BES
Banco de Portugal deve anunciar o plano final no domingo
Atuais acionistas vão ser
expulsos do BES e remetidos ao ‘bad bank’, garante Marques Mendes
Operação relâmpago, anuncia Mendes: acionistas afastados do BES, que fica
sob controlo de um fundo, financiado pelos bancos portugueses e fundo da
troika. BES sai da bolsa e será vendido em 6 meses.
DAVID DINIS / ANA
PIMENTEL / 0BSERVADOR / 3-8-2014
É uma autêntica
revolução no BES, a que Marques Mendes anunciou no seu habitual comentário de
sábado na SIC. Uma “operação relâmpago”, nas palavras do ex-líder do PSD, ou
uma “terceira via”. Nas suas linhas gerais, a versão de Mendes bate certo com o
que duas fontes disseram hoje ao Observador: penalização dos responsáveis pela
situação do banco e uma via diferente para financiar a instituição, mais
indireta, usando os fundos da troika.
Na prática, a
concretizar-se tal e qual como anunciou, implica desde logo a divisão do banco
em dois. Só um se continuará a chamar BES, mas este fica limpo dos ativos
tóxicos identificados nas contas semestrais apresentadas esta semana. E deste
são afastados da noite para o dia (de segunda-feira) os atuais acionistas.
Entre os quais a família Espírito Santo, o Crédit Agricole, ou o Bradesco
incluídos — mas não só. Todos eles ficarão responsáveis, isso sim, com a gestão
do que resta, os tais ativos tóxicos, que ficarão num segundo banco, criado de
novo. O tal ‘bad bank’ que foi anunciado ontem pelo Jornal de Negócios como
estando em estudo no Banco de Portugal.
Voltando ao novo
BES, que vai surgir “de cara lavada” na segunda-feira de manhã, disse Mendes,
vai ter um só acionista, o Fundo de Resolução, uma nova entidade jurídica que
foi posta em lei há cerca de um ano e meio. Este veículo financeiro terá três
pessoas no conselho diretivo e será “abastecido pelos bancos que existem no
país”.
Para funcionar e
financiar o BES, precisará do dinheiro do Estado (o que foi enviado pela
troika), de 4 a
5 mil milhões de euros. Será por seis meses, disse Mendes. Depois será pago de
volta, após uma operação de venda do banco em bolsa. E já há interessados,
garantiu ainda. Mas, note-se, até lá os privados não vão entrar no banco. Aqui
estão, em síntese, as voltas que pode levar o BES, na versão de Marques Mendes:
- “Na segunda-feira,
na prática, nasce um novo banco, com o mesmo nome e estrutura acionista
completamente diferente onde estará tudo aquilo que são ativos bons e de fora
fica tudo o que é lixo.”
- O único
acionista do BES será o Fundo de Resolução, criado em 2012, por imposição da
troika para evitar que o Estado financie empresas de crédito e de investimento
em dificuldades financeiras, como
aconteceu com o BPN. O Fundo de Resolução é uma entidade jurídica “abastecida”
pelos bancos que existem no país.
- Os acionistas
atuais desaparecem do novo BES e passam para o “banco mau”, com uma “forte
penalização”. “Se há lucros, os acionistas do banco ganham com isso, se há
prejuízos devem ser os primeiros a pagar a fatura”, disse.
- Segundo a
informação de Marques Mendes, o banco vai aumentar o seu capital entre 4 e 5
mil milhões de euros, que vêm do Fundo de Resolução e não diretamente do
Estado.
- A linha de
financiamento que foi criada pela troika, que está no Estado com 6,4 mil
milhões, vai emprestar ao Fundo de
Resolução, dinheiro que depois é pago quando o banco for vendido — daqui a seis
meses no máximo, disse. Se o banco não for vendido ao preço do empréstimo, será
encontrada outra solução. O comentador sublinhou que o dinheiro da troika vai
para o Fundo e não diretamente para o BES.
- A intenção é
que isto seja uma solução transitória, cujo objetivo é que que nos próximos
seis meses o banco “fique sem lixo”, e que depois seja feita uma Oferta Pública
Inicial (IPO), quando as ações são vendidas em bolsa pela primeira vez. Marques
Mendes avançou que o BES deixará de estar na bolsa e que, “segundo o que ouviu
dizer”, existem já dois bancos europeus interessados no BES, que podem entrar
na altura do IPO.
Recapitalização do BES deverá ser
anunciada este domingo
PÚBLICO
02/08/2014 - 19:42
Solução para o banco passa por uma intervenção estatal.
O Governo e o
Banco de Portugal deverão anunciar este Domingo ao final do dia a forma como
irá ser realizada a recapitalização do BES, como resposta aos resultados
negativos de quase 4000 milhões de euros registados na primeira metade deste
ano e que colocam os rácios do banco a níveis abaixo dos exigidos pelos
reguladores. Algum tipo de participação do Estado nesta injecção de novos
capitais no banco é, neste momento, visto como inevitável.
Durante os
últimos dias, depois da descoberta de novas imparidades relacionadas com a
exposição do banco ao Grupo Espírito Santo e com as acções do BES em queda
livre durante dois dias na bolsa de Lisboa, o Ministério das Finanças, o Banco
de Portugal e os responsáveis do banco têm vindo a estudar como é que, dentro
do novo quadro jurídico criado pela União Bancária, o Estado pode intervir no
BES.
São vários os
cenários: emissão de uma garantia pública, apoio formal à nova gestão,
separação dos activos tóxicos para serem geridos na esfera pública e venda da
parte rentável, e ainda a injecção de fundos estatais ou a recapitalização pela
linha criada pela troika, ainda em vigor.
Há agora novas
condicionantes à actuação do Estado. Ao contrário do que acontecia nos últimos
anos, quando o Estado teve de nacionalizar o BPN ou apenas contribuir para a
capitalização de outros bancos, agora há regras a nível europeu que tentam
impedir que sejam os contribuintes a assumir os prejuízos resultantes de erros
de gestores imprudentes e pouco sérios. De acordo com estas regras, as
consequências de uma intervenção estatal no BES são “fortes” e imediatas: os
accionistas “perdem” o que investiram, bem como os detentores de dívida
subordinada. Deste modo, o recurso aos 6 mil milhões de euros do fundo estatal
de recapitalização é uma forte possibilidade, mas já não será nos mesmos moldes
“suaves” que beneficiaram o BCP, o BPI e o Banif, dado que as regras (do regime
de transição) que decorrem da entrada em vigor da União Bancária são agora mais
severas.
Esta perspectiva
de perdas para accionistas e credores que conduziu a que as acções do BES registassem
perdas de mais de 60% em dois dias, levando à suspensão dos títulos até que
novas informações sejam prestadas.
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