Procura
de Mein Kampf na Alemanha supera quatro vezes a tiragem
PÚBLICO 09/01/2016 -
Relançado o debate sobre a
introdução nas escolas do manifesto partidário e ideológico do
nacional-socialismo. Livro regressou às bancas pela primeira vez
desde 1945.
O instituto a cargo da edição
alemã anotada de Mein Kampf, o manifestado partidário e
autobiográfico de Adolf Hitler e o guia ideológico do nazismo,
recebeu quase quatro vezes mais encomendas da obra do que o número
de livros publicado. O livro regressou às livrarias alemãs na
sexta-feira, pela primeira vez desde 1945 e do fim da Segunda Guerra
Mundial.
A decisão de reeditar um dos
maiores símbolos do nacional-socialismo sofreu avanços e recuos à
medida que se aproximavam os 70 anos desde a morte de Hitler – o
que, segundo a lei alemã, faz com que a obra entre em domínio
público. O livro foi publicado em dois volumes, duas mil páginas e
acompanhado de cerca de cinco mil entradas de comentários, resultado
da investigação académica do Instituto de História Contemporânea
de Munique.
O director do instituto
recebeu encomendas para 15 mil cópias, o que ultrapassa em muito a
impressão original de quatro mil cópias. O instituto aumentou a
tiragem mas, mesmo assim, na sexta-feira o livro já se esgotara no
site alemão da Amazon. Os dois volumes custam 59 euros.
A republicação de Mein Kampf
foi tema de debate aceso na Alemanha. Hitler inscreveu grande parte
da identidade racista e anti-semita do Partido Nazi na obra, enquanto
estava preso pela tentativa falhada de golpe de Estado em 1923. A
ministra alemã da Educação voltou este sábado a defender a
introdução do estudo de Mein Kampf na escolaridade obrigatória.
“Trata-se de um importante
instrumento de educação política”, argumentou Johanna Wanke em
declarações à rádio pública alemã, RTL. “Os liceus são o
lugar indicado para que, com a ajuda dos professores, seja divulgada
esta edição comentada de um livro sobre o qual existem muitos
mitos."
A grande edição do Instituto
de História Contemporânea de Munique não foi pensada para o
sistema de ensino alemão, embora os autores admitam que isso seria
possível pela dimensão dos comentários académicos. O facto de as
anotações terem mais predominância nas páginas da reedição do
que os escritos de Hitler foi fundamental na batalha em torno da
reimpressão da obra.
“De qualquer maneira, há um
consenso amplo em relação a um ponto decisivo”, afirmou Andreas
Wirsching, director do instituto, na apresentação da obra. “Seria
completamente irresponsável permitir que esta salgalhada de
desumanidade viesse a público sem comentários, sem o contradizer
através de referências críticas que ponham o texto e o seu autor
no seu lugar.”
Mas, no momento em que se
assiste ao ressurgimento de algumas ideias semelhantes às que Hitler
inscreveu na ideologia nacional-socialista – as grandes marchas
antimigração do Pegida são exemplo disso –, a ideia de estudar
Mein Kampf nas escolas é vista por alguns com desconfiança.
É o caso do germanólogo
Jeremny Adler, que lecciona língua e história alemã. “Mein Kampf
é uma fonte turva”, argumenta, sublinhando o facto de Hitler ter
escrito o livro em parte justificando o golpe de Estado falhado. “[É]
um livro sobre técnicas de propaganda cheio de ódio e desejos de
grandeza”, afirma, citado pelo diário espanhol ABC. “O que é
que se pode aprender com essa diatribe que apela à louca
monstruosidade do assassínio?”
Hitler’s
Mein Kampf reopens German debate
Hitler’s
anti-Semitic book republished and could be on German school reading
lists.
By IVO OLIVEIRA
1/8/16, 3:00 PM CET Updated 1/9/16, 4:08 PM CET
Adolf Hitler’s
“Mein Kampf” (“My Struggle”), the 800-page anti-Semitic tract
that the future German leader wrote in 1924 in Landsberg prison and
that went on to sell 12.5 million copies, became available in German
bookstores for the first time in 70 years on Friday, reopening a
contentious historical debate.
The book is being
republished by the Institute of Contemporary History Munich-Berlin
(IfZ), which has been working on the project since 2012 and describes
its new version as a “critical” edition with about 3,500
annotations and running to almost 2,000 pages, up from the original
800. Just 4,000 copies are being printed.
The IfZ claims it
wants to demystify the book, saying: “This critical edition of
‘Mein Kampf’ should be understood as a contribution to the
historical and political enlightenment. The aim is to deconstruct
Hitler and his propaganda in a sustainable manner.”
The book was never
banned in Germany, but reprinting it was forbidden. Public access to
the work was restricted, usually only being made available for
academic purposes, with library copies “hidden” from public view.
Copies are freely available in second-hand bookstores and online.
When American troops
occupied Munich after World War II, Franz Eher, the publishing house
that put out Nazi propaganda, was shut down and the copyright passed
to the state of Bavaria, which prevented its reissue. But the
copyright on “Mein Kampf” has expired, allowing its
republication.
Bavaria was to have
contributed some financing to the IfZ project, but in 2013 it
withdrew a €500,000 offer on the orders of Horst Seehofer, the
state’s premier and head of the Christian Social Union, the sister
party of Angela Merkel’s Christian Democratic Union.
“I cannot put a
request for a NPD [the extreme-right National Democratic Party] ban
in Karlsruhe, and then give official approval for the diffusion of
‘Mein Kampf’ — that’s bad,” Seehofer said at the time.
A spokesman for the
Bavarian Ministry of Culture said the reason for Seehofer’s U-turn
was a visit to Israel in 2012, where he talked to Holocaust survivors
and families of victims.
It remains to be
seen how much publicity will be given to Hitler’s book. According
to a dpa survey, German book chain Thalia said it is not planning to
promote the book and will order it only “if a customer explicitly
wants a copy.” Online retail giant Amazon said it will donate all
proceeds from sales of the book to charity.
Controversially,
there is talk that “Mein Kampf” could be taught in German
schools.
The German minister
for education and research, Johanna Wanka, a member of the CDU, and
the German Teachers’ Association have backed the use of the new,
annotated edition in German schools.
Weekly Government
Cabinet Meeting
German Education
Minister Johanna Wanka said that Hitler’s statements will not go
“uncontradicted,” adding that “students have questions, and it
is right that they can get rid of these in the classroom and talk
about the issue.” Photo by Getty.
“The critical
edition … has precisely the aim of contributing to political
education,” the minister told Passauer Neue Presse.
“A professional
treatment of passages in the classroom can be an important
contribution to the immunization of adolescents against political
extremism,” the president of the German Teachers’ Association,
Josef Kraus, told Deutsche Welle.
Asked if the book
might lead to increased support for far-right movements such as
Pegida (Patriotic Europeans Against the Islamization of the West),
Kraus said that “much more dangerous is remaining silent or
completely banning the book. It’s more important to me that
something like this can be discussed in a differentiated and critical
manner.”
Not everyone agrees.
Charlotte Knobloch, chair of the Jewish Community of Munich and Upper
Bavaria, said: “The book is a Pandora’s box, which should be
closed forever in the ‘poison cupboard’ of history.”
Authors:
Ivo Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário