Brexit? Este eurodeputado diz “of course”
3-11-2015 /
OBSERVADOR
O
eurodeputado britânico Daniel Hannan é uma das vozes mais ativas na
defesa da saída do Reino Unido da UE. De Bruxelas quer o comércio
livre, mas quer virar as costa à política comunitária.
Foi considerado
“excêntrico” por David Cameron depois de dizer na televisão
norte-americana, em 2009, que o serviço de saúde britânico é “um
erro de 60 anos”, mas Daniel Hannan, eurodeputado dos
conservadores, pode estar prestes a ganhar uma batalha no seio do seu
próprio partido. O representante britânico é um eurocético
inveterado e considera que seria mais vantajoso ter um mercado único
de comércio livre em todo o continente europeu – incluindo
Islândia, Turquia e Arménia – deixando a união política apenas
para os Estados que estivessem interessados.
“Se negociarmos um
acordo amigável, alguns países, dentro da União Europeia e fora,
vão querer fazer como nós, ou seja, ter uma relação com Bruxelas
baseada no comércio livre e não em assimilação política. É
assim possível antecipar uma área de comércio livre com 40 a 45
membros, e lá dentro haverá 20 a 25 países numa união mais firme
com uma única moeda, uma polícia comum e um Presidente“, explicou
o britânico em entrevista ao Observador no seu gabinete em
Estrasburgo, na sessão do mês de setembro. Hannan é uma figura
polémica dentro dos conservadores e em 2014, disse mesmo que a única
forma dos conservadores assegurarem uma vitória maioritária nas
eleições de maio deste ano, seria juntarem-se ao UKIP, partido
eurocético, com vasta representação no Parlamento Europeu mas que
acabou por não conseguir aumentar o número de eleitos para a Câmara
dos Comuns.
É o próprio Hannan
que reconhece a sua proximidade ao UKIP, mas limita-a às questões
europeias. “Neste ponto da saída do União Europeia, é claro que
estou mais próximo do UKIP do que do líder do meu partido, embora
eu não considere que represente uma minoria nos conservadores. David
Cameron e eu vamos ficar em campos opostos na campanha para o
referendo, mas acredito que eu represento mais a vontade dos
militantes do partido do que ele. Em geral, fora desta questão da
União Europeia, acho que ele está a fazer coisas muito boas”,
sublinha o eurodeputado mostrando as diferenças que o afastam do
líder do partido.
A última sondagem
do YouGov, empresa de sondagens britânica, sobre o referendo que
será realizado até ao fim de 2016 sobre a permanência do Reino
Unido na União Europeia, mostrou que em setembro, pela primeira vez
desde o início de 2015, havia mais britânicos quererem sair (40%)
do que a quererem ficar (38%) – ver gráfico acima. Números que
assustam o primeiro-ministro e que começam a criar fraturas dentro
dos conservadores. Seis ministros já pediram mesmo a David Cameron
liberdade para poderem fazer campanha pela saída e que seria “louco”
por parte do executivo tentar mostrar uma frente unida, quando muitos
ministros são abertamente contra a ideia de ficar na União
Europeia.
Exigências? Acordos
comerciais e fim da supremacia da lei comunitária
O eurodeputado
recusa que os conservadores estejam mais divididos que outros
partidos na questão europeia e diz que a consulta é defendida por
grande parte da população. “O referendo é uma questão
transversal a todos os partidos e não diz só respeito ao partido
conservador, todos os partidos estão divididos”, afirmou. Hannan
mantém um blog no jornal Telegraph onde escreve artigos de opinião
críticos ao funcionamento da União Europeia e já escreveu vários
livros sobre a matéria, tendo escrito “A Doomed Marriage: Britain
and Europe”, ou seja, “Um casamento amaldiçoado: Grã-Bretanha e
Europa”. Hannan é um dos eurodeputados conservadores mais ativos
na crítica à União Europeia em Bruxelas e Estrasburgo, como se
pode ver no vídeo abaixo.
Para Hannan, David
Cameron “está satisfeito com o que temos agora e ele nunca fingiu
que queria outra coisa”, ou seja, o primeiro-ministro concorda com
os termos de adesão do Reino Unido à União Europeia e por isso, na
opinião deste eurocético, “é muito claro que não há muita
coisa não vá mudar nesta renegociação”. Mas quais são as
exigências de Hannan para permanecer na União? “Liberdade para
negociar acordos bilaterais de comércio fora da UE” e “supremacia
da lei nacional sobre a lei comunitária no nosso território“.
Dois pontos que parecem não constar na agenda de Cameron, que esta
semana deverá entregar as suas exigências a Bruxelas.
Estes dois pontos, a
capacidade de assinar tratados comerciais fora da União e a
supremacia da lei comunitária não parecem pontos negociáveis para
os restantes Estados-membros e para a Comissão Europeia, já que são
pedras angulares da integração europeia. Mas não para Hannan.
“Essa supremacia da lei comunitária não estava originalmente no
Tratado de Roma. Foi algo criado pelo Tribunal de Justiça da União
Europeia numa série de decisões polémicas nos anos 60. É possível
negociá-lo, só não está a ser feito”, refere.
Hannan não se
arrisca a adivinhar o resultado do referendo, mas diz que caso ficar
na Europa vença a votação, os britânicos nunca mais vão voltar a
ser questionados. “Se ficarmos, isso é a permissão e apoio para
tudo o que venha a acontecer a seguir. E nunca mais vamos perguntar
novamente. Se votarmos não, o que acontece é que vamos ter de votar
novamente. Mas se nos mantivermos numa posição de saída, vamos
conseguir negociar a um acordo parecido com a Suíça”, garantiu o
eurodeputado. No entanto, esta não é a primeira vez que o Reino
Unido é confrontado com a sua permanência na UE e em 1975, após a
crise petrolífera, os britânicos votaram num referendo se queriam
ou não ficar na Comunidade Europeia. O sim ganhou com 67% dos votos.
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