Vaga de assaltos
a turistas atinge a zona histórica de Lisboa
Registam-se mais
furtos em alojamentos locais e roubos nas ruas históricas da capital.
Associação do sector e PSP pretendem trabalhar em conjunto para alertar os
turistas para a ameaça.
MARIA WILTON 12
de Janeiro de 2018, 7:50
O aumento do
número de turistas e de casas de alojamento local tem potenciado a ocorrência
de furtos de oportunidade
Os assaltos a
turistas nos eléctricos 15 e 28 já se tornaram comuns e sobejamente conhecidos.
Mas, ultimamente, há uma nova tendência: os furtos em alojamentos locais e
também a estrangeiros que se passeiem no centro histórico. O aumento do número,
tanto de uns, como de outros, está a atrair os gatunos e a fazer disparar os
alarmes na polícia.
Segundo dados
fornecidos pela PSP ao PÚBLICO, dos crimes contra turistas registados na
esquadra da 1ª divisão (Rua da Palma), o número de furtos em alojamentos locais
aumentou 70% de 2016 para 2017, ou seja, no ano passado houve mais 80 queixas
dos que as 114 que tinham sido registadas no ano anterior. Em relação aos
roubos (furtos violentos) na rua, registou-se igualmente um aumento: de 273
queixas em 2016 passou-se para as 323 no ano seguinte.
O problema, que
também atinge a zona histórica do Porto, não é novidade para os moradores
embora as principais vítimas sejam os turistas que, não conhecendo a vizinhança
como aqueles que lá vivem há anos, acabam por sobrestimar a segurança dos
locais.
O aumento de
fogos de alojamento local tem potenciado a ocorrência destes crimes. Só no ano
passado, deram entrada na plataforma de Registo Nacional de Alojamento Local
(RNAL) um total de 4319 propriedades em Lisboa, o que perfaz um aumento de 997
registos relativamente às registadas em 2016 (números que não têm em conta as
mais populares plataformas para o efeito, o Airbnb e o Booking).
Os contornos
destas ocorrências, porém, não são iguais às que afectam os eléctricos 15 e 28,
onde é notória a actividade de crime organizado. Eduardo Miranda, presidente da
Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), considera que se está
perante uma situação diferente: tratam-se se furtos de carácter oportunista,
salientado que é um fenómeno que costuma acontecer por vagas. Mas confirma que
o seu número está a aumentar e tanto atinge as casas ocupadas com turistas —
que ao regressar se deparam com o desaparecimento dos seus bens — como as casas
vazias, o que penaliza sobretudo os proprietários.
“Nesta época
baixa, por exemplo, têm-se registado mais furtos nas casas já que os edifícios
dos alojamentos estão menos ocupados”, afirma Miranda. “São indivíduos que
aproveitam a ausência dos turistas para agir.”
Vitima deste tipo
de furtos é Nuno (nome fictício), que explora um alojamento local em Alfama
registada na plataforma Airbnb, e que diz que os últimos tempos não têm sido
fáceis. “Há sempre alguém que se aproveita destas situações”, afirma. “Sabem
que os turistas saem durante o dia e que se gera uma situação propícia.”
O proprietário,
que há dois anos teve o seu alojamento invadido pelo telhado e pelas janelas,
viu-se obrigado a colocar grades e diz ter tomado todas as medidas “possíveis e
imaginárias” para manter a sua casa segura. No entanto, dá conta que por mais
medidas que tome, parecem nunca ser suficientes.
“Foram instalados
alarmes e portas blindadas para a protecção dos hóspedes”, conta ao PÚBLICO.
“Ainda assim, em Outubro de 2017, conseguiram rebentar com as portas blindadas
e levaram todos os pertences de uma família que tinha acabado de se instalar no
alojamento”, diz, em tom exasperado. “Até o saco de brinquedos da filha do
casal levaram”, acrescenta.
Após qualquer
situação de furto, Nuno estabelece contacto imediato com a PSP e reporta também
a situação à plataforma onde o seu alojamento está registado. Esta, por sua
vez, presta aconselhamento aos proprietários sobre alguns procedimentos para
lidar com este tipo de situações.
Face a este
aumento, Eduardo Miranda dá conta que a ALEP está a desenvolver trabalho
conjunto com a PSP com o objectivo de lançar algumas campanhas, como acções de
sensibilização para a tomada de medidas preventivas direccionadas a
proprietários mas principalmente a turistas.
“Queremos que os
hóspedes estejam conscientes dos perigos”, adianta Eduardo Miranda. “Por vezes
deixam janelas abertas que não sabem que dão para a rua ou não trancam bem as
portas por considerarem Portugal um país seguro. Mas há que prevenir”,
remata.
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