29/06/2009
Cidadãos saúdam alterações ao projecto do Terreiro do Paço e reclamam uso dos edifícios
In Público (28/6/2009)
Inês Boaventura
«A apresentação ontem promovida pela Frente Tejo reuniu mais de cem pessoas. António Costa admite que a versão alterada "está melhor" do que a inicial
Vários dos intervenientes na apresentação pública do projecto para o Terreiro do Paço promovida ontem pela sociedade Frente Tejo apelaram à obtenção de uma solução de compromisso, por ser impossível chegar a um desenho que a todos agrade, e ao arranque de um outro debate: o do uso futuro dos edifícios da praça, dos quais os cidadãos estão actualmente "espoliados".
A palavra foi usada pelo historiador Rui Tavares, que afirmou ser "a altura certa" para se iniciar este debate, que confessou ser aquele que lhe "mete mais medo". Para promover a "recuperação cidadã desta praça", este interveniente sugeriu a instalação do Museu da Língua Portuguesa, projectado para Belém.
Também um morador na zona do Terreiro do Paço pediu que esta seja "entregue aos cidadãos", através da atribuição de um novo uso ao "enxame de ministérios" ou pelo menos aos seus pisos térreos. Já um "candidato a utente da praça" frisou que se os edifícios não forem abertos ao público o projecto de requalificação que tanta celeuma tem suscitado "não vale a pena", acrescentando que aquilo que mais quer para o futuro do espaço "é não ter quinquilharia e ir ter com o rio, que é nosso".
Mas na apresentação pública pela qual passaram mais de cem pessoas houve também quem se detivesse ainda no desenho do arquitecto Bruno Soares para o Terreiro do Paço, fosse para se congratular com as alterações introduzidas desde o estudo prévio ou para manifestar o seu desagrado. Um dos mais ferozes críticos foi o historiador de arquitectura António Sérgio Rosa de Carvalho, que acusou o projecto de ter "muitos gatafunhos": "É pegar numa peça perfeita e embrulhá-la em papel da McDonald's", disse, quase exaltado.
Na apresentação prévia, Bruno Soares voltou a justificar a manutenção dos losangos no chão da placa central, que tantas críticas tem gerado, acrescentando um novo argumento à intenção de "mostrar que a praça é de facto grande". Agora, o arquitecto explica também que a introdução de uma gravilha aglomerada para manter "a memória do terreiro" obriga a um "sistema construtivo de sustentação" desse material, que é conseguido através da "malha das diagonais". Tanto Rosa de Carvalho como Rui Tavares refutaram a importância da "memória do terreiro".
"Isto é uma praça do século XVIII, não é um terreiro do século XVI", afirmou Rui Tavares, criticando as linhas das cartas de marear projectadas para os passeios junto às arcadas e os losangos da placa central, para a qual defendeu que a haver alguma marcação ela deveria ser radial, numa referência ao período iluminista e ao Rei Sol. Já o presidente da Câmara de Lisboa admitiu que o projecto revisto "está melhor do que estava antes", garantindo que enquanto autarca só invocará o argumento da estética para travar o avanço de um projecto se ele for "horrível". »
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