Política
"Gaja"
e "burra do c...". Deputadas do PS Madeira acusam secretário regional
do Turismo de ofensas
A sessão
plenária em que o caso aconteceu ficou registada pela RTP Madeira. O governante
justifica que "os apartes parlamentares" são frequentes e "há
uma determinada cultura política" que o permite.
Vítor Moita
Cordeiro
Publicado a:
18 Jun 2025,
21:49
Atualizado
a:
18 Jun 2025,
21:49
Apartes
parlamentares, na sessão plenária de terça-feira, dia 17 de junho, da
Assembleia Legislativa da Madeira, proferidos pelo secretário regional de
Turismo, Ambiente e Cultura, Eduardo Jesus, motivaram um protesto formal do PS
Madeira por ofensas a duas deputadas socialistas. Expressões como
"bardamerda" ou "esta gaja" já motivaram pedidos, por parte
das bancadas socialista e do JPP regional, para que o governante se desculpasse
formalmente ou se demitisse. As câmaras da RTP Madeira captaram os momentos.
"Eu
senti-me ofendida não só a nível pessoal mas em nome de todas as
mulheres", disse ao DN a deputada do PS, Madeira Sílvia Silva,
relativamente aos comentários de Eduardo Jesus.
Há pelo
menos mais dois parlamentares – uma deputada do PS e um deputado do JPP – a
queixar-se do mesmo. Quanto ao governante, numa mensagem a que o DN teve
acesso, garante que "o ambiente parlamentar tem características
próprias" e há todo um "enquadramento" que não pode ser ignorado
e acrescenta: "São adjetivos que nós com muita regularidade utilizamos e
que o léxico popular utiliza."
"É por
isso que os deputados no seio do Parlamento têm uma proteção própria, para
evitar que cada vez que façam um aparte sejam chamados por injúria ou por
ofensas, senão a Justiça não tinha mãos a medir", completa.
O argumento
de Eduardo Jesus encontra eco nas palavras de Sílvia Silva, que explica ao DN
que "estas situações, infelizmente, acontecem muitas vezes, não só entre
os dirigentes, mas também na maioria parlamentar, e que normalmente não passam
para fora".
Porém, desta
vez, as câmaras da RTP estavam atentas.
"Na
altura, nós não nos apercebemos", esclarece a deputada, até porque, frisa,
se assim não tivesse sido, teria "pedido a defesa da honra". E Sílvia
Silva considera que os comentários são "uma situação inadmissível",
porque se trata "de um dirigente de topo, um representante eleito pelo
povo que acaba por normalizar este linguajar, sobretudo contra as
mulheres".
Os
comentários são quase impercetíveis, porque não são captados pelos microfones
do Parlamento regional, mas, especificamente sobre Sílvia Silva, mostram o
desagrado que Eduardo Jesus sentiu face ao que a deputada defendia durante a
sessão plenária em torno do orçamento regional, repetindo: "Esta gaja,
esta gaja."
Sílvia Silva
explica que, naquele momento, estava a criticar a "associação entre
ambiente e turismo". "No fundo, a dizer que o governo regional quer
subjugar o ambiente aos interesses do turismo, e infelizmente este governo
regional e os seus dirigentes – não todos, é preciso que se diga – não admitem
a oposição. Estão habituados a governar em maiorias absolutas e, portanto, não
admitem qualquer tipo de oposição e entendem isso como sempre uma rejeição do
poder", considerou.
Eduardo
Jesus mostra a sua perspetiva sobre o momento, acusando "a deputada em
apreço" de ter feito "uma afirmação" que considera
"grave", "ao atribuir responsabilidade aos dirigentes do
Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, como sendo os responsáveis
pelos incêndios que têm acontecido na Madeira".
"Eu
considero esta afirmação criminosa", insiste o governante, defendendo que,
"mesmo sob a proteção parlamentar, qualquer deputado devia ter cuidado
neste tipo de afirmação".
"É um
enquadramento que tem uma sequência lógica. O isolar, o episódio não conta a
história toda e, além disso, foi um comentário que eu produzi referindo-me a
uma pessoa e não dirigindo-me a uma pessoa", explica.
O
"azar" de "ficar tudo gravado"
Ao DN,
também a deputada do PS Madeira, Sancha Campanella, descreveu uma situação
semelhante, que a envolveu, na mesma sessão plenária. Na altura, explica,
estava a "fazer uma afirmação sobre a questão de existir ou não existir
descentralização cultural".
"Parece
que o senhor secretário entende que o facto de 50% dos museus estarem
localizados no Funchal significa que existe descentralização. Esquece que são
11 concelhos e que, se 50% está num concelho, não existe
descentralização", esclarece, explicando que, durante esta intervenção se
apercebeu da discordância de Eduardo Jesus, que também tem a pasta da cultura.
"Eu
continuei na minha intervenção e vê-se depois o senhor secretário a dizer
expressões nítidas como burra do c.... Sim. Eu não parei, eu continuei a fazer
a minha intervenção, porque eu acho que dar azo a responder ainda causa mais
atrito."
"Depois
tive o azar de, efetivamente, ficar tudo gravado em vídeo diretamente da boca
do senhor secretário, e é um vídeo que se tornou viral", afirma.
Questionada
sobre possíveis sanções que possam ser aplicadas a Eduardo Jesus, Sancha
Campanella julga que não vai haver. "Teria de haver processos e nós
sabemos que isso não vai acontecer. O PS fez um protesto formal, que já deve
ter dado entrada, dirigida à senhora presidente da Assembleia Legislativa, para
que tome a posição sobre isto, que repudie o tratamento aos seus deputados,
porque nós somos deputados todos com a mesma dignidade, independentemente de
sermos da oposição."

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