“A CASA DOS HORRORES”
Mais de 200 cães, gatos e
ratazanas resgatados de uma vivenda em Palmela
MARISA SOARES 04/02/2014 - 15:23 (actualizado às 17:40) in Público
Animais viviam em "péssimas" condições de higiene
e saúde. Há suspeitas de negócio ilegal.
Cães, gatos e até ratazanas. Mais de duas centenas destes
animais foram resgatadas nesta terça-feira de uma vivenda em Palmela, distrito
de Setúbal, onde viviam em "péssimas" condições de higiene e saúde.
Segundo a GNR, que acompanhou a operação, havia risco para a saúde pública. Há
suspeitas de que se tratava de um negócio de comércio ilegal de animais.
Os animais estavam alojados numa residência e no terreno
anexo, no lugar de Pegarias, onde mora um casal que terá entre 40 e 50 anos,
segundo Teresa Palaio, directora do Departamento de ambiente e gestão
operacional do território da Câmara de Palmela. Os animais – quase 130 cães,
entre adultos e cachorros, 34 gatos e mais de 65 ratazanas domésticas – andavam
livremente pelo quintal e ocupavam todas as divisões da casa, que além de ter
um cheiro nauseabundo estava "coberta de excrementos", descreve esta
responsável.
Quando os técnicos da câmara chegaram ao local esta manhã,
munidos de um mandato judicial e acompanhados pelos militares do Serviço de
Protecção da Natureza e Ambiente (Sepna) da GNR, encontraram um "cenário
terrível", afirma Teresa Palaio. "Os animais estavam muito sujos,
vários estavam doentes e maltratados, e alguns parecem ter patologias típicas
dos animais que resultam de muitos cruzamentos entre pais, filhos e
irmãos", acrescenta. Duas cadelas resgatadas estavam em trabalho parto.
Nenhum dos cães é de raça perigosa.
A Câmara de Palmela já tinha sinalizado a situação há algum
tempo, na sequência de denúncias feitas pelos vizinhos "há mais de um
ano". "Havia um longo caminho legal e também logístico a percorrer
até conseguirmos intervir", esclarece Teresa Palaio. Num comunicado
publicado na página de Internet do município, lê-se que houve uma primeira
visita dos serviços municipais a 15 de Dezembro para retirar os animais. No
entanto, constatou-se que “o número existente era muito superior ao expectável
– mais de uma centena de cães e gatos e ainda ratos”.
“Face à limitação de lugares do canil municipal, foram
retirados oito cães e iniciadas todas as diligências e contactos que
permitissem concluir a operação, em condições de salvaguarda da saúde e vida
dos animais”, acrescenta a autarquia. O resgate foi concluído hoje, com a
retirada de todos os animais da residência, conhecida na vizinhança como
"casa dos horrores".
Segundo o tenente-coronel Jorge Goulão, do comando de
Setúbal da GNR, a proprietária da casa alegou que apenas recolheu os animais
que via na rua. No entanto, há suspeitas de que a mulher desenvolvia um negócio
de venda ilegal de animais. O assunto foi abordado numa reunião pública da
câmara no início de Janeiro e em Dezembro. Segundo o Jornal do Pinhal Novo, o
problema arrasta-se há dois anos, com a dona da casa a anunciar a venda de
animais em sites como o OLX e o Custo Justo, pedindo também fêmeas para
reprodução. Teresa Palaio diz que alguns dos cães resgatados possuem chip,
registado em nome de outras pessoas que não a proprietária da casa.
De acordo com aquele jornal local, a mulher já terá sido
denunciada em 2009 por venda ilegal de animais, quando morava em Setúbal.
Ter-se-á mudado para Palmela naquele ano, onde tem sido alvo de diversas
denúncias por parte dos vizinhos, que falam de movimentações suspeitas, animais
que chegam dentro de sacos a várias horas do dia.
Teresa Palaio adianta que a Câmara de Palmela irá instaurar
uma contra-ordenação à proprietária da casa por atentado à salubridade e
detenção ilegal de animais. A GNR também deverá investigar a origem dos cães e
gatos. "Era importante que a própria sociedade civil apresentasse queixa
se suspeita de comércio ilegal", apela a responsável municipal.
Quando saíram da "casa dos horrores", alguns
animais já tinham famílias à espera para os adoptarem. "Outros vão para
famílias de acolhimento ou ficam à guarda de associações de animais", diz
Teresa Palaio, que acredita que todos serão adoptados. No local estiveram esta
manhã associações como a Animal, SOS Animal, Sobreviver e o Grupo de
Intervenção e Resgate Animal, que apoiaram a operação de resgate.
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