Casas cada vez mais caras em Portugal: preços subiram 70%
em 12 anos
Preços das casas em Portugal sobem mais rápido que a
média da UE (+45%), mostram dados do Eurostat analisados pelo idealista/news.
Redação12 julho
2022, 8:42
Muito mudou em 12
anos. Saímos da crise financeira. O imobiliário e a construção ganharam uma
nova vida. Foram criados os vistos gold para estimular o investimento
estrangeiro. As condições do crédito habitação tornaram-se mais atrativas à
compra de casa. E os preços das casas começaram a dar os primeiros sinais de
sobrevalorização em 2018.
Chegou a pandemia
da Covid-19 em 2020 e a guerra da Ucrânia em 2022, que está a acelerar a
inflação na Europa, empurrando a Euribor para terrenos positivos e a fazendo
subir ainda mais os custos da construção e os preços das casas. Os dados mais
recentes do Eurostat mostram que, em Portugal, as casas ficaram 70% mais caras
entre 2010 e o primeiro trimestre de 2022, colocando o nosso país entre os
Estados-membros onde os preços das casas mais sobem em toda a União Europeia
(UE).
A verdade é que
os preços das casas para comprar em Portugal sobem mais rápido que na UE. Isto
porque em território nacional aumentaram cerca de 70% nos últimos 12 anos,
enquanto nos Estados-membros cresceram, em média, 45%. Na Zona Euro, as casas
ficaram cerca de 40% mais caras entre estes dois momentos, revelam os dados do
Eurostat publicados na passada sexta-feira, dia 8 de julho de 2022.
Este salto coloca
Portugal entre os países da UE onde os preços das casas mais cresceram nos
últimos 12 anos. Está na 11ª posição entre os 27 Estados-membros, numa lista
liderada pela Estónia. Neste país do leste europeu, as famílias viram os preços
das habitações à venda subir 174%. Logo a seguir está a Hungria e o Luxemburgo,
onde os preços das casas subiram 152% e 131%, respetivamente. Também a
República Checa, Letónia, Lituânia e Áustria viram os preços das habitações
mais que duplicar entre estes dois momentos, mostram os dados. Já a menor
subida de todas foi registada em Espanha – menos de 5%.
As casas ficaram
mais caras em 24 dos 27 Estados-membros da UE. Contrariando a tendência de
crescimento registado na maioria dos países, está a Grécia, Itália e o Chipre.
Nestes três países, os preços das casas caíram entre o 2010 e o primeiro
trimestre de 2022 na ordem dos 23%, 10% e 8%, respetivamente.
Quanto subiram os
preços das casas no último ano?
Nada tem travado
a inflação dos preços das casas na Europa. Mesmo durante a pandemia da
Covid-19, as casas continuaram a ficar mais caras, registando uma subida
homóloga média de 5,5% durante 2020 (média de 4,8% em 2019), muito devido à
escassa oferta de habitações e à subida dos preços da construção.
A verdade é que
esta tendência acelerou ainda mais durante o ano passado, atingindo uma média
de 8,3%. E mantém-se em 2022: na UE, os preços das casas para comprar subiram
10,5% nos primeiros três meses de 2022 face ao mesmo período de 2021.
Todos os
Estados-membros, sem exceção, viram as casas a ficar mais caras no último ano.
E contam-se 16 países onde os preços das casas subiram a maior ritmo que na
média da UE. O maior salto de todos foi dado pela República Checa (24,7%),
seguido da Estónia (21%), da Hungria (20,6%), dos Países Baixos (19,5%) e da
Lituânia (19,1%). Já o menor crescimento foi registado no Chipre, de apenas 1%,
revelam os dados do gabinete de estatística europeu.
Uma vez mais,
Portugal aparece entre os países do espaço europeu onde as casas mais
encareceram. Está na 13ª posição, registando uma subida no valor das habitações
de 12,9% entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período de 2022. Este é o
aumento “mais expressivo” desde 2010, apontou o Instituto Nacional de
Estatística (INE).
Bolha dos preços
das casas em Portugal: sim ou não?
A verdade é que
os preços no mercado residencial português estão a crescer mais do que é
recomendado pelas autoridades monetárias e financeiras desde final de
2017/início de 2018 – isto é, mais de 6% ao ano. E, hoje, “continuam a existir
sinais de sobrevalorização do imobiliário residencial português”, pode ler-se
no Relatório de Estabilidade Financeiro (REF) do Banco de Portugal (BdP).
Não são boas
notícias, até porque o regulador português liderado por Mário Centeno considera
que com este fator e as “alterações nas condições de financiamento bancário” –
nomeadamente, a subida dos juros à boleia da Euribor e os novos prazos
consoante a idade –, há “o risco de uma redução dos preços no mercado
imobiliário residencial”.
Uma análise
recente da Bloomberg Economics também concluiu que Portugal é o sexto país com
maior risco de bolha imobiliária entre 19 Estados da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Já, pelo contrário, vários
especialistas em imobiliário no país afastam o risco de queda acentuada nos
preços das casas, argumentando que:
Mesmo que a
procura de casa diminua por via do aumento de juros dos créditos habitação, a
oferta de habitações continuará escassa;
Os bancos têm
condições mais restritas na concessão de crédito habitação do que no passado, o
significa que houve uma melhoria no perfil de risco dos mutuários fazendo cair
o risco de incumprimento do crédito.
Até agora, o
cenário atual marcado pela subida dos preços das casas e as mudanças no crédito
habitação parece não estar a afastar as famílias de comprar casa em território
nacional. Entre janeiro e março de 2022, foram compradas 43.544 casas no país
(ou seja, mais 25,8% que em igual período de 2021). E, estas vendas, juntas,
representam negócios na ordem dos 8,1 mil milhões de euros, mais 44,4% face ao
ano anterior, revelam os dados do INE.
Também os dados
do BdP confirmam que mesmo com os juros a subir – a taxa média nos novos
empréstimos subiu para 1,26% em maio - as famílias continuam a recorrer ao
crédito habitação para comprar casa. Em maio, foram concedidos 1.519 milhões de
euros em novos empréstimos da casa (+195 milhões do que em abril), sendo este o
segundo maior valor em novos créditos habitação concedido desde janeiro de
2008.
Arrendar casa:
continua a ser uma alternativa?
Embora a compra
de casa em Portugal continue em alta, a verdade é que este negócio está cada
vez mais caro. E nem todas as famílias têm capacidade financeira para suportar
os encargos relativos à aquisição de uma habitação própria por via do
financiamento bancário, uma operação que requer dar a entrada da casa, pagar
impostos e comissões bancárias.
O mercado de
arrendamento é, portanto, a alternativa a estas famílias. Mas também está a
ficar mais caro em Portugal, tendo registado uma subida de 25% nos últimos 12
anos, segundo apontam os dados do Eurostat. O INE deu conta que as rendas
medianas das casas, que encareceram 6,4% entre os primeiros três meses de 2022
face ao período homólogo, atingindo os 6,16 euros por metro quadrado
(euros/m2). Também o número de contratos de arrendamento subiu 19,8% entre
estes dois momentos, registando um total de 23.934 entre janeiro e março de
2022.
Esta é uma
realidade também observada na maioria dos Estados-membros da UE, que registaram
uma subida média de 17% nos preços das casas para arrendar nos últimos 12 anos.
Em concreto, as rendas das casas ficaram mais caras em 25 dos 27 estados entre
2010 e o primeiro trimestre de 2022. E os maiores aumentos foram registados na
Estónia (+177%), na Lituânia (+127%) e na Irlanda (+77%). Por outro lado, as
casas para arrendar ficaram mais baratas na Grécia (-25%) e no Chipre (-1%),
mostram os mesmos dados do Eurostat.
Embora este
mercado também esteja a ficar mais caro, o gabinete de estatística europeu
sublinha que “os preços das casas para comprar cresceram mais do que as rendas
em 19 Estados-membros da UE, comparando o primeiro trimestre de 2022 com 2010”.
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