adicionais a outras entidades, desta feita académicas”, o responsável da LPM alega que “a auditoria’ não deu à RTP a razão que lhe dá o Público”.
Maria Lopes responde a todas as questões colocadas. Recorda que está claro no texto que não teve acesso ao relatório (““a CAEM recusa disponibilizar…”), que todas as citações são nele “atribuídas ao presidente da RTP” — a começar pela afirmação de que a auditoria concluiu que o painel usado pela GfK “não é representativo da população portuguesa” —, e que as outras empresas de televisão não quiseram pronunciar-se. Explica que usou a palavra “auditoria” porque “esse foi o termo usado pela própria CAEM, que a encomendou”. Sobre a sugestão de que a RTP teria “ficado insatisfeita” com as conclusões, nota que Guilherme Costa, na conferência de imprensa que deu origem à notícia, indicou exactamente o contrário e referiu estar na posse de três pareceres independentes que as confirmariam.
“A auditoria acaba por dar razão à crítica do operador público”, que “sempre se manifestou especialmente crítico do painel criado pela GfK”, sublinha a jornalista, para concluir: “Ao contrário do que argumenta Luís Paixão Martins, não foi o PÚBLICO que deu à RTP a razão. Foram as conclusões da auditoria que deram razão à RTP. E é essa ideia que o título pretende expressar”.
Por mim, que não conheço o relatório entregue à CAEM, nem domino os detalhes do que parece ser um conflito feroz entre interesses ligados aos negócios da televisão e da publicidade, não vejo razões para pôr em causa a notícia do PÚBLICO, que é clara, ao contrário das alegações de Paixão Martins. As declarações do presidente da RTP transcritas na peça são igualmente claras e não foram desmentidas. Acresce que há quem, tendo tido acesso ao documento em causa, tenha escrito — como o fez Eduardo Cintra Torres, no Correio da Manhã —, que o relatório é “devastador” e que os seus “pormenores técnicos (…) arrepiam pela gravidade dos erros de base na selecção, construção e ponderação da amostra” actualmente usada na medição de audiências.
Esperando que a desejável divulgação do documento esclareça todas as dúvidas, os dados disponíveis levam-me a considerar que a informação dada pelo PÚBLICO sobre este tema é fiável e correcta, sem prejuízo de poder, e dever, ser completada com as perspectivas de outras entidades envolvidas no conflito da medição de audiências. Em contrapartida, as alegações de Paixão Martins assemelham-se a uma peça de desinformação. Vale a pena salientar que, ao contrário dos clientes da LPM, o PÚBLICO não tem, que se saiba, interesses na matéria noticiada. Nem pode ser comparado, no plano da credibilidade, a uma agência comercial de comunicação. Se nada impede que esta pudesse ter razão face a um eventual erro de trabalho jornalístico, tudo indica que não foi esse o caso.
José Queirós / http://blogues.publico.pt/provedordoleitor/2012/07/25/movimentos-na-guerra-das-audiencias-televisivas/
"Os jovens do nosso tempo estão a trocar a televisão pelo computador" |
SIC apoia Gfk na guerra das audiências
Rebeca Venâncio
29/03/12 in http://economico.sapo.pt/noticias/sic-apoia-gfk-na-guerra-das-audiencias_141462.html
TVI e RTP já anunciaram que querem uma alternativa ao novo sistema.
A SIC assumiu hoje, em comunicado, que é lamentável e estranho que alguns operadores tenham decidido "rasgar" o contrato com a GfK e procurar alternativas.
Numa reacção à polémica que se instalou hoje no mercado, depois de Rosa Cullell, administradora-delegada da Media Capital ter assumido, ao Diário Económico, que a TVI não irá continuar a colaborar com a GfK, a estação de Carnaxide revelou que "lamenta a opção de não se respeitarem as regras adoptadas em sede de auto regulação, depois de as mesmas terem sido aprovadas por unanimidade pelos membros da CAEM", refere o documento.
"A SIC estranha que, antes mesmo da conclusão da auditoria ao sistema da Gfk, aprovado, em 12 de março, por todos os membros da CAEM, já tenham sido tomadas medidas paralelas e unilaterais para substituir [a GfK] pela mesma Marktest, que considerou estar em "total descrédito". De recordar que foi na sequência de várias queixas da TVI, em 2010, que se decidiu avançar com o concurso que levou à substituição da Marktest pela GfK.
A SIC recorda ainda que a decisão que levou à entrada do sistema em vigor, a 1 de Março, foi tomada de forma unânime.
"A SIC sempre defendeu o princípio da auto regulação, submetendo-se às decisões aprovadas na CAEM, e não sobrepondo, ao sabor das conveniências de cada momento, os seus interesses aos consensos acordados. [...] A SIC considera ter total legitimidade para o fazer: um dos seus canais, a SIC Notícias perdeu, com o novo sistema de medição de audiências, a liderança entre os canais temáticos, posição que ocupa, desde que surgiu, há 11 anos. Esse facto não levou porém a SIC ou a SIC Notícias, nem os seus responsáveis, a criticar publicamente a Gfk ou a CAEM. Aliás, no passado, mesmo quando a SIC se sentiu prejudicada, a estação sempre manteve uma posição coerente com a actual, manifestando a sua opinião na sede da CAEM", pode ler-se no comunicado.
"São lamentáveis estas mudanças de opinião e de posição, ao sabor dos resultados diários. Apenas têm servido para descredibilizar o próprio mercado televisivo. A SIC continuará, como sempre, disposta a debater, em sede de auto regulação, as questões e as dúvidas de todos os parceiros", remata a estação de Francisco Pinto Balsemão.
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